Quase um mês escrita por annaoneannatwo


Capítulo 6
Capítulo 6




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Assim que Katsuki chega à cozinha, ele é recebido por uma figura muito familiar que abre um sorriso cheio de dentes quando o avista, são poucos os idiotas que conseguem estar com essa cara de bobo alegre tão cedo;

— Olha só quem caiu da cama! — o Kirishima ri ao olhar a hora em seu relógio de pulso — Não são nem… 10 e meia ainda?

— Vai se foder! Que raios você tá fazendo aqui?

— Aww, bom dia pra você também! Sua mãe disse que eu podia entrar porque você já tava acordado, mas pelo jeito não, né?

— Velha maldita… — ele resmunga, esfregando os olhos enquanto se aproxima da bancada da cozinha — E você quer o quê aqui?

— Ué, só passei pra dar um oi, você tá sumido desde que as férias começaram.

— E você acha mesmo que não foi de propósito? — Katsuki pega algumas coisas na geladeira pra preparar seu café.

— Claro que foi, e você acha que isso ia me impedir de aparecer por aqui? — ele devolve em tom zombeteiro.

— Tsk, você só tá aqui enchendo o saco porque a Rosinha meteu o pé nessas férias.

— Imagina! Se a Mina estivesse aqui, teria vindo comigo, você sabe disso! Então, quais as novidades?

— Nada que te interesse.

— Sério? Mais ou menos uma semana de você fazendo nada?

— Treinando e cuidando da minha própria vida, que é o que você deveria estar fazendo.

— Eu tô treinando todo dia, falou? Bom, quase todo dia… — ele se defende — Hoje é minha primeira folga de verdade desde que as férias começaram, arranjei um bico de verão, então tô indo mais de boa.

— E não foi encher o saco do Pikachu e do Fita Crepe por quê?

— Ah, o Kami deve tá dormindo ainda, certeza. O Sero tá sumido desde a tempestade ontem, acho que ainda tá sem sinal lá pros lados que ele mora. Vim aqui achando que você já ia ter acordado faz tempo, mas você ainda tava dormindo, taí uma coisa rara.

— Tsk, eu acordo a hora que eu quiser.

— Que normalmente é bem mais cedo que isso, né não? Resolveu curtir as férias pra valer?

Katsuki nunca acorda depois das 8 durante as férias, e olha que isso é acordar mais tarde do que o normal dele durante o período letivo, ele odeia permanecer muito tempo na cama porque quanto mais tempo enrola pra levantar, mais difícil é pra sair depois, e ele não vai ficar de preguiça porque tem mais o que fazer. Hoje ele acordou mais tarde e já tá se arrependendo enquanto a moleza corre por seu corpo, tornando-o pesado e meio lento, vai levar uns minutos até ele estar com a energia certa pra começar a manhã. Tsk, é uma merda sair da rotina desse jeito, por isso ele odeia acordar tarde, e principalmente, dormir tarde. 

Não que tenha sido esse o caso exatamente, 9 e meia ele já estava na cama ontem à noite, cochilando um pouco por mais ou menos uma hora quando a luminária em sua estante se acendeu, indicando que a força havia voltado. Ele se  esticou pra apagar a luz, e então se lembrou de uma coisa: a Cara de Lua cochilando no sofá. Tsk, que porra foi aquela? Por que ela tava ali? Katsuki terminou de lavar a louça que sujou pra fazer o chocolate quente e, quando tava subindo pro quarto, ouviu um barulho no sofá de couro. Ao se aproximar, ele viu que a Uraraka tava lá, que coisa mais bizarra, não tinha dado nem dez minutos desde que ela tava na cozinha falando um monte de groselha e naquele momento já tava no último dos sonos. Ele pensou em cutucá-la e mandar ela ir pro quarto, mas aí lembrou do quanto odeia quando alguém interrompe suas sonecas, então deixou a maluca lá. Uma hora ela ia acordar e perceber que tinha dormido no lugar errado.

Mesmo já em seu quarto, ele ainda tinha certeza que foi o que ela fez, mas mesmo assim Katsuki desceu pra verificar e… não, ela não tinha acordado. Porra, aquele sofá nem é tão confortável assim pra dormir, por que ela ainda tava ali?

Dessa vez ele a cutucou, mas ela só se virou no sofá, dando as costas pra ele, e resmungou alguma coisa que não deu pra entender. Revirando os olhos, Katsuki tentou de novo, mas ela seguiu dormindo, provavelmente achando que os sussurros de “acorda aí, Cara de Lua” eram sonho ou alguma coisa assim. Ugh, que saco! Sem muita escolha, ele levou uma mão para debaixo do ombro dela, a outra embaixo do joelho, e a ergueu para carregá-la, agora desejando que a doida realmente não acordasse, se não ia aprontar um escândalo daqueles. Katsuki a levou pro quarto de hóspedes, não conseguindo deixar de pensar o quanto ela parecia pequena aninhada nele e, ao mesmo tempo, como os músculos da coxa dela eram rígidos… sabendo que parecia um tarado pensando desse jeito, ele a largou na cama e meteu o pé antes que ela acordasse. Ainda levou uma meia hora até que o sono voltasse a tomar conta de seu corpo. Tsk, agora os horários de dormir tão todos desregulados por causa da maldita da Cara de Lua e…

E…

Cadê ela? Será que tá dormindo ainda?

— Tsk, eu acordo a hora que eu quiser. — ele repete e volta sua atenção pro preparo do café da manhã, e então grita pra que possa ser ouvido no ateliê — Ô, velha! Já tomou café?

— Já! — ela responde no mesmo volume — Não precisa fazer a mais nem pra mim nem pra Ochako-chan!

Ótimo, se tinha alguém que ia saber da Cara de Lua, seria ela. Lógico que a Uraraka não estaria dormindo até essa hora, ela disse mais de uma vez o quanto tava envergonhada de estar ali, certeza que se pirulitou assim que o sol nasceu… bom, ou não, vai saber, ela dormiu igual a uma pedra, nem acordou quando ele a carregou, tava até babando.

O que o faz lembrar que Katsuki deveria ter tirado uma foto pra zoar com a cara dela, só pra ela aprender a ficar esperta. Menina bizarra do caralho, se achando e querendo dar lição de moral sobre treinamento e autocuidado pra um minuto depois dormir em qualquer canto. Katsuki tinha que ter deixado ela dormir naquele sofá duro pra ficar com um puta torcicolo e aquelas coxonas bem irritadas de ficarem pressionadas contra o couro da almofada.

— “Ochako-chan?” — o Kirishima pergunta — É a Ura, né? Ela tá trabalhando com sua mãe.

— Como é que você sabe disso?

— A Mina me falou.

— Lógico que falou. — ele revira os olhos e suspira.

— Ela vem hoje? Quero dar um oi pra ela também.

— Eu tenho cara de quem sabe do horário dela?

— Só perguntei por perguntar porque vocês devem se esbarrar todo dia, eu hein.

— Tsk, nem todo dia. Ela só dormiu aqui ontem por causa do toró.

— Ah, pode crer. Imagina voltar pra U.A. naquele tufão? Sem condição nenhuma.

— Hã?

— O quê?

— Por que caralhos ela ia voltar pra U.A.? A gente tá de férias, a escola tá fechada.

— Hã… é, mas os dormitórios ficam abertos pra quem não vai embora nas férias. A Ura fica em todo recesso que a gente tem. — ele fala sem tirar os olhos do celular — Acho que esse ano ficou só ela da Turma A.

— E cadê os velhos dela?

— Em Mie, se eu não me engano. Ela é de lá.

Mie? Bem que Katsuki achou esquisita a preocupação dela em querer falar com os pais no meio da tempestade, é porque eles tão longe pra caralho! Tsk, ela tagarelou tanto sobre um monte de coisa ontem à noite, mas não mencionou nada disso, que garota doida. E porra… a U.A.? Katsuki tá tão aliviado por poder ficar longe daquele inferno barulhento que é o dormitório, — não que aqui não seja tão barulhento quanto — mesmo que seja por só três semanas, mas ela vai passar essas três semanas lá, no fim é como se nem fizesse diferença estar ou não de férias.

Agora dá pra entender aquele papo dela de não ter tempo pra se dedicar ao que interessa pra ela, a maluca fica enfurnada na escola mesmo em época de férias e passa metade do dia trabalhando com uma velha escandalosa, quem ia ter saco de treinar depois disso tudo? 

E por que raios ela não falou nada disso? Ah é, porque ela gosta de ficar pianinho sobre certas coisas, como a própria admitiu. Tsk, ele nem sabe qual o lance dela com o Deku, mas se a Cara de Lua prefere ser discreta, ele não duvida que ela poderia estar namorando o nerd maldito em segredo, aí pra isso ela arranjaria tempo, com certeza.

— Não sabia disso aí. — ele resmunga quando seu café fica pronto.

— Da Ura? Ah é, não é segredo nem nada, mas não é uma coisa que ela comenta muito também, acho que fica caro pra ela voltar pra casa. Mas pô, nem deve ser tão ruim assim, né? Ficar com aquele espação todo dos dormitórios só pra ela por quase um mês inteiro.

Pelo pouco que ele sabe dela, não, pra Uraraka deve ser uma merda.

***

 

Mesmo sabendo que é irracional, Ochako olha para o sol iluminando esse início de tarde com seu mais profundo ódio. Ela adora dias ensolarados, sempre irá preferi-los em relação a qualquer noitinha chuvosa ou com neve, onde se dá pra curtir preguiçosamente debaixo das cobertas. Não, dias ensolarados são bem melhores, muito mais proveitosos, e é bem melhor para ela se mover pela cidade cumprindo todas as incumbências que lhe foram dadas pela senhora Mitsuki, mas… uurgh, é meio irritante estar debaixo desse sol depois de todo o sufoco que passou ontem por conta da tempestade, é como se a natureza estivesse rindo da cara dela, lembrando-a de como a garota é refém do clima e suas crises temperamentais.

Ochako sabe que está sendo injusta, não foi essa tortura toda. Ela se protegeu da chuva em uma casa confortável, comeu um jantar delicioso, bebeu chocolate quente com marshmallow, teve uma conversa bastante curiosa e divertida em muitos pontos com o Bakugou e… foi carregada por ele para a cama. Céus, que vergonha! Seu rosto arde só de pensar nisso, e não dá pra culpar o calor que se instaurou na cidade depois do tufão de ontem.

Ela nunca acordou tão cedo como hoje de manhã, saindo da casa dos Bakugou assim que terminou de se trocar. Ochako deixou um bilhete no ateliê da senhora Mitsuki, agradecendo pela hospitalidade e avisando que levaria o pijama que o Bakugou lhe emprestou para poder lavar e devolver apropriadamente. Dando uma breve olhada na porta do quarto do garoto explosivo, ela cogitou deixar um bilhete para ele se desculpando pela inconveniência, mas acabou recuando, sentindo-se envergonhada demais pra isso.

Ela correu para a U.A. a fim de tomar banho e se trocar, tomou café da manhã, ligou para os pais para saber se o tufão chegou em Mie e se aliviou em saber que por lá não chegou a ser tão feio, depois entrou em contato com seus amigos, tranquilizando-se em saber que todos estavam seguros em suas casas enquanto o mundo caía lá fora. Quando questionada sobre estar sozinha na U.A., ela teve que ser honesta e contar onde estava naquela hora, e isso poderia ser um momento em que a garota se encontraria inusitadamente grata por ter tido companhia em uma noite tão caótica, mas… aí ela se lembrou de como a tal noite acabou e seu rosto pegou fogo, mas claro, a parte sobre ter sido levada para o quarto pelo Bakugou foi omitida, ela não conseguiu contar nem pra Tsu.

Mesmo com a manhã recheada de afazeres e do começo de tarde já previamente determinado pela senhora Mitsuki, Ochako não tirou isso da cabeça o dia todo, por que ele só não a acordou? Seria bem mais fácil pra ele, não tinha necessidade de ser tão delicado e gentil, ainda mais depois da maneira como ela falou com ele enquanto estavam conversando, o Bakugou disse que não liga, que prefere ela sendo grossa contanto que seja honesta, e isso deveria deixá-la aliviada, mas só a faz se sentir pior, ele foi tão generoso oferecendo chocolate quente pra ela, e depois ainda teve essa. Ochako sabe que ele é bem mais gentil e prestativo do que faz parecer, mas é completamente diferente ser o alvo dessa gentileza, ela tá acostumada e mais preparada para lidar com ele como foi nos primeiros dias do trabalho, sendo mesquinho e infantil só porque ela estava “roubando” momentos dele com sua mãe, agora um Bakugou hospitaleiro e benevolente que a carrega para a cama como uma criança que cochilou onde não devia não é algo fácil para se lidar. Ela não sabe nem como vai conseguir olhar na cara dele quando o vir de novo.

Por sorte, Ochako está muito atarefada com coisas para se fazer fora do ateliê da senhora Mitsuki. Ela já foi a uns três lugares diferentes no centro da cidade, mas ainda não está nem na metade do expediente, e logo deverá encontrar a chefe. Só lhe resta torcer para o Bakugou ter decidido ficar fora de casa o dia todo, assim eles não precisam se ver por hoje e o constrangimento será evitado por pelo menos mais um dia. Será que ele também tá com vergonha? Bakugou pode ter feito o que fez por alguma obrigação moral ou por querer evitar alguma bronca da mãe caso tivesse deixado a hóspede largada no sofá, mas isso não impede de ter criado ao menos um pouco de desconforto pra ele, eles nem tem um nível assim tão alto de amizade para que algo assim fosse considerado normal. De toda forma, ela segue torcendo para que o garoto não esteja em casa.

— Opa! E aí, Ura? 

Acaba não sendo o caso quando Ochako chega à casa dos Bakugou e encontra o Kirishima sentado tranquilamente no sofá, o mesmo em que ela cochilou ontem à noite e do qual foi cuidadosamente retirada. O loiro não está com ele, mas com certeza está em casa, não tem chance do Kirishima estar fazendo uma visita sem seu amigo aqui para recepcioná-lo.

— Kirishima-kun! Tudo bem?

— Tudo certo! Só curtindo minha folguinha do meu bico de verão, você deve ser uma das poucas que me entende, né?

— Hahaha, não só entendo como te invejo um pouco, minha folga ainda tá um pouco longe, é só sábado que vem.

— Ah, então você vai aproveitar ao máximo quando chegar, vai por mim.

— Sim, é o meu plano mesmo. — ela dá uma olhada ao redor — Então… cadê o Bakugou-kun?

— Ah, ele deu uma saída, daqui a pouco ele volta.

— Ele… saiu? — ela franze o cenho.

— Aham. Você precisava falar com ele?

— Não, não! Eu só… —  Ochako dá uma risada sem graça — estranhei ele ter saído e deixado a visita sozinha.

— Ah, eu não tô sozinho, não. A mãe dele tá aí, ela que pediu pra ele dar um pulo no mercado. Eu podia ter ido junto, mas fiquei com preguiça. É assim direto. — ele dá de ombros.

— Entendi, você já é bem de casa, né?

— Você também! Até dormiu aqui ontem, não foi?

— N-não, mas… mas foi por causa da chuva, eu não… — ela sente as bochechas esquentarem — Eu… a Mitsuki-san precisa de mim. Com licença, Kirishima-kun.

— Ah, beleza. Foi legal te ver, Ura!

— Igualmente. Até mais! — Ochako se retira e praticamente corre para o ateliê da senhora Mitsuki, que recebe todos os recados que a garota tem para lhe passar sobre as “missões” que teve que cumprir hoje.

— Obrigada pelo trabalho duro de hoje! — sua chefe lhe agradece e inclina a cabeça levemente, olhando-a com curiosidade — Só não entendi porque você saiu tão cedo de manhã, você podia ter tomado café com a gente.

— Oh, imagina! Vocês já fizeram tanto por mim, eu não poderia abusar mais do que já abusei.

— Não é abuso nenhum! É sempre bom ter um pouco de alegria nessa casa, o Katsuki é um mau-humorado chato do caramba, é legal quando temos uma conversa animada no jantar, por isso gosto do Kirishima-kun que tá lá na sala também. — ela ri, e Ochako dá um sorrisinho sem graça — O Masaru disse que você e o Katsuki ficaram conversando depois do jantar, ele não foi grosso com você, foi?

— O… o quê? O… — ela arregala os olhos, e então tenta se acalmar para que não dê a entender algo errado — O Bakugou-kun disse que o Bakugou-san podia ter cochilado no ateliê dele, eu… espero que a gente não tenha falado alto demais e incomodado.

— Ah não, não se preocupe. Ele me disse que ouviu vocês na sala e achou melhor não atrapalhar, por isso não desceu. — ah sim, então o senhor Masaru os ouviu antes de eles terem ido para a cozinha, o que significa que ele não viu Ochako dormindo no sofá nem o que aconteceu depois e… — Mas você não me respondeu, o Katsuki foi grosso com você?

Em alguns momentos, sim. Como ele sempre é. Mas é impossível falar mal do Bakugou depois de tantas manifestações de… cavalheirismo? Não, essa não é bem a palavra, ele provavelmente faria as mesmas gentilezas com algum menino tipo o Kirishima — talvez não carregá-lo para o quarto porque deve ser meio difícil até pra ele erguer alguém como o ruivo — então… gentileza mesmo? É, algo por aí. Mas ele também foi delicado, então… doçura? Taí uma palavra estranha para se usar em se tratando dele, mesmo que seja perfeitamente aplicável nesse contexto. 

— Não, o Bakugou-kun foi muito, muito legal comigo. — ela garante com serenidade.

— Ah… jura? Que bom. — não dá pra saber se ela acredita mesmo pelo jeito como ergue uma sobrancelha — Fico tranquila por você não ter se arrependido de ficar aqui ao invés de enfrentar uma tempestade para ir à casa dos Midoriya.

— Oh… aquela foi uma ideia bem precipitada minha, né? — Ochako dá uma risada sem graça.

— Bom, eu achei bem burra, para falar a verdade, mas consigo entender um pouco, o menino Midoriya é bem mais amigável que meu Katsuki. — e depois da pedrada de honestidade, Ochako nem sabe como responder a isso — Você é muito amiga dele?

— Sou, sim. — ela confirma.

— Entendi. Ele é um menino bem bonzinho, brincava muito com o Katsuki quando eles eram mais novinhos, hoje em dia eu quase não o vejo. Queria que eles tivessem continuado amigos, ele era uma boa influência pro Katsuki.

— Ele ainda é. — Ochako diz sem pensar muito, e então percebe o que acaba de dizer — Q-quero dizer, eles são rivais na escola, talvez a senhora saiba disso, e no começo era bem mais tenso, mas… hoje em dia eles se entendem melhor, eu… eu acho que eles são amigos, de certa forma, os dois tão sempre… incentivando um ao outro a melhorar, então… eles se influenciam muito de um jeito bom.

— Você tá sempre achando algo bom pra falar do meu Katsuki, hein, Ochako-chan?

— Ah, eu… eu não sou tão próxima dele, mas… como eu disse quando a senhora me contratou, admiro muito seu filho, Mitsuki-san.

— Tanto quanto o Midoriya-kun?

— S-sim, acho que sim. — ela praticamente engasga, não sabendo porque está tão envergonhada com tantas perguntas relacionadas ao Deku. O Bakugou andou falando alguma coisa pra mãe dele nesse sentido? Não teria a menor lógica, mas vai saber.

— Entendi. Bom… muito obrigada por ser tão gentil com ele, viu? Muito mais do que ele merece.

— Não, imagina. — Ochako tosse, meio sem graça.

Logo a conversa se desvia para assuntos do trabalho, e a garota é poupada de continuar nesse papo estranhamente pessoal. Nem por isso ela consegue escapar dos pensamentos intrusivos em relação à noite passada. Em teoria não foi nada demais, só uma gentileza com uma dorminhoca, mas ainda assim tem algo de… íntimo no gesto dele. É, é isso que a deixa tão encabulada, ele a segurou dormindo e a colocou numa cama e… aaargh! Pensando assim, parece quase… romântico! Mas não é romântico! Nem da parte dela, quanto menos da dele! Ainda assim, Ochako sente seu rosto ferver sempre que pensa nisso.

E só piora quando ela finalmente o reencontra, sentado no pequeno degrau em frente à porta da entrada de sua casa, junto do Kirishima. Ela não tinha intenção de falar com ele hoje, mas é impossível quando ele tá literalmente no caminho dela pra ir embora.

— Ô, Uraraka! Acabou por hoje? Bom trabalho! — o ruivo cumprimenta enquanto mastiga um picolé.
— Obrigada, Kirishima-kun!  Eu, hã… já vou indo, eu… — ela olha timidamente pro Bakugou, que nem sequer ergue a cabeça para olhá-la.

— Ei, peraí! Quer um picolé? O chatão aqui não quis. —  ele dá uma leve joelhada no loiro e estende a metade do picolé azul que tem em mãos. Não dá pra negar que ela ficou com um pouquinho de vontade quando viu o sorvete, então acaba por aceitar a oferta do ruivo — Foi tudo tranquilo?

— Foi, sim. Eu tive que ir em alguns lugares no centro para a Mitsuki-san, então hoje foi mais agitado, mas ainda assim é bem tranquilo. E o seu trabalho, Kirishima-kun?

— Ah, é de boa! Tô trabalhando de recepcionista numa academia perto de casa, é bem legal e combina comigo!

— Hahaha, acho que combinaria mais com você ser instrutor na academia, né?

— Nossa, muito obrigado! Bem que eu queria, hein? Mas o dono nunca ia deixar um moleque dar aula. — ele lamenta — Ah, Ura, eu tava aqui conversando com o Bakugou, aí queria te perguntar, você disse que sua folga vai ser sábado que vem, né?

— Uhum.

— Bacana! Se você tiver sem nada pra fazer, sai com a gente!

— Oh… obrigada pelo convite! Eu já tenho um compromisso com a Tsu-chan e os meninos à noite, então não sei se daria tempo…

— Tsk, não falei? — o Bakugou finalmente se manifesta.

— Ah, entendi… a gente também tava pensando em sair à noite pra ir no festival de verão.

— Espera, o que vai ter semana que vem?

— Uhum.

— É nesse mesmo que a gente vai! —  ela ri.

— Ah é? Olha aí! Então a gente pode se encontrar lá! Né não, Bakugou? — o loiro não responde — Cara, você tá todo estranhão, tá passando mal?

— Não enche, Kirishima. — ele resmunga, ainda mal levantando a cabeça. Oh, será que ele tá com tanta vergonha quanto ela? É perfeitamente compreensível, e Ochako se sente péssima por vê-lo constrangido assim, mas… ao mesmo tempo, ela tá um pouco curiosa pra ver se o rosto dele tá vermelho.

— B-bom, então… a gente se vê lá, se vocês forem mesmo…

— Eu não vou. — o Bakugou diz, resoluto.

— Ué, por que não? — o Kirishima pergunta — Vai ser ainda mais legal do que só nós, o Kami e o Sero, cara!

— Aham, vai ser uma beleza com o Quatro-Olhos cagando regra e o Meio a Meio com aquela cara de peixe morto, sem contar o nerd do Deku que- não me me mete nessa palhaçada, não.

— Ah, qual é, cara! Nosso último ano, praticamente as últimas férias, você vai ficar enfurnado em casa as férias inteiras? Fala pra ele, Uraraka!

— E-eu? — o ruivo acena com vigor — Oh, eu… bom, se você não quer ir mesmo, Bakugou-kun, não acho que você precisa se forçar, mas… seria bem legal, vai ser divertido! Vai ter um monte de comida gostosa e barracas de joguinhos, e… ah, sabia que até o Shinsou-kun vai?

— Sério? — o Kirishima sorri, mas então fecha a cara — Pera, mas se ele vai, significa que… o Monoma vai também?

— Olha, não sei, mas pode ser que sim.

— Aff. — o ruivo cruza os braços — Agora já desanimei também.

— Bom, pelo que eu já vi, o Monoma-kun é bem mais comportadinho quando o Shinsou-kun tá junto. — ela comenta com uma risadinha.

— Hum, igual o Bakugou aqui que tá todo tímido por sua causa?

— O QUÊ? — ela e o Bakugou perguntam juntos, de olhos arregalados.

— CALA BOCA, KIRISHIMA! DO QUE VOCÊ TÁ FALANDO, SEU PASPALHO? — o Bakugou se levanta e avança pra cima do Kirishima, que se levanta também e ergue as mãos como se estivesse se rendendo. Ochako se preocuparia com o ruivo se não estivesse vendo o enorme sorriso na cara dele.

— Katsuki, isso é jeito de falar com seu amigo? — outra voz masculina surge da entrada, e os três se viram pra ver o pai do Bakugou se aproximando.

— Opa! Boa tarde, Bakugou-san! —  o Kirishima cumprimenta.

— Olá, Bakugou-san! — Ochako se curva — Obrigada pela hospitalidade de ontem!

— Imagina, não precisa agradecer! Ainda bem que ficou tudo bem, e olha que engraçado: hoje a tarde está linda, não está?

— Pois é, posso voltar pra casa mais tranquila.

— Pra casa nada, você vai pra U.A. — o Bakugou resmunga.

— Hum? Ah… ah é, é meio que minha casa.

— Ah, você não volta pra casa nas férias? — o senhor Masaru pergunta, e Ochako balança a cabeça — Entendo. Bom… sinta-se à vontade para ficar aqui mais um pouquinho caso se sinta solitária, você e o Katsuki com certeza não vão ficar sem assunto para conversar, pelo que eu vi ontem à noite.

— Eita, é mesmo? — o Kirishima pergunta com curiosidade.

— Cala boca, Kirishima!

— Katsuki…

— Deixa, deixa, Masaru-san! Aqui, deixa eu ajudar o senhor com a pasta. — o Kirishima se aproxima e pega a maleta das mãos do senhor Masaru, conduzindo-o para dentro como se fosse ele o dono da casa.

E isso acaba deixando-a sozinha com o Bakugou pela primeira vez desde a noite passada.

— Hahaha, o… o Kirishima-kun é bem de casa, né?

— Folgado, isso sim. —  ele lhe dá as costas e se prepara para entrar também — Falou, Cara de Lua.

— Bakugou-kun, peraí! — ele para, mas não se vira pra ela — Eu… agradeço a você também pela hospitalidade e… por tudo.

— Tá. — ele faz que vai entrar novamente, e ela o impede de novo, dessa vez segurando a barra da camiseta dele

— E… e-eu… — ela quer pedir desculpas pelo inconveniente, mas então percebe que isso só vai incomodá-lo, da mesma maneira que incomodou quando ela se desculpou por passar dos limites em como falou com ele — Eu… s-se você puder ir ao festival, eu… eu acharia ótimo, eu… te daria algo em retribuição pelo… pelo que você fez ontem à noite.

— Tsk, foi só um chocolate quente, Cara de Lua, nem é tudo isso.

— Eu… eu não tô falando do chocolate quente, Bakugou-kun, tô falando do que você fez… depois. — ele a olha por cima do ombro — Y-Yakitori! Você gosta de yakitori? Eu te compro um, que tal? Ou… qualquer outra coisa que você queira comer.

— E-esquece isso. — ele se vira — Não foi nada demais.

Será mesmo que não foi e é só ela que tá pirando? 

— Bom, ok… mas minha oferta fica de pé, então… pensa com carinho, ok? Eu… já vou indo.

— Eu não sabia. — ele diz — Que você tava na U.A.

— Ah, sério? É, eu fico todas as férias.

— Que bosta, hein?

— Eu não gosto muito também, mas… faz parte. — Ochako dá de ombros e sorri — Até mais, Bakugou-kun.

Ele não responde nem se vira, mas ela ainda encara isso como sua deixa para ir embora. Ochako não ouve o barulho da porta se abrindo durante todo o caminho que faz para sair do jardim da casa dos Bakugou.

Será que ele está olhando pra ela? Não teria porquê, mas por algum motivo, ela meio que gosta de pensar que ele está.


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Notas finais do capítulo

Oioi! Trago minha última atualização do ano, fui escrevendo esse capítulo bem devagarzinho, sem muita pretensão, mas aí me empolguei na metade e taquei um monte de diálogo porque é o que eu mais gosto de fazer mesmo huahushs
Bom, o Kiri apareceu, logo teremos mais participações ilustres, embora eu não saiba quando vai ter atualização huahushsu

Obrigada por mais um ano acompanhando minhas fics, mesmo que esse ano tenham sido bem menos, desejo um excelente fim de ano e que, em 2023, a gente possa se reencontrar com mais doiduras da minha cabeça por ship de desenho japonês huhuhsihad

Beijos e até mais!



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