DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 6
Amaldiçoado


Notas iniciais do capítulo

Os cuidados com Nero se intensificam e ele tem uma melhora visível. Seus amigos ficam mais aliviados, porém a Medicastra tem outra visão do ataque sofrido pelo jovem caçador de demônios.



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A tarde avançou sobre a ilha Enuma. O grupo de caçadores teve chance de ver Nero antes que o tratamento dado pela medicastra fosse retomado. O caçador parecia mais corado, mas a ferida em seu peito ainda tinha uma aparência preocupante. Nico foi a última a subir para o quarto. Ela sorriu para o amigo e socou o ombro dele de leve:

—Quando a gente se mete em alguma enrascada, é pra valer, Hein?

            Ele riu:

—Quem quer viver pra sempre, não é?

            Nico riu e Kyrie se aproximou:

—Nem brinque com isso, senhor!

            Ele estendeu a mão e segurou a da namorada com carinho:

—É só uma piada besta, Ky... Quero morrer velhinho e banguela do seu lado.

            Kyrie sorriu e beijou a testa do rapaz:

—Ainda vai me amar quando eu estiver bem velhinha e banguela também?

            Nico ergueu as mãos:

—Bastou pra mim! Vou descer antes que decidam fazer bebês também.

            Kyrie ficou corada e Nero riu, mas começou a tossir forte. Nico chegou à varanda e olhou para o pavimento abaixo:

—Inanna? Melhor chamar sua curandeira ou medicastra, sei lá. O garoto ficou estranho de repente!

            No jardim, Inanna ergueu o rosto e acenou com a cabeça. Maud saiu do pomar na companhia de Lady, Morrison e Trish e ouviu o chamado de Nico. Ela afastou-se e rumou para dentro do farol, subindo rapidamente as escadas. Antes de sumir porta adentro, lançou um curioso olhar para Inanna e Nico percebeu. Pouco depois, ela entrou no quarto e aproximou-se de Nero com um copo:

—Beba tudo.

            Ele apanhou o copo e tomou o líquido escuro e viscoso. Tossiu de novo e exclamou:

—Blaaaarghh! Tem gosto de terra com meia velha e grama!

            Nico riu:

—Como conhece esses gostos?

            Maud tocou o ombro de Kyrie:

—Peço que se reúna com seus amigos e espere lá embaixo, querida. A medicastra vai descer pra continuar o cuidado em seu namorado... Tenha fé. Ele vai se recuperar.

            Kyrie sorriu, mas os olhos ficaram marejados imediatamente:

—Sim, senhora. Terei muita fé!

            Nico desceu com a jovem e Maud subiu ao próximo pavimento por algum tempo. Nero tocou o peito onde a faixa cobria a ferida e fechou os olhos. A sensação de algo pressionando seus ossos e órgãos era aterrorizante. Nisso, Maud desceu acompanhada pela misteriosa mulher que cuidava dele. A luz do crepúsculo emprestava uma aura mística à figura alta e esbelta da medicastra. Ela aproximou-se do rapaz e tocou sua testa. Sua mão era um pouco fria, mas o toque era reconfortante.

            Ela foi até uma mesa posta próxima à cama e começou a preparar algo que parecia uma bandagem. Vários potes e tigelas estavam dispostos e ela misturou algum tipo de unguento com as mãos, espalhando no tecido. Segurou-o com uma das mãos e aproximou-se de Nero:

—Vou aplicar o unguento agora. Vai sentir desconforto primeiro. Depois alívio.

—Vá em frente...

            Ela retirou a bandagem antiga e analisou a ferida. Havia uma formação de crostas ao redor da ferida e a cor da pele ao redor ainda se mantinha escura, como se fosse necrótica. O semblante da mulher não se alterou e ela aplicou a nova bandagem, ouvindo do caçador um chiado baixo, evidenciando o incômodo.

Nero percebeu que o que ela colocava sobre sua pele não era bem um tecido, mas uma rede fina e minuciosamente trançada de fibras vegetais. Tinha uma cor suave entre o verde e o amarelo e era úmido ao toque. Essa trama aderia à sua pele e ele podia sentir um leve formigamento na ferida.

A mulher analisou o curativo e falou com seu tom de voz baixo:

—Fale-me o que sente.

—Como?

—Além da dor. Há mais alguma sensação que te incomoda?

            Nero ponderou sob a pergunta. Temia a resposta para o que ia dizer:

—Eu... Sei lá... Não é um machucado comum. Eu já me arrebentei muitas vezes e fiquei bem, mas isso. Tem uma... O tentáculo negro que me atravessou ficou um tempo comigo até que eu o cortasse com minha espada. Ele se dissipou como fumaça quando fiz isso e meu peito começou a cicatrizar como sempre aconteceu quando me feria. Então tive uma febre e a ferida abriu. Acho que ficou alguma coisa aqui dentro...

            Os olhos da mulher se abriram muito, como se a revelação trouxesse algo mais. Nesse momento, Nero viu que eram verdes com pontos dourados na íris. Ele nunca tinha visto olhos daquela cor. Viu também que o rosto dela era levemente alongado e pálido como mármore. Os cabelos estavam sempre escondidos sob o capuz da túnica perolada.

            Ela tocou a testa do rapaz e disse:

—Descanse agora. Deixe o remédio cumprir sua missão. Volto para trazer um sumo curativo para você tomar.

—Se for mais daquela gosma verde com gosto horrível, não tenha pressa...

            Ela virou-se, ignorando a piada e saiu para a pequena biblioteca. Ali, concentrada numa leitura, Maud escutou toda a conversa. Quando a medicastra se aproximou da anciã, esta falou:

—Então...

—Eu temo que seja mais que uma chaga.

—O que viu?

—Se esconde de mim. Tomou o espaço da ferida como ninho.

            Maud cobriu a boca:

—Podemos... Interferir?

—Precisamos esperar. Para atacarmos esse mal, ele precisa se revelar. Se eu intervir no momento errado, ele pode se aprofundar ainda mais e o perderemos.

—Nunca vi algo assim. Pobre rapaz!

            A medicastra voltou sua atenção para Nero, que adormeceu pouco depois do curativo:

—Ele possui uma natureza peculiar. Seu corpo só não foi totalmente tomado por causa disso.

            Maud suspirou:

—Ele é um Sparda...

            A mulher se virou e seus olhos brilharam estranhamente:

—Amaldiçoado. Ele não poderia estar aqui.

            Maud esfregou as mãos e balançou a cabeça:

—Nem toda escuridão carrega o mal em si... Quando o Cavaleiro Negro Sparda ergueu sua espada a favor da humanidade, seu coração demoníaco conheceu a luz. Improvável, mas não impossível, ele experimentou a misericórdia e o amor...

            A medicastra afastou-se um pouco e olhou para o horizonte que perdia os últimos raios do sol:

—Sparda precisava de aliados na superfície. Quem melhor do que seus próprios descendentes com uma fêmea humana? Pobres crianças fadadas a uma carga tão terrível. Quanto mal resultou daí.

            Maud se aproxima da mulher e toca seu ombro:

—Entendo o quanto a Terra foi ferida, criança. Só não deixe que isso nuble seus sentidos e se perca de sua missão...

—Vou refletir sobre isso. Estou me retirando agora.

            Maud a viu se afastar e sumir escada acima. Respirou fundo e desceu rumo à saída para se juntar aos visitantes. Kyrie aproximou-se e a anciã sorriu-lhe:

—Pode ficar com Nero. Ele dorme agora.

            A jovem não esperou um segundo e correu rumo à entrada do farol. Trish sorriu e falou:

—Esses dois realmente são grudados...

            Nico observava Inanna no jardim, remexendo um amontoado de terra. Lady riu:

—Que houve, Nico?

—A garota não sai dali. Parece um tatu revolvendo a terra.

—Viu como esse lugar é viçoso? Vai ver o segredo está nessa terra!

—Paraísos me assustam, se quer saber... Por trás de muita perfeição, pode ter algo muito feio escondido.

            Lady ficou assustada com a colocação de Nico. Olhou ao redor, para toda a harmonia e equilíbrio que faziam do lugar um oásis. De repente, a beleza podia esconder uma armadilha mortal.

            Com isso em mente, aproximou-se de Trish e murmurou:

—Nico me deu o que pensar sobre esse lugar.

—Faço a ideia. Vamos andar por aí, então você me conta o que é.

            Lady e Trish acenaram para Nico e Morrison e sairam para andar pelo vilarejo. Nico esfregou as mãos e falou com o homem ao seu lado:

—Caramba! Estou a fim de fumar um cigarro!

            Morrison riu:

—Vá em frente! Sua van, suas regras!

            Ela sorriu de volta:

—Yep! Aqui vou eu!

            Nisso, Inanna veio na direção dos dois:

—Olá! Ouvi que você vai até seu carro... ou

—Van.

—Isso!

—Eu nunca vi um veículo como aquele! Posso ir com você?

            Nico ergueu os olhos para Morrison que deu de ombros. A artesã suspirou:

—Vamos lá, garota... Vai conhecer a famosa Devil May Cry móvel!

            Inanna sorriu e seguiu a moça até a van. Nico abriu a porta e o primeiro impacto da jovem foi sentir o forte cheiro de cigarro e solda no ar. Outro impacto foi o tamanho do veículo por dentro:

—Ohh! Aqui é grande! Você mora nela?

—Não. Mas passo boa parte de meu tempo trabalhando minhas armas aqui.

—Você faz... Armas?

—Melhor mostrar do que falar. Vem.

            Por algum tempo, Nico apresenta sua arte à Inanna, que fica realmente impressionada. Perguntou sobre as funcionalidades das peças e ficou assustada por saber que a artesã usava partes de demônios abatidos para incrementar as Devil breakers. O pedaço de uma garra escura e repugnante estava à vista, sobre um tecido sujo de graxa, e Inanna esticou a mão. Ao tocar a coisa, sua pele se arrepiou e ela recuou transtornada. Sua voz saiu um murmúrio:

—É terrível... A criatura... Foi um homem no passado...

            Nico virou-se para a jovem:

—O que disse?

            Inanna encarou-a, assustada e desconversou:

—Hum? Oh, não! Nada! Desculpe! Eu... Preciso voltar! Tem muita coisa pra resolver! Obrigada por me mostrar sua van! É impressionante!

            Dizendo isso, ela desceu rapidamente do veículo e voltou a passos largos para o farol. Segurava a mão que tocou no fragmento demoníaco e lágrimas teimavam em cair por sua face corada. Maud viu a jovem chegar e aproximou-se:

—Querida? Aconteceu alguma coisa?

—Eu... Cometi um erro. Não foi nada. Eu...

            A mulher abraçou Inanna e disse:

—Tem feito um trabalho maravilhoso aqui, minha criança. Não duvide de sua capacidade. O que viu é muito sério?

            A jovem respirou fundo:

—Nico é artesã de armas... Ela me mostrou com o que trabalha e entre as peças eu vi um fragmento de alguma criatura maligna... Eu fiquei tentada a tocar e o fiz... A coisa gemeu dentro da minha mente... Em dor e agonia.

—O que quer dizer?

—Um ser humano corrompido até uma forma bestial. Um filho da Terra seduzido pelo mal e deformado pelo mundo inferior... Eu imagino... Quantos mais?

            Maud acariciou os cabelos de Inanna:

—Vá dormir agora. Não pense nisso. O homem é dotado de livre arbítrio e a escuridão é uma escolha. Não podemos interferir nisso e você não pode absorver tudo o que acontece com a humanidade. Não é sábio e nem saudável...

            O sorriso maternal da anciã acalmou Inanna. A jovem beijou o rosto da mulher:

—Vou pensar sobre isso, Maud... Obrigada por estar sempre comigo.

            Maud sorriu ainda mais e viu a moça se afastar rumo ao pomar, onde passou a dormir desde que Nero ficou no quarto do farol. A mulher conhecia a sensibilidade de sua filha de criação e da responsabilidade em lidar com o que fazia ali em Enuma.

            Morrison, Lady e Trish se recolheram para a casa do pescador que se tornou uma pessoa querida para o trio. Naquela noite, as caçadoras e o corretor de informações jantaram com o homem e souberam muitas coisas sobre Enuma, principalmente sobre a chegada de Inanna e a revitalização da ilha.

            Trish puxou o assunto:

—Então... A chegada da criança é que trouxe o progresso para Enuma?

—Progresso? Não... Trouxe a vida de volta para nossa pequena ilha. Sou um dos mais antigos habitantes daqui, junto com a velha Maud. Nunca houve algo parecido do que temos nos últimos 20 anos. Veio com Inanna.

            Morrison sorriu:

—Ela parece uma garota comum que gosta muito de mexer com terra e plantas... E a mulher do farol? A medicastra. Ela parece especial.

            O pescador sorriu também:

—E é... Se olharmos bem de perto.

            A partir dali nada mais foi dito pelo pescador e após o jantar, o homem se recolheu, deixando seus hóspedes à vontade. Lady tomou outro copo de sumo de frutas e falou:

—Certo. Alguém mais ficou na mesma?

            Trish ergueu a mão e riu:

—Cansei de enigmas. Vou dormir!

            Morrison se levantou da mesa:

—Vou fumar um pouco. Boa noite, meninas!

            Ele sai pela porta e segue na direção do caminho que levava ao ancoradouro. Estavam muito longe do continente e a vida ali na ilha seguia num tempo diferente do resto do mundo ao redor. Não havia pressa para nada. Apenas viver o presente, sem apegos, sem ambições para anestesiar os sentidos. Morrison se perguntou quando foi a última vez que parou para refletir sobre sua própria vida.

            Nisso, uma forte ventania soprou do mar e ele virou-se para olhar o céu:

—Vai chover?

            O vigia do ancoradouro olhava o céu, espantado. As nuvens estavam escuras e seu movimento parecia contrário à direção que o vento soprava. Morrison percebeu também e correu de volta para a casa do pescador. Bateu na porta do quarto que as caçadoras ocupavam:

—Meninas! Tem algo estranho no céu!

            As mulheres saíram e olharam pela janela. Lady exclamou:

—Minha nossa!

            Trish olhou para os amigos:

—Vamos para o farol!

            E o trio correu para o local, deixando um confuso pescador espiando pela porta do quarto.

            Nico desceu da van e olhou para as nuvens que se aproximavam:

—Que merda!

            Ela correu rumo ao farol para encontrar as caçadoras e Morrison entrando no jardim, enquanto Maud descia as escadas para a saída. Inanna apareceu atrás de algumas árvores e olhou para o céu. Estava descalça e a primeira coisa que fez foi caminhar até o amontoado de terra ali próximo.

            Nico olhou aquilo com uma sensação de estranheza cada vez mais forte, mas sua atenção foi desviada para um redemoinho de nuvens que se formou sobre Enuma. Parecia o início de um tornado e ao mesmo tempo movia-se como um maelstrom, sugando mais das nuvens que o formavam.

Maud olhou para o alto e tocou o peito. Inanna tinha os punhos fechados e os olhos totalmente focados no movimento do céu acima deles. Kyrie estava deitada ao lado de Nero quando o percebeu se agitar, tremendo o corpo como se fosse convulsionar:

—Nero? Está se sentindo bem?

            O caçador voltou seus olhos para a namorada e murmurou:

—Essa coisa... Em mim... Posso sentir ela se agitar como se previsse alguma ameaça... Kyrie!

Continua...


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Notas finais do capítulo

Minha nossa! É difícil escrever sobre esse universo Devil May Cry!
Acompanhei a história dos jogos desde o primeiro e tem muita coisa implícita, principalmente pelos personagens centrais, Dante e Vergil.
Tomara que eu acerte o tom!



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