EndGame escrita por Helly


Capítulo 8
Nível VII. Fácil


Notas iniciais do capítulo

Então, já tinha acabado esse capítulo desde terça ou segunda, o negocio é que eu tive que resolver umas papeladas da faculdade e passei o dia escrevendo atividades.
Esse capítulo é o conjunto de dois capítulos em um, achei melhor juntar tudo em um só. Porque antes não estava fluindo e me incomodando, e eu amo ler a minha fic.
Eu particulamente gosto e não gosto dessa capa, é a terceira que fiz e achei bacana a entrelinha dela.
Não vou mentir que falta metade do próximo capítulo e eu estou escrevendo aos poucos, porque eu sofro de enxaquecas e ficar muito tempo no not e celular faz mal para mim. Hoje mesmo estou em crise, mas quis postar hoje porque amanhã vou resolver mais papeladas da faculdade.
Espero que vocês gostem :)

PS: Tem umas cenas aqui que paralelos com as do cap 5, não é coincidência, botei essa musica especificamente por causa dessas cenas.


……※……
Sonho/Lembranças

»»×»»
Quebra de tempo muito grande

»» »» »»
Quebra de tempo em minutos ou horas

«»×«»
Quebra de tempo curta 

»»»»ↄ««««
Mudança de POV



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"Eu digo que eles são apenas aqueles que me deram vida

Mas eu realmente me pareço com meus pais

Espalhado pela minha linhagem

Eu sou tão bom contando mentiras

Eu puxei isso da minha mãe

Que contou milhões delas para sobreviver

Espalhado pela minha linhagem

Deus, eu tenho os olhos do meu pai

Eu posso correr, mas não posso me esconder

Da minha linhagem"

Family Line – Conan Gray

 

KYLO

 

Ok, releio novamente sua mensagem, só para confirmar que não é uma alucinação ou qualquer problema psicológico como esquizofrenia. Ela realmente falou comigo, me respondeu depois de quase um mês desaparecida. Ela voltou como se nada tivesse acontecido e está tudo bem, pelo menos ela está viva e voltou. Somente Rey me mandou mensagem tanto no jogo quanto uma resposta ao sistema, que me notificou, e no Skype. Ambos diferentes e de tópicos diferentes. Até porque para ela são pessoas diferentes, de repente pensa que está conversando com uma máquina quando respondeu o sistema Padmé. Fui bem claro ao ordenar que as mensagens dela para o sistema sejam encaminhadas rapidamente para mim, assim como as minhas respostas para ela.

Eu não pensei muito no que fazer com a sua volta, sendo honesto. Não sei o que dizer, por onde começar a falar. É um tanto inusitado para mim. Geralmente era ela quem fazia esse papel tão bem ao longo dos anos. Eu me resumia a voltar em fragmentos e ser remontado por ela, não sei se sou tão bom nisso como ela. Meu maior medo neste instante é fracassar com ela e não ser útil.

Optei por informá-la na noite da sua volta sobre as atualizações do jogo e sobre o que ela perdeu e foi marcante. Jogamos por uma hora e fomos dormir, estranhamente fiquei feliz em perder e consegui ter uma noite de sono tranquila e sem pesadelos.

Ontem ela disse que estava cheia de trabalho e não poderia conversar muito, mas prometeu voltar hoje e conversar o dia todo comigo. Até agora ela não me chamou e já são dez horas da manhã, não que eu esteja aguardando ansiosamente sua presença. Eu sei a sua rotina e sei que a essa hora ela deve estar no trabalho, possivelmente este foi o motivo do seu sumiço – bem, pelo menos está é a minha principal teoria.

— Senhor, ele está aqui. – Kandia fecha a porta atormentada. – Aquele que não posso pronunciar o nome, senão atrai mau agouro, chegou cercado por homens de terno barato.

Snoke. Demorou para vir me atormentar com alguma besteira insignificante que ele julga que irá me destruir, nunca destrói e só me irrita.

— Os papéis do novo projeto. – estalo os dedos e Kandia sai correndo porta afora em busca dos papéis, que são revisados toda manhã por mim.

Por puro instinto, arrumo minha roupa, a mesa e fecho todas as abas do computador. São só alguns minutos, depois poderei pensar calmamente no que falar com ela. É só mais um daqueles momentos em que pensarei em quebrar cada coisinha dentro dessa sala e do rosto desse ser nefasto. Não deu nem meio-dia e esse ser já está vindo me importunar.

Vestindo uma túnica preta, que lhe dá ar de doente e frágil, Snoke adentra a sala deslizando como a boa cobra que é. Ingenuo e burro é a criatura que cai facilmente nesse teatrinho de velho indefeso dele, esse homem é o oposto disso e mesmo velho continua destruindo vidas puramente por ambição. Fecho as minhas mãos em punho, por sorte elas estão escondidas embaixo da mesa. Kandia fecha a porta empalidecida, ela tem pavor dele e com razão.

— Jovem Solo. – o ancião senta-se pomposo na cadeira à minha frente. E começamos as provocações.

— Senhor. – preciso que nada interfira nesse projeto, eu realmente gostei dele e vejo um futuro promissor.

— Como anda o projeto? – ele farejou o meu medo e insegurança, urubu.

— Todos os membros dos militares responderam e aceitaram, já estamos trabalhando com eles.

— E os outros? Não são os dois lados? – isso o fará feliz pelo resto da semana.

— Eles ainda não responderam, mas disseram que irão resolver entre si e nos avisar até semana que vem.

— Agilize, você tem até a primeira semana do próximo ano para obter a resposta de todos. – são só mais duas semanas, daqui a poucos dias já será natal. Faz pouco tempo que ela finalmente viu a mensagem, foi ontem, e esse velho quer que eu agilize algo de semanas e semanas em aproximadamente duas semanas? Ele quer me foder!

— Sim, senhor. – engulo a vontade de dizer que não sou um deus onipotente e onipresente para agilizar a resposta de pessoas que sequer conheço.

— Você sabe o porquê de eu estar aqui, jovem Solo? – porque um outro ancião da impotência, que não conseguiu destruir a vida do meu avô e a minha, lhe deu poder por pura birra e acreditava que você, um ser mais patético ainda, conseguiria destabilizar a mim, um ser que cresceu no meio da adversidade.

— Não, senhor. – respondo indiferente.

— Você deve se recordar, pelo menos assim eu espero, da nossa reunião sobre o avanço desta empresa e a da empresa Império. – seus dedos cadavéricos unem-se em um tipo de acasalamento de cobras. – Onde foi pontuado a margem de dinheiro esperado para este ano.

— Eu nunca me esqueço de suas pontuações. – mesmo que já tenha passado um ano. – Chegamos a meta, sendo franco, nesta altura do campeonato, ultrapassamos a meta.

— Um pouco atrasado, não? – atingi as metas, não? Claro que atrasamos em um mês nesta empresa e duas semanas na empresa Império, uma das nove empresas que fiquei responsável além da Ani.

— Eu ultrapassei a meta ao longo do tempo, não?

— Com as empresas do conglomerado dos seus pais enfiadas embaixo do seu nariz, nos enforcando lentamente e estragando meus planos. – evitei durante anos este tópico, puramente por dor e respeito a mamãe.

— Pretendemos mudar isso neste ano que está começando, fizemos estratégias e.

— Descarte-as. – suas mãos fazem um movimento no ar como se jogasse para longe todos os planos que fiz e desenvolvi durante meses. – Tive que tomar a frente para resolver este problema. – permaneço em silêncio, digerindo suas palavras como se fossem brasas. – A Jedi Company é um problema alarmante que você e os outros incompetentes deixaram crescer até sair do meu controle.

É verdade que aquele conglomerado que minha mãe, e aqueles homens, criaram cresceu muito nos últimos anos e virou nosso principal empecilho. Sei que, pelo que vovô me ensinou, meu dever era aniquilar meus inimigos sem piedade e misericórdia e geralmente faço isso, mas é ela. Como passar por cima dela? Se fosse antigamente, talvez passasse somente para feri-la da mesma forma que ela me feriu. Só que isso é passado na nossa história e ela sempre diz que faz tudo na empresa visando deixar um mundo melhor para mim e uma garantia extra de renda para o meu futuro. Tudo que mamãe faz é por mim e para mim. Se fosse Han, passava por cima sem pensar duas vezes, mas é a minha mãe.

— Julgava que você sabia qual lado pertencia, jovem Solo. – eu sei muito bem qual lado pertenço.

— Meu dever é com esta empresa e com as outras empresas, incluindo a Império. – fixo meu olhar no dele, para deixar claro o meu ponto de vista e que valorizo a empresa que ele fundou, Império. – Nada mais e nada menos. Tudo que faço é em prol deste conglomerado.

— Por isso vim aqui. – seu sorriso diabólico não aparece desde que ele soube que briguei com os meus pais. – Faz tempo que você e os estúpidos do conselho não conseguem impedir o avanço de uma formiguinha. Por isso tive que tomar medidas drásticas e desenvolver eu mesmo um jeito de impedir de sermos uma chacota novamente. – fico surpreso com o fato dele respirar fundo, até porque isso implica em ele estar vivo e não ser um cadáver ambulante. – Faz meses que criei um plano e tenho colocado em prática ao longo desses meses, cheguei em um ponto decisivo onde terei que usá-lo em benefício do plano.

— Não sou um capacho seu para fazer tudo que você mandar na hora que você quiser.

— Pelo bem desta empresa, daquela festinha estúpida que o seu avô criou e desse novo projeto; você é sim. – engulo em seco, sabia que ele iria atacar. – Quando chama-lo você virá e fará o que eu ordenar, sem objeções ou infantilidade.

Não há uma denominação, mas é tudo menos “festinha”. Alguns chamam de Ani Day, outros de convenção anual de jogos, devido os nossos jogos moverem metade desse setor, e acabou que este último ficou popularizado como nome dos sete dias mais importantes dessa empresa. Também não é como se o meu avô tivesse criado uma convenção em si, ele só popularizou essa semana em um nível mundial e fez surgir um tipo de feriado no pequeno pequeno país de Naboo, a cidade natal da minha avó. Ele só fez isso para ela poder estar ao seu lado durante os eventos da Ani e o lançamento de Star Wars e futuros jogos; tanto que os dias de comemorações começam no dia do aniversário dela e vai até o dia do aniversário de mamãe, que nasceu sete dias após o aniversário da minha vó. Além de ser algo que claramente foi para a minha vó e para minha mãe, a “convenção anual de jogos” costuma ser o evento de maior movimento da nossa empresa, onde lançamos notícias de futuros jogos, sobre os nossos jogos, atualizações e, em resumo, exaltamos a nossa empresa e todo o dinheiro que conseguimos para os nosso acionistas. Esse ano não fizemos devido a uma série de incêndios em Naboo e a semana que mais amo foi adiada para Fevereiro – daqui a dois meses.

Poderia ter escolhido qualquer outro lugar? Poderia! Mas essa foi uma das exigência do meu avô em seu leito de morte. A convenção sempre deve acontecer em Naboo, no mesmo centro de eventos, a Ataru. Aparentemente foi naquelas terras que ele teve a ideia para Star Wars ao lado do seu irmão, que era o proprietário daquelas terras. Devido a tradição e a história de o porquê de sempre acontecer ali, adiei, já preparando tudo, para Fevereiro.

Seguindo o meu plano, e os meus desejos, será um grande êxito lançar a notícia da nossa atualização em Fevereiro, irá movimentar as nossas ações e mostrará que estamos ouvindo o que os nossos consumidores almejam. Nada pode dar errado durante essa “festinha”.

— Desde que não afete a Ani. – cruzo minhas mãos em cima da minha barriga. – O que você deseja?

—  Você irá levar uma quantia em dinheiro para o nosso infiltrado na matriz da sua mãe. Assim que ele completar a parte dele, você irá dar o dinheiro para ele no subsolo S na vaga 66.

 Não é algo simples como parece. Tem alguma coisa por trás disso e eu preciso desde já ver um jeito de não fazer isso. Todas as vezes ele tenta me levar ao chão quando ataca a Jedi, ou outras empresas em que os meus parentes estão envolvidos. Snoke tem um prazer sórdido de me derrubar junto aos parentes.

— Quando e que horas? – fica um silêncio lúgubre após a minha resposta, creio que ele não esperava isso.

— No dia você saberá, jovem Solo. – seus dedos cadavéricos finalmente libertam a minha pobre cadeira. – Só tenha em mente que será pior do que fizemos com o conglomerado de Coruscant e, que se necessário, você ira fazer mais do que isso. – Snoke para na porta e sua risada macabra chega até mim como uma rajada gelada no inverno. – Estarei de olho em você, garoto Solo.

Mantenho minha expressão imparcial, escondendo profundamente o meu temor ao ouvir esse nome. Sua ameaça chega a ser nada perto deste nome. O ar fica mais agradável com a sua saída, é como se a sua presença torna-se qualquer lugar desagradável e pútrido. Somente após minutos da sua saída, que giro a cadeira e encosto nas costas da cadeira, encarando a forma como o sol banha o prédio da frente.

Particularmente eu me orgulho do que fiz, ninguém chega no topo sem ao menos passar por cima de outras pessoas. A verdade é que o meio corporativo é um enorme tubarão esfomeado em um mar cheio de sangue e humanos feridos. E eu fui jogado nesse mar e nasci como um tubarão, comendo tudo que parecia uma foca desde que sai da minha mãe. Então sim, eu comi bastante para me tornar esse grande tubarão.

O conglomerado em questão é usado como um exemplo por nós, foi graças ao que fiz lá, e a quantidade de dinheiro que consegui, que os meus parentes e mãe surtaram comigo. Aparentemente foi desumano, cruel e muitas pessoas ficaram sem trabalho e falidas; foi uma verdadeira crise econômica naquele país. A primeira coisa que Han me perguntou quando brigamos naquele dia foi “como eu dormia a noite” e por muito tempo eu não dormia em paz, não até perceber que era eles ou eu.

Aquele grupo estava ameaçando a Ani e com planos de comprar e destruir de vez tudo o que o meu avô criou para ela. Os membros daquele conselho foram os mesmo que o meu avô recusou anos atrás e que ela praticamente odiava. Quando a empresa estava ruim, eles tentaram cuspir em nós, nos enganar e destruir pateticamente. Mas eu sempre fui um filhote de tubarão voraz, meu mentor foi o mesmo que os humilhou e os colocou em seu devido lugar. Eu só fiz o que o meu avô me ensinou para proteger o legado da minha avó, e eu faria tudo de novo se isso significasse proteger uma das poucas coisas boas dela que me restou.

Eu vi minha vó morrer na minha frente, vi o momento exato em que o ar saia de seus pulmões e ela ficava estática como uma pedra gelada no meio da minha sala de brinquedos. Não ia mesmo ver outra parte dela morrer diante dos meus olhos enquanto eu só ficava estático sem entender nada. Tudo que eu fiz foi por amor à minha avó, que deu os anos finais da sua vida a mim.

Eu amo a minha mãe e não desejo fazer nenhum mal irreparável a ela, mesmo que ela tenha visto de camarote o meu linchamento. Não posso intervir e nem avisar, se não acabo comprometido e toda a minha luta não terá servido para absolutamente nada. Faz tempo em que a Ani não é colocada em um perigo eminente de perda. Preciso saber mais sobre esse “plano mirabolante” dele para saber como me proteger e como proteger mamãe, ou como diminuir o impacto nela.

Se levarmos em consideração que Snoke é um ser patético, quem sabe ele não falhe miseravelmente e finja que nada aconteceu – que nem da última vez que ele tentou atacar a Jedi. Não deve ser um plano tão bom assim, no máximo prejudica ela só por uma semana. O último plano dele foi um fracasso e a empresa que ele atacou está indo de vento e poupa, o capital até triplicou depois da tentativa trivial dele.

Mas e se der certo? E se realmente for como Coruscant? Skywalker me ensinou a não subestimar os meus oponentes e tudo que funciona na esgrima, funciona no mundo dos negócios.

Caso funcione, precisarei provar à mamãe que eu não estava envolvido, que não sabia de nada. Não sei quem é seu infiltrado, tenho suspeitas como a garota de Jakku – talvez por birra – e outras pessoas próximas a ela. Mamãe não sabe que ainda continuo fazendo isso vez ou outra, se ela souber ela irá se afastar de mim? Me rejeitará de vez? Serei seu eterno desgosto como sou de Han? Ela irá seguir os passos de Han? Finalmente serei aquilo tudo que ele me acusou aos seus olhos bondosos?

Não sei se aguentaria vê-la indo embora novamente. A última vez que julguei que ela tinha ido embora de vez da minha vida, foi tão doloroso quanto uma facada em meu braço – e eu já levei uma facada no braço. De certa forma, eu me reacostumei a ela e me acostumei em ter uma mãe presente que me ama e se preocupa comigo. Tenho verdadeiro pavor de ser para ela o que sou para Han.

Pego meu celular em cima da mesa e mando uma única mensagem, que é bem clara e direta, é a única pessoa que pode aliviar as coisas para mim hoje. Mando a mensagem em um impulso, é algo normal para mim. Geralmente é nesses momentos em que a procuro, ou ela me procura – é como se ela sentisse o que eu sinto em uma conexão inexplicável. Por mais que Rey ande estranha, preciso dela mais do que o ser humano precisa do ar para respirar. Se somos tão parecidos assim, creio que isso irá ajudá-la na mesma intensidade que irá me ajudar. Temo perdê-la ao mesmo tempo em que posso perder mamãe.

E se ela sumir novamente? Ou não querer jogar mais comigo? O que farei sem Rey?

Eu posso sobreviver sem jogar com ela, mas não sei se consigo sobreviver sem conversar com ela. Não é que ela seja uma válvula de escape cada vez que um problema acontece, Rey é a parte boa na minha vida, o melhor de mim desperta ao seu lado. Sei que depois de um dia exaustivo, encontros péssimos com Snoke, quando o meu amor pelo meu progenitor me sufoca e enche de vergonha, quando meus demônios berram na minha cabeça e a possibilidade de ser aquilo que Han disse que sou ser real; é em nela em que acho paz. Rey é o meu porto seguro, a pessoa que me fez ressurgir quando eu só não queria existir.

— Você não ira acreditar. – olha a minha paz indo para onde Judas perdeu as botas.

— O que houve, Hux? – pergunto virando a cadeira.

— Snoke, – seu indicador aponta para porta. – pessoalmente, veio me informar que eu estou dentro da nova estratégia dele.

— Por que?

— O que?

— Por que ele te incluiu nesse plano? – Hux empina a cabeça da mesma forma que um pavão levanta e abre a sua cauda.

— Como você bem sabe, ultimamente tenho me esforçado e estou sendo valorizado pelo meu trabalho. – sujo, Snoke só admira trabalho sujo e se Hux está aqui é indício de que será podre esse trabalho.

Continuo com a expressão de tédio que mantive desde que ele chegou e finjo prestar atenção no seu longo monólogo chato – eu sou muito bom nisso. Volto a rodar a cadeira e ficar de frente para a janela e de costas para Hux, muita coisa está passando pela minha cabeça e não sei se consigo esconder minhas expressões neste instante.

Hux é alguém facilmente manipulável, basta dar “poder” e um pouco de “Bom trabalho” que ele já pira e faz exatamente o que se espera. Hux é uma amoeba nas mãos enrugadas de Snoke, ele irá fazer tudo que o ancião deseja para poder suprimir seus problemas paternais. Eu tenho problemas paternais, mas não sou carente por atenção de uma múmia; muito pelo contrário, eu soco um saco de pancadas e vou para esgrima dissociar. Uma boa forma de lidar com isso? Não, mas é melhor do que ficar chorando pelo leite derramado – minha terapeuta odeia isso.

Aparentemente subestimei o plano da múmia, se ele deseja Hux no meio, claramente, tem coisas mais escondidas para usurpar o meu lugar na Ani e derrubar a minha mãe. A minha fidelidade é a esta empresa e a minha mãe, Snoke sabe disso e deve estar contando com isso para de alguma forma queimar a minha imagem com os outros acionistas e me afastar do meu cargo, obviamente Hux assumiria o meu lugar e realiza o seu sonho infantil de poder e amor paternal. É o típico dilema do trem e seus dois caminhos, sou um trem-bala cheio de pólvora e irei explodir em um dos dois lados.

No atual momento me encontro no olho do tornado, dentro de um pântano cheio de crocodilos sedentos por carne humana e me espreitando prontos para me atacar. Digamos que o novo projeto e a Ani sejam bebês gêmeos que seguro com afinco em meus braços enormes e calejados pelo tempo. Meu dever é proteger essas crianças preciosas e sair vivo do pântano.

Preciso estudar Hux e Snoke durante as próximas semanas e levar em nota qualquer coisa que eles já fizeram de sujo e o que sabem sobre mim. Agora terei mais trabalho ainda e estudar meus inimigos. De todas as possíveis marionetes de Snoke, Hux é o que eu menos esperava que fosse usado; a Ani tem uma importância absurda na vida do verme.

Tudo ao meu redor, agora é suspeito; até meu computador e qualquer ligação ou conversa com o Hux passa a ser suspeita. Estou andando em ovos, descalço e com os pés cheios de feridas.

É tanta merda acontecendo em um final de ano, que parece que todo o mal que me aconteceria ao decorrer do ano esperou até o final para agir. Primeiro Rey sumindo, depois mamãe e a ideia louca da festa, daí vem Luke falar de amor paterno, então Snoke no seu ataque de pelanca do ano e, por fim, Hux insuportável envolvido com Snoke. Preciso de um tempo para respirar e absorver tudo de uma forma que não me leve a uma crise de gritos e socos – algo que costumava fazer antes de ir na terapeuta.

Não é que eu perca meu controle facilmente, é só que eu guardo tudo dentro de mim e quando sai, costumo quebrar tudo ao meu redor em um estopim de raiva descontrolada. Externo todo o mal dentro de mim e tendo a deixar as coisas ao meu redor parecidas comigo – quebrado e caótico. Rey que teve a ideia para procurar ajuda, ela ficou mais preocupada comigo me machucando do que com qualquer outra coisa. Naquela época ninguém se preocupava comigo, nem eu.

Eu também me preocupo com ela mais do que com as pessoas ao seu redor. Já cansei de avisar para ela sair desse trabalho e fazer o que ama. Rey não gosta da sua vida, faz para agradar outros e ter um meio de possuir o “seu dinheiro” e não depender dos pais. Apoio algumas partes de suas decisões, mas eu outras eu acho burras ‘pra caralho’! E eu digo isso para ela tranquilamente, porque ela diz o mesmo para mim tranquilamente. Quem vê de fora nunca entenderia.

Kandia bate à porta com força ao entrar, é uma porta de madeira maciça e faz um verdadeiro barulho quando fechada incorretamente. A contragosto viro em direção a porta, forçando um sorriso estranho ela caminha apressada até a frente da mesa. Ela sequer faz esforço para esconder o incômodo comigo. Esse é um daqueles momentos em que me questiono o porquê de não demiti-la, em seguida sempre lembro que ela é a única que durou mais de um mês. Somos esses homicidas há quatro anos.

— Perdão, senhor, sinto muito por bater à porta. – mentira. – Mas se o senhor não quiser chegar atrasado ao seu almoço, deve sair dentro de cinco minutos.

— Ainda falta uma hora.

— Não. – seu olhar percorre de um lado ao outro na sala, como se estivesse buscando câmeras escondidas. – Já são onze e meia, senhor.

— Não, não são. – aponto para a porta. – Snoke veio antes de revisarmos as papeladas para a reunião com Phasma às dez e meia, logo em seguida Hux veio me irritar. Falando nele, cadê ele?

— Exato, Hux foi embora a vários minutos atrás.

— O que?

— O senhor está em silêncio, encarando fixamente a janela, por exatos vinte e nove minutos depois da saída do verme. E não vamos falar dos trinta e nove minutos de puro silêncio após a partida daquele que não falamos o nome se não atrai mau agouro. – suas mãos apontam, em concha, para a porta. – Vamos, senhor, está na hora do almoço.

Desconfiado puxo a manga do meu paletó para cima, só o suficiente para ver a hora no relógio que vovó deixou de herança para mim. E Kandia está certa, fiquei quase uma hora – não vou admitir que fiquei uma hora – preso nas teias de um cadáver ambulante fracassado.

— Por que você não me chamou? Ou avisou?

— Porque da última vez você disse para não interrompê-lo nesse seu momento. – sua mão direita balança em círculo. 

— Sai para o almoço. – aponto para a porta impaciente.

— Obrigado. – suspirando exausta, Kandia se arrasta porta afora.

Ela me deixou em silêncio por mais tempo do que deveria, tenho que especificar mais “seu momento”. Se é se eu tenho um. Como posso saber? O que ela tem de eficiente tem de peculiar.

Meu celular apita, com o coração ribombando de ansiedade o pego na esperança de ser Rey. Como o novo normal ultimamente, não é Rey e, sim, Korr perguntando onde estava e se já estava a caminho. Aviso que já estou a caminho e chegarei atrasado. Ela me manda o endereço do bistrô que iremos hoje, ao que tudo indica mamãe realmente gostou daquele lugar.

Puxo meu blazer das costas da cadeira e o coloco enquanto caminho para fora da sala. Para não ocorrer o mesmo problema da última vez que fui lá, onde me perdi no meio do caminho, chamo o motorista da empresa para me levar.

Em questão de minutos estou na entrada do prédio, as regalias de um CEO são boas – não posso negar. Entro no carro e coloco meus fones de ouvido, aperto na playlist que evitei durante semanas; até porque me lembrava ela, que me lembrava que ela estava sumida. Para piorar tudo, o aleatório coloca a música favorita dela – Dark Paradise da Lana Del Rey. Por via das dúvidas, abro nossas conversas novamente para me certificar que Rey me respondeu e não estou delirante. Ok, ela respondeu, mas não a minha última mensagem – que era algo que estou desejando desesperadamente.

Relaxo com a melodia da música. Aprendi a apreciar a música, em geral, graças a duas pessoas, Rey e o tio que evito – Chewbacca. Tio Chewie – como eu gostava de chamá-lo – sempre foi um verdadeiro pai para mim, quando quase o perdi naquele acidente horrendo foi um dos piores momentos na minha vida. Por pavor da possibilidade de reviver o pânico de quase perdê-lo para sempre, eu me afastei e, depois que mamãe e eu voltamos a nos falar, perguntava esporadicamente sobre ele e a tia Maz. Ele me ensinou quase tudo que eu sei, como me barbear, flertar e a amar música incondicionalmente. Mesmo quando eu agia como um idiota, ele não me tratava mal e sim me ensinava lições que levo até hoje. Uma vez, quando estava com raiva de todos, o perguntei sobre o que ele mais sentia falta após o acidente que o deixou com surdez moderada, ele respondeu que sentia falta somente de três coisas: Ouvir a risada da minha tia com toda a sua glória e esplendor, ouvir a minha voz com clareza e saudades de ouvir músicas como antes do acidente. Ele não foi babaca, somente sincero. Meu tio acreditava que para corrigir não precisava botar medo ou gritar, isso funcionava comigo.

A outra pessoa que me ensinou a amar música, vivia citando suas músicas favoritas da semana e como ela ama música. Rey é quase uma musa e entende tudo de música, livros e jogos; é uma versão feminina e feliz de mim. Eu só não quero que ela vire uma coisa como eu, quero que ela seja feliz.

Novamente olho o celular, nada. Será que ela irá sumir de novo? Ela não falou nada ainda sobre o que pode ter acontecido e eu estou esperando o momento dela se sentir bem para falar.

Fecho os olhos e apoio a cabeça no banco, todo o trajeto é feito comigo de olhos fechados e ouvindo música. Não sei explicar, mas tenho a sensação de que o percurso é feito rápido após isso.

Arrumo meu blazer depois de sair do carro, avisto Korr parada perto da porta; seu suspiro aliviado é perceptível de longe. Deveria estar suspeitando do pior, Korr sempre espera caos de mim. Ela é a pessoa mais realista sobre mim, eu realmente sou decepcionante.

— Não preciso falar, certo? – indaga impaciente.

— Certo. – cutuco sua cintura rindo.

— Tomara que ela brigue com você, peste.

— Tomara que ela te demita, miss simpatia. – tudo que recebo em resposta é uma língua.

Não é que nos odiamos, não, nunca, na verdade estranhamente desenvolvemos uma relação de irmão mais velho problemático e irmã mais nova perfeitinha. Fico feliz que durante o tempo em que não nos falávamos, mamãe tinha ela ao seu lado. Eu realmente fico feliz que ela tenha uma filha perfeita, a qual sempre sonhou em ter; mesmo que não seja eu e isso me machuque, eu fico feliz por ela. Elas passam vinte e quatro horas por dia se falando e contando coisas entre si e tentando “ajeitar” a minha vida.

Aproximo de sua mesa. Toda vez que vejo mamãe uma parte de uma música vem na minha cabeça, somente essa parte, e descreve exatamente o que sinto cada vez que ponho os olhos nela. É uma música do James Arthur, Car´s outside, não é a música em si e sim só essa pequena parte que diz “Oh, querida, todas as luzes da cidade nunca vão brilhar tanto quanto os seus olhos”; nasci com o intuito de ser a pessoa que mais a ama e admira. Na minha concepção, minha mãe é a mulher mais bela e inteligente do mundo e, perto dela, eu sou somente uma criança chorona. Antes de sentar, na cadeira a sua frente, beijo sua testa. 

— Benção, mãe. – vovó me educou muito bem.

— Benção, filho. – seu sorriso ainda é magnífico para mim. Mesmo com a idade transparecendo em seu rosto, ainda assim, é como se eu ainda visse o seu rosto aos vinte e oito anos e tenho a mesma reação encantada do meu eu de quatro anos. – Achei que não vinha mais.

— Problemas de última hora. – folheio o menu peculiar do bistrô. – O que iremos comer?

— Me disseram que o peixe grelhado com ervilhas e aipim frito daqui é maravilhoso.

— Pedido peculiar.

— Você irá amar, tenho certeza!

— Como sabe? – coloco o menu na mesa. De uma forma ou de outra, sei que irei comer o que ela recomenda.

— A pessoa que me recomendou possui o mesmo paladar que o seu.

— Um paladar impecável.

— Um paladar infantil. – mordo meus lábios para prender a risada.

— Também te amo, mãe.

— Eu sei, querido, também o amo. – seu suspiro cansado é o prelúdio da merda que está por vir.

— Diz. – só digo isso e sei que ela entende. Conheço minha mãe, da minha posição sempre pude observá-la com o máximo de detalhes possíveis.

— O que? – o momento em que ela se faz de desentendida, antes de eu incentivá-la a falar.

— Diz. – talvez esse seja o meu castigo por chegar atrasado. Chamo o garçom, para adiantar as coisas para o meu lado. – Iremos pedir a comida e então conversaremos.

— Não nega de quem é filho.

— Seu, eu sei. – antes que abra margem para citar ele. – Sou igualmente prático.

— Bom dia, o que irão querer?

— Dois pratos de peixe grelhado com ervilhas e aipim frito, um suco de morango e uma limonada. Depois irei querer de sobremesa Brownie com chocolate ao leite. Mãe. – dou a deixa para ela pedir a sobremesa que quer.

— Um Red Velvet de sobremesa para mim.

— Tudo bem, já venho com os seus pedidos.

Endireito os talheres e o guardanapo na mesa e espero mamãe começar a falar. Nada, estranho. Ergo o olhar para ela, mamãe está olhando para meu rosto ternamente.

— Que houve?

— Nada, só acho isso peculiar.

— Por que?

— Por nada. – seu sorriso morre e sua postura ereta e seu olhar sério indica que ela entrou no modo negociação. – Você vai a pequena comemoração que eu e seu pai iremos fazer, correto?

— Han. – corrijo sua pronúncia. – Correto, irei.

— É sobre exatamente isto que quero conversar.

— Não irei chamá-lo de pai. – nem por todo dinheiro do mundo voltarei a chamá-lo assim, prefiro que enfiem um abacaxi em mim e rode ele dentro de mim.

— Tudo bem, a única coisa que eu quero é que você seja cortês com ele.

— Cortês?

— Ou só evitem brigar. – ela diz, cansada.

— Fique tranquila, mãe. – seu tom acendeu um alerta na minha cabeça. – Tudo que eu quero dele, é a distância.

— Eu só quero um final de ano feliz ao lado dos meus dois grandes amores. – mamãe eleva a voz sôfrega. – É tão complicado você falar o básico com ele e ser cortês? Vocês não precisam conversar direto, eu só quero uma lembrança feliz dos meus dois amores juntos a mim novamente.

Não entendo isso de amar, romanticamente alguém. Mas possuo uma ideia do que seria um relacionamento saudável e durante muito tempo o relacionamento deles era saudável, só que às vezes não. Não sei se é porque eles possuem personalidades fortes e batiam de frente em suas decisões e costumavam não ceder; ou se foi o fato de só terem se casado graças a minha existência – daí a antiga teoria da origem do ódio de Han por mim, mas foi descartada.

Mamãe se empenhava em fazer tudo perfeito, bem detalhado e trabalhado, queria que fossemos uma família disfuncional feliz – pelo menos fez algo. E Han… Han era Han. Não via tanto empenho do lado dele como do dela.

— Ele não te merece, não entendo porque voltou para ele.

— Quando você achar o grande amor da sua vida, vai entender que nem a distância e os defeitos, que a pessoa pode ter, irá parar esse amor.

— Parece mais uma maldição para mim.

— Amar, meu menininho, é entender os defeitos do outro, não julgar e compreender que ninguém é perfeito, nem aqueles que amamos. É amar o lado feio e o lado belo igualmente. – sua mão segura a minha gentilmente. – Um dia, assim eu rogo ao criador, você viverá e me entenderá.

Não acredito nesse tipo de amor, porque acredito fielmente que ninguém irá amar o pior em mim. A única que ficou após ver o meu pior lado, só viu online; nem sei se ela ficaria se visse pessoalmente, é muito feio e cortante.

— É mais fácil eu voltar a falar com Han do que isso acontecer. – desconverso entre risos.

— Ninguém é perfeito, Ben. – mamãe sorri. – Nem eu e nem você.

A comida chega, o cheiro é tentador e a aparência não é das piores. Provo primeiro o Aipim frito, não muito gorduroso e nem muito duro – no ponto certo. A quantidade de sal é bem equilibrada e a mistura do aipim com as ervilhas é peculiarmente boa. Até que mamãe estava certa. A contra gosto, irei ceder ao seu capricho; somente para não dizer que ela estava certa e eu possuo paladar infantil.

— Por mim, não está bem, mas irei fazer o que a senhora está pedindo.

— Que bom, achei que teria que apelar para a sua prima, filha da Marz.

— Por que a senhora faria isso? Usar uma prima que nem conheci.

— Luke disse que você apresenta curiosidade sobre ela e como você está indo, puramente, para conhecê-la, achei que ela poderia convencer você a ser cortês.

— Me passa o sal? – desconverso, ainda afetado com as palavras que aquele homem disse.

— Passo. – pego o sal e coloco bem pouco no aipim. – Seu tio falou muito bem de você, querido.

— Hum, legal. – não posso opinar, porque não quero. Pensar naquele dia não tem acabado bem para mim. Furo inquieta o aipim, não corto ou nada do tipo, só fico enfiando o garfo nele. – Gostou da comida?

— Sim. – mamãe fica em silêncio.

— Ben, aconteceu algo?

Os seus dois pais, eu e Han, te amam

Essas palavras insuportáveis não saem da minha cabeça, faz tempo que não ouço isso e eu não esperava sentir saudades e me sentir tão bem ao ouvi-las. Acreditava que seria nada para mim, somente palavras e, olha só, aqui estou eu, choroso ao lembrar do tom amoroso e orgulhoso de sua voz ao dizê-las.

Por que ele disse isso? Por que ele parecia realmente me amar? Por que cai na armadilha dele novamente? Por que todos acham que pode me machucar e depois voltar como se nada tivesse acontecido? Por que voltar para a minha vida se eu sou tão abominável assim?

— Meu menininho, aconteceu algo? – nego com a cabeça, o nó nojento me sufoca lentamente ao subir pela minha garganta.

— Eu sou adulto. – por mais que não me sinta ao pronunciar pejoso.

Mamãe ri e isso tira a minha atenção do prato intocado e do aipim triturado. Seu rosto se ilumina como se o foco de toda a luz saísse dos seus poros em uma explosão de felicidade e amor. O tempo não foi ruim com ela, pelo contrário, a agraciou ainda mais.

— Você dizia a mesma coisa na infância, sabe, quando era um bebezinho. – sua pequena mão toca na minha. Antigamente minhas mãos sumiam nas palmas dela e hoje em dia são as delas que somem na minha enorme palma. – Você quer conversar sobre?

— Não.

— Tudo bem, o que você gostaria de conversar?

Nada que envolva Han, Luke ou esse “amor” deles por mim. Qualquer assunto é melhor, e, pela sua expressão de agonia, mamãe também acha isso. Algo que a deixe feliz nesse instante, é isso que quero como foco. Mas o que a vem deixando feliz ultimamente? Tudo que conversamos nessas semanas tem sido a sua festa e o meu novo projeto, não estou no ânimo para o segundo, então servira o primeiro.

— Quem vai na sua festa? – forço um sorriso para ela.

— A lista não é muito grande. – certeza que é, diria de vinte a quarenta pessoas. – Seus tios, infelizmente Jannah e Finn não poderão ir, mas a sua prima mais nova irá, Han e Maz já confirmaram para mim. Alguns membros do conselho, velhos amigos de Han e meu, algumas pessoas do trabalho dele e do meu; não muitos, só os mais íntimos.

— A garota de Jakku, ela vai estar lá também? – a garota faz parte do trabalho dela e é íntima de Han.

— Não sei se Han a chamou, ainda não revisei a lista dele.

— Hum. – belo amor o dele.

Os seus dois pais, eu e Han, te amam

A porcaria da frase vem me assombrar novamente no menor indício de Han e Luke. O que me deu mais raiva, foi que eu que consegui levar para esse tópico nojento. Batuco a mesa aflito, tento prestar atenção em mamãe e no que ela diz sobre a sua “maravilhosa” festa de final de ano. Mas falho miseravelmente, quero sumir que nem Rey e ficar na cabana na beira do lago, que herdei, até que esse final de ano passe. Até uma caverna escura e fria seria um local melhor do que a casa de praia de mamãe e Han.

Ele não me ama, foi bem claro anos atrás e, Luke, com toda a sua prepotência e arrogância deixou bem claro que, se ama, não ama de uma forma saudável ou boa. Ele só ama o lado belo, o bom; no menor indício do pior e do feio, eu sou apedrejado. Quem ama não humilha e machuca o outro. O meu amor por eles nunca faria isso com eles, muito pelo contrário, essa porcaria ainda vive pulsante em mim.

É involuntário, como o movimento do coração em pulsar. Basta o celular apitar, com o som que coloquei para o Skype, que em segundos estou com o celular em mãos e desbloqueado, encarando perplexo sua mensagem. Rey me respondeu!

— Ben, o celular. – mamãe me repreende, por este erro colossal de celular na mesa. Mas ela me respondeu! Rey me respondeu!

Leio rapidamente o teor da sua mensagem, bem resumida e direta. Rey vai jogar comigo às 21 horas, irá conversar comigo sobre uma proposta interessante que ela recebeu e como o trabalho dela foi exaustivo ontem e rendeu inúmeros relatórios hoje de manhã. Aparentemente foi o dia que gosto de chamar de “Somente Rey”, algo que só ela pode fazer e demanda muita atenção e tempo dela.

Há tanta coisa que quero conversar com ela e eu mal tive tempo para organizar por onde eu começo ou o que falar. Talvez devesse fazer que nem ela, deixar a conversa fluir durante as partidas ou após elas. Só deixar fluir, não faço a mínima ideia de como fazer isso, mas iremos fazer do jeito que “aprendi” vendo ela fazer ao longo dos anos. Então, eu só elogio a sua foto; até porque de noite iremos conversar sobre outras coisas.

No fundo eu só não quero perdê-la, não quero ser uma decepção para outra pessoa que eu tenho sentimentos. O que ela quiser, será. 

— Desculpe. – respondo respirando mais calmamente, creio que aguento esperar até de noite. – Sobre o que a senhora falava?

— Sobre a reforma que fiz na casa, você irá amar a vista do seu quarto.

— Tenho certeza que sim, você conhece meus gostos muito bem. – dizendo isto, finalmente volto a comer em paz.

 

«»×«»

 

“Voltei!” 21:27

“Foto Bonita.” 21:27

Provoco-a e até isso fez meu coração bater rápido. Depois de horas, ela finalmente sossegou com uma foto – Shinobu Kocho. Foram ao total umas dezoito fotos, não que eu tenha contado e tenha dado gargalhadas de algumas.

“Não quanto a sua ;D” 21:27

Isso claramente é uma provocação dela, até porque eu não tenho foto. Não coloquei foto no Skype, até porque uso somente em reuniões do trabalho. Não há nenhum indício da minha aparência e o meu nome está somente como “K.R”.

Sua mensagem pisca na tela e eu não sei o que responder. Porque a verdade é que não há outra coisa que eu possa dizer. Não quando a única coisa que quero falar e gritar, está entalada dentro de mim.

Mon Laferte, ein? Se tivéssemos combinado, não teria saído tão bom.” 21:27

A mensagem fixa no meu perfil é “Pues, la verdad no hay otra cosa, que yo pueda hacer (Pois, a verdade é que não há outra coisa que eu possa fazer)”, já a dela… A dela é “Mi Bueno Amor”. É uma parte da música Mi Bueno Amor, da Mon Laferte, a mesma música que coloquei no perfil. O engraçado é que a minha parte é antecedida por “Mi Bueno Amor”. Eu não quero perder isso, essa conexão inexplicavelmente magnífica.

Meus dedos tremem de ansiedade, a conversa durante o dia foi básica e o foco era o seu trabalho. Assumo que fiquei feliz ao perceber que aos poucos o trabalho dela está sendo valorizado. Mas ao mesmo tempo, sinto uma vontade absurda de tirar cada um dos dentes daquele bastardo do chefe dela. Se pudesse, acertava seu rosto até abrir feridas em minhas mãos.

Durante o dia todo senti vontade de dizer uma única coisa e até agora não tomei coragem para enviar. Está escrito e piscando para mim há mais de dez minutos. Tenho medo dela rejeitar ou não corresponder esse sentimento, ou fazer pouco caso. A verdade é que algo em mim quer desesperadamente dizer isso, informá-la que uma parte gigante em mim estranha o mundo sem ela.

Senti sua falta... 21:38

Senti sua falta :( ” 21:38

No mesmo instante em que enviei a mensagem, ela enviou a dela. Fico rindo aliviado, respiro bem mais tranquilo e em paz. É como se nunca tivéssemos nos separado, o tempo longe dela nunca aconteceu e tudo não passa de um enorme e prolongado pesadelo.

Não mais do que as plantas que eu adotei e morreram.21:39

E o bicho papão da natureza ataca novamente >~21:39 “Você não vai acreditar no que aconteceu, foram duas coisas muito maravilhosas! 21:39

Conte-me tudo.21:39

Encontrei o meu mestre depois de anos, por sorte não apanhei como da última vez. Irei passar o ano novo e natal com ele na praia!21:40

Finalmente! Achei que você nunca iria viver a sensação deliciosa de ouvir a melodia do mar e sentir a brisa acariciar seu rosto.21:40

Expectativas foram criadas e multiplicadas descontroladamente!!21:40

E serão saciadas!21:41

Fica a todo instante a mesma mensagem aparecendo perto da sua foto: Digitando...

Creio que se trate de outra coisa maravilhosa, ou ela finalmente vai me falar o que aconteceu. E se não for agora, tudo bem; eu vou respeitar a sua escolha de esperar para falar e estarei ao seu aguardo para fazer o melhor que posso para ajudá-la.

Meus pais vieram aqui me visitar antes do natal e eu almocei com o meu pai e padrinho!21:44

Por que?21:45

Questiono porque isso não é normal. Talvez esse seja o jeito dela de me contar o que aconteceu, porque aparentemente foi grave o ocorrido – porque os pais dela foram visitá-la. Eu respeito a escolha dela, mas se alguém fez algo a ela, terei ódio, acumulado por bastante tempo, e um plano de como me vingar por ela. Rey é boa, não deve estar pensando em vinganças. A verdade é que ela pensa mais no próximo do que em si mesma.

Porque irei passar as festas de final de ano com os meus tios e padrinhos na praia, eles não poderão :21:45

Não sei se é porque a conheço há nove anos, ou pela resposta vaga na minha concepção. Mas algo me leva a incentivá-la a continuar, porque de certa forma sei que há mais coisas a serem ditas.

E?21:46

“E eu estava triste devido a saudade sua ♥21:46

Você não era a única triste de saudade.21:46

Ah, eu sei. Posso claramente te ver andando por aí com uma carranca e mal-humor horrendo.21:47

E como eu seria?21:47

Belíssimo, como a lua beijando um lago à noite." 21:47

Rey está com o perfil igual a mim, sem indícios para saciar a nossa curiosidade sobre a aparência um do outro. O que continua me dando margens para imaginar como ela pode ser, e a mesma situação ocorre com ela. Gostaria de ligar para Rey, para conversarmos por videochamadas e finalmente ver seu rosto e sorriso. Eu só não sei como pedir isso e chegar até esse tópico.

Passou bem longe.21:48

Sou honesto ao responder; sou tudo, menos o que a sua mente criou. Estou mais para um vórtice de sombras sem fim, que engole cada partezinha viva e iluminada.

Duvido muito... Vamos jogar?21:48

“Achei que você nunca iria dizer isso.” 21:49


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Notas finais do capítulo

Eu achei fofo o final, criei de ultima hora.

PS: A Leia sacou os paralelos kkkkkkkkk



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