DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 9
O Ataque


Notas iniciais do capítulo

O parasita maligno se apresenta, deixando a todos desesperados pela vida de Nero. Com a ajuda de Dante, a medicastra tenta atrair e remover a criatura, mas o ser não vai desistir de seu hospedeiro facilmente.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807779/chapter/9

Trish depositou Kyrie no chão. Lady e Nico ficaram ao lado da jovem, enquanto a loura voltou para ver o que estava acontecendo. A primeira coisa que viu foi o rosto de Nero transtornado pela dor e medo. Dante o segurava contra o corpo e fazia uma imensa força para não deixá-lo sair da cama.

A segunda e mais aterrorizante visão foi o que parecia uma serpente negra saindo do peito do jovem. Uma entranha protuberância na ponta desse apêndice grotesco se abria e fechava, mostrando pequenos dentes e ventosas, tentando alcançar a carne nas mãos da medicastra. 

Esta movia-se languidamente, como se dançasse para a criatura e seus movimentos eram quase hipnóticos. Ela virou seu olhar para Trish e indicou com a cabeça o saco de sal caído no chão. Trish aproximou-se bem devagar, evitando assustar a coisa e apanhou-o. Ela sussurrou:

—O que eu faço?

—Feche todas as entradas com o sal. Faça um círculo ao redor e junto às paredes. Não podemos deixar que isso escape.

            Trish obedeceu e fez o que a mulher pediu. Nesse momento, Nero abriu os olhos e emitiu um grito terrível. A coisa se moveu e virou-se, como se quisesse voltar ao esconderijo no peito do caçador, mas a medicastra trouxe a carne ainda mais perto da criatura, que ignorou Nero e voltou sua atenção para o alimento.

Os movimentos dela forçaram a estrutura do ser a sair cada vez mais da ferida. Trish ficou na escada, deixando todo o espaço do quarto para as ações da mulher. A medicastra girava o corpo e a coisa se movia com ela, formando um círculo no chão. Era preciso que corpo saísse totalmente de Nero.

Nero convulsionou e sangue saiu de sua boca. Dante exclamou:

—O que... Não! Aguente firme, garoto!

            A medicastra tinha os olhos focados na criatura e murmurou:

—Um pouco mais... Venha...

            Então a última ponta da serpente soltou-se da ferida e caiu no chão com um baque seco, como se não pesasse nada. Nesse segundo, A medicastra soltou a carne num canto do cômodo e pulou na direção de Nero, tocando seu peito sobre a ferida e de suas mãos, dezenas de ramificações começaram a cobrir o buraco que servia de ninho para a coisa.

            Dante viu o rosto da mulher se contorcer, como se apressar aquela ação fosse demasiado, mas ela não parou até que uma teia de minúsculas raízes formasse uma cobertura sólida dentro e sobre a ferida.

            O ser ainda se distraía devorando a carne, que era grande demais para sua boca, porém os movimentos da medicastra chamaram sua atenção e ele percebeu que seu hospedeiro estava diferente.

            Nero gritou e puxou um dos braços, soltando-se de Dante. Acertou o caçador com uma forte cotovelada no queixo e caiu da cama, empurrando a mulher à sua frente. Ela caiu e Nero ficou apoiado pelas mãos e joelhos, arfando e tossindo sangue.

            Dante levantou-se da cama e a criatura ergueu-se acima deles, abrindo a boca e emitindo um terrível chiado. Ela focava sua atenção em Nero e avançou, mas foi rechaçada pela espada que Dante invocou rapidamente:

—Isso já foi longe demais, seu filho da puta!

            O ser rodopiou pelo quarto, tentando encontrar uma saída, mas o sal parecia impedi-lo. Ele girou mais uma vez na direção de Nero e Dante saltou, acertando seu corpo, cujo pedaço atingido se dissipava no ar, mas a criatura continuava serpenteando na esperança de alcançar o hospedeiro. A medicastra apanhou sal e jogou sobre o rapaz e quando a coisa deu um bote, Dante aparou-o com a espada.

            O caçador de demônios avançou muitas vezes para atingir o ser maligno, mas seu tamanho e composição eram difíceis de combater num espaço tão pequeno onde estavam. Quando a criatura passou por baixo de suas pernas, Dante atingiu-a, reduzindo ainda mais seu tamanho, mas sem sucesso que ela parasse.

            Nero soluçava a cada golpe recebido pela criatura, como se houvesse uma ligação entre eles. A medicastra percebeu esse detalhe e falou:

—Senhor Sparda! Quando eu pedir, não hesite!

            Dante franziu o cenho e virou-se. O que aconteceu em seguida foi rápido como um raio. A mulher empurrou o caçador e entrou na frente de Nero, quando o ser avançou na direção dele para tomá-lo novamente. A protuberância com dentes e ventosas enterrou-se no peito da medicastra, que agarrou o corpo da criatura com toda força, impedindo-a de avançar ou fugir.   

            Ao mesmo tempo, no jardim, Inanna apertou o tecido que cobria seu peito com força e arfou. Vergil, parado do lado de fora da estrutura percebeu e chamou:

—Ei! O que houve?

            Ela tremeu e ergueu os olhos para o guerreiro. Os olhos dela estavam totalmente escuros. Vergil desembainhou a Yamato e apontou na direção dela.

Simultâneo ao evento, no quarto do farol, a medicastra afastou-se de Nero, a criatura se debatendo em suas mãos e enterrada em seu peito, sujando suas vestes de gosma negra. A mulher avançou contra Dante, gritando:

—Sua espada! Agora!

            Dante recuou, assustado com o que ela queria que ele fizesse, mas o olhar dela mostrou que era preciso e com um golpe certeiro, a lâmina de Rebellion atravessou o corpo da criatura, empalando a mulher na ação derradeira.

            Nero gritou e caiu no chão, desacordado. Trish, que assistiu a tudo, emudecida, entrou no cômodo para apoiar o rapaz. Ela amparou o corpo dele e verificou sua pulsação. Aliviada, enxugou as lágrimas e falou:

—Ele está vivo! Dante...

            Ela voltou seu olhar para o caçador. A espada jazia ao lado de Dante e a medicastra estava em seus braços. Ela tinha a roupa toda suja de gosma da criatura que se desmanchou após ser destruída. Os olhos de Dante miravam o rosto da mulher e ele falou, trêmulo:

—Eu... Sinto muito...

            Ela sorriu e ergueu a mão suave e pálida, alcançando o rosto dele:

—Você fez bem. Nero está a salvo agora.

—Você...

—Não se preocupe...

            Abaixo do farol, no jardim, Inanna caiu de joelhos e gemeu, como se sentisse dor. Ela raspou o chão com as mãos e respirou profundamente um par de vezes. Vergil andou de um lado a outro da entrada. Ele escutou gritos vindos do farol e o som metálico de uma espada. Impotente, esbravejou:

—O que está acontecendo aqui?          

            Então ele olhou a espada em suas mãos. Fechou os olhos e murmurou:

—Que seja!

            Num gesto rápido, ele ergueu a Yamato e atravessou o próprio corpo, que brilhou com o poder do ritual. Caiu de joelhos e uma forma espectral saiu dele, materializando-se devagar ao seu lado. Vergil ergueu o rosto e encarou o homem nu, parado ali, que o olhava com espanto. A Yamato havia desaparecido de seu peito. Curiosamente, Vergil não desapareceu no processo de separação.

            V encarou seu alter ego e inclinou a cabeça. Vergil respirou fundo e falou:

—Não me olhe assim.

            O guerreiro apontou para o jardim e V olhou para a jovem que se estava inclinada sobre os joelhos:

—Eu não posso atravessar esse portal, mas talvez você possa.

            V deu um passo e Vergil segurou-o pelo ombro:

—Pegue meu casaco...

            V olhou-se e concordou. Não seria adequado abordar a jovem estando sem roupa alguma. Assim, coberto o máximo que o casaco permitiu, V atravessou a estrutura e nada aconteceu. Nenhuma raiz surgiu para impedi-lo ou atacá-lo por invadir o santuário. Vergil respirou aliviado e observou o homem seguir até Inanna.

            A jovem tremia violentamente e não percebeu quando V ajoelhou-se ao seu lado e pousou a mão em seu ombro. Ela virou-se de uma vez, mais de surpresa do que susto e ouviu a voz dele:

—Eu posso oferecer alguma ajuda?

            V olhou as mãos dela mergulhadas na terra macia e percebeu que pequenas raízes estavam profundamente agarradas a elas. Os olhos de Inanna estavam baços e suor escorria de sua testa até o pescoço. Ela balbuciou:

—Preciso recuperá-la... Ela está... Está...

            Repentinamente, Inanna parou de falar e expirou. Seus olhos se voltaram para as mãos e ela sorriu. No quarto do farol, Maud, Trish e Morrison estavam parados, assistindo a um evento que ficaria em suas memórias para sempre. Dante segurava o corpo imóvel da medicastra, quando pequenas raízes partiram das paredes e começaram a subir pelas vestes da mulher, envolvendo-a num tipo de casulo. Raízes maiores se aproximaram e terminaram de criar uma estrutura que começou a se arrastar rumo ao andar acima do quarto, levando a medicastra com ela.

            Dante ficou sentado no chão, mudo e confuso. A coisa toda era surpreendente e assustadora na mesma medida. Maud cruzou as mãos sobre o peito e fechou os olhos, visivelmente aliviada:

—Ela conseguiu.

Os presentes não entenderam o gesto da anciã e transferiram sua atenção para Nero, que agora estava de volta na cama, colocado por Trish um pouco antes. A fina rede de raízes que cobria a ferida em seu peito mostrava ao redor uma pele rosada e saudável, diferente da escura e repugnante enquanto a criatura se abrigava ali.

Nico subiu devagar, com medo de encontrar um pandemônio e ao ver todos parados junto à cama onde repousava Nero, ela suspirou aliviada e entrou:

—Digam que está tudo sob controle!

            Trish virou-se e falou:

—Como está Kyrie?

—Catatônica, eu acho.

            A loura suspirou. O jeito direto e debochado da artesã era irritante às vezes, mas dado a tudo que aconteceu nas últimas horas, era um bálsamo para os sentidos.

            Dante tocou a testa do sobrinho e falou:

—Que enrascada foi essa em que se meteu, garoto?

            Trish tocou o ombro do caçador:

—Nero salvou um garoto. O resultado disso foi essa coisa em seu peito. O que o manteve vivo foi ser filho de Vergil... Ser um Sparda...

—Alguma coisa boa tinha que vir de toda essa merda...

            Trish deu um tapa no braço de Dante:

—Não diga isso! Graças aos céus que você é Dante Sparda. Ou nosso mundo estaria mergulhado na escuridão.

            O caçador se virou para a mulher e sorriu:

—Te vejo falando desse jeito... Finalmente abraçou toda essa coisa de humanidade, flores, pássaros cantando, perfume das flores...

—Não deboche! Dias atrás entrei numa igreja!

            Dante deu uma sonora gargalhada e Trish cobriu o rosto. Ele abraçou a loura e disse:

—Valeu por ajudar o garoto, Trish. Sabia que a Devil May Cry estaria em boas mãos...

            Ela devolve o abraço:

—Lady e Nico também fizeram um bom trabalho. 

            Ele olhou a artesã ali parada, junto à cama e pousou a mão em seu ombro:

—Valeu por ajudar Nero e Kyrie, Nico... Sua avó ficaria orgulhosa de você.

            O rosto de Nico corou e ela olhou para o chão, encabulada:

—Isso... Seria legal...

            Lady subiu ao quarto com Kyrie em seus braços. A jovem parecia desmaiada e Maud aproximou-se, tocando a testa dela:

—Ela ficará bem, mas nesse momento acho que devemos deixar os dois repousarem.

            Lady depositou Kyrie ao lado de Nero na cama. A visão dos jovens amantes lado a lado encheu o coração dos presentes de ternura. Dante sorriu:

—Almas gêmeas... Nero é um moleque sortudo.

            Um a um, eles saíram do aposento e desceram para a cozinha, onde Maud serviu água fresca ao grupo. A anciã falou com voz calma e cansada:

—Devem estar se perguntando o que houve com a medicastra... Acho que lhes devo explicações, principalmente ao senhor Dante...

—Só Dante, por favor...

            Ela assentiu e todos se acomodaram para ouvir o que ela tinha a dizer. Naquele instante, no jardim, Inanna estava apoiada no peito do estranho homem que amparou-a em sua agonia. A jovem parecia imensamente esgotada e respirava profundamente, sem forças para se mover.

            Vergil estava sentado numa pedra, observando sua parte humana segurando a moça. Era estranho olhar para V e entender que era parte dele. Que todo o tempo em que estiveram separados, o homem nele agiu, sofreu e lutou para curar suas mazelas. Buscou redenção quando percebeu que todas as ações desmedidas em busca de poder, trouxeram apenas dor e sofrimento, loucura e desespero.

            V tinha o semblante tranquilo e esperava alguma manifestação de Inanna. Ela parecia confortável ali, inclinada sobre ele e o calor dela era reconfortante. Outra coisa chamou a atenção do homem. O volumoso cabelo da jovem cheirava a plantas.

            Era uma mistura curiosa de odores adocicados, acres e cítricos ao mesmo tempo. Era agradável e V aspirou profundamente, buscando entender como era possível aquele mix de notas olfativas que o remetiam a lembranças diversas.               Vergil também sentiu esse odor e percebeu que o que V sentia era transmitido para ele, não muito marcante, mas suave, como se houvesse uma névoa entre eles.

            V segurou o ombro da jovem e apertou gentilmente:

—Inanna.

            Ela moveu a cabeça e virou-se para um lado e outro, confusa. Ela percebeu que estava aninhada a ele e afastou-se devagar:

—O que...Oh!

            Ele falou:

—Você desfaleceu.

            Ela passou as mãos pelo rosto:

—Oh, Deusa...

            V permaneceu ao lado dela, que sentou-se e olhou-o. O homem era alto e pálido. Os cabelos brancos caíam até quase o pescoço e os olhos eram verde folha, aguçados e melancólicos. Ele sorriu num canto da boca:

—O que aconteceu agora a pouco? Você parecia sofrer.

            Ela esfregou os braços:

—É complicado. Mas acho que tudo vai ficar bem. Nero está a salvo agora.

            Vergil ouviu aquilo e fechou os olhos, aliviado. Agradeceu em seu coração que Dante estava ali para ajudar seu filho e sentiu-se mal por não poder fazer nada. V voltou seu olhar para o guerreiro, compartilhando aquele sentimento. Inanna olhou ao redor e viu que Vergil ainda estava do lado de fora. Ela voltou seu rosto para o estranho:

—Quem... É você? Como entrou aqui? Não o vi chegar na balsa com os outros!

            V balançou a cabeça, recordando de quando apareceu na Devil May Cry pela primeira vez e se apresentou a Dante:

—Também é complicado explicar isso... Digamos que vim de um jeito diferente.

—Como o senhor Dante e...

            Ela indicou Vergil com a cabeça e ele bufou, furioso que ela ainda o hostilizava. V sorriu:

—Mais complicado. Pode me chamar de V.

            Ela concordou, mas quando baixou o olhar, percebeu que ele estava vestido com nada mais que o casaco de Vergil, que o cobria, mas não muito. Ela arregalou os olhos, corou e virou o rosto rapidamente, constrangida, e V percebeu:

—Oh! Perdoe-me... Na minha chegada repentina, ocorreram alguns... Percalços.

            Ela balançou a cabeça e se levantou um tanto cambaleante. V levantou-se em seguida e segurou-a pelos ombros:

—Vá com calma.

            Nisso, Maud saiu do farol, seguida por Morrison e os caçadores de demônios. Dante viu o homem ao lado de Inanna e abriu muito os olhos:

—Essa não!

            Ele invocou a espada Rebellion e avançou:

—V!

            O homem virou-se para Dante e franziu o cenho, confuso:

—Dante? O que...

            Dante gritou:

—Urizen! Onde está...

            Inanna encarou o caçador agitado e raízes brotaram do chão, envolvendo o homem e arrancando-lhe a espada das mãos. Ninguém entendeu bem o que aconteceu, mas Vergil aplaudiu e começou a rir:

—Bravo, irmão! Sua vez de tocar o sino!

            Trish cobriu a boca e Lady começou a rir também. Morrison aproximou-se de Dante, caído no chão e enrolado em raízes:

—Tudo bem aí, meu amigo?

            Dante bufou e riu:

—Humpf! Só o orgulho um pouco ferido.

            Nico pousou seus olhos em V, sorriu e assoviou:

—Fiu! Fiu! Olá! Belas pernocas, poeta!

            Vergil encarou Nico com uma carranca e ela fez uma careta:

—Nada pra você, senhor Sparda!

            Maud foi até Inanna e abraçou-a:

—Minha querida menina! Você lutou bravamente! Estou orgulhosa!

            Inanna sorriu e devolveu o abraço com carinho:

—Tive tanto medo! Achei que a tinha perdido...

            Trish e Lady observaram a cena e Morrison ajudou Dante a se levantar tão logo as raízes o libertaram:

—Está sendo um dia e tanto, hein, amigo?

            Dante alisou os cabelos rebeldes que caíam sobre os olhos:

—Depois da última notícia, eu jogo a toalha!

            Lady riu e falou, debochada:

—Bem feito, seu Dom Juan de araque! Imagine só! Cortejar uma... Quase planta?

            Trish segurou o braço de Dante:

—Já imaginou os bebês? Hum?

            Lady começou a rir:

—Iam vir em vasinhos!

            Naquele momento, todos começam a rir, enquanto Vergil, V, Maud e Inanna observam sem entender do que falavam. Dante ergue os braços:

—Certo! Certo! Já servi de alívio cômico o suficiente! Preciso comer algo bem salgado e gorduroso! Estou saindo!

            Ele desceu as escadas e passou por Inanna, encarando a jovem por alguns segundos, para em seguida sair pela estrutura e ganhar a trilha da encosta rumo ao vilarejo de pescadores. Vergil percebeu essa ação e seguiu o irmão, em silêncio, até que estivessem longe do grupo. Dante caminhava pensativo, até que falou:

—Seu garoto está fora de perigo. Está dormindo profundamente agora e logo poderão se falar.

—Não é isso que estou para te perguntar...

—Quer saber do que falavam lá atrás?

—Precisamente.

            Dante parou e olhou para o mar ao longe. O vento estava mais frio à medida que a tarde se aproximava. Vergil olhou a paisagem e esperou. Dante riu:

—A medicastra... Ela é um tipo de avatar... Uma manifestação física da garota.

            Vergil franze o cenho:

—Oh... Então...

—Sim. O poder que se manifesta em toda a ilha e principalmente no santuário vem de Inanna. A anciã nos contou sobre a chegada dela a esse lugar, sobre como tudo passou a prosperar e sobre aquela árvore grudada ao farol.

—Aquela árvore deve ter 200 anos...

—Uns vinte anos.

—Quê? Impossível! Nada pode crescer daquele jeito em tão pouco tempo!

—Mas cresceu... Maud acredita que Inanna seja um avatar também. Ao longo da história do mundo, essa entidade ganhou muitos nomes em diversas culturas e religiões. Gaia, Nantosuelta, Ceridwen, Reia, Tiamat, Anann, Njord... Agora Inanna.

—Se ela é tão poderosa, porque nunca se ouviu falar dela no continente?

—Por que ela se manifesta através da medicastra. Ninguém que passou por essa ilha em busca de ajuda viu a garota fazer outra coisa que não cuidar de seu jardim. É nesse momento que a medicastra está interagindo com os pacientes. Eu... Observei que, quando essa mulher caminha pelo farol, seus pés estão descalços e minúsculas raízes formam um tapete sob seus pés. Ela é como uma marionete de ventríloquo, só que muito mais aprimorada. É uma distração e tanto para que a garota fique nos bastidores.

—A medicastra é uma...

—Basicamente é um ser vegetal! Talvez seja até um elemental...

            Vergil ergueu uma sobrancelha:

—Ainda não entendi os gracejos lá atrás...

            Dante sorriu e baixou o olhar:

—Aquela... Criatura. Ela me deixou meio... “Balançado”. Como eu ia saber?

            Vergil recuou e seus olhos se abriram muito:

—O que... Você diz!?

            Dante imaginou que viu de tudo em sua vida, mas assustou-se ao ver Vergil rir tão alto e fácil que começou a rir com o irmão. Após o momento de descontração, Vergil tocou o ombro de Dante e tomou fôlego:

—Você é um caso perdido, irmãozinho! Quando finalmente uma mulher chama sua atenção, você corre o risco de ter que regá-la duas vezes ao dia e pôr em banho de sol pela manhã!

            Vencido pela piada de Vergil, Dante deu de ombros:

—Bem... Se isso a deixar feliz!

            Eles voltaram a rir por mais algum tempo e Dante enxuga os olhos:

—Certo. Agora sua vez! Que sua metade humana pelada faz no santuário? E porque ainda está aqui quando não deveria estar?

—Me fiz a mesma pergunta. Agora que mencionou a garota e esses poderes, não duvido que tudo pode ser influenciado. Ele passou pelo portal. O santuário não o rechaçou.

—Boa notícia. Ele pode ver o garoto e nesse momento você...

—É sutil, mas compartilhamos alguma coisa. Ainda preciso entender isso.

—Ele pode ouvir nossa conversa?

—Talvez.

—Ótimo! Outro pra rir às minhas custas!

            Dante desceu rumo ao vilarejo:

—Se quiser vir, tem um lugar pra dormir.

            Vergil balançou a cabeça:

—Vou para o santuário.

            Dante ergueu o polegar e se afastou ainda mais pela trilha de cascalhos. Vergil voltou os olhos para o farol e fechou-os:

—Eu... Sinto muito, meu filho.

            Maud despediu-se de Trish e Lady, que voltaram para a casa do pescador. V permaneceu sentado na escadaria da entrada, observando o jardim ao redor. Inanna havia entrado com Nico no farol, em busca de roupas para o homem. Inanna revirou um baú e Nico segurou as peças escolhidas:

—Porque tem roupas masculinas aqui?

—Doações para viajantes. Sempre temos roupas e agasalhos para oferecer aos pacientes que vem ao santuário.

            Nico observou Inanna e perguntou:

—Você... Tem algum namorado na ilha? Um pescador bonitão, forte e bronzeado?

            A jovem sorriu:

—Não. O santuário precisa de muita atenção e cuidados, então estou constantemente...

—Ocupada.

—É.

            Nico percebeu que Inanna corou ao escolher uma roupa íntima para V. Nico sorriu:

—E o cara pelado lá fora? Que tal?

            Inanna ergueu o olhar para a artesã:

—O quê?

—Esquece. Já terminamos?

—Sim. Podemos levar essas.

            Elas seguiram para fora e Nico falou:

—Ei, poeta! Trouxemos alguma coisa pra te esconder de olhares maliciosos! Logo, sua honra estará a salvo!

            V suspirou e disse:

—Impressiona sua delicadeza e discrição, senhorita Goldstein!

Ela piscou:

—Essa sou eu!

            V recebeu algumas peças das mãos de Nico e outras de Inanna. Ele escolheu uma calça, blusa de manga comprida e por fim a peça íntima. Nico provocou:

—Foi escolha dela!

            V sorriu e agradeceu:

—É muito gentil. Numa outra situação que vivi, não tive opção de vestuário.

            Nico exclamou:

—Então aquela sua roupa estilosa não tinha roupa de baixo?

            Ele virou-se para ela e falou:

—Nico...

            Ela ergueu as mãos e recuou:

—Se precisarem de mim, estarei na van!

            Nico seguiu para fora da estrutura e desceu a trilha rumo ao veículo. No caminho, Vergil subia, pensativo e Nico falou:

— Nero... Estava ansioso para ver você. Veja se não vai falhar com ele de novo. Seu filho é bom demais pra perder tempo com alguém tão insensível e arrogante!

—Anotado.

            Naquele momento, no santuário, V pediu a Inanna para se vestir ali mesmo. Ela se virou de costas e ele tirou o casaco de Vergil. A jovem permaneceu em silêncio, ouvindo o som do tecido sendo movimentado. Jamais se imaginou vivenciando um momento tão íntimo com um estranho. A voz de V tirou-a de seus pensamentos:

—Terminei.

            Ela voltou-se para o homem e ficou surpresa. A blusa de linho e as calças escuras se ajustavam perfeitamente ao corpo esguio de V. Aliado a isso, a altura dele e seus cabelos brancos emprestavam-lhe um ar exótico dos personagens de livros que a jovem lia na biblioteca de Maud.

            Inanna sorriu de leve:

—Uma espada, um lenço, botas e o senhor poderia ser um pirata das histórias fantásticas...

            Ele olhou-se e sorriu:

—De fato... Defoe e Stevenson poderiam ter dito que, para um homem se tornar pirata, bastava se vestir como um e ter o espírito para a aventura. O céu como telhado e o mar como chão! “Quinze homens no peito de um homem morto, Yo ho ho e uma garrafa de rum, beberam e o diabo terminou o restante, Yo ho ho e uma garrafa de rum”!

Inanna sorriu com a citação de uma canção pirata. Ela virou o rosto para o farol e falou:

—Maud mantêm uma pequena biblioteca em casa. Há principalmente livros sobre todo modo de cura. Tem outros livros que ela me presenteou. Li todos eles uma porção de vezes. Pode... Ficar à vontade para usá-la.

            V ficou surpreso com o convite. Inanna não sabia que V e Vergil eram parte do mesmo ser. Breve ela teria de saber sobre essa situação e talvez sua receptividade ficasse menos gentil. Então Vergil voltou e Inanna olhou-o com o rosto sério.

            O guerreiro olhou para V e falou:

—Meu casaco.

            V apanhou a roupa e aproximou-se. Vergil apanhou a vestimenta e falou:

—Roupas novas?

—Uma gentileza da jovem... Ela ainda não sabe da sua condição.

—Melhor mostrar a ela então. 

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eis que surge nosso poeta V!
Foi um bocado de pesquisa nas famosas DLCs ou arquivos extras do game de Devil May Cry para entender quando Vergil fazia um "summon" ou na língua mais popular, baixava o santo de V como um familiar, semelhante ao Griffon, Shadow e Nightmare.
Nesse momento, o alter ego humano de Vergil é como uma arma e age de acordo com a vontade do guerreiro. Imaginei se, com toda a influência mística de Enuma, essa convocação poderia sofrer alguma mudança e o que era um poderia coexistir como dois, humano e demônio. Essa interação poderia render momentos interessantes e dramáticos, então ficou assim!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.