Mirrorball escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 6
I'm a mirrorball




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Hermione se levantou, passando a juntar algumas pastas para levar parte do trabalho para a casa. Apesar de Draco e ela não estarem em bons termos, não queria se tornar ausente, pois sabia que, se o fizesse, então eles realmente se encaminhariam para um doloroso fim. 

Se passasse a tratá-los com indiferença, como se não se importasse com ele ou o casamento deles, sabia que ele seria capaz de terminar tudo. Ele não aceitaria metades, por mais que a amasse, e não aceitaria aquele tipo de autodestruição deles por muito mais tempo.  

Para falar a verdade, estava exausta. Mesmo o trabalho no Ministério parecia mais pesado naqueles dias, mas não queria desistir, mesmo que o sentisse escorrendo entre seus dedos mais e mais. 

— Hermione! - Justin Bowery, do Departamento de Negócios Estrangeiros, estacou à sua porta, que estava sempre aberta, parecendo ter se lembrado repentinamente de algo. - Ainda não vi seu nome confirmado na lista da recepção. 

Justin e Meghan, sua esposa, dariam um chá de bebé em alguns dias e, por mais que fosse um de seus colegas mais próximos, sabia que ele estava convidando metade do Ministério da Magia. Já havia notado como ele se utilizava, mais do que o comum, daquelas oportunidades informais para estabelecer um contato mais próximo com todos ao redor, mas principalmente todos os olhares que ele lhe dava sempre que pensava estar distraída. 

— Ainda não verifiquei com Draco se ele estará livre para ir. 

Respondeu no automático, pois sequer se lembrava de qualquer festinha e, no momento, não fazia qualquer questão de comparecer, fosse com Draco ou não. Estava cansada de sorrir, ser educada, se esforçar para ser a mais competente e ainda ter a impressão de que qualquer um sairia à sua frente apenas porque era casada com ex-Comensal da Morte. 

— Bem… Se ele não puder, você é sempre bem-vinda sozinha. 

Então, Hermione repentinamente soltou as pastas sobre a mesa, notando os próprios músculos mais tensos do que de costume. Como havia deixado que todas essas pouco sutis indelicadezas passassem, como se fossem normais? Como se, realmente, fosse obrigada a lidar com isso apenas por conta do passado de Draco, como se a dívida dele nunca acabasse?

Draco tinha se acertado com a sociedade há anos. Antes mesmo de se envolver com a grifinória, logo após o fim da Guerra, ele fizera seu acerto com a Justiça Bruxa, o que envolvia muito dinheiro doado para famílias enlutadas, vítimas de Voldemort, e para reconstrução de locais importantes destruídos, além do período de um ano em prisão domiciliar. Não estava certo que as pessoas continuassem a, não tão tacitamente quanto sempre pensava ter sido, exigir que ele pagasse por suas escolhas do passado. 

— É meu marido. - Suas mãos espalmaram sobre a mesa espaçosa de madeira quando levantou os olhos para Justin, deixando claro que o que dissera havia sido ridículo. -  Se ele não puder ir, não conte comigo também. 

— Como quiser. 

O observou dizer em meio a uma risada arrogante, como se não se importasse em ser totalmente mal educado, deixando a porta de seu escritório. Havia sido sempre assim? Por todos aqueles últimos dez anos, Hermione simplesmente anuíra a cada pequeno detalhe como aquele? Draco sempre a chamara a atenção para como aquilo acontecia repetidamente e até chegava a concordar que estava certo e que era um infortúnio, mas nunca sentira, realmente, como era desagrável, limitador e frustrante. 

Homens como Bowery, Booth e Edgecombe sempre se viram totalmente à vontade para fazer aquele tipo de comentário e deixar algo subentendido sobre Draco, justamente, para ela. Por todo aquele tempo, eles apenas faziam isso porque parecia não se importar com os comentários, o que era verdade,  pois não mudariam nada em seu relacionamento, ou porque sabiam que não iria retrucar? Eles sabiam que iria ouvir e baixar a cabeça em um sorriso sem graça, porque, bem no fundo, supostamente concordava com cada palavra maldosa não dita em cada roda de conversa, que fingia não entender? 

Hermione engoliu em seco e ajeitando os cabelos, encarou as pastas com as mãos trêmulas, como se tentasse organizar os pensamentos de maneira tão repentina sob aquele balde de água fria. Lembrou de como Draco, na semana anterior, havia expressado que pensava que os dois já eram uma família, ou seja, o suficiente para agir como a instituição pedia, sem que precisassem de filhos para provar que eram estáveis e não uma decisão impensada que manifestava uma fantasia adolescente. 

E, enquanto andava de um lado a outro em sua própria sala, após fechar a porta com um bater seco resultado de um feitiço não verbal, para deixar os olhos curiosos do lado de fora, lembrou de algo que Harry lhe dissera há muito tempo, quando deixara claro não concordar nem um pouco com seu relacionamento. Ele havia sido mais duro do que imaginara que seria e a amizade deles, desde então, havia esfriado um pouco: “Me preocupo com você, Hermione. Me preocupo quando perceber, em alguns anos, que Draco Malfoy é a única família que lhe resta.” 

Harry havia dito em um sentido pejorativo, querendo dizer que, no futuro, poderia contar apenas com Draco, uma pessoa pouco confiável. Mas, agora, era capaz de entender o significado disso, ao menos para si mesma, pessoalmente. E Draco estava certo: ela era sua família e ele era a dela, no fim das contas. No sentido mais íntimo, entendedor e significativo que isso queria dizer. 

Ainda notando as mãos trêmulas, rabiscou uma mensagem e foi até a lareira, endereçando ao escritório de Draco. Sem esperar qualquer resposta, Hermione vestiu o casaco e alcançou apenas a bolsa social, sem pastas de trabalho ou qualquer coisa do tipo e saiu pelos corredores do Ministério, desviando dos demais bruxos, que também terminaram o expediente, a passos largos. 

Algumas pessoas tentaram falar com ela, pois estava acostumada a deixar o Ministério da Magia bem depois do horário comum, mas, não parou e nem se desviou, seguindo direto para uma das grandes lareiras de mármore escuro e chamas esverdeadas do átrio, agradecendo mentalmente que não havia filas para aparatar.  

Concentrando-se, logo se viu à frente da Floreios e Borrões, a coisa mais óbvia e fácil, que passou por sua mente enquanto tinha apenas Draco na cabeça. Por isso, teve que seguir andando pelo caminho de pedras do Beco Diagonal lotado no horário de pico da tarde, que já começava a anoitecer muito rapidamente.

Não demorou a chegar à frente da fábrica de poções, mas resolveu não entrar e, do outro lado da rua, simplesmente esperou pelos próximos minutos, mal contendo a ansiedade. Racionalmente, deveria ter esperado uma resposta. Se quisesse usar um pouco mais do cérebro, deveria entrar pela porta giratória e seguir pelo hall luxuoso para a sala dele, pois assim conseguiria conversar como uma pessoa normal. 

Mas não queria que fosse assim e, alguns minutos depois, quando já não aguentava mais o ruído de seus saltos contra o chão de pedras perante o escritório da empresa ou os olhares de outros bruxos, que passavam pelo Beco, a reconhecendo como “Aquela Hermione Granger”, ele passou pela porta giratória e não pestanejou ao andar diretamente em sua direção. 

Notou no semblante sério, que Draco tentava disfarçar a preocupação por conta do conteúdo de seu bilhete rabiscado, mas Hermione era especialista no loiro a tempo demais para não perceber os olhos a percorrendo em busca de algo errado e a pequena linha enrugada bem acima da sobrancelha esquerda. 

— O que aconteceu? Você está bem? 

Sem fazer questão de responder, Hermione se aproximou e fechou os lábios sobre os dele em um beijo forte, sem deixar espaço para que ele a afastasse. Passou os braços pelos ombros mais altos, alinhando seus corpos, sentindo toda a presença quente que não sentia no que parecia fazer tempo demais, entremeando os dedos nos cabelos loiros da altura da nuca, sem nenhuma pressa. 

Notou que ele precisou de alguns segundos para processar o que estava acontecendo e que a resposta veio no momento em que as mãos se fincaram em sua cintura, puxando-a para ainda mais perto enquanto os lábios finalmente ganhavam vida contra os seus, se encaixando como faziam há dez anos, sem dificuldades, ao mesmo tempo em que lhe dava as boas vindas.

Hermione o apertou um pouco mais, prolongando o contato e o formigamento se espalhando de sua cabeça até a coluna em uma reação familiar demais para que pudesse abrir mão tão fácil. Desde o primeiro instante em que Draco a tocou, aquele arrepio, que nunca sentira com mais ninguém, nunca a deixou. Suspirou contra a boca macia e o perfume do marido a envolvendo de verdade, após tanto senti-lo de longe por todos aqueles dias. 

Quis chorar só por tê-lo novamente, como se Draco, realmente, tivesse ficado fisicamente longe durante aquele tempo. Por isso, apenas afastou seus rostos, notando-o ofegante, ainda de olhos fechados e cenho franzido, surpreso pelo contato totalmente inesperado. Tentando ignorar a pontada em seu peito por vê-lo tão desarmado depois de todos aqueles dias, levou um dos dedos aos lábios dele, limpando o resquício de seu batom com calma e, finalmente, o acompanhou abrir os olhos para encará-la. 

— Nós… Não fazemos isso. 

Ele disse de forma séria, embora um tanto confusa, fazendo menção de olhar ao redor para ver se alguém estava olhando, pois, por todo aquele tempo, evitavam sair juntos em qualquer lugar bruxo. No entanto, Hermione o impediu, segurando seu pescoço, sem deixar que se afastasse ou racionalizasse sobre como aquilo seria noticiado no dia seguinte, pois sempre que eram vistos juntos ganhavam uma nota no Profeta Diário. 

— Podemos fazer isso. 

Selou seus lábios novamente, com mais delicadeza dessa vez, quase desesperada para fazê-lo compreender que eles podiam ser mais. Draco se afastou apenas o suficiente para olhá-la, os dedos enluvados por conta do inverno segurando seu queixo de forma íntima, assim como os tempestuosos orbes acinzentados, que sempre foram capazes de lê-la sem muito esforço, parecendo ver através de sua alma. Amava isso sobre ele, bem como o modo como se perdiam um no outro com tanta facilidade - mesmo em meio a tantos espectadores e à vida atribulada que possuíam ao lado um do outro. 

— As pessoas estão olhando. 

Draco murmurou naquele tipo de humor que apenas ele tinha e Hermione, finalmente, pôde soltar um pequeno sorriso, alívio percorrendo seu coração inteiro enquanto passava os dedos pela lapela bem passada do casaco grosso. 

— Você é minha família. - Declarou junto aos lábios bem delineados, notando o brilho apreciador nos olhos mais claros, iluminados pelas luzes das vitrines das lojas do Beco. Aquilo era melhor que qualquer feitiço de casamento ou mesmo qualquer aliança que usavam no dedo, era sobre eles, de verdade, não sobre a sociedade ao redor. - Qualquer opinião que as pessoas tenham sobre, é irrelevante para mim. Talvez, devesse ter percebido isso há mais tempo. 

— Você ouviu algo de que não tenha gostado? - Ele não precisou de muito para decifrá-la. 

Se sentindo envergonhada de maneira quase infantil, Hermione confirmou, vendo-o evitar um suspiro enfadado. Só então, notou que, para Draco, talvez fosse algo bem mais corriqueiro do que pensava, afinal não passavam o tempo todo juntos. Então, a bruxa se aproximou ainda mais para que a conversa ficasse apenas entre eles, em detrimento das pessoas que passavam pelo Beco. 

— Eu não deveria fingir não ouvir as pessoas te ofendendo o tempo todo. Achei que, fazendo isso, elas iriam parar e acabei deixando que se estendesse e te incomodasse assim. 

Então, ele levou uma das mãos para ajeitar a franja cacheada que o vento tocava para junto de seu rosto. Notou, porém, que apesar do assunto complicado entre eles, o semblante de seu marido era bem mais leve do que em todos os últimos dias quando o vira durante o café da manhã e, muito depois, quando se encontravam apenas para se deitar lado a lado e dormir. Toda aquela situação entre eles o fizera definhar, assim como ela. Draco estava exausto também. 

— Quando vai entender que só o que importa é o que você pensa a meu respeito? - Os dedos dele seguiram de sua franja para seu pescoço, firmando-se em sua nuca para depositar um beijo bastante convicto em seus lábios.  - Eles não são nada para mim, Hermione. 

Draco já havia lhe falado isso de diversas formas e, na maioria das vezes, encarava como um resquício do antigo Draco e sua arrogância tradicional, tão fincada nele que, mesmo depois de saber que se tornara um bom homem, vez em quando se manifestava. Mas agora podia ver: as exigências dele nunca eram sobre os outros, mas sobre o que ele esperava dela, sua esposa, Hermione Granger, e seu lendário senso de justiça. 

— Sinto muito… Por magoá-lo assim. - Pediu, sem hesitar, no que ele apenas meneou a cabeça, como se dissesse que era incorrigível. 

— Vamos para casa. 

O loiro declarou e se afastou para puxá-la pelo Beco Diagonal, os dedos firmemente entrelaçados aos seus e a cabeça erguida enquanto desviavam sem pressa dos outros bruxos. 

Hermione encarou o perfil pretensioso logo ao seu lado, evitando abrir um sorriso tão apaixonado quanto seus olhos deveriam estar mostrando, a sensação indescritível de caminhar ao lado de seu marido a tomando por completo de maneira estranhamente orgulhosa. Era sempre assim quando se tratava de Draco e ela, por isso, se deixou simplesmente aproveitar. 

I’m a mirrorball

I’ll show you every version of yourself tonight


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Notas finais do capítulo

Uma conversa muito necessária entre eles! Eu amo como Hermione reconhece que está errada e tudo o que Draco quer é que ela reconheça isso, mas não pros outros porque ele simplesmente não se importa kkkk Por isso, o verso da música, que acho que combina bastante com essa dualidade deles.

Espero muito que tenham gostado dessa jornada de Draco e Hermione, eu estava sentindo falta de escrever sobre eles ♥ Esse é o penúltimo capítulo, por isso o nome já faz referência ao título da música e o próximo será mais como um epílogo!

Me deixem saber o que acharam e até breve! ♥



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