Mirrorball escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 5
You are not like the regulars




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Estava mais ansiosa do que de costume. Já fazia semanas que ela e Draco mal se falavam, ainda que vivessem na mesma casa e até dormissem na mesma cama. Simplesmente, não aguentava mais a falta de resolução daquele problema e, na verdade, para além de lhe amargurar, a estava irritando. Não imaginava que ele fosse levar a briga àquele extremo dessa vez, pois eles sempre, inevitavelmente, se resolviam. 

Brincando com os dedos ansiosos sobre a barriga, encarava as sombras da noite dançando no teto do quarto, iluminado somente pelas luzes dispostas do lado de fora, no jardim da mansão e, também, dos relâmpagos que, vez em quando, cortavam o cômodo. 

A tempestade lá fora não deixava com que o silêncio soasse tão pesado quanto realmente era. Draco e ela estavam acostumados a conversar por horas na cama, com ou sem sexo, nunca deixavam de ter assunto. Agora, porém, não havia nada, ainda que tivesse certeza que não estava dormindo também. Resignada, virou a cabeça para olhar as costas dele, cobertas pela camiseta escura de mangas que, agora, era adepto.

Estreitando os olhos, chegou à conclusão de que tinha vontade de bater nele por aquele tipo de atitude passivo-agressiva, mas sabia que também tinha sua parcela de culpa, pois seu orgulho não deixara que movesse um dedo para mudar a situação do casamento deles nos últimos dias. Havia escolhido esperar que o tempo passasse, paciente aguardando que a situação se consertasse por si só e a ferida que ele deixara claro estar aberta se fechasse sozinha. Mas não foi o caso, pelo contrário. 

Em meio a um suspiro farto, Hermione jogou os cobertores de lado e as pernas para fora da cama, sentindo a textura macia do tapete logo ao lado da cama antes de caminhar pelo piso de madeira, mais frio, em direção à porta e abrir com cautela, seguindo para o largo corredor sem qualquer iluminação. 

Não era necessário, conhecia aquela mansão como a palma de sua mão e, duas portas depois, abriu a última do corredor. Eram apenas ela e Draco por muito tempo, então ninguém ia ali. O cômodo possuía alguns armários e cômodas embutidos já na construção, bem como uma lareira de pedra clara e levemente brilhante, que ia do chão ao teto sem qualquer modéstia. Cortinas claras e genéricas adornavam as três janelas compridas, que davam vista exatamente para a fonte à esquerda do jardim deles. 

Não fez questão de acender as luzes, porém, ele ressoava exatamente o que parecia: memórias quase vazias de anos antes. Resignada, seguiu para um dos armários, onde abriu ambas as portas e, posteriormente, a primeira gaveta de madeira muito clara onde viu, sob a iluminação constante dos relâmpagos, a única peça de roupa guardada ali. 

Parecia fazer mais tempo do que realmente tinha. Desdobrou com cuidado o pequeno macacão de bebê, passando os dedos com calma sobre o tecido muito macio de cashmere e os botões de pérolas. Não se lembrava que aquela peça fosse tão minúscula, não havia tido tempo de se habituar à realidade da futura maternidade. 

Se lembrava de confirmar a gravidez em um dia, ir até uma loja de roupas infantis, escolher com cuidado aquela pecinha de um verde muito clara, pois sabia que agradaria à Draco, mesmo que não soubessem se era menina ou menino, pois não tinha realmente importância para eles. Tinham conversado bastante sobre filhos e, embora não estivessem realmente empenhados na tentativa, conhecia tudo o que o sonserino pensava sobre o assunto. Sabia que Draco estava, de fato, preparado para ser pai, por isso não demorou a entregar a simples caixa de papel bege, amarrada com uma cordinha fina, onde tinha colocado a peça.  

Então, quando viu os olhos dele brilharem intensamente só para ela ao perceber do que o presente inesperado naquela noite ordinária de fevereiro se tratava, não temeu nem por um segundo. Ficariam bem, poderiam começar a construir a família deles, mesmo que ainda encarassem alguma resistência de seus amigos, para além de toda a sociedade. 

Porém, havia sido tudo rápido demais: desconfiar dos sintomas, fazer os exames, ter a confirmação, contar a Draco e, então, descobrir que perdera a criança, dois dias depois, após um sangramento tão pequeno que chegava a ser ridículo. Simples assim. 

Logicamente, Hermione sabia que estava gerando uma vida, mas seu corpo não parecia nada diferente, às vezes até se esquecia de que estava grávida, pois além do leve enjoo não havia nada que a pudesse diferenciar de qualquer mulher. Ainda iria começar a se acostumar com a ideia, ainda iria desenvolver barriga pelos próximos oito meses, ainda iria sentir as demais mudanças hormonais e físicas, ainda iria nutrir expectativas sobre aquele bebê, ainda iria amá-lo. 

Sentia-se tão distante da ideia de estar grávida, que em si habitava quase uma frieza em relação a isso, então lidara bem com a perda. Apesar de tudo, a frustração lhe bateu ao ver como Draco ficara chateado. Talvez devesse ter esperado um pouco mais para contar, mas ele afirmou que entendia os riscos iniciais, que aquilo era relativamente normal e que voltariam a tentar, no futuro.  

Mas eles nunca tentaram, realmente, e agora se perguntava porquê. Tomavam alguns cuidados, mas nunca realmente evitaram um filho. Voltando a dobrar o pequeno macacão sem pressa, pensava que pareciam ter perdido a expectativa sobre uma criança deles, sem que sequer tivessem tido tempo de construir uma, mesmo com tanto tempo de relacionamento. 

Eram quase dez anos e nunca realmente pararam para planejar uma família, sentiu os olhos marejar ao fechar a gaveta, deixando o passado onde deveria ficar, e logo em seguida o armário do quarto que, numa noite daquela semana distante, Draco e ela tinham concordado que seria o quarto do bebê. 

— O que está fazendo aqui? 

Se voltou ao loiro, estacado sob o portal, a olhando com o cenho o franzido. Ele sabia muito bem de tudo aquilo, inclusive que o pequeno macacão verde, a única coisa que dava indício do que havia acontecido, pois sequer contaram para alguém, ficava ali. 

— Apenas… Pensando.

Deu de ombros, cruzando os braços contra o corpo. A temperatura estava mais baixa. Draco continuou a encará-la por um momento, parecendo meio tenso com a mão fechada em torno da fechadura da porta, até que piscou e passou os olhos pelo ambiente vazio. 

Depois daqueles primeiros dias, nunca haviam realmente conversado a respeito da perda deles.  Não haviam falado sobre expectativas, nem voltado a conversar sobre filhos, em qualquer tópico, fosse para discutir sobre a casa de Hogwarts, fosse para comentar um nome legal que tinham ouvido, como faziam naquela época, quando não havia esse peso pendente entre eles.  

— Do jeito que estamos, um bebê é a última coisa que precisaríamos. Você sabe disso. 

Ele estava sendo cruel para machucá-la, como sempre costumava fazer quando se sentia acuado, chegando à conclusão que a maternidade havia brotado nela como um desejo. Hermione sorriu de forma amarga, vendo-o fazer menção de lhe dar as costas e fechar a porta.

— Você pensa nisso? - Questionou vendo-o parar novamente e respirar fundo, abaixando os olhos para o chão, como se pensasse nas palavras corretas, como se pedisse paciência a alguma entidade, pois não queria adentrar o assunto novamente. Chegou à conclusão que deveria ter conversado com seu marido sobre isso há muito tempo, a sensação amarga de que aquele assunto deveria ter sido resolvido entre eles antes de começar a surgir como uma mágoa. - Pensa na família que poderíamos ter? 

— Às vezes. - Ele foi monossilábico, mas mais suave e até distante. - Como em um luto, mas também, como algo… Que sequer chegou a ser meu para que eu tivesse esse direito. 

Talvez, Hermione tivesse relegado a magnitude daquela perda muito mais à lógica anatômica de seu corpo do que à deles como um casal, afinal, não tinha muito sobre o que se enlutar. Ao menos, era assim que pensava. Embora, visse que, talvez, não tenha sido bem assim. 

— Sinto muito. 

Disse à ele pela primeira vez, notando como agora, talvez, não fizesse mais sentido ou tivesse mais motivo. Ele apenas meneou a cabeça, processando o que dissera por um instante, os dedos pestanejando sobre a fechadura. 

— Sabe… Sempre pensei em nós dois como família. 

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Notas finais do capítulo

Eu só sei escrever tristezas, ainda mais sobre esses dois!

Espero que estejam gostando dos caminhos de Draco e Hermione aqui ♥ Me deixem saber suas opiniões!

até breve ♥



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