DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 4
Os Visitantes


Notas iniciais do capítulo

Recebidos pelos moradores da ilha de Enuma, a equipe de caçadores tem contato com Maud, uma anciã e um tipo de líder do local e sua filha adotiva Inanna, uma jovem que se ocupava em cuidar do jardim e pomar que abastecia o farol e lar das duas mulheres. Nero é deixado aos cuidados de uma misteriosa figura a quem todos tratavam como medicastra, um tipo de curandeira e agora a vida do jovem estava em suas mãos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807779/chapter/4

A balsa se aproximou um pouco mais do ancoradouro e Nico movimentou a van para que conseguisse sair. A madeira era velha e a artesã de armas ficou com medo de seguir sob o risco de o ancoradouro afundar com eles para o mar. O vigia garantiu que isso não aconteceria e Nico respirou fundo:

—Um banho de mar não deve ser tão ruim quanto parece...

            Ela olhou para o fundo da van. Kyrie acariciava os cabelos brancos do namorado, adormecido pelo anestésico. A voz de Nico foi mais suave do que imaginou ser capaz de falar:

—Ky... Segure firme. A gente vai sair da balsa. A van pode dar um tranco...

            Kyrie assentiu com a cabeça e apertou Nero contra o peito.

            Nico apertou o acelerador e segurou o volante com força. A van avançou e Nico moveu o veículo em ziguezague o mais rápido que podia, diminuindo o tempo ali naquele ancoradouro. Com sucesso, alcançaram a estrada de areia e cascalho que subia rumo ao topo da ilha. Sua perícia arrancou aplausos de Morrison, Lady e Trish. O vigia sorriu e apontou para cima:

—Sigam direto. A velha Maud vai recebê-los logo...

            Gratos pela recepção, o grupo entrou na van e rumaram para onde o homem havia apontado. Trish tocou a testa de Nero e fechou os olhos. Ela podia sentir o jovem lutar contra a energia maligna que tentava assumir seu corpo. Lady olhava para as faixas manchadas de vermelho vivo:

—Eu... Já vi Dante se arrebentar todo numa batalha, mas nunca vi algo assim acontecer.

—Eu também... Aquela coisa na igreja... Ela sabia que Nero era especial. Ela o atacou como se... Tentasse se transferir para ele.

            Kyrie ouvia tudo com o rosto transtornado pelo medo de perder seu amor. As lágrimas voltaram a queimar-lhe a face suave:

—Ele... Não me contou sobre isso.

—Ele não queria que ficasse preocupada. Sabe como Nero é... Um cabeça dura com coração de ouro.

            Lady sorriu ao ouvir Trish falar do caçador. Aquele grupo se tornara uma estranha família. Cada um com histórias de perda e superação, unidos por uma luta sem fim contra as forças do submundo.

            A van estacionou minutos depois numa área aberta, coberta de grama e outras vegetações rasteiras. Tudo ao redor era bem cuidado, verde e convidava ao descanso. Era possível ver algumas casas ali perto, todas de madeira e com um pequeno jardim na frente.

            Maud desceu a encosta que levava ao farol e acenou para eles. Morrison adiantou-se ao grupo e tirou o chapéu:

—Senhora Maud?

            Ela sorriu:

—Sim. Recebemos muitos visitantes em busca de ajuda. O que posso fazer por vocês?

            Morrison estendeu o maço de notas:

—O que for preciso para ajudar nosso amigo. Eu trouxe um valor em dinheiro, mas posso conseguir mais se for necessário e...

            Maud colocou os braços para trás e inclinou o corpo esbelto para frente:

—Nós não precisamos desse tipo de pagamento, senhor...

—Morrison! J.D.Morrison.

            A mulher sorriu em entendimento:

—Muito bem, Senhor Morrison. Em que posso ajudá-lo?

            O homem apontou para a porta aberta da van. Maud viu Kyrie limpando o rosto corado de Nero com uma toalha:

—Seu amigo não parece nada bem. Há quantos dias ele está assim?

—Dois ou três.

            Naquele momento, dois robustos pescadores se aproximaram com o que seria uma padiola improvisada de madeira e rede de pesca. Eles se aproximaram da van e com facilidade, retiraram Nero do veículo e o colocaram gentilmente na maca improvisada. Maud falou:

—Levem-no para o farol, por favor. Inanna vai saber o que fazer.

            Os homens obedeceram em silêncio e logo se puseram a caminho. Maud voltou-se para o grupo:

—Venham comigo e me contem como seu amigo ficou desse jeito.

            Trish, Lady e Nico contaram todos os detalhes da missão em White Hound Field. Maud ouviu tudo com o semblante tranquilo. Tão logo entraram no primeiro pavimento do prédio, foram tomados pela surpresa ao se depararem com um imenso jardim e pomar. Havia plantas de todas as cores, formas e variedades, algumas árvores de pequeno porte estavam carregadas de frutos coloridos e perfumados, aguçando os sentidos dos visitantes.

No meio de todo aquele verde e colorido, sentada num monte de terra escura, havia uma jovem mulher. Tinha a pele bronzeada, o corpo esbelto e de estatura mediana. Vestia uma bermuda até os joelhos que podia se dizer da cor da terra em que ela trabalhava e um colete de couro sobre uma camiseta regata, que foi branca em algum lugar no tempo.

            O que chamou a atenção dos visitantes foi o volume imenso de cabelos que adornavam sua cabeça. Eram muito cacheados e alternavam as cores castanho e mel, caindo pelas costas até abaixo da omoplata e pelos ombros até o peito. Ela os prendia na altura da testa com uma faixa trançada de tecido vermelho.

            Apesar do movimento de pessoas ali, ela parecia concentrada em algo que remexia na terra macia. Maud aproximou-se devagar e inclinou-se para a moça. Falou por algum tempo em seu ouvido e ela concordou com a cabeça. Ergueu o rosto na direção do grupo e sorriu sem mostrar os dentes.

            Maud voltou-se para os caçadores e falou:

—Nesse momento, seu amigo está com a nossa medicastra. Ela está avaliando quais serão os medicamentos e a terapia a ser aplicada. Isso pode levar algum tempo, mas fiquem tranquilos. Enquanto ela estuda o caso dela, algumas terapias estão sendo usadas para baixar a febre e anestesiar a dor.

            Kyrie enxugou as lágrimas:

—Posso ficar ao lado dele?

            Maud tocou o ombro dela:

—Na hora certa eu vou levar você até ele. Agora quero que descansem da viagem e se alimentem. Existem lutas que não se podem vencer de estômago vazio e ânimo em baixa.

            Como se saíssem do nada, quatro mulheres apareceram trazendo bandejas rústicas com pão e frutas, bilhas com água e chá de ervas aromáticas. Havia uma grande mesa de madeira um pouco afastada da entrada principal e bancos feitos de troncos cortados. Todos se sentaram, mas poucos conseguiram comer. A sorte do caçador agora dependia das ações de uma completa estranha e tudo o que podiam fazer era rezar pelo amigo.

            Nero abriu os olhos, sentindo algo frio em seu peito dolorido. Ele estava num tipo de sala redonda, cuja metade da parede era cortada por uma estrutura escura, de superfície irregular e crostas salientes. Ele moveu a cabeça para o lado e gemeu, sentindo a fronte latejar. Uma voz suave, como se fosse soprada, chegou até o rapaz:

—Não tema nada. Está seguro. Sendo cuidado.

—Q-quem...

            Então ele percebeu um movimento à sua esquerda e alguém se aproximou devagar. Parecia uma mulher, alta e esguia. Estava coberta da cabeça aos pés com uma túnica pérola acetinada e era possível ver apenas um lado de seu rosto. Nero moveu a mão e a estranha segurou-a com delicadeza:

—Fique.

            Ele sentiu a mão fria e delicada da mulher. Sentiu também um cheiro adocicado que parecia vir dela. Lembrava a ele das plantas aromáticas que Kyrie usava para fazer chás para as crianças. Era reconfortante e isso acalmou Nero. Ele relaxou o corpo e falou:

—Meus amigos...

—Estão embaixo. Esperando.

—Posso vê-los? Ver minha...

—Ela virá em breve. Agora precisa deixar o corpo aceitar a cura.

            Nero percebeu que a mulher falava diferente. Como se repetisse palavras ditadas. Ela se movia languidamente, quase uma dança. Era hipnotizante e estranho ao mesmo tempo, mas Nero não sentiu desconforto. A dor em seu peito parecia anestesiada e isso foi o suficiente para ele.

            Dante observou Vergil parado sobre uma rocha, no alto de um penhasco. Abaixo deles, um imenso rio de lava borbulhava e nela, criaturas de pesadelo se revolviam, se atacando vez ou outra. Dante assoviou:

—Pfiiuu! Que vista, hein? Que estamos fazendo aqui? Deve ser o décimo lugar em que paramos e ficamos olhando o nada...

            Vergil olhou ao redor e respirou fundo:

—Estou procurando o ponto certo.

—Ponto certo pra quê? Seu silêncio é um pé no saco, sabia?

—Não é obrigado a me seguir.

—Você viu Nero, eu vi Nero. Aquilo não é boa coisa, irmão.

            Vergil apontou para o alto. O submundo tinha seu próprio firmamento, tomado por nuvens escuras e tempestuosas, o que pareciam asteroides caíam no solo abrindo grandes crateras e um eterno eclipse entre um sol e uma lua, emprestavam àquela dimensão uma atmosfera nebulosa e opressora.

            O gêmeo mais velho de Sparda falou:

—O submundo possui coordenadas que se conectam com as da terra. Se você sabe onde está determinado ponto, pode partir dali para o local desejado no mundo humano.

            Dante concordou em silêncio. Vergil viveu grande parte de sua vida ali, naquele terrível lugar. Após os eventos da Qliphot, o espadachim parecia bem à vontade entre as criaturas demoníacas e a paisagem medonha. Muitos seres se curvavam diante de Vergil ou se recolhiam de medo à sua passagem. Outros o desafiavam para uma luta, sendo destruídos facilmente. O caçador de demônios se questionava internamente quanto da humanidade de seu irmão realmente havia sido recuperada na união de V com o demônio Urizen.

            Dante sentou-se numa rocha e falou:

—Isso pode demorar?

            Vergil sorriu num canto da boca, algo que lembrou V:

—Vai saber logo.

            Inanna se levantou do chão e limpou a roupa suja de terra. Os visitantes estavam conversando baixo, entre si, preocupados e visivelmente cansados. A jovem aproximou-se de Kyrie e sorriu:

—Olá. Sou Inanna. Vou levar você até seu namorado.

            Kyrie juntou as mãos ao peito e sorriu:

—Obrigada! Obrigada!

            Lágrimas começaram a correr por seu rosto e Nico falou:

—Fale com aquele cabeçudo que estamos todos aqui.

            A jovem sorriu e seguiu Inanna. Subiram alguns lances de escada em caracol cuja estrutura estava emaranhada a raízes que desciam do grande tronco que rompia do solo. Após passarem pela cozinha e seguirem para terceiro pavimento, Kyrie notou que era uma casa adaptada. O piso de madeira limpo e encerado, a abertura que seguia até uma varanda, de onde se podia ver o vilarejo e o mar ao longe, além do jardim e do pomar. Igual aos andares abaixo, a estrutura era uma com o imenso tronco. Havia duas camas, uma pequena biblioteca, bancos e cadeiras convidando para horas de leitura.

            Ali circulava uma brisa fresca que deixava o lugar ainda mais aconchegante, mas a atenção de Kyrie estava num jovem de cabelos brancos que dormia profundamente numa das camas.

            A moça aproximou-se devagar e tocou os cabelos dele. Inanna falou:

—Ele dorme agora. Quando acordar, vai poder se alimentar.

—Obrigada. Eu... Queria agradecer à medicastra... Ela...

—Está descansando. Ela se recolhe a cada atendimento para repor as forças e também meditar sobre o tratamento. Não se preocupe. Ela sabe que você está grata.

            Kyrie ergueu o olhar para a próxima escada que levava aos pavimentos acima e concordou com a cabeça. Inanna colocou uma jarra e duas canecas ao lado da cama:

—Se ele sentir sede, pode dar água. Temos uma fonte subterrânea aqui e é uma água muito rica. Fará bem aos dois.

            Inanna se afastou e Kyrie disse:

­_Inanna... Obrigada por nos acolher.

            A moça sorriu e desceu rumo ao jardim onde Trish, Lady e Nico discutiam sobre o tamanho e sabor das frutas que comeram no lanche oferecido por Maud. Nico falou:

—Como essas frutas cresceram assim? Estamos numa ilha. A maresia é algo bem agressivo! E a terra nem sempre é tão nutritiva.

            Lady riu:

—Talvez seja mágica! A senhora Maud pode ser uma feiticeira poderosa e senhora desse lugar.

            Trish olhou o jardim:

—Aquela menina... Vocês acreditam naquele cabelo? E os olhos dela...

Nico franziu a testa:

—Que tem os olhos?

—São verdes com pontos dourados...

Lady balançou a cabeça:

—Não mesmo! São da cor de mel!

Morrison riu:

—São castanhos esverdeados.

Então Inanna surgiu na entrada do farol e sorriu aos visitantes:

—Sua amiga está mais tranquila. Nero dorme profundamente.

            Elas acenaram com a cabeça em entendimento e Inanna comentou:

—Devem estar exaustos. Maud foi providenciar o jantar e um lugar para repousarem.

            Nico ergueu o braço:

—Ficarei na van. Quero ver alguns ajustes na nova devilbraker que criei.

            Todos ergueram os polegares e a conversa morreu ali sem que entrassem em acordo sobre a cor dos olhos da jovem que, naquele último minuto, era castanho apenas.

            Por volta das 23 horas, satisfeitos com um jantar ao ar livre, o grupo de caçadores é recebido na casa de um pescador viúvo, cujo filho era o vigia do ancoradouro. A casa de madeira era simples, mas aconchegante e todos puderam se acomodar. Extremamente cansadas dos eventos anteriores, Lady e Trish dormiram logo, restando Morrison ainda desperto e preocupado.

            Maud surgiu à porta da casa e Morrison se levantou do banco onde fumava seu charuto:

—Senhora.

            Ela acenou com a cabeça e falou:

—Eu soube por visitantes que coisas terríveis ocorreram em Red Grave City. O inferno subiu ao mundo humano.

—Sim. Só não foi pior graças a essas garotas que vieram conosco e aquele rapaz no seu farol.

            Maud se virou para a estrutura a alguns metros dali:

—Ele tem sangue demoníaco, não tem?

—Sim. É o neto de um guerreiro que abandonou o submundo e se aliou aos humanos.

—Sparda.

            Morrison se voltou para ela surpreso:

—Você... Conhece a história?

            Maud suspirou:

—Eu conheci o homem. Numa viagem para o continente. Uma figura peculiar.

—Toda essa história é muito complicada. Só posso dizer que o garoto é um caçador e tanto. Temia que não pudesse ajudá-lo.

            Maud alisou os cabelos grisalhos:

—Faremos o possível. Os primeiros dias podem estabilizar o dano, mas os próximos serão mais dramáticos...

—Por que diz isso?

—As forças que o atacaram deixaram um invasor. Um tipo de parasita que pode corromper o corpo e dominar o espírito. Macula tudo o que toca. Um homem comum teria sucumbido em horas.

—Oh céus! E como sabe de tudo isso?

—Perdi um ente querido décadas atrás. Foi atacado por uma criatura do submundo. Apesar dos meus esforços, não pude salvá-la. Eu ainda não possuía o conhecimento certo.

—Lamento por sua perda.

            Maud suspira:

—É parte da vida. Bem. Vou deixá-lo descansar agora. Eu os convido para o desjejum amanhã. Fiquem à vontade para cear conosco.

—Será uma honra, senhora. Boa noite.

            Maud se afasta e Morrison consulta o relógio. Era uma hora da madrugada. E nada de sono.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Recebidos por aquelas pessoas estranhas e cercados de dúvidas, a equipe Devil May Cry ainda pode se deparar com situações misteriosas e inesperadas.

A palavra Medicastra significa curador, benzedeiro, curandeiro. Pode ser associado a coisas positivas, mas também é associado ao charlatanismo, como toda profissão não regulamentada.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.