DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 7
Solo Sagrado


Notas iniciais do capítulo

Os céus de Enuma são agitados por um portal aberto e a medicastra sente uma presença ameaçadora. A chegada de Vergil e Dante não será ignorada pelos poderes que agem na pequena ilha. Os gêmeos Sparda serão recebidos pacificamente?



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Um estrondo ecoou no céu e Enuma estremeceu. Kyrie viu a medicastra passar pelo quarto e correr para a varanda do farol, erguendo os olhos para o céu revolto. No ponto onde o redemoinho de nuvens se formou, um brilho azul e violeta cortou o ar e uma fenda do nada se abriu. Todos os moradores da ilha saíram de suas casas para verem o céu acender em uma luz ofuscante e duas formas aladas saltarem como cometas rumo à terra.

            Naquele segundo, Inanna ergueu o braço e apontou. A equipe da Devil May Cry viu a medicastra fazer o mesmo e ambas gritaram em uníssono, num tom de  voz tão forte que assustou os demais:

—INIMIGO!

            O evento que se seguiu foi algo confuso e ao mesmo tempo surpreendente. Do solo ao redor do farol ergueram-se centenas de raízes e gavinhas de todas as espessuras, indo de encontro às figuras que desceram do céu com velocidade de bólidos. A figura que vinha à frente recebeu toda a carga de ataque daquilo que pareciam tentáculos vegetais, formando um casulo ao redor do ser. O segundo recuou em pleno voo, mas aparentemente não foi perseguido.

            O ser atacado rompeu o casulo de raízes com golpes de uma espada brilhante e avançou de novo, para em seguida ser mais uma vez envolvido na trama que agora redobrava de volume ao seu redor. Então as raízes atacaram suas asas e seus braços, fazendo com que ele deixasse a arma cair.

            Quando o segundo ser se aproximou para libertar o primeiro, foi puxado por uma raiz que veio do solo abaixo dele. Ele bateu pesadamente no chão e Trish gritou ao reconhecê-lo:

—Dante!

            Ele ergueu o rosto e viu a equipe inteira da Devil May Cry saindo da estrutura de ferro e madeira, de onde partiu o ataque. Acima deles, a outra criatura se deixou mudar para a forma humana e todos reconheceram Vergil, que mesmo totalmente envolvido na armadilha vegetal, se debatia com ferocidade a pelo menos 5 metros de altura do chão.

            Dante se levantou e limpou a terra da roupa. Caminhou até a espada Yamato e apanhou-a. Ergueu os olhos para o irmão:

—Ei, Verge! Não saia daí! Eu vou dar um jeito de te soltar e...

            Então, para sua surpresa, raízes partiram do solo e o prenderam pelos tornozelos e pulsos, mantendo o caçador firmemente preso ao chão. A Yamato caiu de sua mão e Vergil esbravejou:

—Continua falastrão e distraído, como sempre...

            Trish olhou Dante preso pelas raízes. Ela se voltou para Maud:

—Senhora. Ele é nosso amigo! O que está acontecendo? Porque essas raízes estão...

            Maud se aproximou:

—Eu nunca vi isso acontecer antes. Acho que a medicastra os tomou como invasores demoníacos. Vou pedir que os liberte.

            A anciã ergueu a mão na direção da varanda do farol e a medicastra acenou com a cabeça. As raízes deixaram Dante livre, mas não soltaram Vergil. O grupo encarou o guerreiro e ele falou, zangado:

—Muito bem. O que temos aqui?

            O casulo de raízes desceu ao chão devagar, mas não se desfez e nem afrouxou o aperto ao redor de Vergil. Dante se aproximou e bateu a lâmina da Yamato na trama vegetal, que se rompeu, mas se refez em segundos, voltando ao estado original. Na terceira tentativa, as raízes se moveram e tomaram a espada das mãos do caçador:

—Ei!

            Trish correu e abraçou Dante. Lady veio em seguida. Nico se aproximou timidamente e esperou para cumprimentar o homem. Dante olhou ao redor:

—Onde estamos?

            Morrison se aproximou e apertou a mão do amigo e parceiro de negócios:

—Dante!

—Você aqui? Então... Isso é um trabalho da Devil May Cry?

—Sim e não, meu amigo. É bem mais complexo que isso. Nós viemos por causa do...

            Vergil interrompeu a confraternização:

—Nero. Eu rastreei a presença dele até aqui. Onde ele está?

            Trish falou:

—Nós o trouxemos aqui após uma missão. Algo aconteceu e... Bem. Poderá ver por você mesmo.

            Então a voz de Inanna é ouvida atrás do grupo:

—Aqui ele não entra. Sua presença é uma afronta.

            Maud se virou para a filha adotiva:

—Inanna?

            A jovem está parada à entrada do jardim. Suas feições estavam alteradas, o rosto corado e o maxilar tenso. Seus punhos estavam fechados evidenciando o quanto ela parecia furiosa com a presença dos invasores. O que deixou os demais surpresos foi que a cor dos olhos dela estava diferente. A íris era verde com pontos dourados.

            Dante sorriu:

—Ouça, boneca... Nós viemos em paz e...

—Você, talvez, caçador... Mas ele não.

            Vergil encarou a moça e sorriu sem humor:

—Pirralha... Se eu quiser sair daqui ninguém vai me deter.

            Inanna ergueu o rosto, enfrentando o olhar frio de Vergil:

—A cada tentativa sua, as raízes vão aumentar sua força. Nesse momento elas estão apenas te segurando. Não seria tolo de testar até onde elas irão para proteger o santuário.

            Dante sentiu a aura hostil na moça muito mais forte do poderia crer ser possível. Ela realmente estava ali para confrontar Vergil, visivelmente irritada com a presença dele. Maud segurou a jovem pelos ombros e falou:

—Querida. Acalme-se! Tenho certeza que esses senhores não nos farão mal algum e...

            Inanna fechou os olhos, respirando pesadamente e murmurou:

—Ele maculou a terra...Sangue inocente foi derramado para alimentar a besta. Aqui não é o lugar dele! Por favor... Ele não pode entrar!

            Na varanda onde a medicastra estava, não havia mais ninguém. Maud olhou para o local por algum tempo e suspirou:

—Vou... Conversar com nossa curadora. Ela saberá como vamos resolver esse impasse.

            Vergil olhou para o grupo e falou:

—Eu não serei proibido de ver meu filho, se é o que está sendo sugerido.

            Dante se aproximou do irmão:

—Certo. Se temos que resolver isso, a primeira coisa que você vai fazer é esfriar a cabeça. Sabemos que Nero está sendo cuidado por essas pessoas, então as coisas correm para algo positivo. Se decidir explodir com tudo, eu terei que... Parar você.

            Vergil o encarou:

—Achei que tínhamos resolvido isso, “irmão”.

—Sim. Mas a partir do momento que você volta a ficar insano, eu preciso ser o racional, correto?

            Maud se aproximou dos irmãos. Apesar de apresentar uma idade avançada, a mulher tinha uma presença marcante e acolhedora:

—Senhores... Eu sou Maud, um dos primeiros moradores dessa pequena ilha. Somos uma comunidade de pescadores e pouco temos contato com as coisas que acontecem no continente. Como pode ver, não somos guerreiros e se alguma ameaça surgir, não temos armas para nos defender. A única coisa que nos mantêm protegidos é a própria ilha, como podem ver.

            Vergil suspirou e fechou os olhos:

—Você é quem comanda essas raízes?

—Não. Sob a vontade da medicastra, a natureza ao nosso redor responde a possíveis ameaças. Nunca ocorreu algo parecido, por isso estamos surpresos.

            Dante sorriu para o irmão:

—Devia ficar orgulhoso, Verge! Você disparou o alarme da ilha! Um feito e tanto!

            Pego de surpresa pelo comentário do caçador de demônios, Morrison começou a rir e todos foram contagiados, o que aliviou a tensão do momento. Inanna se afastou e voltou para o jardim, onde se sentou no chão e começou a separar mudas, colocando-as em pequenos vasos artesanais de barro. Seu semblante carregado não se alterou e Maud olhou para a jovem com carinho e apreensão.

Nisso, Kyrie apareceu na porta do farol acompanhada da medicastra. A misteriosa mulher tinha a cabeça coberta com o capuz da longa túnica que chegava até os pés. Dante virou-se e olhou para ela, erguendo as sobrancelhas e falando:

—Ora! O que temos aqui?

            Kyrie seguiu até o grupo e sorriu ao ver Dante:

—Senhor Dante! Que bom vê-lo aqui!

            O caçador se aproximou e recebeu um abraço gentil da moça:

—Oi, menina! Bom ver você também! Cadê o moleque de cabeça dura?

            Ela riu e apontou para o farol:

—Dormindo agora. Ele conseguiu comer uma sopa e agora descansa...

            Então Kyrie se virou e olhou Vergil ali, envolto em raízes, sentado no chão pedregoso ao redor do farol. Ela se aproximou e curvou-se:

—Senhor Vergil... Sou Kyrie. A namorada de seu filho. É uma honra conhecê-lo, finalmente!

            Vergil analisou a jovem e percebeu a graciosidade da moça. Mais ainda, ele sentiu a aura de energia pura e contagiante que vinha dela. Era poderosa e ele soube que Nero fez a escolha certa para uma companheira. O guerreiro pigarreou e falou:

—Eu a cumprimentaria adequadamente se não estivesse um tanto... Preso às circunstâncias. Fico satisfeito que meu filho esteja em boas mãos.

            Ela sorriu com o tom aprovador do pai de seu noivo:

—Nero vai ficar muito feliz em ver o senhor e...

            Dante tocou o ombro da jovem:

—Isso é um outro ponto, Kyrie. Seu sogro não vai poder entrar aí.

—Como?

            A medicastra apareceu à porta do farol, se aproximou e saudou a todos com um aceno de cabeça. Maud sussurrou algo ao seu ouvido e ela assentiu. Voltou os olhos verdes e âmbar para os recém-chegados e sua voz era pausada e suave, curiosamente lembrando o som de folhas ao vento:

—Lamento nosso primeiro contato como algo negativo. Nossa intenção é apenas proteger a ilha e seus habitantes. Proteger o santuário e suas formas de vida. Peço desculpas em nome de Inanna. Ela é uma defensora ferrenha desse lugar. Sua atitude é apenas um reflexo.

            Dante sorriu e se aproximou, inclinando-se e tomando a mão da mulher, beijando-lhe o dorso pálido:

—Dante Sparda... Ao seu dispor.

            Trish e Lady se entreolharam e riram. Morrison colocou as mãos na cintura e falou:

—Minha nossa, Dante!

            A medicastra inclinou a cabeça para o lado, analisando a ação do caçador e ele se afastou um pouco, percebendo que ela não corou ao gesto galanteador. Ela voltou seus olhos para Vergil e caminhou até ele. Suas vestes se arrastando pelo chão, escondendo os pés.

Dante notou que onde ela passava, minúsculas ramificações se formavam e desapareciam solo adentro, como se ela andasse sobre um tapete vivo de gramíneas minúsculas. Havia um poder se manifestando ali e isso impressionou o caçador.

Vergil manteve os olhos erguidos na direção da medicastra. Ela andou ao redor dele, avaliando-o e por fim, falou:

—Eu posso sentir o cheiro e o gosto. Posso sentir a energia. Vocês estavam no mundo inferior. Foi de lá que vieram. Estou certa?

—Sim.

—E o que os trouxe aqui?

—Meu filho, Nero.

            O rosto pálido da mulher se alterou um pouco. Seu semblante imperturbável sofreu uma leve mudança, quase incredulidade:

—O jovem caçador é seu filho? Curioso.

—Estou sendo avaliado? Acho desnecessário repetir que não irei atacar seu santuário... Então me manter preso assim tem alguma razão?

            A mulher tocou as raízes e gavinhas e elas se desenlaçaram, retornando ao solo e desaparecendo rapidamente. Vergil se levantou e ficou frente a frente com a medicastra:

—Estamos indo bem. Agora só preciso subir e ver meu filho para...

            A mulher o encarou:

—Não. Sua natureza é uma afronta ao equilíbrio desse lugar. O santuário reagiu a você aqui fora. Não posso permitir que avance mais.

            Vergil balançou a cabeça e se afastou da entrada:

—É um absurdo! Jamais ouvi tamanha tolice!

            A mulher suspirou e se virou, afastando-se do guerreiro:

—Eu vou meditar sobre isso. Posso sugerir o repouso de todos. Boa noite.

            Dante a observou passar por ele. Ele ainda estava olhando seus pés, quando ela falou:

—Senhor Dante. Sua natureza é muito similar ao do jovem enfermo. Apesar da peculiaridade de sua origem, vocês têm luz agindo em seus corações. Não terá problemas em circular pelo santuário.

—Mas meu irmão, Vergil... Ele está...

—Eu preciso entender o que se passa com ele. Alguma coisa se esconde em seu interior. Algo dúbio, entre a luz e a escuridão. Ele aceitou, mas não é o que deseja. Uma fissura em sua natureza, uma sombra que caminha com seu irmão.

            Dante coçou a nuca, seu semblante preocupado:

—Moça! Se soubesse o que esse cara passou...

            A mulher se inclinou:

—Terei tempo para entender. Boa noite.

            Dante avançou e segurou a mão dela:

—Ah... Eu... Não sei seu nome!

            Ela avaliou o gesto e ergueu os olhos para o caçador:

—Chamam-me Rheia...

            Dante a viu se afastar e Morrison tocou seu ombro:

—Amigo? Você está bem?

            Trish e Lady começaram a rir e Nico se aproximou de Kyrie:

—Você precisa de ajuda lá em cima? Quer que eu fique com Nero para que durma um pouco?

—Obrigada, Nico, mas quero ficar com ele. Vê-lo se alimentar e dormir me acalma. A medicastra está usando tudo o que sabe para cuidar dele. Creio que vai dar certo.

—Essa... Mulher é muito estranha, não é? Algo nela parece... Artificial. Sei lá!

—Talvez seja porque ela se mantém isolada de todos? Assim como os monges! Vivem para seus estudos, meditação e ajudar os outros.

            Nico se voltou na direção de Inanna:

— E aquela ali? Não demora a abrir um buraco até o outro lado do mundo!

            Kyrie sorriu e falou:

—Veja ao seu redor. A dedicação dela trouxe resultados! Esse jardim é maravilhoso!

            Nico balançou a cabeça:

—Certo! Certo! Vou me recolher agora e sonhar com esse pedaço de paraíso! Fale com o Nero que ele precisa melhorar pra testar minha nova devil breaker!

—Certo! Obrigada de novo, Nico!

            A artesã passou por Dante e Vergil e seguiu para a van. Trish e lady desceram a encosta de volta à casa do pescador, restando ali Maud, Morrison e os gêmeos Sparda. A anciã olhou para o trio:

—Senhores. Vou me recolher agora e aconselho que descansem. Creio que tudo ficará esclarecido amanhã.

            Eles acenaram com a cabeça enquanto a mulher se afastava. Ela aproximou-se de Inanna, que regava algumas mudas e falou-lhe:

—Querida... Vá se deitar.

—Perdi o sono. Vou ficar por aqui e adiantar algumas coisas. Se eu me cansar, volto pra cama.

—Mais calma?

—Sim, mas não menos preocupada.

—Você agiu bem. Boa noite.

            Com um beijo na testa da filha adotiva, Maud seguiu para o farol. Morrison avaliou os irmãos:

—Vocês parecem bem, apesar da roupa suja de... Sangue de demônio?

            Dante raspou a bota numa pedra próxima:

—As coisas lá embaixo são bastante agitadas! Não posso reclamar.

            Vergil tinha os braços para trás, mirando o horizonte escuro. Suas feições pareciam neutras, mas o azul gélido dos olhos indicava o conflito em seu interior. Morrison começou a descer na direção da vila de pescadores:

—Estou hospedado na casa de um morador. Tem camas extras!

            Dante alongou os braços e seguiu Morrison:

—O que eu não daria por uma pizza agora!

            O caçador voltou-se para o irmão mais velho:

—Vem conosco?

            Vergil balançou a cabeça negativamente e Dante desistiu dele:

—Não vá fazer nada de louco, irmão...

—Não sou você.

            Dante ergueu um polegar e estalou a língua:

—Esse é o espírito da coisa! 

Continua...


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Notas finais do capítulo

A presença de Dante e Vergil causaram um rebuliço no equilíbrio de Enuma. Vale a pena prestar atenção no comportamento da jovem Inanna, de Maud e da Medicastra. Gostei muito de criar essas personagens e trazê-las para o universo desses caçadores de demônios tão famosos.
A parte mais difícil foi emular o jeito moleque e irresponsável de Dante e o estoicismo e frieza de Vergil. Como em todas as minhas histórias, meu foco são nas personagens femininas e como elas são capazes de envolver e modificar os personagens masculinos.



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