Lembranças de Você escrita por Eli DivaEscritora


Capítulo 4
Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Antes de começarem a ler, queria explicar que o personagem Henrique foi criado por mim. Boa leitura ;*



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Quando desembarcamos no nosso destino, o Chile, a primeira coisa que eu fiz foi relaxar os ombros por estar em terra firme. Ao chegar no hotel, enquanto o pessoal efetuava o check-in, eu esquentei o meu corpo na lareira do saguão, uma vez que não sentia mais as minhas extremidades. Eu, definitivamente, não estava acostumada com esse clima. Após termos feito o registro de entrada, subimos para deixar nossas malas no quarto, nesse meio tempo o filho do senhor Carlisle convidou o pessoal para dar uma volta, já que chegamos perto da noite e o evento seria somente no outro dia, possuíamos algumas horas livres antes do jantar. Eles recusaram devido ao voo agitado, exceto eu: não iria perder a chance de descobrir o nome dele. Antes de sair, resolvemos colocar roupas mais quentes.

Pelo caminho avistamos uma praça cheia de pessoas que corriam, caminhavam, conversavam animadas, o lugar sem dúvidas era muito bonito, eu só não entendia como elas tinham disposição nesse frio. Eu conseguia imaginar a praça em outra época do ano, com uma enxurrada de flores coloridas, mas agora tudo que se observava eram os flocos de neve nas árvores. Um pouco atípico para o mês de maio, ultimamente o clima anda muito esquisito. Nos acomodamos em um banco e pensei que o momento havia chegado, dessa vez ele não escaparia da minha pergunta.

― Você ainda não me disse seu nome. Quer dizer, eu não consegui escutar. ― Sorri divertida. ― Estou começando a achar que é melhor eu não saber, ou será que você tem um nome horrível e quer esconder? ― Nós dois rimos simultaneamente, assim que terminei de falar.

― Não, não. O meu nome é bem comum ― ele ainda recuperava o fôlego quando declarou.

Como se alguém lá de cima estivesse me respondendo também, houve um clarão no meio das nuvens e logo em seguida o tempo fechou por completo. Inacreditável! Começou a relampejar e então uma pancada de água muito forte atingiu a praça, além de uma intensa ventania. Olhei com uma certa raiva para o alto e mentalmente questionei: é sério isso mesmo? Balancei a cabeça não acreditando que, outra vez, não consegui descobrir o nome dele. Nessa fração de segundos, ainda encarando o céu, a chuva acabou chamando a minha atenção. Observei com um pouco de curiosidade uma gota, estendi uma mão para pegá-la e apreciei encantada o pingo congelado.

Mais um relâmpago rompeu no céu, assustando‐me com o barulho e o clarão, por conta disso a minha atenção se desviou da natureza por um instante e olhei para o cara misterioso, e logo em seguida nós começamos a correr para sair do meio do temporal. Eu continuava incrédula com a situação e me perguntei se isso não era um sinal, será que eu deveria saber mesmo o nome dele? Enquanto estávamos indo em direção ao hotel, a chuva acalmou um pouco, apenas soprava um vento frio, o que fez o meu corpo inteiro se arrepiar, já que eu havia me molhado. Instintivamente os nossos passos foram diminuindo e eu permaneci em dúvida quanto a tocar no assunto novamente.

― O quê? ― pronunciei confusa, o homem tinha falado alguma coisa, mas eu estava tão perdida em meus pensamentos que não escutei.

― Meu nome ― ele repetiu calmamente. ― Eu sou o Edward, Bella.

Eu franzi a testa, não podia ser, não mesmo! Balancei a cabeça várias vezes e de repente a minha mente foi invadida pelas memórias da infância. Aqueles olhos castanhos pareciam familiares... Eu identifiquei o porquê, era ele! Meu primeiro amorUm misto de emoções me atingiu, o meu coração chegou a saltar de euforia e, ao mesmo tempo, eu desejei não ter insistido tanto nessa história. Ele havia sido o meu melhor amigo de infância, meu companheiro de aventuras no parquinho, até que um dia, do nada, tudo isso mudou e eu fiquei com mais um vazio no peito.

― É melhor a gente voltar, essa tempestade está feia. ― Eu não sabia ao certo se o Edward havia percebido a minha careta.

Mas eu podia ver a confusão em seu rosto ao revelar o seu nome. Ele achou que diria essas palavras mágicas e eu cairia derretida aos seus pés? Como se ainda tivéssemos cinco anos? Não, não e não! Senti a mesma mágoa de tempos atrás ressurgindo forte em meu coração.

― Ah... Tudo bem ― Sua voz não saiu muito firme, mas sim como se estivesse em dúvida.

Conforme as lembranças dele surgiam como lampejos em minha mente, constatei que o destino conseguia ser malvado às vezes. Eu havia nutrido um sentimento por ele, mesmo sendo apenas uma criança que não compreendia que aquele afeto poderia ser amor. Meu coração se apertou ao recordar de seu distanciamento, eu sofri muito por causa disso. Suspirei tristemente. Pensei que o tinha esquecido e superado, mas seu retorno à minha vida me mostrou que eu estava enganada.


Acelerei os passos e caminhei o mais rápido que pude, eu só desejava me enfiar debaixo da água quente do chuveiro e tentar assimilar o que se passava comigo, pois vivenciar todos esses sentimentos foi demais.

― Parece até que você não se lembra. ― A frase escapou, sem querer, em um sussurro.

― O quê? ― Edward, que tentava acompanhar meu ritmo, apressou-se ao me questionar. ― Não entendi.

Eu somente balancei a cabeça em negação, como se falasse "deixa isso para lá". O resto do trajeto permanecemos em silêncio.

Quando cheguei ao meu quarto, a primeira coisa que eu fiz foi ligar no restaurante e pedir uma sopa bem aquecida. Depois, fui direto para o chuveiro quente, e ao sentir a água tocando a minha pele, o meu corpo se esquentou e relaxou imediatamente. Nada melhor do que um banho e uma sopa bem quentinhos numa noite fria após uma chuva gelada! Enquanto eu aproveitava o momento para diminuir a tensão, praguejei mentalmente ao lembrar que a dona Maitê chamou ele para o meu aniversário de quatro anos atrás. Ah! Mas ela vai escutar um monte pelo telefone mesmo, como que ela pode fazer isso? Sabendo da verdade e do quanto eu tinha ficado magoada com tudo. Fechei os olhos e de imediato as memórias da infância retornaram com toda a força. Edward apareceu no parquinho perto de casa em um dia ensolarado de verão, nossa conexão foi instantânea e logo nos tornamos melhores amigos. Ele foi o meu primeiro - e único - amor. Eu não demorei muito para perceber que gostava dele, assim que ficamos inseparáveis entendi que havia algo de diferente, eu só não compreendia direito o que sentia, apenas que ele era muito mais do que um amigo.

Até a chegada da Tanya, a garota mais insuportável do bairro, estragar com a minha felicidade. Ninguém gostava muito de brincar com ela, sempre queria se meter na maneira que nos divertíamos. Não sei como, mas a garota deu um jeito de se aproximar do Edward e grudou nele como um carrapato. Aos poucos, nossa amizade foi se desfazendo, já que a Tanya conseguiu afastar ele das pessoas, mas principalmente de mim, e não satisfeita só com isso, ela espalhou para todos que eles estavam "namorando". Eu só queria entender como o Ed de hoje não se lembra de como jogou fora a relação que tivemos, muita coragem dele dizer que somos amigos, nós nem nos falávamos mais. Ao abrir os olhos, suspirei com força, não compreendi o motivo de estar tão abalada por isso, afinal de contas não possuímos nada. Nem antes e muito menos agora. Acho que eu só me sentia magoada ainda, de alguma forma.

Talvez fosse porque nós nunca chegamos a conversar sobre esse assunto, eu esperei por uma explicação que nunca veio, já que o Edward se mudou da vizinhança logo depois. A amizade dele me fazia falta. A minha cabeça de criança estava atormentada pela ideia de descobrir que um dia aqueles dois se casariam, pois sempre que alguma notícia deles chegava ao meu ouvido eu ficava angustiada. Refletindo melhor agora, acho que meus relacionamentos nunca foram em frente por causa disso, eu me fechei. Mesmo a minha prima dizendo que o Ed um dia iria compreender que a Tanya não era a garota certa para ele, eu sentia diferente. Acho que, no fim das contas, eu estava certa, já que a última informação que tive deles foi de que noivaram e a partir daquele momento eu, realmente, acreditei que os dois ficariam juntos para sempre.

Chega! Chega! As lembranças não paravam de passar pela minha mente, reviver tudo novamente me deixou impaciente, por isso desliguei o chuveiro, peguei uma toalha e comecei a me secar. O cômodo parecia querer me sufocar, respirei fundo algumas vezes e decidi que iria espairecer um pouco. Espiei pela janela para ver se ainda chovia, caía do céu uma neve fininha que cobria as ruas, então decidi colocar roupas quentes, pois pelo visto fazia muito frio. Caminhei devagar até o elevador e apertei o botão do térreo, escolhi ir para uma parte reservada aos hóspedes, além do ar gelado, eu também não estava com muita vontade de sair por aí. Segui para o salão comum, o lugar tinha uma lareira que ficava bem no canto e quem quisesse se aquecer mais, eles ofereciam chocolate quente. Havia janelas por toda a extensão da sala para que pudéssemos observar a neve cair. Eu tomava a bebida em uma poltrona de frente para uma delas enquanto assistia atentamente os flocos brancos quando senti alguém tocar em meu ombro. Levei um pequeno susto já que estava perdida em meus pensamentos.

― Está ocupada essa poltrona? ― o Edward apontou para o assento do meu lado.

― Não, pode sentar. ― Notei que ele segurava em suas mãos uma caneca fumegante, deveria estar com chocolate quente igual à minha.

― Eu estava no saguão do hotel quando vi você passar por lá ― ele comentou, talvez querendo puxar assunto.

Eu apenas maneei a cabeça e em seguida aquele silêncio entre nós ressurgiu. Porém, dessa vez, o clima ficou esquisito. Era estranho imaginar que, ao mesmo tempo que nos conhecíamos, também não sabíamos nada um do outro. Definitivamente eu desejava resolver essa situação o mais rápido possível, mas nesse momento eu não estava em plena capacidade. Foi angustiante demais reviver as lembranças, sobretudo porque, naquela época, sorrir era uma raridade para mim. Desde a morte dos meus pais, eu havia perdido a alegria.

Espiei com o canto do olho na direção dele, o Edward ameaçou abrir a boca e logo depois mudou de ideia. Quando ele terminou de tomar o seu chocolate quente, retirou‐se sem falar uma palavra. Enquanto ele se afastava, fiquei me questionando o porquê dele retornar para a minha vida, logo agora, após todos esses anos. Ele conseguiu trazer à tona sentimentos que eu pensei que estivessem enterrados. Ao subir para o meu quarto, eu me enfiei debaixo do cobertor e resolvi ligar para as meninas amanhã, além do cansaço, eu queria tomar a minha sopa que pedi para servirem no cômodo.

***

Acordei cedo no outro dia, pois o evento iria começar logo no primeiro horário. Abri a minha mala em busca das minhas roupas, vesti uma roupa social, um sobretudo com uma gola de tricô, uma boina e luvas. Assim que peguei a minha bolsa para sair do quarto, recebi uma mensagem do pessoal, eles estavam reunidos no saguão à minha espera, mas antes de fechar a porta, anotei um lembrete: não esquecer de ligar para as meninas depois.

― Bom dia, senhores ― Cumprimentei todos com um sorriso ameno. ― Podemos chamar o carro?

A viagem até o local não demorou muito, o hotel ficava perto do centro da cidade. O senhor Carlisle havia inscrito nossa empresa para participar de uma feira com a intenção de atrair novas parcerias, além de que podíamos acompanhar nos estandes as novidades do mercado. O nosso ramo de atuação é eventos, de qualquer tipo, mas o carro chefe era o corporativo, por isso fomos instruídos a anotar todas as dicas da palestra de hoje que teria um especialista da área.

No trajeto inteiro até aqui o Ed e eu não havíamos trocado uma palavra, apenas nos cumprimentamos cordialmente no saguão do hotel. Ao chegar no prédio da feira, pegamos nossas credenciais e ele se aproximou de mim.

― Vamos almoçar juntos? Só nós dois? ― Ele me encarou com dúvida, provavelmente imaginando que eu recusaria.

― Sim, vamos ― respondi.

Essa conversa não poderia ser adiada eternamente se teríamos que trabalhar juntos na empresa, certo? Eu havia refletido bastante durante a noite, seria bom colocar uma pedra nesse assunto de uma vez por todas.

Na hora do almoço nós saímos sozinhos pelas ruas da cidade, encontramos um restaurante local que, pelo cheiro, a comida parecia estar deliciosa. Assim que sentamos no lugar em que o garçom indicou, meu estômago roncou, denunciando que eu estava com fome.

― Bella, eu notei que você está agindo estranho desde que falei o meu nome. O que foi que aconteceu? Eu pensei que ainda tínhamos uma amizade, mas pela sua reação de ontem acho que estou errado. ― Ele começou a conversa enquanto esperávamos servirem o prato.

― Olha, eu não esperava ser você. ― Quase sussurrei a última palavra, como se fosse proibido dizer em voz alta. ― Por muito tempo, eu imaginei que a nossa amizade havia acabado, você se afastou de mim, do pessoal e se mudou do bairro sem que pudéssemos conversar sobre o motivo ― expliquei com calma. ― Fiquei muito magoada com você, apesar de sermos crianças naquela época, eu senti muito a falta da sua amizade, já que isso aconteceu do nada. ― Suspirei. ― Aí, de repente, a Tanya se tornou sua melhor amiga e nós praticamente fomos esquecidos. Bem, até o seu irmão se aproximar da gente.

Edward balançou a cabeça em um gesto de insatisfação.

― É melhor não falarmos do Henrique. ― Ele demonstrou estar desconfortável com o assunto. ― Eu juro que não sabia de nada disso. ― O Ed me encarou. ― Eu pensei que eram vocês que não queriam brincar comigo e com a Tanya.

― E de onde você tirou isso?

― A Tanya me disse.

― Ah! Essa é boa. ― Revirei os olhos. ― O pessoal que não gostava de brincar com ela. ― Enfatizei a última palavra, em um tom irritado.

Eu me remexi descontente na cadeira, eu me sentia uma idiota agora ao descobrir que tudo não passou de um engano e ainda por cima a culpa era da Tanya. Ele me observou por alguns segundos, com uma expressão curiosa no rosto.

― O que você acha de deixar isso para trás e começar do zero? ― o Edward sorriu pra mim. ― Acredito que houve um mal-entendido. ― Ele me analisou, atento.

― Sabe que isso seria muito justo ― respondi devolvendo o sorriso. ― Até porque vamos conviver muito lá na empresa.

O Ed afirmou com um aceno e em seguida estendeu a mão na minha direção, eu o encarei atônita. Revivendo nosso primeiro encontro.

― Prazer, Edward. Acho que não fomos apresentados ainda.

Eu deixei escapar um riso, meio nervosa, experimentando as mesmas sensações daquele dia.

― Muito prazer, Isabella.

Assim que entrelacei a minha pequena mão na dele, o garçom apareceu servindo nosso prato, interrompendo nosso momento. Entre uma garfada aqui e ali, voltamos a conversar, só que dessa vez sobre nossas vidas. Ele me pediu para contar como estava todo mundo do bairro e eu perguntei como era morar fora do Brasil. O papo estava tão animado que perdemos a noção do tempo, retornamos atrasados para o debate da mesa redonda. Mas algo no meu interior ansiava por descobrir mais a seu respeito.

 


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Notas finais do capítulo

Parece que eles vão voltar a ser amigos! Agora será que essa amizade vai durar?? E essa Tanya, hein? Fala sério só atrapalhando nosso casal desde criança.



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