DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 16
Rheia


Notas iniciais do capítulo

Consciente do resultado de suas ações em Enuma, V teme que não possa ajudar Inanna. Rheia o anima com palavras positivas, encorajando-o.
Ainda ressentido pela decisão de sua metade demoníaca, V tentará se desculpar com seu filho Nero e resgatar a jovem de seu estranho sono.



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Uma balsa partiu do porto de Sommad rumo a Enuma. Nela embarcaram três pessoas um tanto peculiares. Dois homens e o que parecia uma mulher estavam parados junto à amurada da balsa, em silêncio. Um dos homens tinha o semblante fechado e tenso. Constantemente a mulher tocava seu ombro como se o confortasse, mas isso parecia não surtir efeito.

            O outro homem se espreguiçou e falou, por fim:

—Três dias! Finalmente estamos indo pra Enuma! Como saber onde aquele maldito portal ia deixar a gente? Um pátio da polícia não é um lugar muito amigável pra surgir do nada!

            A medicastra sorriu e olhou o mar:

—Há esperança para minha Inanna.

            Dante voltou-se para o homem ao seu lado e suspirou:

—Ei, V...

—Ainda tentando justificar a escolha dele?

—Qual é! Isso foi altruísta pra caramba! Não é como da primeira vez! Você sabe que não, afinal, é a outra metade daquele turrão!

            Rheia voltou sua face pálida para V:

—Vergil Sparda está seguindo os passos do pai. O submundo precisa de um guardião à altura para domar hostes que ambicionam o mundo dos homens. Ao contrário do que parece, ele não sacrificou sua humanidade para isso... Ele libertou-a.

            V encarou a entidade. Dos olhos dourados da medicastra emanava um poder tranquilizador:

—O elo que existe entre vocês não foi rompido. Então receba a dádiva e viva plenamente. Por ele e por você...

            Dante ouviu aquela conversa em silêncio. Ele observou V se afastar deles e seguir para um lugar mais solitário da balsa. O caçador podia ouvir os soluços roucos e murmurou para si:

—Oh, irmão! Somente assim para alguém como você colocar tudo pra fora...

            Enuma surgiu ao longe quando já entardecia. Um grupo de pescadores amarrava seus barcos e guardava redes e remos após um dia de trabalho no mar. Quando viram a balsa, agitaram os braços e subiram pela trilha até o vilarejo, enquanto um deles correu até o farol para avisar Maud.

            Nico e Kyrie estavam sentadas junto à van, observando Nero treinar com a nova devil breaker. Junto delas, três criaturas de um tamanho considerável descansavam. Quando viram o pescador correndo pela trilha, seguiram para a encosta e avistaram a balsa se aproximando.

            Dante acenou e Nero desceu a encosta correndo até o ancoradouro. Ele viu a medicastra e o caçador, mas não viu seu pai. Quando a balsa atracou e lançou a prancha de desembarque, Nero atravessou-a e abraçou Dante:

—Tio!

—Ei, moleque! 

            Nero riu e olhou ao redor:

—Onde está meu...

            Dante segurou-o pelos ombros e falou:

—Precisamos ter uma conversa. Nesse momento o V... Vergil precisa de um tempo, ok?

            Nero franziu o cenho e balançou a cabeça, não muito certo do que aquilo tudo podia significar. Saiu com Dante para fora da balsa e seguiram para o farol. Rheia andou pelo convés da balsa até onde V estava sentado. Ele mirava o mar, imóvel, o vento fustigando os cabelos brancos. A luz do sol se afastava devagar, emprestando uma cor dourada que transformava a paisagem.

            Ele não olhou pra ela quando se aproximou. A forma esguia e alta moveu-se até a amurada e analisou a paisagem. Sua voz era profunda e doce:

—Eu me permito sentir o calor desse sol e o gosto salgado do vento que vem do mar nessa forma física e limitada. Um prazer tão simples e algo poderoso para se apreciar...

            Vergil baixou o olhar:

—Mas você é uma divindade.

—Sou parte de um equilíbrio universal... Minha condição é estar dividida entre todas as coisas vivas que habitam o que chamam de Terra. E também estou presente na transição de tudo. É tão raro que eu possa usufruir de momentos assim por mim mesma...

            V olhou-a:

— Ver tudo passar... E então esperar pelo fim?

            Ela suspirou:

—Não somente... Apesar disso, a vida continua avançando. Eu posso senti-la lutando para continuar, para prevalecer diante de toda adversidade, sempre buscando...          

V observou o rosto da medicastra e percebeu lágrimas pela face dela. Espantado, ele se levantou e aproximou-se:

—Rheia! Deuses... Podem chorar?

            A entidade sorriu e saiu dali, deixando V pensativo. Pouco tempo depois ele seguiu pelo ancoradouro e subiu rumo ao farol. Cada passo trazia uma estranha angústia e em seu coração, temia o olhar de desapontamento de Nero e por fim, o rosto inexpressivo de Inanna em seu estranho sono por culpa dele.

            A noite caiu rápido e Nero estava sentado na escadaria do santuário. V entrou devagar e sentou-se ao lado dele. O rapaz balançou a cabeça:

—Por acaso ele pensou em mim quando decidiu por... Isso?

            V suspirou:

—Sim. Apesar de não concordar com isso, agora entendo.

—Você vai morrer?

—Não. Ainda estamos conectados ou algo do tipo.

—Ele... Pode ver ou ouvir através de você?

—Possivelmente...

            Nero abraçou V e o homem fica surpreso. Ele envolveu o rapaz nos braços e falou com carinho:

—Por mais estranho que pareça, sou metade seu pai. Vamos fazer o nosso melhor, ok?

            Se separaram, rindo, e Nero falou:

—Nico vai ficar impossível quando souber disso!

—Bem, sobre isso não há muito o que ser feito.

            Dante estava no pequeno quarto onde Inanna dormia. A medicastra estava ajoelhada ao lado da cama e tocava o rosto da jovem com carinho. Maud estava de pé e falava com voz cansada:

—Fizemos o que é possível para manter o corpo, mas sua alma não se conecta mais conosco... Eu temo pelo pior, senhora...

            Rheia olhou o rosto da anciã:

—Sempre fez o melhor por minha criança, Maud. Se quiser, posso aliviar o peso do tempo em seu espírito por todos esses anos de dedicação e...

            Maud faz que não com a cabeça:

—É muito generosa, Deusa, mas permita-me continuar até que o tempo venha por si.

            A medicastra sorri e Dante perguntou:

—É possível que V possa fazer algo sobre isso?

—Vergil foi generoso. Vamos esperar os frutos desse sacrifício.

            Enquanto isso, Nero levou V até a van da Devil May Cry e Nico surgiu na porta com Kyrie:

—Ora! Quem é vivo sempre pode aparecer! Salve, Poeta!

            Com um sorriso no canto da boca, V acenou com a cabeça para a artesã armeira. Kyrie aproximou-se do homem:

—Senhor V!

—Olá, Kyrie.

            Nico bateu palmas:

—Certo! Chega de reunião de família! Preciso saber o que vai fazer quanto a isso aqui...

            Ela abriu a porta da van ainda mais e no fundo do veículo, deitados em uma colcha velha, os seres de sonho de V estavam deitados, ora se espreguiçando, ora brincando uns com os outros. O homem subiu na van e parou, analisando as criaturas. Elas voltaram sua atenção para ele e seguiram devagar, desconfiadas.

V agachou-se e ergueu os braços, fechando os olhos. Pouco a pouco, sentiu o roçar de pelos, penas e pele grossa em seu rosto, braços e pescoço. Os três seres emitiam ganidos baixos, guinchos e ronronados, demonstrando satisfação com aquele contato e V murmurou:

—Também senti falta de vocês...

            Nero sorriu e kyrie perguntou:

—Quem são esses animais?

—Familiares... Uma mascote espiritual ou algo do tipo. Eles acompanhavam meu pai... V na época da Qliphoth. Dante os enfrentou e foram destruídos.

            Nico espreguiçou:

—Agora são filhotes fofinhos e bonzinhos! Mas fazem muita bagunça na minha van! Ei, V! Dê o fora daqui com sua turma!

            O homem riu. Apanhou o homúnculo e o felino no colo, tendo a ave em seu ombro e saiu da van. O grupo o seguiu até a entrada do santuário e V ergueu o olhar para a estrutura do farol:

—Nesse momento, minha parte demônio deve rir do medo que sinto por estar prestes a entrar ali.

            Nero afagou as costas do homem e concordou. Nico e Kyrie seguiram na frente e subiram as escadas. V colocou os seres no chão e falou com voz suave:

—Fiquem aqui e comportem-se... Logo estarei com vocês. Entendido?

            Os seres de acomodam no chão e permanecem quietos, vendo o homem se afastar e sumir pela porta de entrada do farol. O som baixo de vozes já podia ser ouvido das escadas e V respirou fundo. Não tinha a menor ideia do que dizer ou fazer quando visse a jovem.

            Solidário, Dante sorriu ao irmão quando o viu cruzar a porta. Maud e Rheia voltaram seus olhares para o homem e ele acenou com a cabeça para os presentes ali. Ele aproximou-se devagar e olhou para a cama, estreitando os olhos ao perceber a palidez na face de Inanna onde antes havia um bronzeado saudável.

            V falou:

—Estou aqui.

            Rheia aproximou-se e tocou-o no ombro:

—Sim.

            Dizendo isso, ela saiu e foi seguida pelos demais, deixando V sozinho no aposento. Ele ficou parado e sentiu-se estranho:

—Bem! Então é isso...

            Ele foi até a cama e sentou-se ao lado da jovem. Tocou a mão dela:

—Eu...

            Ele observou o peito dela subir e descer lentamente, evidenciando que estava mergulhada em um sono profundo. V mordeu o lábio:

—Perdoe-me. Eu fui descuidado e permiti que minha presença contaminasse seu santuário e magoasse você. Nunca fui muito articulado para certos assuntos. Eu sou um guerreiro... Ou pelo menos era a alguns dias atrás.

            A face de Inanna não se alterou. V apertou a mão dela e fechou os olhos:

—O que posso fazer para trazer você de volta? Como posso me redimir?

            Mas há apenas silêncio e o som do vento na copa da grande árvore do farol. V subiu na pequena cama e deitou-se ao lado da jovem, puxando-a devagar para si e aninhando o corpo dela ao seu. Ele aspirou o cheiro de seus cabelos e percebeu que aquele perfume que sentiu antes estava fraco, como se a luz dela estivesse se apagando aos poucos. Ele murmurou:

—Ouça minha voz. Abandone esse lugar escuro e volte para aqueles que amam você...

            V recordou-se de um poema que sempre lia e recitou-o próximo ao ouvido da jovem:

   “Amor e harmonia se combinam,
             E em volta de nossas almas se entrelaçam
             Enquanto teus ramos se misturam com os meus,
            E nossas raízes se unem
.
                                   xxx
       "Alegrias sobre nossos galhos se assentam,
        Chilreando alto e cantando docemente;
        Como riachos suaves sob nossos pés
        Inocência e virtude se encontram…”

            O homem tinha as faces quentes e os olhos marejados. Jamais se sentiu responsável por alguém ou alguma coisa que não estivesse diretamente ligada à sua busca por poder. Apertou Inanna contra si e sussurrou:

—Volte pra mim...

 

Continua...

OBs* O trecho recitado por V pertence ao poema "Song", de William Blake. As obras desse escritor estão liberadas para domínio público e acessíveis na internet para consulta e download.


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Notas finais do capítulo

Uma coisa recorrente no game Devil May Cry 5 é o uso da literatura de William Blake. Ao longo de toda o jogo, nas partes cinemáticas, vemos V com seu livro aberto, recitando em voz alta, trechos de poesias desse famoso escritor.
Para quem jogou o game ou leu os quadrinhos, vai perceber a frase derradeira de V, empalando Urizen com sua bengala prateada:_" I know... we are one and the same, you and I. But you've lost me, and I've lost you. Yet we are connected by that one feeling. "While thy branches mix with mine, and our roots together join." (Eu sei... somos um e o mesmo, você e eu. Mas você me perdeu, e eu perdi você. No entanto, estamos conectados por esse único sentimento. "Enquanto teus galhos se misturam com os meus, e nossas raízes se unem."). Até nesse instante, V adapta um trecho do poema Song, de Blake, para o dilema entre sua humanidade e seu demônio interior.
Quando li todo o poema, decidi que a mesma ideia poderia ser aproveitada para indicar a aproximação entre V e Inanna. A escolha que ele fazia para essa nova vida que se apresentava.



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