DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up escrita por Daniela Lopes


Capítulo 14
Aliança-parte 03


Notas iniciais do capítulo

Os familiares de V renasceram através do poder de Inanna. Definitivamente, Vergil percebe que sua presença afetou a estabilidade do Santuário e da jovem. Sentindo-se incomodado com isso, decide se afastar, mas talvez essa decisão seja pior do que estar ali.
Diante do conflito, Enuma recebe uma visita inusitada para ajudar a moça e que pode afetar Dante.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807779/chapter/14

A palidez de Inanna deixou V preocupado e ele ergueu-a nos braços, seguindo com ela para dentro do farol. Uma vez lá dentro, ele gritou por Maud e a anciã desceu as escadas, se deparando com o homem e sua filha inconsciente:

—O que aconteceu?

—Ela desmaiou.

            Maud conduziu V até o andar da biblioteca e de lá para um pequeno cômodo que a senhora ocupava. Nero e Kyrie apareceram e ficaram confusos com a movimentação. A jovem cobriu a boca:

—Maud? O que houve com Inanna?

—Ainda vou descobrir. Precisamos tirar essa roupa molhada, você me ajuda?

            Kyrie aproximou-se e V levou Nero para fora, rumo à varanda contígua ao quarto. Dante apareceu na entrada do santuário e Vergil ainda estava quieto, como em transe. O caçador viu uma chama diferente nos olhos do irmão e falou:

—Vergil. Que aura é essa?

            O gêmeo mais velho se vira abruptamente para Dante:

—Aquele idiota! Ele está interagindo com esse maldito lugar!

—Idiota? Quem...

            Dante viu Nero e V na varanda do farol. O rosto do homem estava sombrio e ele mirava o jardim com uma expressão indecifrável. O caçador tocou o ombro do irmão:

—Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas peço que segure a onda, irmão. Vá dar uma volta e me deixe resolver, ok?

            Vergil apertou o punho da Yamato e se afastou para a trilha. Dante respirou fundo e entrou no santuário. Percebeu um amontoado branco se mexendo no meio das folhagens do jardim de Inanna e franziu o cenho:

—Coelhos?

            Ele continuou até a porta do farol e se deparou com Kyrie providenciando uma tigela com água e panos limpos. A moça voltou sua atenção para Dante:

—Dante! Que bom sua presença! Aconteceu alguma coisa com Inanna. Maud está com ela no quarto agora. O V está...

—Vamos subir.

            Eles seguiram até Kyrie entrar no quarto e Dante ir para a varanda. Nero olhou o tio com preocupação:

—Tio Dante...

            O caçador se posicionou ao lado de V:

—Certo, poeta! Comece a falar.

            V riu, mas havia um tom de ironia nisso:

—Minha... Metade demoníaca mandou você me buscar?

            Dante exclamou:

—Quê? Não! Nada disso! De repente todo mundo resolveu acordar maluco por aqui?

            V ainda vestia as roupas sujas e Dante reparou:

—Andou brigando?

—Ela falou comigo. Aquilo me transpassou com sua voz ou...Ah! Eu não sei...

            Dante sorriu:

—Concordo que todos nós bebemos ontem, mas você ainda está...

            V apontou para o jardim e Dante voltou sua atenção. Três formas brancas rolavam de um lado a outro, como se brincassem entre as plantas e o caçador apertou os olhos:

—Que tem aquilo? Parecem coelhos e...

            Então Dante olhou de novo e reconheceu a forma das criaturas:

—Fala sério! São seus...

—Sonhos.

            Maud limpou a terra do corpo de sua filha adotiva. Ela não se moveu ou falou, mas respirava profundamente como se dormisse. Kyrie segurava a jovem para que a anciã terminasse. Vestiram a jovem e Maud colocou as toalhas dentro da bacia:

—Bem. Essa parte está resolvida, agora preciso saber o que a deixou assim. Fique com ela um instante, por favor?

            Maud sorriu para Kyrie, que concordou em silêncio. A mulher seguiu para a varanda e parou frente a V:

—Senhor Sparda?

            V alisou os cabelos agora secos e suspirou:

—Senhora.

—Eu não sei o que está acontecendo com minha filha, mas se você tem algo a ver com isso, quero que me diga o que houve.

—Eu a encontrei deitada no jardim. De alguma forma, ela deu vida a coisas que sonhei esta noite... Coisas que estão profundamente guardadas em minha memória e... Eu não sei se isso fez algo com Inanna!

            A voz de Nico tira todos do momento de tensão:

—Olá, todo mundo? Vejam só o que eu encontrei lá embaixo!

            No colo da artesã, as três criaturas do sonho de V se remexiam inquietas. Eram brancas e pequenas, com olhos brilhantes e coloridos, roliças como filhotes. Nero se aproximou:

—Elas se parecem com...

            Dante cutucou o que parecia um gato:

—Os pesadelos de Vergil! Aqueles que eu matei na Qliphoth? Mas estão diferentes.

            Nico olhou de um para o outro:

—O quê? Essas coisas fofas são aqueles monstros que o V usava para matar os demônios? Não creio!

            V se aproximou e o ser que parecia uma ave levantou a cabeça na direção dele, em seguida o felino e então o homúnculo. O homem franziu as sobrancelhas e balançou a cabeça:

—Isso não faz sentido!

            Maud suspirou, mas Dante falou:

—V! Você disse que Inanna falou de um jeito diferente? Como foi isso?

Maud olhou V, curiosa:

—Diferente?

—Um outro idioma... Uma voz diferente! Mas eu entendi o que ela disse.

            A mulher murmurou:

—Então isso aconteceu.

            Dante coçou a cabeça:

—As coisas estão ficando estranhas por aqui. Podemos fazer alguma coisa pra ajudar a garota?

            V baixou o olhar. Sentiu que era responsável pelas mudanças e falou por fim:

—Senhora. Eu vou me retirar. É certo que algo está acontecendo por causa de minha presença aqui... Eu devia ter sido mais cuidadoso. Seu santuário não é um lugar ordinário.

            Maud concordou em silêncio e V desceu as escadas, saindo do farol. Lá fora, Vergil esperava em silêncio. O homem encarou sua metade demoníaca e falou:

—Já sabe o que temos de fazer...

            V avança contra Vergil e ambos se fundem novamente. O guerreiro fechou os olhos e murmurou:

— Eu... sinto muito.

            Ele apanhou a Yamato e cortou o ar à sua frente. Um portal se abriu e Vergil o atravessou, desaparecendo em seguida. Naquele momento, todos estavam na varanda do farol e Dante, ao ver o irmão usando sua espada, gritou:

—Vergil! Não!

            Nero segurou forte na barra de proteção:

—Dante! Pra onde foi meu pai?

            O caçador de demônios bufou:

—Aquele idiota voltou para o submundo! Sem mim!

            Nico olhou para as criaturas em seus braços:

—Ei! Essas coisinhas não eram do V? O que eu faço com elas?

            Maud aproximou-se e falou:

—Devolva para o jardim. Talvez elas desapareçam...

            Nico concordou em silêncio e saiu. Nero ficou algum tempo mirando a entrada do santuário e Dante tocou seu ombro:

—Calma, garoto. Deixe seu pai esfriar a cabeça...Ele vai voltar.

—Quem sabe? Ele é bom em desaparecer...

            Nero saiu dali e desceu as escadas. Dante olhou ao redor e suspirou:

—Acho que restamos apenas nós, Maud.

            A mulher está pensativa e o caçador percebeu:

—Um bocado de coisas está passando por sua cabeça, não?

            Ela sorriu, cansada:

—Desde que Inanna chegou aqui, a presença dela tem afetado a vida de todos nós sempre positivamente. Ela trouxe uma dádiva e nunca passou por minha cabeça que um dia isso pudesse acabar.

            Dante olhou para o santuário abaixo deles:

—Como assim? Olhe pra esse lugar!

            Maud concordou:

—Sim... É um paraíso. Mas ele só dura enquanto a fonte que o mantêm está atuante. Minha menina é uma mulher agora. Ela nunca conheceu o mundo como eu ou você. Qualquer coisa que ela não entende ou nunca experimentou pode quebrar esse frágil equilíbrio. Tudo pode deixar de ser como é agora.

            Dante ficou surpreso:

—Você quer dizer que...

—Talvez... E eu repito que talvez, Inanna sinta algo por seu irmão... Pela forma humana dele.

            Nico levou os três seres para a van e arrumou uma cama improvisada para eles com uma colcha velha. As criaturas se aninharam e dormiram de imediato. Nero bateu na porta da van e a artesã viu o rosto fechado do amigo:

—Ih! Que vibe é essa agora? De repente o paraíso virou outra coisa!

            O rapaz entrou na van e aproximou-se das criaturas. Elas se mexiam em meio ao sono e Nero falou:

—São eles? De verdade?

—Se são o frango, o gatinho e o monstrengo de antes? Quem pode dizer? Talvez V tenha se afeiçoado a eles e ficaram gravados no inconsciente do seu pai? Pelo visto essa ilha não é só um paraíso agrícola!

            Nero balançou a cabeça e Nico concluiu:

—Ele fez uma saída honrosa. Se a presença de Vergil pode estar alterando o lugar, essa foi a decisão mais acertada! Com certeza ele vai te procurar em Fortuna, não duvide disso.

            O rapaz suspirou:

—Ok. Vou falar com Kyrie. Ela deve estar aflita. Valeu, Nico!

            Nico ergue o polegar e vê Nero se afastar para o farol. Ela observa o ninho improvisado e balançou a cabeça:

—Vocês estão aqui por uma razão maior, não é? Apostaria minhas botas que sim!

            Kyrie estava sentada ao lado do leito de Inanna. A jovem moveu-se devagar e gemeu. Kyrie segurou sua mão:

—Oh! Você acordou! Como se sente?

            Inanna olhou ao redor e fechou o semblante:

—Onde...

            Maud entrou no pequeno quarto:

—Filha?

            Ela olhou para a mãe e sorriu:

—O que aconteceu comigo?

—Você desfaleceu! Talvez seja por causa da chuva ou não comeu direito e...

            Inanna olhou ao redor do cômodo:

—O senhor Sparda? Onde...

—Ele precisou partir, querida! Pediu desculpas pelo que houve! Está tudo bem agora.

            O olhar da moça ficou soturno:

—Ele se foi por minha causa?

            Maud avançou até a cama e abraçou a filha adotiva:

—Não foi culpa sua! Nada tem a ver com você! Não era o lugar dele e...

            Inanna apoiou a cabeça no ombro da anciã:

—Porque estou sentindo frio aqui?

            Maud vê Inanna tocar o peito e ela olhou Kyrie. A jovem estava com o semblante aflito. A mulher sorriu nada convincente:

—Oh, minha menina! Deve estar sentindo os últimos dias! Foi muita agitação, não foi? Tanta gente aqui, as refeições e as conversas!

            Inanna ofereceu um sorriso abatido:

—Foi sim. Estou cansada, mãe. Acho que vou dormir um pouco mais...

—Quer comer alguma coisa? Uma sopa quentinha que vou...

—Não vai ser preciso... Não tenho fome agora. Obrigada.

            Ela se deita e fecha os olhos, caindo num sono profundo de imediato. Kyrie se aproxima de Maud:

—Senhora?

            A mulher fecha os olhos e une as mãos junto ao peito:

—De repente... Eu não sei como ajudá-la!

            Kyrie abraçou a mulher e afagou-lhe as costas:

—Inanna vai encontrar o caminho. Ela é especial!

            Nero apareceu à porta e acenou para Kyrie. Maud falou, carinhosa:

—Vá com ele. Eu ficarei aqui.

            A jovem seguiu até o namorado e abraçou-o:

—Sinto muito por seu pai, meu amor...Com está?

—Ele vai aparecer em algum momento. Vamos esperar. Como está Inanna?

—Nada bem. Eu temo por ela!

            Dante estava sentado numa cadeira junto à varanda. A mente analisando a situação surreal em que estavam envolvidos, mas principalmente focada nas ações do irmão.     

            De repente, de onde estava, Dante viu a medicastra parada no jardim, olhando para ele. Assustado e crendo estar num delírio, ele saltou da varanda metros abaixo até a entrada do santuário. A figura esguia da criatura caminhou para longe, rumo às arvores do pomar. Dante seguiu atrás e a viu descer para uma abertura de pedras abaixo do farol.

            Ele olhou ao redor e suspirou:

—Porque me meto nessas encrencas?

            A passagem levava a uma pequena caverna onde uma nascente de água formava um lago de água cristalina. Raízes cresciam até o fundo e subiam entre as pedras, formando uma laje densa e firme sob a estrutura que era o farol. Parada ali, a medicastra observava a água. Dante aproximou-se devagar:

—Inanna?

            Ela voltou seu rosto para o caçador:

Bonvenon, Dante Sparda. Mi ĝojas, ke vi rimarkis mian ĉeeston...(“Bem-vindo, Dante Sparda. Fico contente que tenha percebido minha presença.”)

            O caçador ergueu uma sobrancelha:

—Certo! Não é Inanna!

            A medicastra ergueu a mão e um fio de água se levantou do lago, rodopiando no ar e se dissolvendo em gotículas invisíveis. Dante sentou-se na pedra mais próxima:

—Acho que quer me dizer algo.

Jes. Mi observis dum aĝoj la heredaĵon de via patro kaj liajn agojn en la mondo. Mia mondo. Dum kelka tempo mi povis antaŭvidi ĉiun paŝon de miaj infanoj kaj ĉion, kion ili plenumis sub mia potenco kaj volo. En ĉi tiu momento, mia plej amata estaĵo estas plonĝita en strangan dormon, kiu malhelpas al mi atingi ŝin, resanigi ŝin. (“Sim. Eu observei a herança de seu pai e suas ações sobre o mundo. Meu mundo. Por um tempo, eu fui capaz de prever cada passo de minhas crianças e tudo que realizaram sob meu poder e vontade. Nesse momento, minha mais amada criatura está mergulhada num sono estranho, que me impede de alcançá-la, curá-la”)

            Dante baixou o olhar:

—Você sabe muito sobre meu pai, mas e você? Quem é?

            A figura da medicastra abre os braços. De repente, ao seu redor, as raízes se desprendem das paredes e se mesclam ao corpo da criatura, ela foi envolta e desapareceu totalmente sob o emaranhado vegetal que se agitava como centenas de vermes verdes e marrons. Então, diante de um assombrado Dante, um gigantesco rosto se formou naquela estrutura viva e a sua voz vibrou na superfície da água:

Gaia estis la nomo elektita de viroj. Ne ekzistas lingvo, kiu priskribas mian veran nomon.Mia korpo estas kie la vivo loĝas, mi estas en multaj lokoj, sed en tiu momento, mia Inanna malkonektiĝis de mi. (“Gaia foi o nome elegido pelos homens. Não há língua que descreva meu verdadeiro nome. Meu corpo é onde toda a vida habita, eu estou em muitos lugares, mas nesse instante, minha Inanna se desligou de mim.”)

            Dante se ergueu e se aproximou da criatura fantástica. Ele podia sentir a profunda tristeza que emanava do ser tão poderoso:

—Quer dizer que...

            A criatura se desfez, deixando novamente a figura esguia da medicastra ali. Ela estava apagada, como se todo viço tivesse sido sugado daquele corpo especial:

—Eu preciso de um favor.

            O caçador ouviu a voz da medicastra e não da entidade:

— O que precisa?

—Guie-me pelo submundo. Ajude-me a encontrar Vergil Sparda.

 

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muitos podem se perguntar porque uma entidade tão poderosa como Rheia se deixou manifestar através da medicastra e não conseguiu se reconectar com Inanna, o que sugere fraqueza. Como expliquei no cap.11, ela é uma força elementar e toda força é regida pela ordem cósmica. Sendo Inanna um avatar humano que canaliza os poderes desse ser, o livre arbítrio se aplica à jovem, assim ela pode recusar a conexão ou até cortá-la. Nesse momento, é possível ver o profundo pesar e medo que Rheia tem de perder sua criança, como aconteceu com outras em tempos remotos.
Outro detalhe é que a súbita mudança em Inanna foi causada por sua total inexperiência em relação aos próprios sentimentos e desejos. Alguém aí tem dúvida de quem é a culpa?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "DEVIL MAY CRY 5-Devil Never give Up" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.