Insomniacs escrita por Skadi


Capítulo 5
Capítulo Cinco - Desperdiçando Minha Juventude




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Parecia que vir ao apartamento de Alex perturba-lo era a nova tendência na cidade. Alguns dias depois, Luka apareceu batendo em sua porta. Luka de todas as pessoas, o que foi extremamente surpreendente porque ele nunca havia ido até o seu apartamento sozinho.  Alex certamente não precisava de nenhuma luz e alegria naquele momento, mesmo que Luka Healy fosse a definição disso. Pelo menos Xavier não estava por perto, ou seria um inferno ter aqueles dois juntos no mesmo local.

Luka o enterrou em outro abraço como de costume assim que a porta foi aberta. Alex odiava isso e tentou escapar do abraço rapidamente, tentando não pensar em como aquele abraço era diferente se comparado ao de Xavier. Ele não sabia porque se sentia tão confortável com Xavier e mesmo assim achava o abraço de Luka desconfortável, como se tivesse que tomar três banhos (de brincadeira, é claro). Pelo menos Luka foi decente o suficiente para trazer lanches do McDonalds para ele e só o cheiro o fez sentir agua na boca — parecia uma eternidade desde a ultima vez que ele comeu algo assim. Eles se sentaram na mesa da cozinha, Alex em silencio como sempre enquanto Luka preenchia o silencio, provocando-o a fazer outra promessa de sair de seu apartamento.

“Vocês estão se revezando, hein?” Resmungou Alex, comendo uma batata frita em seguida.

“O que você quer dizer, Alex?”

“Você, Scott e Oliver estão se revezando para vir ver se estou vivo.”

Houve uma ligeira contração no sorriso de Luka, suas intenções secretas sendo pegas em flagrante e confirmando a Alex de que ele estava certo. Luka nem estaria ali se não fosse por seus outros dois amigos o encorajando a faze-lo. Ou talvez ele tenha se voluntariado, havia essa possibilidade. De qualquer maneira, ele certamente sabia agora que seus amigos estavam falando e tramando pelas suas costas.

“Você não precisa fazer isso, sabe...” Disse Alex, ficando cansado dessa conversa antes mesmo dela começar.

“Você tem dormindo bem então, cara?”

Deve ter sido a pergunta de Oliver. Alex não havia comprado nenhum remédio para dormir como havia prometido, mas pelo menos conseguiu dormir aquela vez que Xavier passou a noite, então a resposta que ele esperava estava na ponta da língua não seria classificada como mentida.

“Bastante.”

Luka assentiu.

Ele o arrastou para um filme naquela noite, ambos em seu sofá enquanto um filme de suspense passava em sua gigantesca TV, embora Alex tivesse feito o possível para recusar a oferta e feito ameaças de chutar a bunda de seu amigo. Mas é claro que ele eventualmente desistiu. Ele sempre desistia na frente de Luka...e de Xavier. Sim, Luka era parecido com Xavier. Mesmo quando seu amigo de alguma forma adormeceu em seu ombro, a boca aberta e parecendo ridículo, Ele não pôde deixar de pensar em Xavier — os dois eram tão parecidos, mas ao mesmo tempo tão diferentes.

No entanto, ele não conseguia entender o que havia em Xavier Sharpe que fazia seu toque parecer tolerável.

Luka foi embora depois que Alex acidentalmente o acordou, precisando mexer o ombro rígido. Luka acordou com uma desculpa gaguejante antes de sair, apenas para tentar convence-lo a sair novamente. Desta vez, foi por uma oportunidade de servir de DJ de abertura para um grupo de dança que faria turnê em breve. Parecia que, no tempo em que Alex havia passado em seu apartamento, o nome de Luka estava saindo da cena underground, conseguindo outros shows em algumas boates e sendo notado por alguns olheiros.

Alex disse a Luka que estava feliz por ele, fazendo seu amigo sorrir amplamente, mesmo que se sentisse culpado por no fundo não sentir nada, apenas dizendo aquilo por educação. Mas ainda assim, ter seus amigos conquistando algo não o deixava de mau humor, então era um bom sinal. O mínimo que poderia fazer era lembra-lo de que ele ainda era uma pessoa de boa consciência. Ser uma pessoa assim, porém, fez com que ele concordasse com os choramingos de Luka no final. Sair para comemorar, disse Luka. Ele na verdade rosnou e choramingou, a discussão o deixou parado na frente de sua porta e Luka já no corredor, enfiando a mão entre a porta, tentando parar Alex por bater com ela na sua cara e desapareceu atrás da porta como sempre fazia.

“Vamos, Alex, apenas uma noite! Você não vai me ver novamente depois disso. É sua última chance de me ver antes de perceber que vai sentir minha falta!” Ele choramingou, apontando para si mesmo. Alex fez uma anotação mental de como definitivamente precisava vomitar depois de ouvir Luka usar aquele tom de voz.

A única coisa que ele ouviu foi ‘não vai me ver novamente’ e no fim Alex cedeu como sempre fazia, só depois de outra ameaça de que a comemoração seria em seu apartamento se ele não quisesse sair. Ele não conseguia compreender (mais como não queria) a ideia de ‘trazer a festa até sua porta’ que Luka havia oferecido e ameaçado, mas no fim ele só conseguiu suspirar antes de olhar diretamente para o amigo e soltar um seco ‘Sim’.

Como sempre, Luka o enterrou em um abraço depois de finalmente alcançar seu objetivo.

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O problema de achar a passagem do tempo insignificante era ter seus amigos batendo a sua porta, aparecendo casualmente com sorrisos no rosto, o lembrando que era o sábado que ele havia prometido sair. Ele só pôde resmungar quando viu Oliver, Scott e Luka aparecendo a sua porta, os três já parecendo uma multidão para ele. O sábado havia chegado e ele mal havia percebido. A única coisa que ele conseguia perceber era que esse era seu quarto dia consecutivo sem dormir, e era a primeira vez que isso acontecia. Se dias e datas não podiam servir como uma medida de tempo adequada para ele, então talvez a falta de sono pudesse substituir um calendário facilmente.

Foram quatro dias agonizantes, e só o ato de abrir a porta o fez sentir dor de cabeça. A dor geralmente não vinha a menos que ele colocasse o pé do lado de fora, mas desta vez sentir o ar de fora já o fez sentir vontade de desmaiar. O baque lento começou a crescer em sua cabeça e Alex teve que apertar os olhos para ver seus amigos, começando a pensar que estava recebendo seis convidados ao invés de três.

“Você fede, Alex. Quando foi a ultima vez que você tomou banho?” Perguntou Luka após abraça-lo mais uma vez, o aperto parecendo ferro ao redor de seu corpo. Alex queria empurra-lo para longe, mas percebeu que estava cansado demais para isso.

“Eu não sei.” Ele resmungou, deixando os três entrarem.

Oliver caminhou até sua despensa, estalando a língua em desaprovação ao ver a falta de comida ali enquanto Luka e Scott se acomodavam no sofá, ligando a televisão.

“Esqueça o banho,” disse Oliver, “quando foi a ultima vez que você comeu direito, Alex?”

Tinha que reabastecer. De alguma forma, o que ele tinha pensado ter sido um mês de compras adquirido naquele passeio as 3 da manhã mal duraram um mês. Como poderia ser? Ele tinha certeza de ter comprado bastante. Ou talvez um mês tenha se passado sem que ele percebesse.

“A última vez que o Luka veio, eu acho. Não sei.” Ele respondeu com sinceridade, lembrando-se do gosto do Big Tasty em sua língua e sentindo falta dele.

“Alex, quando foi a última vez que você—”

“Juro por tudo que é mais sagrado se alguém começar a mês questionar ‘quando foi a última vez’ eu vou me trancar no meu quarto e nunca mais sair!” Ele rosnou, passando a mão por seu cabelo escuro (que precisava urgente de um corte) e foi para o banheiro, evitando a conversa.

Ele decidiu tomar um banho, o primeiro em sabe-se lá quanto tempo. No momento em que viu seu reflexo no espelho, Alex só pôde suspirar. A ferida em sua testa havia desaparecido, deixando apenas uma leve descoloração como cicatriz. Mas o que era realmente marcante em seu rosto eram as olheiras, escuras, quase roxas. Ele parecia um cadáver, sua pele estava mais pálida do que jamais esteve (e ele já era pálido para começar), e podia dizer que havia perdido uma quantidade significativa de peso, podendo contar suas costelas com os dedos.

Ele estava trocando de roupa quando a porta de seu quarto se abriu ligeiramente. Era Oliver entrando em seu quarto. Ele estava prestes a reclamar com sermão sobre ‘respeitar sua privacidade’ mas percebeu que estava cansado demais para isso. Só tinha colocado suas calças jeans pretas, a camisa que pretendia usar ainda estava estendida na cama. Mesmo de costas, ele podia sentir os olhos de Oliver o estudando, provavelmente percebendo sua figura magra.

“Alex, o que há de errado?” Oliver perguntou suavemente.

E ele estava tão cansado que não tinha energia nenhuma para se aborrecer com aquela pergunta sendo repetida várias vezes como um disco quebrado.

“Eu já te disse, estou bem. Perfeitamente bem.”

Ele mesmo era quase um disco quebrado com aquela resposta escapando de seus lábios. Mas que outra resposta ele poderia dar? Que não estava bem? O que poderia haver para ele não estava bem? Ele não tinha o direito de responder que não estava bem, tinha? Porque não havia nada neste mundo que indicasse que algo estava errado em sua vida. Não, ele estava bem. Alex Webber estava perfeitamente bem.

“Pare de mentir para mim.” Oliver rosnou.

Isso o deixou furioso. Por que seus amigos continuavam acusando-o, continuavam perguntando, quando nem ele sabia o que havia de errado para começar.

“Eu não estou mentindo, ok!”

Oliver apenas ficou parado ali, a porta atrás de suas costas como se insinuando que Alex não seria capaz de escapa dessa conversa tão facilmente.

“Quando foi a ultima vez que você dormiu, Alex?”

Alex suspirou.

“Não sei, cara. Não durmo direito tem uns quatro dias.” Disse ele, recuperando a compostura e despenteando seu cabelo úmido, enterrando o rosto nas mãos. Suas pálpebras não pareciam pesadas e sua dor de cabeça veio e se foi. Ele apenas ficou deitado no sofá, olhando para seu reflexo na tela da TV.

“Você não tomou nada para ajudar a dormir?”

Ele balançou a cabeça, o rosto ainda nas mãos. Ele sabia que Oliver provavelmente ficaria bravo com isso.

“Tive uma boa noite de sono depois de falar com você aquela vez, então achei que não precisava disso.”

Oh, Oliver ficaria bravo, provavelmente pensaria que Alex estava mentindo. Alex se sentia como um garotinho dando desculpas quando foi pego roubando biscoitos que não deveria pegar. Oliver provavelmente o arrastaria a um médico, provavelmente o arrastaria até o hospital naquele minuto. Mas em vez disso, ele deu um passo à frente, avançando lentamente em direção a Alex. Ele estava prestes a levantar a mão, para provavelmente tentar confortar Alex, então a abaixou ao lembrar que o amigo não gostava de contato físico. Oliver franziu os lábios antes de olhar para Alex.

“Alex, por favor, me diga o que há de errado com você para que eu possa consertar.”

Ele pensou que Oliver iria fazer outra coisa. Apontar como ele estava tratando o próprio corpo, dizer algo sobre como ele parecia doente, o puxar para um abraço, olhar para ele até que ele dissesse algo satisfatório, gritar e ficar com raiva, até. Mas não, Oliver apenas ficou lá, olhando-o nos olhos, esperando que Alex respondesse, quase implorando para que algo escapasse dos lábios de Alex. Não era como se Alex estivesse escondendo alguma coisa. Claro que ele bateu em alguém (que ficou bem depois) com seu carro. Claro que ele ouviu vozes. Claro que ele tinha pesadelos, e provavelmente era o medo que impedia de dormir. Mas sem dúvida haveria uma explicação logica por trás de tudo e isso não significava que havia algo errado com ele.

Ele não entendia por que seu amigo estava tão desesperado com essa possibilidade de ele não estar bem. E talvez Alex também tenha começado a esperar por isso, para que talvez, se realmente houvesse algo errado com ele, ele mesmo pudesse encontrar uma explicação. Infelizmente, ele não encontrou nenhuma e percebeu como isso o deixava louco. Ele não achava que havia algo ruim acontecendo com ele, mas seus amigos continuavam o importunando como se houvesse.

Como se algo tivesse acontecido e ele tivesse esquecido.

Como se ele estivesse ficando louco e nem percebesse.

“Eu não estou quebrado, Oli. Não há nada para você consertar.” Ele disse, virando-se de costa para Oliver e vestindo a camiseta grande que havia deixando na cama. Sua cabeça estava começando a pulsar e sua dor de cabeça ameaçava aparecer como sempre.

Ele pegou uma jaqueta de seu armário e saiu de seu quarto, passando por Oliver e o ignorando. Do lado de fora, Luka e Scott estavam esperando por ele, olhos atentos na TV.

“Vamos logo.” Alex chamou os dois.

“Acho que você deveria ficar em casa, Alex, descansar um pouco.” Oliver disse, saindo do quarto.

De alguma forma, era Alex que estava com raiva. Ele estava zangado com o que Oliver havia dito, estava com raiva por alguém se preocupar com ele. Não fazia o menor sentido, de fato, mas era o que ele sentia no momento. Toda a preocupação de seus amigos não fazia nada além de frustra-lo. Para alguém tão apático em relação aos sentimentos, a raiva parecia tão natural.

“O que você quer dizer? Vamos comemorar, não? Saindo com o Luka, quero dizer.” Alex disse, fazendo sua voz soar o mais alegre possível com um sorriso no rosto. Ou tentando sorrir, ele calculou, parecendo mais uma careta.

Luka não entendeu seu sarcasmo. O rapaz se levantou, gritando ‘AÊ PORRA’ e sendo o idiota alegre que era, dando a Alex exatamente as palavras que ele esperava.

“Não, acho que o Oli está certo. Você não parece muito bem, Alex.” Scott se intrometeu, parecendo preocupado.

“Eu não pareço bem? Eu nunca me senti tão incrível.” Alex disse, ainda exibindo o mesmo sorriso. Agora isso era uma mentira.

“Alex.” Oliver chamou novamente, repetindo seu come com seu tom preocupado pela centésima vez. Alex podia até sentir o olhar dele em suas costas e odiava aquele olhar. Tudo sobre isso o fazia se sentir mal.

“Eu só preciso de um pouco de ar. Vocês não querem que eu saia daqui?” Ele rebateu. Seus amigos deveriam estar felizes, não deveriam? Ele finalmente estava dando a eles o que eles queriam, que era que ele saísse de seu apartamento. Isso não era tudo o que eles estavam implorando para ele fazer?

Scott suspirou antes de se levantar do sofá, aparentemente cedendo a discussão. Se Scott o fizesse, então Oliver não teria nenhum motivo para não concordar.

“Você tem certeza, Alex?” Oliver perguntou.

Alex não respondeu, simplesmente pegou as chaves do carro e fez um gesto em direção à porta, abrindo-a e esperando que seus amigos o seguissem depois de um breve ‘o que vocês estão esperando’. Todos eles finalmente concordaram, saindo com Alex pensando em como a noite seria longa. Quando finalmente entraram no elevador, os pés inquietos e a dor de cabeça crescendo forte, só então a pergunta de Oliver ecoou em sua mente.

Ele tinha certeza?

Definitivamente não.

 

 

Eles se dividiram em dois carros. Luka pegou o dele enquanto Scott foi com Oliver. Alex propositalmente foi com Luka, não querendo ser repetidamente questionado e interrogado por Oliver. O único problema era que Luka falava alto, mas ele certamente conhecia o amigo bem o suficiente para calar a boca de vez em quando, ao contrário de Xavier e Percy. Se ele tivesse que fazer uma classificação, Percy certamente estaria no topo como a pessoa mais barulhenta que ele já conheceu. Outra coisa com Luka era que, devido a intimidade dos dois, Alex podia dar uma tapa na cabeça dele para faze-lo calar a boca quando bem entendesse. Se fizesse algo semelhante com Percy, especialmente em um elevador supervisionado, a Sra. Fitzgerald provavelmente o mataria.

A longa viagem de elevador se transformou em uma câmara de tortura. Sua dor de cabeça continuava forte e ele teve que se apoiar na parede para não cair. Ele tentou esconder a dor, caminhando em direção ao carro com Luka o seguindo. Arrastando os pés, ele pensou em como provavelmente parecia um zumbi.

“Seu farol quebrou.” Luka comentou quando chegaram ao carro.

Ele não respondeu, só querendo se sentar no banco do motorista porque ficar de pé por mais tempo já parecia demais. Parecia que seus joelhos iriam se dobrar a qualquer momento. Luka se sentou no banco ao lado, ainda tagarelando sobre o farol quebrado.

“É o farol direito. Você atropelou alguma coisa? Parece que sim.” Disse Luka, colocando o cinto de segurança antes de voltar sua atenção para Alex. “Ei, você está bem? Você parece bem mal, amigo.”

Alex gemeu.

“Estou bem.” Disse ele, ligando o carro com a mão suada e dirigindo para fora da garagem.

Sua cabeça latejava ainda mais no momento em que chegaram a rua. Ele engoliu seco, mantendo os olhos na rua e tentando ignorar o olhar preocupado de Luka. Eles não iriam para a mesma boate da ultima vez, dessa vez haviam escolhido uma mais famosa chamada The Factory. O único alivio que veio disso é que o lugar não era tão longe de seu apartamento e que a viagem não levaria muito tempo.

Como sempre, ele teve que passar pelo cruzamento onde havia batido em Xavier. Havia um pub sujo perto dele, explicando como sempre haveria bêbados perambulando pela madrugada por ali. O sinal ficou vermelho e ele parou, apoiando o cotovelo na janela fechada do carro, tentando ignorar a cabeça dolorida. Mesmo agora, a memória do acidente e de Xavier o atormentava, tornando aquele local um dos lugares que ele menos gostaria de estar. A memória ruim deu a ele uma sensação estranha de agitação no estomago, ou talvez fosse apenas a dor de cabeça se estendendo para se tornar uma enxaqueca.

Nesse ponto, Luka começou a abrir a boca novamente, falando sobre o governo e sobre o acidente aleatório que aconteceu naquele mesmo cruzamento alguns meses antes, algo sobre uma garota sendo atropelada por um carro no meio da noite. Alex certamente não precisava ouvir nada disso — sua dor de cabeça nem os estava deixando processar pensamentos, na verdade.

“E você sabe a pior coisa, Alex? A policia não encontrou marcas de pneus. O carro nem parou até atingir a coitada da garota. Você acredita nisso?”

Não, ele não podia acreditar em nada. Porra, ele não conseguia nem pensar direito.

“Quero dizer, que tipo de filha da puta não pararia? Ele deve ser um baita de um —”

Você não pode simplesmente calar a boca?

“—assassino.”

Seu coração gelou. O que Luka havia acabado de dizer?”

“O que você disse?”

Ele virou a cabeça, olhando para Luka. Seu amigo apenas olhou para ele parecendo confuso.

“O que há de errado, Alex? Parece que você viu um fantasma ou algo assim.”

A palavra não foi dirigida a ele. Ele não estava delirando. Ele não apenas imaginou a palavra do nada, sendo dita para ele por vozes inexplicáveis. Não, isso era Luka falando a história da garota, totalmente não destinada a ele.

Ele suspirou, esfregando os olhos com as costas da mão antes de voltar a olhar para a rua, as mãos no volante.

“Nada.” Ele respondeu de volta, o sinal ficando verde e ele rapidamente pisou no acelerador, querendo sair dali o mais rápido que pudesse.

Porque Alex Webber estava bem.

Ele estava perfeitamente bem.

Ele era perfeitamente capaz de andar por uma boate, lotada de corpos, o ar cheirando a álcool e o som praticamente estourando seus tímpanos. Ele era perfeitamente capaz de encontrar o caminho até Dawson, seu conhecido que os esperava lá com doses de uísque e drinks coloridos. Ele era perfeitamente capaz de engolir algumas doses com o estômago vazio (ou pelo menos ele pensava que estava, já que nem conseguia lembrar a ultima vez que comeu) sem sentir vontade de vomitar nas primeiras horas. Ele era perfeitamente capaz de manter uma conversa, deixando o álcool tomar conta de sua língua e o ajudando a fingir que estava alegre por estar ali.

Durante toda a noite ele podia sentir os olhos de Oliver sobre ele, observando-o com cautela, como se esperando que ele quebrasse a qualquer momento. Mesmo no meio de sua forte dor de cabeça, ele conseguia fingir estar aproveitando seu tempo e provavelmente era o álcool tomando conta, já que ele estava sentindo pela primeira vez desde muito tempo. Ele estava perdido entre provavelmente o décimo shot daquela noite, dedicado a Luka e seu sucesso. O referido Luka estava rindo alto agora e arrastado seus outros companheiros para a pista de dança. Scott já havia se transformado em um idiota bêbado como sempre, balbuciando sobre coisas de sua ex namorada (seja lá quem for, ele sempre falava dela quando estava bêbado). Desta vez, Oliver havia bebido, ou alguém havia colocado um pouquinho de álcool em sua bebida, pois agora ele estava muito perto de Alex, parecendo sonolento e exausto. Isso era bom, ao menos ele não iria incomoda-lo.

Sua dor de cabeça não importava mais, e ele não conseguia nem dizer em que estado ele estava. Alex estava praticamente sendo alguém que não tinha sido nas ultimas semanas e isso começou a apavora-lo, como as podiam mudar tão facilmente com uma simples quantidade de álcool. Talvez esse fosse o problema dele, afinal. Essa era a única coisa que faltava em sua vida, a coisa que poderia corrigi-lo e desviar aqueles olhares preocupados de suas costas: álcool. Talvez fosse um bom método de fuga para se adotar. Olhe para ele agora, apenas uma quantidade de álcool e ele voltou a ser o Alex que todos amavam. Ele tinha voltado exatamente para aquele dia em que eles beberam em outra ocasião estupida de Luka até que ele estivesse bêbado demais para falar direito. Aquele dia parecia ter sido há anos atrás para ele. Tudo em sua cabeça estava embaçado e pensar certamente não era algo que ele conseguia fazer agora. No entanto, por mais semelhante que fosse a aquele dia, Alex se viu cambaleando em direção ao banheiro e vomitando no vaso sanitário que certamente não era muito higiênico para começar.

Essa era exatamente a ultima coisa de que ele se lembrava, ajoelhado no vaso sanitário, tendo o resto de seu estômago sendo empurrado com força de volta para a garganta pelo esquema perverso do álcool. Lembrou-se dos ladrilhos frios sob seus pés e do som de sua própria garganta, vomitando.

Sim, era a sua própria voz que ele ouvia e tinha certeza de que não estava ouvindo gritos.

Não, ele definitivamente não estava ouvindo gritos.

 

 

Alex estava atrás do volante novamente. Sua dor de cabeça era agonizante e ele definitivamente estava indo rápido demais para a rua. Ele não podia se culpar, porém, porque se lembrava de querer ir para casa o mais rápido que pudesse. O cheiro de álcool fedia o ar e cada farol não fazia nada além de fazer seus olhos semicerrados e sua visão embaçada. Suas palmas suavam e seu coração batia forte. Só um pouco mais. Só mais um pouco e ele estaria em casa. Ele conhecia a rua muito bem e com certeza sabia que havia um cruzamento na frente, aquele pelo qual ele tinha que passar toda vez que tinha que chegar ao seu próprio apartamento com um sinal vermelho que demorava muito. À distância, ele podia ver a luz verde provocando-o.

"Uma garota foi atropelada neste mesmo cruzamento alguns meses atrás."

Estaria vermelho quando ele conseguisse alcançá-lo, então ele basicamente fazia o que uma pessoa faria em uma rua tão vazia às 3 da manhã. Ele pisou no acelerador com ainda mais força e desviou para a frente, mais rápido do que nunca.

E você sabe a pior coisa, Alex? A polícia não encontrou nenhuma marca de pneu...”

Foi quando sua dor de cabeça o atingiu novamente, como uma pessoa batendo com um martelo em sua cabeça. Alex gemeu, fechando os olhos por alguns segundos, tirando uma das mãos do volante para massagear a testa. 

"-o que significa que o carro nem parou até atingir aquela pobre garota. Dá para acreditar?"

Foi algo que ele fez por apenas uma fração de segundo, mas no momento em que abriu os olhos, pôde ver alguém parado bem na frente de seu carro, as luzes atingindo a figura. Não demorou muito para ele registrar quem poderia ser, apenas para perceber que realmente havia alguém parado na frente de seu carro com os olhos arregalados, aparentemente tão surpreso quanto ele. 

"Ele deve ser um assassino e tanto."

Algo estalou dentro de Alex e ele pisou no freio com força, desviando da figura, girando o volante como um louco. Foi muito parecido com o que ele fez quando bateu em Xavier, embora desta vez seu carro balançasse como um louco, saindo da rua em direção ao outro lado do cruzamento antes de bater em um poste próximo, atingindo a traseira do carro com um estrondo alto. Alex sentiu o impacto, seu corpo tremeu e a cabeça girou. O carro finalmente parou de se mover e ele soltou um grande suspiro, sentindo todos os seus membros se transformarem em geleia.

O que tinha acontecido? Ele bateu em alguém de novo? Espere. A última coisa de que se lembrava era de vomitar na boate. Sim, ele estava fazendo isso exatamente antes de sua visão ficar embaçada e ele não conseguir se lembrar de mais nada. Era como se alguém tivesse pressionado o botão de pular em sua mente e de repente o tivesse sentado atrás do volante. Ele estava voltando do clube para casa antes de chegar ao cruzamento e ver alguém lá.

Só que desta vez não foi um sonho. Era muito real e isso significava que ele estava prestes a bater em alguém agora, não é?

O pensamento finalmente o fez abrir a porta do carro às pressas. O choque realmente não havia diminuído, como aconteceu na primeira vez que ele bateu em Xavier, explicando seus pés cambaleantes no asfalto. Só que desta vez não havia sangue na testa, e isso explicava por que ele não estava tão enjoado. Ele deu a volta no carro para ver um grande arranhão na parte traseira direita de seu carro, estilhaçando a luz e deixando uma marca aparente nela.

Ele então virou a cabeça em direção ao cruzamento, tentando encontrar a pessoa parada em frente ao carro, rezando em sua mente para que nada de ruim tivesse acontecido com aquela pessoa. Caramba, ele não saberia o que fazer se tivesse machucado a pessoa mais do que Xavier. Ele com certeza foi amaldiçoado neste mesmo cruzamento, ele pensou, porque ele continuava batendo nas pessoas aqui e foi praticamente culpa de sua dor de cabeça e da porra do sinal vermelho.

E foi nesse momento que ele percebeu que o cruzamento estava vazio.

Seu sangue gelou.

O cruzamento estava vazio. Não havia ninguém lá além de Alex e seu carro quebrado.

Ele tinha certeza de ter visto alguém ali. Uma pessoa que ele estava prestes a bater. De fato, havia alguém. Isso não poderia ser algum tipo de sonho agora, poderia? Será que ele atingiu a pessoa e ela foi simplesmente lançada no ar e desapareceu? Mesmo que fosse esse o caso, o corpo não iria simplesmente desaparecer assim. Não deixaria Alex parado ali de boca aberta, sozinho apenas com seu carro quebrado. Afinal, ele teria sentido o impacto. No entanto, a única coisa que sentiu e que o convenceu de que não era um sonho, foi o impacto que sentiu quando seu carro bateu no poste. Ele não sentiu nada de antemão. Alex enterrou o rosto na palma da mão, sua respiração de repente ficou mais pesada e sua dor de cabeça veio correndo. Ele estava imaginando tudo isso? Isso era mesmo uma realidade? Ele não poderia nem mesmo diferenciar qual de qual agora. Ele estava de volta a boate pela última vez que se lembrava antes de desmaiar e se ver atrás do volante. Isso era uma realidade ou simplesmente algo que sua mente estava jogando em si mesmo?

No meio de sua confusão, pelo menos uma coisa estava clara. Algo que ele percebeu, um fato falado com clareza cristalina.

Ele não tinha encontrado outra pessoa.

Alex Webber não era um assassino.

(O que só explicaria que Alex Webber era louco em vez disso.)


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