Lembranças de Você escrita por Eli DivaEscritora


Capítulo 2
A Festa


Notas iniciais do capítulo

Bora para o primeiro capítulo :)



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Olhei ansiosa para a caixa de latão que eu segurava entre as mãos, meus dedos tocaram o objeto com todo o cuidado possível e um gritinho de emoção escapou pelos meus lábios ao reviver todos os sentimentos de anos atrás – a morte precoce dos meus pais, minha mudança para a casa dos meus tios e as amizades que fiz na nova cidade. Ao tentar me acalmar, inspirei o ar, mas foi inútil, as recordações invadiram a minha mente como se estivessem em uma repetição automática. Meus tios me acolheram com muito amor desde o primeiro dia, eles tiveram muita paciência ao me consolarem em meus momentos dolorosos, principalmente no começo em que eu chorava todas as noites. A minha prima Alice também teve influência nisso, já que parecia uma irmã mais velha – apesar de a nossa idade ser a mesma – ela gostava de cuidar de mim. Especialmente nas horas em que os pesadelos me atormentavam, eu sempre fugia da minha cama para dormir junto dela, seu amparo me ajudou bastante nessas situações difíceis.

Limpei as lágrimas que caíram pelo meu rosto e sorri ao lembrar de outra parte da minha vida, embora pudesse parecer triste a minha infância, eu consegui ser feliz. Eu e a Lice fizemos muitas amizades, tanto no nosso bairro quanto na escola e por um tempo isso contribuiu para eu esquecer a minha realidade. No ensino médio, nosso grupinho de amigos já não era mais o mesmo, alguns haviam se mudado e outros se afastaram, então sobrou apenas Alice e eu para completar os estudos. Porém, na metade do segundo ano, tivemos uma ótima surpresa, uma aluna nova veio transferida e conhecemos a Rosalie. E hoje, nós três somos inseparáveis! Eu podia dizer que havia ganhado mais uma irmã. 

Uma gota escorreu dos meus olhos, solitária, atravessando a minha bochecha  quando destampei a caixa, levei uma mão aos lábios sem acreditar que a data havia finalmente chegado. Eu mal dormi essa noite de tanta ansiedade. Observei as fotos dos meus pais, sorridentes, eles eram tão jovens! Havia também fotografias minhas de quando era bebê; meu nascimento, o primeiro banho, a primeira vez no mar, o primeiro passo e várias outras. Admirei encantada as joias da mamãe que encontrei guardadas em um saco preto de veludo e logo avistei o motivo da minha insônia: uma carta destinada a mim. Eu perdi as contas de quantas vezes pensei em abri-la sem ser hoje, já que as instruções diziam que eu só poderia ler no meu aniversário de dezoito anos. Por isso estava tão impaciente, não conseguia acreditar que havia finalmente chegado o dia doze de outubro! 

Com as mãos trêmulas, peguei o envelope, abrindo-o logo em seguida, sem cerimônias. A letra redonda, inconfundível da mamãe, imediatamente chamou a minha atenção, recordei de seus bilhetes deixados na geladeira.

“Querida Bella, 

Estou escrevendo essa carta para você entender o que aconteceu comigo, não sei o que o dia de amanhã me reserva, mas como já é uma moça feita posso explicar tudo agora. A mamãe adoeceu inesperadamente, seu pai me levou em vários médicos e por um tempo acreditamos que eu iria melhorar. Porém, há um mês descobrimos que as minhas chances de recuperação são mínimas. O câncer voltou.”

Tentei segurar as lágrimas, sem sucesso, pois elas caíram rapidamente dos meus olhos, molhando o papel. 

“O seu pai está inconformado, entrou em uma tristeza profunda e mesmo teimando comigo eu sinto que ele não está nada bem. Meu anjinho, se por acaso você estiver chateada com o seu pai, por favor o perdoe. Ele não tem culpa.” 

Um nó se formou na minha garganta, respirei fundo em busca do ar que parecia faltar.

“Tenho que falar de outra coisa, da empresa. Você, provavelmente, já deve saber o quanto o seu pai é louco por aquele lugar que construiu com muito suor e esforço. Com certeza é o segundo filho dele! Por isso, nós dois gostaríamos que você assumisse os negócios - talvez, nesse momento, ele esteja preparando você para isso. Entretanto, ficarei muito feliz com qualquer decisão sua, se for a que lhe deixe realizada. Eu imagino que você possua seus próprios sonhos, só não se esqueça que haverá sempre um cargo à sua espera.”   

Meus olhos marejados atrapalharam a minha visão, que se embaçou completamente, e eu fui obrigada a parar um pouco. Assim que me recuperei, voltei a ler. 

“ Por enquanto, o seu pai teve que se ausentar da empresa, pois passa a maior parte do tempo comigo em hospitais e visitas a médicos, anda sem cabeça para o trabalho. Portanto, o sócio dele está tomando conta de tudo, inclusive, caso você se interesse por outros detalhes da firma, procure o senhor Carlisle Cullen, ele é um homem muito bondoso.  

Por último, preciso tocar em outro assunto: namorados. Apesar de o seu pai não aprovar essa ideia, eu gostaria de lhe dar uns conselhos. Eu quero que você encontre alguém que a faça feliz, que compreenda seus piores dias e mesmo assim escolha permanecer ao seu lado. E querida, às vezes um relacionamento pode se transformar em um pesadelo, acredite. Apenas se lembre de como se apaixonou. 

Nós te amamos muito, filha. Nunca se esqueça disso, eu sempre vou estar com você, meu anjo.

Com amor, mamãe.”

Ao acabar de ler, não fui capaz de controlar meus soluços, as lágrimas escorriam sem parar. Depois de tantos anos, senti a sua presença tão forte ali, como se ela estivesse ao meu lado.

― Não acredito, Isabella! Você ainda está assim? ― disse uma voz conhecida ao entrar no quarto. ― Anda, anda, você tem que ficar linda! Logo começa a comemoração. 

Os cabelos loiros da Rosalie estavam presos em um penteado muito elegante, faltava somente o seu traje da festa. 

― Eu sei, estou mega atrasada, né? ― Funguei o nariz e logo em seguida tentei limpar o rosto com a mão. ― Mas não pude deixar de fazer uma coisa primeiro. ― A minha voz saiu embargada ao recordar da carta da mamãe.

― Oh... Você abriu o envelope? ― Seus olhos azuis me observaram atentos, reparando o meu estado.

― Não suportei mais a vontade de saber o que ela escreveu. ― As lágrimas caíram, outra vez. ― Eu até queria ler depois da festa, com calma, faz muito tempo que aguardo por isso.

― Posso imaginar, você quer ficar sozinha por alguns minutos? Eu falo com os seus tios para esperarem um pouquinho. ― Balancei a cabeça negativamente e ela se aproximou de mim. ― Tudo bem, então vamos retocar a maquiagem e colocar o vestido. ― A Rose me puxou para o banheiro e eu me acalmei enquanto ela consertava o “estrago”. 

Ao chegar na porta do salão, espiei um pouco da decoração. A Rose e a Lice pediram para ajudar na arrumação, além de participarem, muito ativas, na seleção de cada coisa. E, elas capricharam!  Olhei admirada para a minha festa à fantasia, aquelas duas estavam de parabéns, muito melhor do que eu imaginei! O lugar todo foi inspirado na minha vestimenta, a de princesa. Havia uma carruagem, com cavalos de enfeite em tamanho real e uma escadaria que imitava a de um castelo. Apesar de no começo eu ter sido contra a ideia de uma festa grande, a insistência da loira valeu a pena. A Rosalie não descansou até me convencer a comemorar esse aniversário, já que eu não celebrei o de quinze anos. A verdade era simples: eu não me sentia no direito de festejar por causa dos meus pais.   

Balancei a cabeça, espantando esses pensamentos, acho que eu poderia abrir uma exceção hoje. Afinal de contas, eu sempre desejei uma festa à fantasia e por que não logo no meu aniversário de dezoito? Sorri, sutilmente, quando anunciaram a minha entrada. Uma música animada tocou no fundo do salão. O meu vestido longo na cor azul-claro se iluminou discretamente nas luzes, as pedrinhas delicadas por toda a sua extensão reluziram tímidas, na parte de cima era bem justo e na de baixo havia uma saia bem rodada. Para completar, nos braços eu tinha uma luva do mesmo tom do traje para combinar. Meu cabelo estava preso apenas de um lado, com cachos nas pontas, mas agora o castanho ganhou uma iluminada. Além disso, eu também usava uma coroa de brilhantes, outro pedido da dona Rosalie que eu não consegui negar. Só que nesse exato momento o arrependimento já era grande, essa coisa chamava muita atenção. 

Os olhares das pessoas se voltaram para mim assim que atravessei o corredor e outro sorriso se desenhou nos meus lábios, porém dessa vez um pouco envergonhado. Cumprimentei alguns convidados com um aceno e logo que cheguei na frente da mesa do bolo, meus tios e a minha prima me esperavam, como havíamos acertado com a cerimonialista. No minuto em que a música parou, nos envolvemos em um abraço apertado com muita emoção, principalmente da minha parte, pois revivi o dia em que eles me acolheram com tanto carinho. É… Pelo visto, hoje, a Rose teria muito serviço, retocaria a minha maquiagem a noite inteira! 

A Lice terminava de me desejar os parabéns quando sussurrou em meu ouvido algo que me deixou intrigada.  

― Mais tarde tenho uma surpresa para você ― eu a encarei com a testa franzida, sem entender do que se tratava. ― Não me olhe assim, na hora certa você saberá, Bella. Agora, vai curtir a sua festa à fantasia que você sempre sonhou!

Eu continuei a observá-la por alguns segundos imaginando o que ela poderia estar aprontando. Um instante depois, reparei nas pessoas ao meu redor pela primeira vez desde que atravessei o salão. Olhei admirada para elas, algumas estavam vestidas de personagens muito conhecidos, outras só usavam máscaras, porém seus trajes deslumbrantes me fascinaram. E, imediatamente, a cena das meninas planejando as nossas fantasias invadiu a minha mente. 

A minha intenção inicial não era ser princesa, definitivamente não, mas a dona Rosalie foi muito persuasiva. Ela me convenceu de que não fazia sentido a aniversariante se fantasiar de outra coisa, além de que ficou bastante animada em me ajudar a escolher o vestido. Minha única condição foi a cor, isso seria inegociável! Já a loira quis se caracterizar de sininho, combinava muito com a sua aparência, e a Lice de anjinho. Um sorriso jocoso se estampou no meu rosto ao recordar de tudo isso, essa noite, pelo jeito, será cheia de nostalgia. Uma música agitada ecoou pelo salão, levando embora minhas reflexões, e retornei à realidade. Os convidados começaram a se dirigir para a pista de dança e claro que as meninas e eu aproveitamos para agitar o corpinho também.

― Já passam das dez horas, caramba! ― a Lice pronunciou meio distraída, após termos dançado várias músicas.

― E o que tem isso? ― eu a questionei. 

― Tem que estou à procura de alguém... ― ela parou de falar de repente. ― Bella, por favor, não fique chateada comigo. ― Olhei para a mesma direção que ela e avistei um rapaz, quer dizer, o cara já era quase um homem feito. ― A sua surpresa acaba de chegar.

Mas que ótimo! Ele estava usando uma máscara e tudo o que eu conseguia enxergar daqui era a sua boca, bem rosada, por sinal. Um interesse inesperado despertou em mim, eu queria poder observá-lo melhor. Então quando o rapaz caminhou pelo corredor, aproximando-se do nosso grupinho, não fui capaz de desviar a atenção dele, já que o castanho-claro de seus olhos me hipnotizou. Uma sensação esquisita tomou conta do meu corpo, o que estava acontecendo comigo? E, quem era esse cara misterioso? Eu me questionei curiosa. Ao espiar a Lice de relance, imaginei que, talvez, ela me ajudaria com isso, entretanto a minha prima fez um movimento negativo com as mãos, aquela… filha da mãe! Desculpa, tia! Suspirei, decidida a descobrir sozinha mesmo. Por isso, dei alguns passos ao encontro daqueles olhos hipnotizantes e percorri a distância que nos faltava, sem pressa, reparando em cada parte do seu rosto, tentando saber se eu já o conhecia. No meio do trajeto uma música lenta tocou, estranhei a princípio, uma vez que a canção anterior parou do nada e logo deduzi que deveria ser obra daquelas duas. Estão sempre aprontando.    

“Heart beats fast. Colors and promises. How to be brave?"

Só agora eu percebi que a fantasia dele era de príncipe.

“How can I love when I'm afraid to fall? But watching you stand alone. All of my doubt suddenly goes away somehow"

Nos entreolhamos por um bom tempo, seus olhos não se afastaram dos meus desde que apareci em seu campo de visão. 

“One step closer” 

Quando ele se aproximou, estendeu a sua mão para mim. 

“I have died every day waiting for you. Darling, don't be afraid, I have loved you” 

Segurei na mão dele aceitando o seu convite para a dança, sem deixar de encará-lo. Eu podia jurar que aqueles olhos castanhos eram familiares.

“For a thousand years. I'll love you for a thousand more” 

Começamos a dançar no ritmo da música e logo senti o aroma amadeirado de seu perfume, muito agradável.

“Time stands still. Beauty in all she is” 

Fechei os olhos para apreciar melhor aquele perfume inebriante, eu me encontrava tão envolvida com a sua fragrância que quando a sua voz grave ressoou, levei um susto.

― Você continua linda. 

“I will be brave. I will not let anything take away. What's standing in front of me”  

Eu fiquei ainda mais intrigada, afinal quem era ele? A música estava nos últimos acordes quando resolvi perguntar:

― Como assim? Quem é você? ― E mais uma vez procurei por alguma pista em seu rosto, mas era difícil identificar qualquer coisa com essa máscara cobrindo a metade do semblante dele. 

― Eu... ― Ele olhou o seu relógio de pulso. ― Tenho que ir. ― Antes de partir, depositou um beijo na minha mão e saiu por entre a multidão. 

Ele não podia ir embora desse jeito, não mesmo! Atravessei o salão correndo atrás dele, algumas pessoas me olharam curiosas, porém continuei em disparada. Eu precisava saber quem era esse cara misterioso. Algo dentro de mim não desejava o seu adeus. E se eu nunca mais o visse? Provavelmente, isso não sairia da minha cabeça.

― ESPERA! Diz seu nome, pelo menos! ― Era tarde demais, ele já estava dentro do seu automóvel e só o que eu pude enxergar foi a poeira que o carro importado levantou.

Retornei para a festa desanimada, imaginando que nunca mais descobriria a sua identidade. 


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Notas finais do capítulo

Será que o cara misterioso é o Ed, gente? Vamos descobrir isso em breve hehe



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