DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 8
Conflito


Notas iniciais do capítulo

A presença de Dante e Vergil em Enuma trouxe apreensão e descontentamento à jovem Inanna. A decisão de não deixar o pai de Nero entrar no santuário do farol gerou constrangimento e tensão, mas Dante tentou trazer o entendimento ao gêmeo mais velho. Nero soube da presença do pai e ficou aborrecido por não poder receber sua visita, mas por trás disso, forças sinistras estão agindo para corrompê-lo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807779/chapter/8

 

Os passos dos homens foram se afastando e Vergil ficou sozinho com o som do mar ao redor e o vento na folhagem que cobria o suporte de metal e madeira. Ele virou-se para avaliar o farol, cuja estrutura era totalmente apoiada numa imensa árvore que se elevava uns 30 metros de altura por 8 de diâmetro. Poderia ser uma sequoia ou um carvalho, ele não conseguia distinguir. A parte curiosa é que foi permitido que crescesse até dominar parte do farol.

Vergil imaginava quão antiga era essa árvore, quando viu Inanna parada na entrada do santuário. Ele encarou-a, então virou-se e ficou imóvel. Ela pigarreou e disse:

—Porque se tornou pai?

            A pergunta pegou Vergil de surpresa. Ele voltou a cabeça na direção da jovem e ela continuou:

—O Cavaleiro Negro Sparda sacrificou sua natureza por uma missão justificada. Ele aprendeu a amar esse mundo e os humanos. Ele deixou uma herança de poder e responsabilidade a seus descendentes. Você e seu irmão são os guardiões desse legado, ou pelo menos deveriam ser...

            Vergil franziu o semblante:

—Está invadindo algo muito particular, menina. Deveria conter sua língua antes que...

Inanna não se intimidou:

—No que pensou ao deixar uma criança sua vir a esse mundo? Qual legado deixou para Nero?

            A raiva contida em Vergil explodiu e ele golpeou um dos pilares de metal da armação que formava o portal de entrada do jardim. A lâmina da Yamato entrou até o meio da pilastra, centímetros acima da cabeça de Inanna, mas ela não se moveu. Seus olhos estavam fixos no guerreiro e ele puxou a espada, colocando-a de volta na bainha:

—Essa conversa não tem proveito algum. Se seu intuito é me aborrecer, parabéns... Você conseguiu minha atenção.

            Inanna sorriu, mas sem humor:

—Você parece se aborrecer muito facilmente, senhor Sparda. Nero não merecia estar nesse mundo por causa de sua ira e vaidade... Pergunte-se o que faz aqui. Porque veio. Se for sábio, vai voltar onde é seu lugar.

            Dizendo isso, ela se afastou rumo ao pomar, desaparecendo entre as árvores. Vergil ficou parado à entrada do jardim, emudecido pela atitude ousada da jovem e suas palavras afiadas como a lâmina de uma adaga. Ergueu seus olhos para a varanda do farol, onde sabia dormir seu filho. Vergil se deu conta de que eram completos estranhos.

            A alvorada encontrou o guerreiro recostado ao portal de entrada do jardim. Estava de olhos fechados, segurando a espada, apoiada no ombro direito, entre os braços cruzados sobre o peito. Maud saiu do farol trazendo consigo uma bandeja. Ela aproximou-se dele e falou suave:

—Senhor Sparda? Bom dia!

            Ele abriu os olhos e encarou a mulher:

—Desculpe acordá-lo. Eu trouxe o desjejum.

            Ele balançou a cabeça:

—Não se preocupe... Não estava dormindo.

            Ela sentou-se numa pedra próxima e apoiou a bandeja no colo:

—A comida é toda feita em casa. Não sei do que gosta, assim eu trouxe um pouco de tudo e...

—Não se incomode. Não tenho fome.

            Ela analisou as feições fortes do homem. Ele parecia jovem, mas seus olhos carregavam o peso de uma vida cheia de dor e lutas sangrentas. A sensibilidade de Maud dizia muitas coisas a ela:

—Inanna não é assim. Ela sempre foi uma menina tranquila e alegre. Estou desconcertada pela atitude hostil que ela demonstrou nas últimas horas.

            Vergil suspirou e disse:

—Ela não está errada em defender seu santuário... Eu faria o mesmo no lugar dela. Ah... Meu... Filho está acordado?

—Ainda dorme. A medicastra tem aplicado um unguento calmante para a infecção e um sedativo para a dor. Estamos fazendo o possível para combater o que o está fazendo mal. Você soube o que aconteceu?

—Não ainda. Espero que as caçadoras me falem o que houve com ele.

—Bem. Vou retomar minhas atividades. Fique à vontade para conhecer a ilha! Se precisar de alguma coisa, todos estaremos à disposição.

            Ele acenou com a cabeça e Maud se afastou. Ela sabia que Vergil não estava interessado em turismo. Era visível sua ansiedade em ver o filho, que repousava no farol, inacessível ao pai.

            Nero acordou e olhou ao redor. A agitação em seu peito havia cessado e ele viu Kyrie deitada ao seu lado, cochilando. Tocou o rosto dela e falou:

—Ky...

            Ela abriu os olhos e sorriu:

—Oi... Como se sente?

—Menos dolorido. Estou com um pouco de fome. Isso é bom...

—Sim. Vou providenciar o desjejum e...

            Nesse momento, Inanna entrou com uma bandeja e sorriu:

—Imaginei que gostariam de tomar a ceia logo cedo. Como se sente, Nero?

            Ele se moveu devagar para ficar sentado. Kyrie o ajudou. Inanna colocou a bandeja na cama e falou:

—Antes precisa beber esse sumo de ervas... Ordens da Medicastra!

            A careta de Nero fez a jovem rir e Kyrie esfregou as costas dele, confortando o namorado. Ele pegou o copo e respirou fundo:

—Espero que nada verde cresça em mim! Imagina se aparecem folhas nos meus braços e raízes nos pés!

            Kyrie começou a rir:

—Você seria uma linda árvore!

            Ele sorveu o líquido escuro e balançou a cabeça:

—Arghh! O gosto não melhora nunca? Que tem aqui?

            Inanna colocou o dedo no queixo e ergueu os olhos para cima, como se listasse os ingredientes:

—Hum... Belladona, Camélia, Aloe, Ocimum, Arnica, Symphyton, Zingiber e...

            Nero ergueu as mãos:

—Chega! Prefiro não saber que tem baba de ogro, asas de morcego em pó e óleo de sapo também!

            Inanna sorriu novamente:

—Breve não vai precisar beber isso. Precisamos acelerar a cicatrização e manter a infecção longe. Até lá, descanse e se alimente bem.

—Ok...

            Inanna se afastava quando ouviu Kyrie falar:

—Nero! Dante e Vergil estão aqui! Vieram por sua causa.

            Nero exclamou:

—Aqui? Porque não os vi ainda? Estão bem? Meu pai...

            Kyrie segurou o ombro dele:

—Estão bem e preocupados. Você estava sedado, então seria melhor que você estivesse desperto, ok?

—O que estão esperando, então? Quero vê-los!

            Inanna se virou.  O rosto sério:

—Vergil Sparda não pode entrar no santuário.

            O semblante de Nero se alterou para a descrença:

—Como? Do que está falando? Como não pode entrar? Kyrie? O que aconteceu enquanto eu dormia?

            Inanna falou:

—Seu tio poderá te explicar melhor. Vou avisar seus amigos que está acordado.

            A jovem saiu do quarto, descendo as escadas e Nero faz menção de sair da cama, mas Kyrie segurou-o:

—Não! Não faça esforço desnecessário! Você verá seu pai quando puder descer até o jardim!

            Ele se recusou a ficar e saiu da cama abruptamente, então sentiu o quarto girar ao seu redor, cambaleando na direção do batente da porta que levava às escadas. Kyrie se apressou em apoiá-lo e trouxe o rapaz de volta para a cama:

—Teimoso! Oh, Nero! Ainda não está forte o bastante! Eu vou chamar a medicastra e...

            Nero segurou o pulso da jovem com força e ela se assustou com o gesto repentino:

—Não chame ninguém. Quero ficar sozinho...

            Kyrie o viu empalidecer e algo sombrio nublou os olhos azuis e doces do namorado. Ele deitou-se e virou de lado, escondendo o rosto dela:

—Vou dormir, agora, Ky... Não quero comer nada...Saia, por favor.

            A jovem tirou a bandeja da cama e saiu dali, descendo as escadas até a pequena cozinha no próximo pavimento. Ela tremia e Maud, que arrumava sua despensa, percebeu:

—Kyrie?

            A moça aproximou-se da anciã:

—N-Nero... Não está com fome agora. Ele decidiu cochilar um pouco e...

            Então Kyrie desabou em um choro sentido e doloroso, sendo amparada pela mulher que a levou a sentar num banco próximo:

—Me conte o que aconteceu lá em cima.

            Morrison e os caçadores, reunidos na casa do pescador, tomaram a ceia matinal rapidamente e seguiram para o farol. Dante queria ver Nero e saber se o irmão não havia invadido o lugar, destruindo tudo no caminho. Viu o gêmeo sentado numa rocha perto da entrada e saudou-o:

—Bom dia! Vejo que se comportou como um...

            Então os olhos de Dante pousaram na fissura do pilar de metal. Ele tocou o corte e exclamou:

—Ei! Que diabos é isso aqui?

            Vergil balançou a cabeça:

—A garota do jardim é irritante como você, irmão. Só com uma retórica bem melhor!

            Trish e lady entraram pela passagem, seguidas por Nico e Morrison. Dante ficou para trás e falou em tom de voz mais baixo:

—Ok! Onde escondeu o corpo?

Vergil ergueu uma sobrancelha:

—Corpo de quem?

—Da garota!

—Vá para o inferno, Dante!

—Acabamos de voltar de lá, Verge! Agora é sério! Tenho que me preocupar com alguma coisa que disse ou fez?

—Pergunte a ela...

            Vergil acenou com a cabeça para um ponto atrás de Dante e este se virou. Inanna descia as escadarias da entrada do velho farol e encarou os irmãos. Ela se dirigiu a Dante:

—Senhor Sparda. Nero acordou.

            Dante sorriu e virou-se para Vergil:

—Ouviu isso? O garoto está bem!

            O rosto do guerreiro se contraiu e Dante balançou a cabeça:

—Bem... Eu vou dar uma olhada nele. As coisas vão se ajeitar...

            Vergil suspirou e deu de ombros, fingindo não se importar. Dante saiu dali e entrou no farol, subindo as escadas rapidamente. A primeira coisa que viu foram os quatro amigos ao redor de Kyrie. O rosto da jovem estava vermelho e os olhos levemente inchados. O caçador se aproximou, preocupado:

—Oi, oi!  O que está acontecendo aqui?

            Nico colocou as mãos na cintura, aborrecida:

—O idiota foi grosseiro com ela!

            Dante recua:

—Nero grosseiro com a Kyrie? É mais fácil o sol esfriar! Desde que chegamos, vocês estão enrolando e não me contaram o que houve com o garoto. Afinal, que missão foi essa?

            Trish contou rapidamente o evento da igreja e o que aconteceu a Nero. O semblante do caçador de demônios ficou soturno e ele apertou os punhos:

—Eu quero ver isso.

            Maud concordou e acenou para que Dante a acompanhasse. Uma vez no quarto, Dante viu a figura de Nero encolhida na cama, trêmulo. O rapaz parecia ter perdido peso e sua pele estava mais pálida que o normal.

            A anciã percebeu, foi até a varanda e viu Inanna no jardim. A jovem ergueu os olhos para a mãe adotiva e esta acenou com a cabeça. Inanna seguiu até um monte de terra e tirou os sapatos, pisando no solo fofo e escuro.

            Dante aproximou-se de Nero e tocou seu ombro:

—Nero...

            O rapaz se virou devagar e sorriu:

—Tio Dante...

            Dante olhou o rosto encovado e levemente corado do rapaz. Ele queimava de febre e Dante virou-se ao ver a medicastra entrando rapidamente no quarto. Ela foi até Nero e tocou-lhe a testa e o peito:

—Maud!

            A anciã se aproximou e a mulher falou:

—Preciso de sal e um pedaço de carne crua. Aquilo que eu previ está acontecendo. A coisa está se manifestando.

            Dante ficou parado assistindo a cena toda e exclamou:

—Que está havendo? Vocês estão realmente cuidando dele?

            A medicastra o encarou, enquanto tirava os curativos da ferida no peito de Nero:

—Não há tempo para explicações, senhor Sparda! Por favor, segure seu sobrinho. Talvez sua presença e de seu irmão tenham agitado a criatura... Isso antecipou minhas ações.

            Dante se aproximou, incerto de como proceder, mas a mulher segurou-o pelo braço e guiou-o até a cama:

—Segure Nero por baixo dos braços, apoiado em você. Ele não pode se soltar de forma alguma.

            Maud subiu com uma travessa cheia de carne e Nico ao lado dela com um saco de sal, perguntando:

—Você vai cozinhar com tudo isso de sal?

            Então a artesã vê a cena no quarto e seus olhos se abrem muito. Dante segurava Nero pelas costas, imobilizando-o, enquanto ele se debatia. A ferida em seu peito estava aberta, escura e asquerosa. Dela, uma coisa se movia, revolvendo-se na gosma escura que escorria da chaga. Nico deixou cair o saco de sal e cobriu a boca:

—O-O que... O que é isso! Oh, Nero!

            A medicastra apanhou a carne e colocou na frente da ferida. A criatura se esticou devagar e Nero soltou um gemido esganiçado. Dante sentiu o corpo do sobrinho se retesar e apertou ainda mais os braços do jovem:

—Segura a onda, garoto!

            A criatura se desenrolou e começou a se esticar cada vez mais na direção da carne, enquanto a medicastra se afastava, atraindo o ser para fora da ferida. Nico se afastou para a escada e escutou a voz das caçadoras. Outra voz se fez ouvir e Nico voltou seu rosto para baixo:

—Oh, céus! Kyrie não pode ver isso!

            Porém, a jovem já ganhara os degraus que levavam ao quarto e do ponto onde estava, viu Nero e o que saía dele. Trish percebeu quando o corpo de Kyrie desfaleceu e se inclinou perigosamente na sua direção. Ela recebeu a jovem desmaiada em seus braços e Lady apoiou suas costas antes que ambas caíssem. Nico desceu atrás delas:

—Não subam lá agora! As coisas não estão muito... Legais!

 

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Certo. A vida de Nero corre um sério risco. O ataque ocorrido na igreja deixou um hóspede indesejável.
Lembrei de uma quantidade de filmes de terror onde o famoso "body horror" trás pelo menos uma invasão parasitária de criaturas sinistras. Achei que seria legal mostrar que, mesmo os caçadores da Devil May Cry serem muito f*das, eles lidam com seres infernais pra lá de perigosos. E Nero está no começo da carreira, então nada mais justo do que ele ter alguns momentos de apuros.
Outro ponto é que só assim pra tirar Vergil e Dante do Submundo e trazê-los de volta para uma trama baseada no game.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.