DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 3
Enuma


Notas iniciais do capítulo

A equipe Devil May Cry seguiu para esse local desconhecido, confiando em lendas locais de que o problema de Nero poderia ser resolvido. A história dessa pequena ilha circulava entre a fé e a descrença, mas os amigos do jovem caçador não tinham outra saída.



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Sommad era uma cidade litorânea a 118 milhas de Red Grave City e 90 milhas de distância de Fortuna Island. Ativa em sua zona portuária, era local de entrada de pessoas de diversos lugares e principal ponto de comércio de exportações e importações daquele lado do continente por causa do grande número de ilhas ao redor e mais além. Com um sistema de governo forte e pautado no capitalismo, pouco se intrometia nos problemas das outras cidades e quase nada impactada com os eventos da Qliphot. Sua política chegava a todas as cidades ao redor, exceto a uma pequena ilha que se localizava em águas calmas, sete milhas a oeste de Sommad.

Enuma era o nome do local onde, 100 anos atrás, após um tsunami, tornou-se uma terra estéril, quente e de solo pedregoso. Nela residia uma comunidade de pescadores pobres, iletrados e que não se encaixavam na sociedade consumista de Sommad. Essas pessoas viveram suas vidas enfrentando o mar e as dificuldades de uma terra sem muitos recursos, necessitando vender seu pescado por outros materiais de necessidade básica no continente.

Numa noite chuvosa, 25 anos atrás, Enuma passou por um terremoto que revolveu o solo e as rochas, trazendo material do subsolo. Nessa mesma noite, um barco à deriva, encalhou nas rochas junto à praia e apenas um passageiro foi encontrado em seu interior. Um bebê de poucos meses, uma menina, que foi logo acolhida pela primeira família de pescadores que se aproximou do barco.

A criança estava num cesto, dentro da cabine de comando do pequeno barco e não havia nenhum tipo de documento ou identificação que informasse a origem tanto dele quando do bebê. Assim, a chegada da pequena viajante tornou-se tema de discussão dos habitantes, especulando toda sorte de histórias e mistérios, fazendo com que chamassem o evento de “Tremor de Enuma”.

Preocupados com a saúde da menina, a família recorreu à moradora mais velha da ilha, Sra. Maud. Ela era uma estudiosa e vivia nas ruínas de um antigo farol e templo, perto da encosta mais íngreme da ilha. Solitária, ela tinha a fama de sensitiva, curandeira, bruxa e outros adjetivos que pouco a incomodavam. Quando tocou a bebê, Maud sorriu e disse que dali em diante, seria a tutora da criança.

Ninguém se opôs ou discutiu a decisão. No imaginário daquela gente, a vinda da menina tinha um simbolismo oculto e logo saberiam a razão para tudo aquilo.

Ao longo de três anos, o solo remexido pelo terremoto tornou-se rico em matéria orgânica e a vegetação começou a se desenvolver. Também a fauna ao redor da ilha cresceu e a pesca tornou-se mais abundante, o que gerou mais recursos para os pescadores locais. Mais dinheiro possibilitou a compra de sementes, insumos, equipamento agrícolas e sob a supervisão de Maud, a pequena ilha tornou-se autossuficiente em alimentos naturais e frutos do mar.

Cada habitante possuía uma pequena horta e jardim, o que melhorava o clima do vilarejo, tornando o ambiente agradável e perfumado. A saúde dos pescadores e de suas famílias melhorou consideravelmente e elas se tornaram pessoas alegres e receptivas.

No quarto ano da chegada da menina, numa tarde de verão, um corvo apareceu na varanda do farol e no bico trazia uma semente que depositou no berço da criança. A menina agitou-se e pegou a semente, colocando logo na boca. Maud correu e tirou-a, sorrindo:

—Não pode comer isso, querida. E se nascer uma árvore dentro de sua barriguinha?

            Dizendo isso, Maud fez cócegas na criança que riu. Nisso a semente caiu de sua mão e escorregou por entre as frestas do piso de madeira antiga. A senhora se abaixou e tentou ver onde a semente caíra e percebeu que, abaixo de seus pés, havia uma profundidade bem maior do que poderia imaginar. Suspirou e esqueceu o evento, voltando sua atenção para a menina e seus afazeres.

            Aos cinco anos de sua chegada, Maud escolheu um nome para a criança. Inanna foi a escolha e a garota crescia, sendo fonte de sorrisos e brincadeiras. Ela corria livre pela ilha, conhecia cada canto e cada pessoa, sendo querida por todos. Inanna nunca adoecia, seus machucados se curavam rapidamente e ela parecia não ter medo de nada. Amava o som do trovão e das tempestades. Do vento noturno e das ondas revoltas que se chocavam com as rochas na parte mais alta da ilha, logo atrás do templo-farol.

            Maud sempre observava o comportamento da filha adotiva e sua interação com a natureza ao redor. Era curioso como, após sua chegada, a ilha revitalizou-se e isso fez com que Maud passasse a estudar mais profundamente os eventos e buscar uma leitura semelhante em outros lugares do mundo.

            Foi numa noite que o farol sofreu um estremecimento e sua estrutura foi abalada por algo que abriu uma imensa rachadura, quase partindo o prédio ao meio. O som de madeira estalando e rochas sendo arrebentadas assustou Maud e Inanna, que saíram do prédio e ficaram do lado de fora, na escuridão, vendo algo mudar em sua casa. Os moradores vieram com tochas e se juntaram às duas para assistir ao fenômeno.  

            Quando o sol nasceu, para espanto de todos, havia uma imensa árvore mesclada à estrutura do antigo farol. Era tão alta quanto o farol e sua copa dava sinais de uma folhagem verde e abundante. Inanna sorriu e aproximou-se do tronco saliente. Tocou a estrutura e abraçou-a, visivelmente feliz. Maud analisou o comportamento da garota e então se lembrou da semente que o corvo trouxera. A mesma semente que a menina colocou na boca.

            Naquela semana e na seguinte, todos os pescadores ajudaram a limpar e refazer as paredes que haviam sido destruídas pela grande árvore. Sob a orientação da anciã, a reforma deveria manter-se unida à madeira, criando uma estrutura única, formada por quatro pavimentos ligados por escadas de madeira.

            O 1º pavimento, de cima para baixo, era a cúpula do farol, que recebeu a invasão de parte dos galhos que formavam a copa da árvore. Ali se tornou ninho para uma enorme variedade de pássaros e morada de animais pequenos como lagartos e roedores. O 2º pavimento tornou-se a casa de Maud e Inanna, com um pequeno quarto para a anciã, uma sala e biblioteca onde a mulher educava Inanna, além de uma estrutura que Maud pediu aos pescadores para preservarem, a varanda do farol, onde foi expandido para abrigar o quarto da menina e de onde ela podia ver toda a vila e mais além. O 3º pavimento era um andar do farol que não sofreu muitos danos e ali, Maud fez a pequena cozinha e despensa.

            Para que o prédio não fosse empurrado pelo peso da árvore, os trabalhadores levantaram uma estrutura de ferro e madeira na frente do farol e com isso, formou-se outro pavimento externo onde Maud decidiu criar um berçário de mudas e sementes, além de um grande jardim para cultivo de plantas medicinais. Ali também cresceu um pomar oriundo de sementes de frutas compradas na feira portuária de Sommad. Se aquelas mudas sobrevivessem ao clima da ilha, não seria mais preciso gastar dinheiro com os produtos caros da cidade.

            Três anos após o evento da árvore, o pomar de Maud rendia caixas de frutas diversas que eram colhidas e distribuídas entre os habitantes da ilha de Enuma. Nesse lugar, Maud passava muito tempo com Inanna, ensinando a menina sobre a propriedade dos alimentos, a importância dos insetos e animais.

Elas limpavam o solo, separavam mudas, sementes e muitas vezes ficavam sentadas no chão, observando a luz do sol mudar de posição lentamente com o passar das horas. Trepadeiras cresciam nas estruturas de madeira e ferro e formavam uma cortina natural para o jardim, permitindo sombra e luz na medida para o progresso daquele lugar.

            No subsolo do farol, um pescador descobriu uma caverna entre as poderosas raízes da árvore e lá, uma nascente de água doce que logo recebeu uma canalização apropriada para fornecer irrigação ao pomar e jardim.

            O líder dos pescadores, um homem que vivera os piores anos da ilha em sua juventude e vida adulta, questionou Maud sobre a sequência de eventos após a chegada de Inanna. Maud concordou que tudo parecia evoluir rapidamente para algo, ela só não fazia ideia do que estava por vir, portanto deveriam manter aquele equilíbrio o máximo de tempo que pudessem.

            Aos 15 anos de idade, Inanna perguntou à sua protetora qual era seu nome secreto e Maud não entendeu. Ela prometeu estudar sobre aquilo e por noites seguidas, buscou nos livros antigos o que a jovem queria saber. Aos 18 anos, Inanna estava sentada no jardim, limpando bulbos de orquídeas, quando Maud se aproximou dela e sussurrou-lhe ao ouvido:

—Nantosuelta.

            Os olhos de Inanna brilharam com entendimento. Ela ouviu e guardou aquele nome. A partir desse dia, Inanna ficou mais reclusa no farol, estudando, meditando, sendo vista poucas vezes na varanda de seu quarto ou na entrada do jardim. Na mesma semana, uma visita trouxe medo e preocupação aos moradores da ilha.

            Um representante de Sommad, em nome do governo do continente, estava ali para confiscar bens e cobrar impostos dos habitantes de Enuma. Tudo que era de valor seria levado e a fonte de produção também sofreria cobrança. Acompanhado de soldados armados, o fiscal seguiu por todo o vilarejo de Enuma e entrou nas casas. O que viram foi um solo árido, plantas secas e acinzentadas e tudo com aparência malcuidada.

            O mesmo aconteceu ao farol e o fiscal ficou extremamente frustrado por encontrar o local em tão péssimo estado. Desconsertado, ele riscou a ilha de suas futuras cobranças e foi embora com sua comitiva pela velha ponte que ligava a ilha ao continente, enquanto os assustados moradores iam até Maud questionar sobre o estado deplorável da paisagem local.

            A sábia mulher sorriu e orientou aos moradores que se recolhessem às suas casas. À noite, uma terrível tempestade vinda do mar assolou a região. O mar ficou revolto, com ondas tão terríveis, que abalaram a estrutura da antiga ponte. Nessa noite, uma misteriosa mulher apareceu e passou a viver no farol com a anciã e a jovem. Muitos acreditaram que ela havia fugido do continente e buscou asilo em Enuma.

Ao amanhecer, a ponte deixou de ser transitável, isolando Enuma ainda mais do assédio de Sommad.

            Na semana que se seguiu, toda vegetação da ilha voltou a crescer com força e viço. A copa da grande árvore encheu-se de folhas e ramos frescos, o jardim e o pomar estavam novamente viçosos e o povo de Enuma entendeu sua benção. A dádiva da ilha não podia ser explorada por olhos e mãos gananciosos como os do governo de Sommad e dessa forma, Enuma foi esquecida, tornando-se uma lenda para mentes mais crédulas.

Aqueles que buscavam alívio para suas dores e doenças visitavam Enuma por barco, sendo recebidos no velho ancoradouro dos pescadores. Uma vez atendidos e ouvidos por Maud, Inanna e a nova moradora, eles recebiam poções, óleos, unguentos e tinturas. Tudo era doado, nunca vendido.

Pílulas de argila e sementes eram presenteadas aos necessitados de ajuda física e espiritual. Quem levava um pouco do milagre secreto de Enuma, era orientado a nunca revelar que tipo de tratamento estava usando, sob um juramento de proteger a benção recebida ou jamais usufruir do resultado duradouro.

Sommad e outras cidades não se interessavam mais pelas histórias que contavam sobre Enuma nos anos seguintes. Uns falavam de monstros marinhos que circundavam a ilha e devoravam invasores. Outros contavam histórias de pescadores que se tornaram canibais e eram comandados por uma terrível bruxa que sacrificava crianças em rituais macabros e comandava espíritos e demônios. As informações divergiam entre as cidades e isso acabava por tornar Enuma ainda menos atraente. Apenas as almas desesperadas enfrentavam todo o folclore local e embarcavam rumo à ilha em busca de uma cura. Quando regressavam, mantinham silêncio sobre o que encontraram e a fama de Enuma se perpetuava.

Numa noite de estranhas nuvens, Maud e Inanna viram da varanda do farol uma imensa balsa se aproximar do velho ancoradouro da ilha. Havia um veículo a bordo, uma van, e ao lado dela, um grupo de pessoas no mínimo peculiar. O homem mais velho que os demais saudou o vigia do ancoradouro e apresentou um maço de dinheiro do continente, algo que o vigia recusou educadamente e solicitou que esperassem ali.

Paradas à porta aberta da van, três mulheres se destacavam. Uma era alta, esbelta e de cabelos longos e louros. Usava roupas exóticas e sensuais e estava armada. Ao seu lado, observando a ilha com curiosidade, uma jovem de cabelos escuros e curtos, trajando botas altas e shorts, também armada com o que, ao longe, parecia uma bazuca.

Um pouco afastada das outras, uma mulher mais jovem fumava nervosamente. Parecia de origem sulista pela pele bronzeada e cabelos escuros e revoltos. Usava botas de cowboy e short e tinha tatuagens visíveis pela pele exposta. Pela porta aberta da van, podia se ver uma jovem ruiva curvada sobre um rapaz de cabelos brancos, imóvel, envolto em bandagens sujas de sangue. A moça chorava em silêncio.

Longe dali, no farol, Maud voltou seus olhos para Inanna e viu o semblante da jovem mudar. A anciã sabia que havia algo acontecendo ali, naquela noite e naquele grupo. A mulher conhecia sua filha adotiva e suspirou:

—Está sentindo isso?

            A moça balançou a cabeça. Os olhos ainda fixos no movimento da praia. Maud afastou-se devagar, rumo às escadas:

—Acha que... Ela estará pronta para recebê-los?

            Inanna respirou fundo e fechou os olhos:

—Nos dê alguns minutos. Depois traga-os aqui.

            A anciã assentiu e desceu a escadaria até fora do templo. Atravessou o jardim e saiu do local. O vento estava forte e fustigou seus longos cabelos brancos e suas vestes. Ela também percebeu o ar carregado ao redor da ilha. Enuma também reagiu à presença daquelas pessoas. 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Esse foi o capítulo mais descritivo da trama. Precisei apresentar todo o cenário onde muito da história vai acontecer daqui pra frente e a importância dos personagens apresentados.

Obs* O nome Enuma deriva da mitologia babilônica da criação.



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