EndGame escrita por Helly


Capítulo 9
Nível VIII. Fácil


Notas iniciais do capítulo

Oh, em legitima defesa, eu tive um bloqueio de escrita, que estranhamente foi superado quando eu fiz o trabalho de historia da minha irmã kkkkkkk Espero no mínimo um dez desse trabalho.
Eu fiquei um mês presa, já tinha até pensado em apagar tudo e fazer outro capítulo, mas depois voltei a gostar por causa da parte na escadaria.
O próximo vai demorar, não vou mentir não, eu só tenho uns pequenos diálogos escritos até agora. Mas fé no pai que não vou ter outro bloqueio de escrita.
Antes de tudo: Obrigado Tua Saúde por me relembrar o que é um Marca passo. E por incrível que pareça, eu estou terminando uma faculdade de Biomedicina, esse é o outro motivo da minha demora em posta: Eu estou estagiando em um hospital infantil, no laboratório de analises clínicas. Acordo todo dia 05:20 e só volto as 13.
Eu também fui reprovada, no caso pelo meu psiquiatra que não me deu alta e mudou meu tratamento todo. Mas fé no pai que vou controlar a ansiedade, e não o oposto.



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"E se você tiver um minuto, por que nós não vamos

Falar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?"

Somewhere only we know – Keane

 

REY

 

PROMETI que iria pensar na proposta de trabalho separadamente e é isso que estou fazendo agora, e não é porque marquei uma reunião amanhã no Skype com os meus amigos. Estou lendo e relendo algo tentador e que realmente quero, pela primeira vez em tempos. E o que me impede realmente de fazer o que eu quero? Outra pessoa, especificamente Kylo Ren.

Não gosto de mentir, odeio na verdade, me sinto mal por mentir para os meus pais e Finn, imagina mentir para Kylo. Eu nunca menti para ele em toda a nossa amizade, ele é o único que sabe de tudo sobre o ambiente péssimo no trabalho. Como ver ele e fingir que não sei quem ele é? Aposto que a essa hora do jogo, ele deve estar bolando uma apresentação mirabolante para agradar aos jogadores e ansioso para finalmente me conhecer. Ele parecia tão feliz e empolgado durante as nossas conversas nesses últimos dois dias.

O que me impede de falar a verdade para ele? Crime, tio Luke, ansiedade e medo de rejeição – esse é mais claro e específico que o outro.

Ala, novamente ele se entrelaça ao que quero, como pensar na bendita proposta tentadora? Eu quero tanto participar desse projeto, isso é tudo que consigo pensar além de Kylo Ren. Finn fala tão bem do trabalho dele nessa empresa, vivemos brincando sobre o fato dele trabalhar na Ani e ser o meu “segundo maior rival”.

Se minha vida fosse um desenho, ou um Webtoon ou Cartoon, uma lâmpada teria ligado acima da minha cabeça bem agora.

Finn e eu brincamos sobre a rivalidade das nossas empresas. Finn e eu brincamos sobre a rivalidade das nossas empresas! São rivais declaradas! Obviamente serei barrada.

A Ani pertence ao conglomerado Sith, a maior concorrente da Jedi. É uma grande oportunidade e ao mesmo tempo algo inimaginável de tão bom, mas coloca em risco o meu trabalho aqui e todo o esforço de Han. Tenho medo disso manchar a imagem dele.

Mas…

Seria algo que eu quero muito fazer, uma escolha minha. Essa proposta é como um dia ensolarado no lago, magnífico e me dá vontade de viver nesse looping de tão bom e desejoso que é. Honestamente, é a melhor coisa desde que fiz amizade com Rose – que é a melhor coisa em tempos. Eu quero tanto dizer sim, mesmo que tudo esteja contra. É algo meu, que todas as minhas versões ao decorrer da vida berram: Vamos! Não hesite! Diga SIM!

Nem Kylo, a empresa, meus demônios, o enorme medo de ser um fracasso para meus pais, ou até mesmo os traumas que carrego; consegue afetar esse meu desejo pulsante de participar desse projeto. Eu quero tanto que chega a doer.

A possibilidade de nunca poder vivenciar esse desejo me deixa a beira de um buraco negro de tristeza. É como se eu fosse uma nave a deriva no espaço e esse buraco negro me suga em sua direção mortal, mas esse desejo pulsante é como uma força, que é toda a criação, me impulsionando a fazer de tudo para ligar a nave e voar para o mais longe dali, em direção há um planeta florido e cheio de vida, paz e felicidade.

O assobio nojento é o prenúncio de momentos ruins. Porque aparentemente eu virei uma cadela que deve responder a assobios e não possuo nome. Respiro fundo, antes de me levantar da mesa, e lembro da frase que Rose me disse semana passada: Ele é só um mosquito zumbindo ao meu redor, não é uma vespa que pode me machucar. Caminho repetindo a frase dela sem parar na minha cabeça.

— Oi.

— Aquelas retardadas fizeram merda de novo no computador. – seu dedo indica a porta do setor, entendido.

— Ok. – prendo o suspiro cansado. Ele é como um vampiro que cansa as pessoas somente ao conversar, um verdadeiro buraco negro.

Pego meu pendrive, que criei unicamente para ajudá-las e resolver rapidamente qualquer problema que elas possam ter feito, e o meu caderninho de anotações. Sigo para o elevador arrastando os meus pés pelo caminho, praticamente patinando no chão encerado.

O percurso é o de sempre: Vazio, fica cheio de pessoas, alguém sem desodorante, um peidinho aqui e outro ali, alguém falando extremamente alto, fofocas de setor e eu divagando cantarolando alguma música de Jakku. Chega a ser um alívio quando finalmente o elevador chega no andar.

Deslocando-se como uma gazela saindo de seu esconderijo, estudo cada cantinho do andar em busca de Kylo Ren. Chega a ser um alívio não encontrá-lo – mesmo que algo em mim fique triste por não encontrar a sua presença marcante. Desde que respondi, no Skype, e ele entrou em contato, não nos vimos pessoalmente. Sendo franca não o vejo desde que fui destratada por ele, não estava preparada para revê-lo sem chorar; só de cogitar em revê-lo já me debulhava em lágrimas. Estava vindo em horários em que sabia que ele não estava. Agora, por exemplo, sei que ele já deve ter ido embora há uns dez minutos – Kylo é um homem metódico.

De uma forma estranha, conversar com ele no Skype não me deixa querendo chorar, na verdade, afasta a vontade de chorar e me deixa bem. Mas ver ele me deixa levemente nervosa.

O medo dele me reconhecer ou saber o numero do meu Whatsapp e celular foi tanta, que optei por chamá-lo no Skype. Graças ao criador, o Skype me notificou que o novo número adicionado possuía uma conta no Skype. Não sabia por onde chamá-lo e continuar com a promessa de só dizer tudo para ele no dia trinta e um, foi literalmente o criador com a sua notificação bendita do Skype – onde não há o meu número e sim o mesmo email que utilizo no jogo e uma foto de perfil de anime.

Isso de certa forma me ajudou, até porque arranjei rapidamente um jeito de conversar com os meus companheiros sobre a proposta de uma forma mais organizada. A verdade é que por meio do Chat, do jogo, um ficava falando por cima do outro e estava um caos, só achei paz e tranquilidade fora daquele chat – em uma conversa com Kylo Ren no Skype.

Como de costume, as duas estão entretidas mexendo no celular e sentadas em seus devidos lugares. Hoje é só mais um dia normal e será rápido como sempre.

— Oi. – a gêmea da esquerda para de focar na tela do celular e por segundos me estuda.

— Olá Rey-Rey. – sua unha rosa, perfeitamente feita de forma fofa, aponta para minha camisa desgastada. – Gostei dessa sua camisa, bem vintage.

— Obrigado. – aponto para seu arco rosa pastel. – Amei o seu arco, é belíssimo.

— Viu. – seu cotovelo bate na cintura da Lilás.

— Rey-Rey por gentileza não instigar as doideiras da minha irmã.

— Ignore ela, Rey-Rey. Ela queria usar e eu não deixei. – minha resposta é uma risada, às vezes queria ter uma irmã.

Como se estivessem programadas, como eu, as gêmeas abrem espaço e colocam o meu banquinho em seu devido lugar – no meio delas. Porque aparentemente eu sou querida ao ponto delas terem um banquinho para que eu conserte o computador delas, um banquinho só meu e que só eu posso usar – e isso me deixa ainda meio boba.

Faço a minha parte e vou para o banquinho e começo o meu trabalho, como disse, algo fácil envolvendo um driver desatualizado. Nada demais, mas que causa uma irritação e bugs insuportáveis para os usuários. Todo o trabalho é feito em silêncio da minha parte, até porque elas ficam fofocando para mim sobre o “babado” da vez. Aparentemente alguém do setor de Marketing foi pega no banheiro roubando o batom da mulher da área de finanças enquanto a mesma estava no mictório.

— Amém! – a gêmea rosa ergue as mãos para o céu ao se interromper, o que é um ato estranho levando em consideração que ela ama contar fofoca.

— Louvado seja o senhor! – gêmea lilás faz o mesmo.

— O que foi? – minha curiosidade me move a perguntar rindo.

— Sério que você não percebeu? Ou sentiu a aura leve e feliz no escritório.

— Justo você que levou uma patada dele. Já deve ter até um sexto sentido sobre a existência dele.

A única patada que levei e, elas sabem, é oriunda do homem que acabou de sair tranquilamente da sala e está parado conversando com Korr Sella desde que terminei o meu trabalho aqui. Reconheci o seu timbre faz um minuto e estou parada aqui, fingindo trabalhar e esperando ele ir embora para que eu possa ir.

Aperto minhas mãos para controlar os leves tremores que a presença marcante dele gera na minha ansiedade. Mesmo assim não deixo de reparar nele, seja para mostrar que estou bem, seja para ter certeza que ele está bem, ou quem sabe sua presença atrai minha atenção como uma flor atraí o beija-flor. Elas têm razão, Kylo parece feliz e leve, sem o peso do mundo nos ombros – ele fica até mais bonito assim. Esse homem se aproxima bem mais do meu Supremo Líder, diria até que é ele. Essa é a forma física do homem com quem converso, não aquele que falei da última vez.

Ontem ficamos até tarde conversando besteiras, duelando, falando dos filmes horrendos que vimos e comidas peculiares que ele experimentou na sua viagem. Ele me mandou inúmeras fotos de plantas e árvores que viu durante esse mês e das três plantas que matou ao tentar cuidar. Foi tão bom voltar a conversar com ele sobre coisas banais e não pensar sobre os meus problemas, foi como finalmente desentupir o nariz depois de um resfriado chato e longo. É estranho o fato dele ter sido a cura para o problema que surgiu dele. Eu senti uma saudade sufocante dele.

Tio Luke tinha razão de certa forma. E se hoje consigo pensar, é graças a sua presença. A gravidade é distorcida ao seu redor e ele deixa tudo mais leve e fácil para mim.

— O senhor Ren? – pergunto só para confirmar, vai que estou ouvindo e vendo coisas onde não há nada.

— Sim, ele. – rosa move a cadeira para mais perto de mim antes de continuar sussurrando. – Já faz quase um mês que ele vinha agindo estranho e irritadiço por causa de uma pessoa.

— Ah. – não, não mesmo.

— Korr contou que Leia disse a ela que era uma mulher, que estava brigada com ele e ele não sabia como consertar a cagada. Porque, ao que tudo indica, ela sumiu e cortou contato completo.

Eh. – solto um longo e fino som esquisito.

— Eu sei, esperta e burra ao mesmo tempo. – Lilás finalmente diz algo.

— Por que? – o burra é compreensível, fui impulsiva, mas o esperta?

— Esperta por instigar ele e o foco dele nela, fez ele correr atrás dela que nem um doido sedento por água em um deserto escaldante. Burra por não ter arranjado um jeito de manter um leve contato e instigá-lo ainda mais nela.

— Por isso ele estava virado no cão quando conversou com você. – por que Rosa fala isso sorrindo tranquilamente?

— Oh! – muita informação em pouco tempo.

— Pois é, mulher. Um dia da caça e outro do caçador.

— Hoje ele está todo calminho e feliz, sabe o que isso significa? – que eu voltei. Por favor, diz que não.

— Que ela voltou? – Por favor, diz que não.

— Correto! – Lilás me dá um tapa forte no meu braço, consigo fazer um trabalho incrível ao esconder a dor. – Fala com ele hoje, mulher, quem sabe ele não seja mais gentil agora que está bem humorado e com o chá em dia.

Estou começando a diferenciar elas pela forma de falar e agir. Rosa é mais calma, contida e formal. Lilás é mais solta, fofoqueira e maliciosa. Acho legal essa dualidade delas, facilita para diferenciar uma da outra.

— Que chá? – lilás surra algo que eu não queria ter entendido de tão obsceno, me sinto obscena só por entender. – Por que? Por que você acha que isso está em dia?

— Ué, a mulher voltou e ele está todo sorrisinho, com certeza transou muito. A mulher deve tá toda assada de tanto que se divertiu nesses dois dias. – comigo eu sei que não foi, isso posso garantir. – Essa deve ter o melhor chá de Larisinha do país para fazer esse iceberg ficar cheio de sorrisinhos assim.

Minha vida sexual se resume a Poe Dameron, meu ex e amigo do Finn. Não terminamos bem e desde então não nos falamos, ou transamos. Jannah diz que a minha vida sexual é frustrante por se resumir a um homem só. Eu só não quero fazer com qualquer um, é algo íntimo que quero dividir com alguém importante para mim. Não quero algo vazio e puramente carnal, já basta minhas cicatrizes me controlando e me fazendo agir que nem uma idiota.

Meu chá de Larissinha não é tudo isso e eu não fiz nada além de mandar uma mensagem. Mas será que ele transou com alguém? Por mais bizarro que seja, até a frequência que ele pratica o coito conversamos. Kylo disse que se a minha decisão me faz bem, então ninguém deveria dar pitaco. Não escondemos nada um do outro, é como se ele fosse a voz dentro da minha cabeça e eu a voz dentro da cabeça dele.

— Se deve. – porque não sei o que responder, então só concordo.

— Mulher sortuda. – Lilás concorda com a irmã em um movimentar de cabeça.

— Por quê? – pergunto, genuinamente curiosa. Segundos atrás elas estavam chamando ele de Iceberg.

— Às vezes eu me pego pensando nele como um tremendo de um gostosão, sabe? – rosa sussurra avoada. Por essa eu não esperava. – Imagina transar com esse homão da porra, falam que realmente tudo é grande e de bonus ainda há essa voz extremamente rouca.

— Eu também! Ele parece entender da coisa, pelo que dizem, e ser bem brucutu na cama. – seu lábio inferior é mordido enquanto um leve sorriso malicioso surge. – Ele não é um deus da beleza, mas há algo extremamente atraente nele. E você Rey-Rey?

— Eu?

— É, o que você acha do senhor Iceberg?

— Bem, eu não conheço ele.

— A aparência, menina. – rosa me interrompe rindo. – Ou considerações sobre sexo e boatos dessas horas.

— Ah, claro, entendi.

Observo cada partezinha dele, Kylo Ren não é que nem Poe, um marco na beleza. Mas ele também não é feio. Kylo tem algo inexplicável que me atrai e faz achar bonito, só que não é algo padrão. É uma beleza meio fora do quadrado e do esperado, algo único e inexplicável. O nariz dele é grande e seu rosto comprido e de alguma forma tudo isso se encaixa nesse homem atraente. Quando ele sorri é um grande sorrisão; tão bonito de se ver, é quando ele fica mais fofo para mim. Há uma harmonia no caos dele.

Sobre o sexo… Bem, a gente conversa e essa é a primeira vez que sinto vergonha quando este tópico vem atona. Melhor evitar, até porque sei bastante coisa. Tanta coisa para conversar nesse momento em que o revejo e é justamente este o tópico? O criador deve me odiar.

— Ele tem uma aparência atraentemente bonita. – uma resposta leve e sem margens para elas saberem que eu o conheço bem até demais.

— Eu creio que as mãos dele são a coisa mais atraente nele. – rosa tem razão, também são atraentes. Como que uma pessoa consegue ter as mãos bonitas e atraentes? – E se os inúmeros boatos estiverem certos, também acho charmosão o terceiro braço dele.

— Eu também, irmã! Aquelas mãos me fazem imaginar coisas extremamente boas e criativas, que sabemos que ele sabe fazer maravilhosamente bem. – ele nunca me disse que já tinha feito coito com elas, como disse, a gente conversa sobre isso e eu saberia. Que reputação ele tem além de Iceberg? – Rey-Rey...

— A boca. – respondo instintivamente, e sei que abre margens para pensamentos inapropriados.

Não é que eu fique olhando fixamente para a boca dele, mas é que ela chama muito a minha atenção assim que olho para o seu rosto. É tudo que os meus olhos vidrados veem fixamente. Seus olhos melancólicos são a segunda coisa que chama a minha atenção, me perderia facilmente neles se o encarasse fixamente por mais de cinco segundos.

— Ah, sua safadinha. – vivo aquelas cenas de filmes, que sempre achei legal, onde três garotas riem cúmplice umas para a outra.

— Tudo bem, por aqui? – nós três temos a mesma reação rápida de arregalar os olhos e virar a cabeça na direção da voz melodiosa de Korr.

Há uma diferença gritante dele de longe e dele de perto. O impacto é maior, aquela coisa inexplicável ataca sem dó e sem pena. Ele é tão mais atraente e intenso de perto.

Fico rindo de nervoso quando seu olhar recai sobre mim, eu não sei agir normalmente quando acho alguém ou uma atitude completamente atraente. Faço a coisa mais idiota que poderia fazer, coloco meus antebraços na mesa e deito com a cabeça em cima, tudo para esconder as risadas de que-gostoso-atraente.

— Ela está rindo de uma besteira que fizemos no computador.

— Uhum. – sua voz calma ecoa e isso me dá vontade de rir mais ainda. – Korr.

— Ren. – espero o barulho delicioso do elevador abrindo e fechando para voltar a levantar a cabeça, e isso demora. – Sobre o que vocês realmente estavam conversando? – Korr pergunta como se já soubesse a resposta e isso a desagrada bastante.

— Rey acha Kylo bonito. – as duas judas respondem ao mesmo tempo.

— Oh! – toda a atenção é voltada para mim quando me ergo de uma vez só da cadeira.

— A gente também acha ele bonito. – elas dizem envergonhadas.

Korr possivelmente é uma das mulheres não denominadas que ele já transou. Ela é praticamente uma deusa, impossível um homem como ele não notá-la e desejá-la. Por isso ela teve essa reação de choque e descrença.

— Preciso ir. – praticamente corro para a escada e desço correndo por quatro andares até ficar sem fôlego.

Mais uma coisa para a lista de coisas que terei que explicar a ele; porque com certeza ela irá falar com ele sobre isso. Vou ter a imagem como uma mulher tarada que encara fixamente seus lábios volumosos e seu rosto anguloso.

Quando fico cansada, diminuo lentamente os meus passos até parar de descer a escadaria, depois de minutos e alguns andares. Os degraus da escada chegam a ser o melhor assento em que me sentei nas últimas semanas; se bem que há pessoas que acham que estou sentando em algo bem melhor e maior.

Isso não é algo grande que irá mudar a minha vida, é só uma opinião que não irá me perseguir. Mamãe às vezes tem razão, costumo transformar um copo em um verdadeiro planeta de águas tormentosas.

O silêncio gostoso das escadarias me deixa pensando como nenhum outro lugar, me dando certa paz e tranquilidade. Talvez porque me lembre o silêncio reconfortante do lago perto da casa dos meus pais. De algum jeito estranho, minha mente se organiza em tópicos e é encabeçada pelo quanto quero fazer parte desse projeto e que a voz dele realmente é algo gostoso de se ouvir. Optei focar na que não me deixe… digamos que… algo que não consigo denominar, mas me dá certo geladinho gostoso. A proposta eu consigo denominar, é algo que me deixa extremamente feliz.

Não é como se eu fosse trabalhar em algo gigante, é só a minha imagem e não afetaria em nada o meu trabalho aqui – pelo menos assim eu espero. O único que pode encrencar com algo é Unkar, mas se eu tratar somente com a Rose, de repente eu consigo trabalhar nas duas empresas sem causar problemas e fazer sem ninguém saber. Talvez, se eu conversar com Kaaydel também, o RH nem pegue tanto no meu pé por causa disso.

Amanhã à noite, às nove, terá a reunião com o Top cinco dos rebeldes, iremos decidir se iremos ou não participar. Como prometi ao tio Luke que só daria a resposta dia trinta e um, irei dizer que ainda estou pensando, mas que estou querendo aceitar – porque eu estou.

Optamos por nos reunir amanhã à noite no Skype devido às poucas informações sobre a proposta, até que o próprio sistema Padmé começou a nos responder tirando dúvidas e então iniciou o caos no chat, o que ficou difícil de entender e conversar. Aparentemente eles irão usar a nossa aparência em uma campanha da empresa e uma nova atualização, falaram que entrarão em mais detalhes quando assinamos o termo de segredo e compromisso. Não é muito, mas é algo relacionado ao meu amor – Star Wars – e isso me faz desejar ser parte desse projeto.

O bolso do meu casaco verde vibra enquanto a música de abertura de Unbreakable Kimmy Schmidt toca altíssima. Temerosa puxo o celular, com quase 100% de certeza que se tratava de Rose desesperada atrás de mim, aparentemente Unkar surtou de novo.

Mas não. Não é Rose quem me liga, o nome “Marca-passo ” pisca com uma foto nossa brilhando na tela.

Um Marca-passo é um equipamento colocado no coração e que dá um estímulo elétrico que faz o coração, que estava diminuindo os batimentos, bater da forma saudável de sempre. Finn é isso, o meu Marcapasso que me faz voltar a ser a eu saudável de sempre. Kylo Ren pode ter a minha alma e existência atrelada a si, mas Finn, Finn tem o meu coração somente para si.

— Tenho uma novidade! – ele diz com o seu tom feliz costumeiro.

— Oi para você também. – suspirei aliviada por ser ele, o meu Marca-passo.

— Que voz é essa? Aconteceu algo?

— Está mais fácil perguntar o que não aconteceu. – respondi rindo de mim, que delicia.

— Você sabe que pode conversar sobre o que quiser comigo, é eu e você até o fim.

— Eu sei, meu amor.

Amor sempre foi difícil para mim, não costumava ter, até ter uma família. Costumava invejar quem tinha amor, quem tinha o amor de irmãos. Então um dia, eu consegui uma família e de uma forma peculiar, achei um irmão. Alguém que somente com um olhar compreende o que quero dizer e estou sentindo, que pelo meu tom da minha voz sabe que há algo acontecendo e o que sinto, que me ouve falando de coisas estranhas e, vez ou outra, implicamos um com o outro. Se isso não é a forma mais pura e singela de amor, eu não sei mais o que pode ser. Eu vi isso durante anos no orfanato, entre as crianças que ainda tinham alguém da sua família consigo. Posso não ter tido durante metade da minha vida, mas sei reconhecer um amor puro e irmandade de longe – porque eu vi e desejei muito isso.

Amar é algo estranho para mim, uma experiência peculiar que desenvolvi meio tarde. Amar alguém como irmão de forma tardia e bem mais velha, é esquisito. Porque se vai de “Estranhos” para “Eu mato e morro por você e pela sua felicidade” e tá tudo bem com isso, porque é um amor sem categorias ou explicação. É o amor de uma irmã por uma criatura fascinante criada com o intuito de me deixar perplexa com a capacidade que posso amar outra pessoa e com a capacidade de um cu ter um corpo para poder fazer muita merda, como passar catapora para mim para não ter catapora sozinho.

Tudo que faz ele sangrar, me faz sangrar; tudo que faz ele chorar, me faz chorar; cada vez que ele é feliz, eu sou feliz, e cada segredo dele, é um segredo meu. E o melhor é que é vice-versa. Por isso confio em Finn de olhos fechados, porque sei que tudo que sinto por ele é recíproco, e tudo que faço por ele, ele faz por mim. É um espelho, mas não qualquer espelho, são aqueles espelhos de Parques de Diversão que distorce o reflexo e deixa diferente, mas ainda há um pouco de você ali.

— Eu também tenho uma novidade para você. – pela primeira vez em tempos, tenho o mesmo tom risonho alegre dele.

— Diz você primeiro.

— Ué, você chega com a novidade e eu que tenho que começar?

— Rey, minha amada Rey, você sabe que eu amo um suspense.

— Dramático, eu sei.

— Vai a merda. – pelo seu tom risonho, Finn deixa claro que é só a nossa implicância de sempre.

— Eu recebi uma proposta de trabalho. – mordi os meus lábios após dizer de uma vez só, de certa forma, contente.

— De onde? Você gosta desse lugar? E do que? Se trata de quem?

— Não é bem trabalho, sabe? É só uma rápida colaboração, pelo menos é isso que entendi.

— Eu amo fazer suspense, Rey, mas odeio quando fazem comigo. Conta logo tudo antes que eu suba pelas paredes.

— Como você sabe, eu ainda jogo Star Wars.

— Por causa da versão dark de você, sei. – e aparentemente bem sucedido.

— Também por causa dele. – mordo meus lábios para não sorrir da sua cotidiana implicação com Supremo Líder. – Você sabe que o jogo me faz bem e me deixa feliz. Mas eu fiquei afastada por umas semanas devido a alguns problemas.

— Que problemas?

— Coisas bobas que não valem tempo. – ainda não é a hora de contar tudo para ele, sequer é o lugar ideal para me abrir e despejar tudo em cima dele e ver ele ter uma síncope. – Continuando. – contar para ele é leve, como ficar boiando em um lago. – Quando eu voltei para o jogo, tinha uma notificação do sistema deles me contando da proposta de trabalho.

— Espera, a proposta de trabalho é do jogo?

— Sim! Pelo que eu entendi, eles querem usar a minha aparência em uma atualização e em uma campanha de marketing. Dá para acreditar?

— Dá! Você ama esse jogo de coração e alma e é uma das melhores, porque não chamar você?

— Eu não sei. Achei que era só mais uma jogadora.

— Querida, você joga isso há anos! Já estava na hora deles valorizarem os jogadores deles. – Finn é meu fiel ouvinte sobre as minhas reclamações e vitórias no jogo.

— Concordo.

— Você vai aceitar, certo?

— Bem. – como explicar todo esse caos agora?

— Rey, você vai aceitar, certo?

— Tem muita coisa envolvida, Finn.

— Cite pelo menos um grande problema. – bom, o maior de todos eu não posso, no entanto, ainda há outro problema.

— É da principal empresa concorrente da minha.

— E? Não é como se você fosse fazer a mesma coisa.

— Se Unkar já implica comigo sem motivos, agora trabalhando para o concorrente, ele vai ficar insuportável e tentaria de tudo para barreirar.

— E eu deitarei ele na porrada se ele ficar de novo entre algo que a deixa feliz e você.

— Finn!

— O que? É verdade, já estou ficando de saco cheio desse Unkar te deixando para baixo e te barrando de ser feliz. – Finn respira fundo antes de continuar. – Rey,  isso é mais do que uma faculdade e um trabalho, que você consegue dar as costas sem pensar duas vezes. Negar essa proposta é dar as costas para algo que você ama imensamente e que a faz feliz.

— Eu sei disso.

— Por isso tá difícil dar as costas, né?

— Sim. – é bom dizer isso, mesmo que não seja muitas palavras, mas Finn me entende. – É algo que me deixou feliz, mas um tanto apreensiva, entende? Há tanta coisa por trás e que vai contra.

— Exato! Por isso você deve persistir, você não é de desistir tão fácil assim de uma aventura. – Bem, geralmente não há inúmeras coisas por trás que mexem com a minha paz e cura. – Imagina a pequena Rey de Jakku e o que ela acharia disso. – ela amaria. – Imagina na visibilidade para crianças órfãs. Ou para mulheres, você é a principal jogadora do seu lado em um jogo cheio de machistas babacas. Rey, você vai fazer tão bem para tantas pessoas, mas principalmente para você. Sejamos francos, isso é algo que você sempre quis e seria um meio de você ser feliz nesse inferno que é sua vida nessa cidade.

Ele sempre está certo, de um jeito peculiar. Somos um tipo de oposto, que consegue ver claramente o problema do outro de uma forma que naquele momento não conseguimos. Enquanto Kylo e eu somos B, Finn é A e graças a isso consegue ver o que eu não consigo; assim como consigo ver o que ele não consegue e consequentemente resolvo os problemas dele em uma única conversa.

Como eu já disse, Finn é o meu Marca-Passo, me dá o choque no coração que me mantém viva. Talvez eu queira tanto, mas tanto, trabalhar nesse projeto, que qualquer saída eu me agarre e torça para me levar até ele.

— Digamos que eu aceite. Como eu trabalharia? Pego cedo todo dia e saio muito tarde, não teria tempo para o projeto.

— Aos finais de semana, aposto que não levará muito tempo e você vai relaxar e gozar de uma felicidade negada a você há tempos.

— Tão gentil.

— Realista. – sua risada ainda soa como algo contagiante para mim. – E tem um bônus nessa proposta, tá.

— Qual?

— Seu amigão vai estar lá.

— Como você sabe? – meu corpo inteirinho congela com a sua frase.

— Amor, não tem como existir ele na campanha sem você, assim como não tem como existir você sem ele. Ambos são uma balança coexistindo em harmonia. – droga, ele está certo. Esse é o outro problema, mas se eu me resolver com ele, não será um problema. Tudo está entrelaçado no fato de ter que me resolver com ele.

— A gente teve uma briga. – melhor jeito que arranjei de contar isso a ele.

— Ah, isso explica o sumiço no jogo.

— É.

— De repente, quem sabe, você nem tenha tanto contato assim com ele.

— Não terei? – hum, isso é bom para mim. – Interessante, por que você acha isso?

— De repente ele estará muito ocupado e não vai estar disponível nos mesmos dias que você. – Finn diz depois de minutos em silêncio puro. – E também ele pode morar em outro país, né Rey.

Eu pensei nisso, claro que pensei. Eu não sou tão lerda ao ponto de não ter levado isso em consideração. Devo ter esquecido disso em algum momento, sabe? Esquecido de ser inteligente, os melhores sofrem desse esquecimento.

Um homem, CEO de uma das maiores empresas do mercado, terá todo tempo do mundo para perder e ficar ao meu redor. Claro, plausível para a minha mente ansiosa e ociosa. Mas na realidade, Finn tem completa razão e mata um dos meus maiores empecilhos. Marca-passo, viu.

— Puta que pariu! Eu te odeio, sabia?

— Eu sei que sou um gênio, que acha as respostas mais inteligentes. – rindo, troco o celular de orelha.

— Vai a merda, Finn.

— Ai! – Finn grita ao mesmo tempo em que o respondi.

— Que houve? – perguntei devido a dor presente em sua voz.

— Um babaca esbarrou em mim! Parecia até um tapão bem forte no ombro.

— De repente não é tão inteligente assim, já que não consegue andar e falar ao celular ao mesmo tempo.

— Também te amo, minha fã. – sua voz é tão amorosa e risonha. – Me faz um favor?

— Faço. – não hesito sequer um segundo ao respondê-lo.

— Para de agir como o seu anti-herói, seja a heroína intergaláctica que você sempre foi e esconde. – seu suspiro é percebido na ligação. – Saia de Jakku e enfrente as adversidades do universo.

—  Eu saí de Jakku.

— Não parece. – sua risada é sem maldade, diria que levemente meiga. – Seja a minha Rey corajosa, que sobe em árvores e enfrenta tudo de frente. Você é a mais forte de nós, não se deixe abalar tão facilmente.

— Vou me esforçar para fazer isso.

— Me faz outro favor?

— Faço.

— Você vai querer comer maionese com aquele frango empanado gostoso da Sadia? Preciso saber antes de ir preparar a sua comida predileta.

— Que?

— Meu avião chega aí às 18 horas, não se preocupe que eu ainda tenho a sua chave reserva e irei fazer a nossa janta, a pergunta é: Você vai querer comer maionese com frango empanado?

— Você está vindo hoje? Achei que ia com Poe para Yavin.

— E vou, mas daqui há uns dias. Até lá, estarei com você todo santo segundo. Essa é a minha novidade.

— Melhor novidade em semanas!

— Você recebeu uma proposta de trabalho dos seus sonhos e eu sou a melhor novidade?

— Sim! Você é disparado a melhor notícia em tempos. – levantei dos degraus em um pulo só. – Eu estava com tanta saudades de você, meu amor.

— Eu também estava com saudades de você, minha fã.

— Eu tenho que ir ao mercado, arrumar a casa, ver o que iremos comer.

— Ei, ei, ei. – Finn me interrompeu rindo. – Eu irei fazer isso hoje. Quando você chegar em casa só terá que tomar banho para conversarmos e comermos o banquete que irei fazer.

— Vou ver se consigo ser liberada mais cedo hoje.

— Não precisa, se não você vai chegar em casa antes de mim.

— Mas eu quero te ver logo! – creio que Finn não entendeu a imensidão da minha saudade por ele, se fosse um estádio seria o Maracanã.

— E eu quero preparar as coisas para você, confie em mim e só venha no seu horário normal.

Droga, os presentes dele estão guardados em cima da minha estante de livros. Não suspeitava que iria vê-lo antes do ano que vem, acumulei inúmeros presentes para ele e guardo onde não consigo esquecer.

— Tá bom, mas não abre os seus presentes antes da hora. 

— Tá bom. – pela sua risada sei que ele irá tentar descobrir o que é balançando, e alguns são de quebrar.

— Nem ouse balançar!

— Mas eu não ia fazer isso!

— Promete?

— Espera só um segundo. – alguém conversa com Finn ao fundo por um tempo considerável. – Minha amada Rey, preciso desligar agora, já estão chamando para embarcar no avião.

— Finn, a promessa.

— Eu prometo, sua ditadora de presentes.

— Tão criativo para algumas coisas. – sua risada me enche de força para voltar a subir a escada. – Tenha uma ótima viagem, meu amor.

— Assim que chegar, irei mandar uma mensagem para você. – o bom é que ele finalmente se acostumou com isso e diminuiu bastante minhas preocupações. – Mal vejo a hora de ver o seu lindo rosto cheio de sardinha.

— E eu mal vejo a hora de segurar a sua mãozinha carinhosa.

— Até daqui a pouco, minha felicidade.

— Até daqui a pouco, meu amor.

Pela primeira vez em muito tempo, não sinto saudade quando Finn desliga a ligação. Até porque logo estaremos juntos conversando sobre absolutamente tudo. As coisas saem mais tranquilas quando estou ao seu lado, óbvio que não conto todas as minhas cicatrizes.

Adentro na primeira porta que vejo, até porque não sei quantos andares desci. Logo minha curiosidade é extinta quando chego no septuagésimo terceiro, são ao total setenta e sete andares. É um dos maiores arranha-céus da cidade.

Não faço a mínima ideia de que setor é esse, mas todos os andares são padronizados e sei o caminho para o elevador. Há uma boa quantidade de pessoas esperando.

O elevador já chega lotado, deixando o local perto da porta para ficar – o pior lugar que há. Vou ter que ficar saindo e entrando toda vez que alguém for descer, por isso que gosto de ficar no fundo. Como serei uma das últimas a descer, ficar no fundo é jogada. A pior parte vai ser quando chegar no térreo e no andar do refeitório e a maioria vai sair que nem uma manada de elefantes. Se não estivesse com tanta vergonha, subiria somente para pegar o elevador mais vazio. 

Sou empurrada contra a parede, para fora do elevador e tenho o cabelo puxado ao ficar preso em alças de bolsas. Felizmente, cheguei viva no meu andar inteira; sem alguns tufos de cabelo.

Minha postura é endireitada, ficando reta; meu sorriso tenta ser o mais estonteante possível e minhas sobrancelhas erguem-se levemente. Tudo para criar o aspecto de uma pessoa feliz e leve, Rose me ensinou que essa é a melhor maneira de revidar Unkar Plutt – felicidade. O que é compreensível, já que seres das trevas odeiam felicidade.

Batuco a ponta da minha mesa assim que sento. Desde que passei a fazer relatórios, a primeira coisa que faço é o relatório; porque ainda está fresco na minha cabeça. Eu meio que já peguei jeito e faço rapidinho o relatório. Utilizo o caderninho para refrescar a minha memória as vezes. Volto a minha rotina de trabalho e tudo está mais leve, o tempo chega a passar rápido. Só que isso só dura até o meio da tarde.

A mensagem piscando na tela é bem clara e direta, tenho que ir lá. As mensagens só vêm diretamente para mim quando são dos diretores e da CEO Leia, no caso dos secretários deles. O resto do andar e setor enviam mensagem para Unkar.

Geralmente Korr Sella me dá um leve resumo do problema, mas dessa vez não deu. Ou é uma merda fenomenal, ou aquela conversa irá me render problemas. Como não quero ficar para baixo ou paranoica ultimamente, opto por outro problema no computador que levará horas do meu dia e me render hora extra.

Puxo a gaveta da minha mesa para pegar meu caderninho e o meu Pendrive. Minha alma sai e volta para o meu corpo repetidas vezes, só há o caderninho. O meu precioso Pendrive sumiu! 

— Droga! – procuro em cima da mesa o Pendrive e até dentro da segunda gaveta cheia de tralhas, nada.

Refaço meu passo a passo desde que o vi pela última vez. Primeiro eu tirei ele da bolsa e coloquei na gaveta, em seguida levei para as gêmeas e depois eu não me lembro se peguei do computador delas. O Pendrive me ajuda se for um problema muito sério, tenho o último Backup do computador de Korr Sella salvo nele. É um Pendrive extremamente importante.

Se estiver com as gêmeas, vai estar tudo bem. Elas devem ter guardado achando que eu voltaria lá de novo. Elas são uns amores, levemente fofoqueiras, mas bondosas. Não consigo ficar com raiva delas por muito tempo, elas foram as únicas que me trataram bem desde que me conheceram e não foi porque eu resolvia os problemas delas, e sim por bondade.

Meus pais falam que eu devo aprender a moderar essa parte minha, porque algumas pessoas utilizam dela a seu favor e me manipulam com facilidade. E eu concordo, porque depois fico com raiva de mim e me vendo como burra.

Como estou otimista após a ligação de Finn, penso positivo e me ergo desta cadeira ainda positiva. Um sorriso de felicidade brinca em meu rosto até a ida ao último andar. Mesmo ansiosa, a minha felicidade não se vai, nem quando as gêmeas me olham preocupadas. Antes mesmo que eu possa perguntar o que aconteceu e sobre o meu pendrive, elas tomam partido como um ser só.

— Nós falamos que o problema era a gente e que você era inocente. – rosa diz envergonhada.

— Desculpa ter te colocado naquela situação. – lilas diz acanhada.

— Ah, é isso? – achei que era algo mais sério.

— Rey que não é mais estagiaria. – Korr me chama solenemente da sua mesa, sorrindo angelicalmente. – Venha cá.

As gêmeas arregalaram tanto os olhos azuis, que cheguei a cogitar que a qualquer segundo irão cair de seus rostos pálidos. Eu posso ser demitida por isso? Eu só acho ele atraente e era uma conversa boba. Não é para tanto, poxa, eu só disse que ele era bonito.

Temerosa, caminho nervosa até ela. Korr está impecável como sempre, com os seus cabelos castanhos escuros descendo em ondas até a cintura, sua maquiagem impecável, com a boca em um tom de vermelho carmesim, e blusa formal listrada belíssima em tons neutros. Korr é sempre impecável em tudo, sou apaixonada pelas bolsas dela.

— Oi. – sua voz melodiosa soa melindrosa.

— Oi. – já a minha voz soa completamente insegura.

— Creio que isso seja seu. – suas mãos delicadas estendem o meu pendrive.

— É. – pego tremendo o Pendrive.

— Nervosa?

— Eu? Não. – fico rindo nervosa depois de respondê-la.

— Rey, está tudo bem. – sua risada baixa me faz pensar que sou louca. – É só a sua opinião e você estava dividindo com as suas amigas, nada demais.

— Eu achei que ele… Bem… Meio que ouviu e eu… Fiquei meio nervosa.

— Não precisa se preocupar, ele não te ouviu. – eu sei que ela me interrompeu por pena de mim e eu agradeço muito isso. 

— Certeza? – vai que.

— Absoluta. – seu sorriso gentil é o mais belo sorriso dela. – E qualquer coisa, eu minto e digo que era uma fofoca sobre o RH, que não envolvia ele.

— Obrigado, muito obrigado mesmo. – retribuo o seu sorriso gentil. – O que eu posso te ajudar hoje?

— Nada. – ela fala tão tranquila e normal.

— Mas chegou uma notificação para mim, sua.

— Ah, era só para devolver o seu Pendrive mesmo.

— Obrigado. – aponto para o elevador após alguns segundos. – Vou indo, obrigado mesmo.

— Tá tudo bem, até amanhã Rey que não é mais estagiaria.

— Até amanhã Korr.

Caminho alegre até o elevador, até acenei para as gêmeas antes de entrar no elevador. O dia está agradável e com uma atmosfera leve e tranquila. Tenho inúmeras conversas, escondidas de Unkar, com Supremo durante o dia, cheguei a dizer a ele que o meu amado irmão está vindo me visitar e por isso irei sumir por algumas horas. Mesmo que rápidas, eu senti saudades disso. É uma parte de mim que eu desconhecia e percebi que é difícil viver sem esses pequenos momentos só nossos.

O resto do dia é assim, calmo e tranquilo. Poderia viver hoje inúmeras vezes; claro, se isso significar ver Finn no final do dia. A única coisa ruim hoje, é que o tempo transcorre devagar demais. Parece que fico horas e horas, quando na verdade só passou alguns minutos. Parece que quanto mais ansioso ficamos para algo, mais ele demora a chegar; a prova disso foi quando ele mandou a mensagem avisando que tinha chegado. Quando esqueço momentaneamente é quando o tempo corre; quando focava completamente no meu trabalho.

Mas de um jeito ou de outro, o tempo corre e logo o meu turno acaba. Como de costume, estou indo para o estacionamento acompanhada de Rose. Entre as nossas inúmeras conversas, descobri coisas interessantes como o nome das gêmeas, Sabé e Tsabin, e que elas e a maioria das pessoas que trabalham aqui são de Naboo – a cidade com a sede que inaugurou esse conglomerado.

Faço algumas anotações mentais de coisas que Rose e Finn possuem em comum, o que aumenta ainda mais a minha vontade de apresentar eles. Na minha concepção, Finn e Rose são praticamente almas gêmeas. Ambos formariam um equilíbrio e seriam o que o outro precisa.  Eu só preciso criar um clima entre eles e marcar um encontro entre nós três. Com a vinda de Finn, talvez eu invente uma ou outra mentira e uma saída para eles se conhecerem e perceberem que são o par mais perfeito que já vi na minha vida. Hoje eu posso conversar com ele para ver quanto tempo ele vai ficar e me virar para fazer esse encontro acontecer.

— Tem planos? – perguntei de supetão, movida pela força do amor.

Costumamos contar os planos do final de semana uma para a outra. Rose possui uma vida bastante movimentada e tem coisas marcadas com semanas de antecedência, possui um verdadeiro cronograma da semana e do mês.

— Para hoje não tenho nada, mas amanhã tenho uma reunião de noite.

— Eu também tenho uma reunião amanhã! – digo feliz, não sei porque, mas estou. – Mas só lá para as nove da noite. Hoje eu vou passar a noite e a madrugada conversando com o meu primo.

— Aquele que você vive falando?

— Exato, o Finn. – estamos, literalmente, a cinco passos dos nossos carros, preciso ser rápida e direta. – E você só tem planos para essa reunião de noite?

— Sim.

— Vai passar a tarde sem planos?

— Sim, em casa. Por que? – Rose e eu paramos na frente do meu carro.

— Quer ir amanhã de tarde no shopping? Sei lá, umas quatro horas e a gente volta a tempo da sua reunião e da minha.

— Por mim tudo bem. – envolvi seu corpo em um abraço rápido. Vai acontecer!

— Fechado, te aviso amanhã direitinho onde nos encontramos.

— Até amanhã, Rey. – Rose diz enquanto se afasta em direção ao seu Nissan pequeno.

— Até amanhã. – respondi ao entrar no meu fusquinha.

Fico fazendo todo o ritual de ligar o meu carro, com Rose esperando o meu fusquinha ligar para ligar o seu. Ela é muito atenciosa e cuidadosa, sempre espera o meu carro ligar para ligar o dela e saímos juntas, assim ela tem certeza que nenhum maníaco doido irá me atacar enquanto o meu fusca liga. É bom ter alguém além da minha família e do Supremo Líder que se importa comigo.

Por metade do caminho, luto arduamente com o meu rádio com o intuito de fazê-lo funcionar e pelo resto do percurso cantei aleatoriamente a música que vinha; desde Não deixe o samba morrer da Alcione até Christmas Kids do Roar. 

Eu não sei explicar, mas a parte “Você mudará de nome ou mudará de ideia e deixará esse maldito lugar para trás, Mas eu saberei, eu saberei, Eu saberei, eu saberei” mexe comigo de uma forma inexplicável. Porque eles me deixaram, talvez tenham mudado de nome, fugido de Jakku e dos seus problemas; mas eu, eu sempre saberei o que eles deixaram para trás. Porque eu sou o que eles deixaram para trás. Eu sempre saberei o que aconteceu e carregarei comigo até o final da minha vida.

Hoje não é um dia para ficar triste com isso, muito pelo contrário, hoje eu vivo algo que aquela garota sonhava. Um encontro com o meu irmão depois de um dia de trabalho e ansiosa pelas próximas horas de conversas. Então fora tristeza, fora machucados, fora traumas.

Meu celular vibra no banco do passageiro, como uma boa motorista, que possui um carro muito velho e que não pode bater, só leio a mensagem quando paro em um sinal.

Até amanhã, ninja.20:30

Eu mereço, sabe? Sumi por semanas e voltei do nada, o que me tornou uma ninja na concepção de Kylo. São implicâncias assim que me fazem adorar Supremo mais e mais. Mas a pergunta em questão deve ser, como alguém sente saudade de dar um “até amanhã”? Isso não é normal não, mas é bom e me faz bem saber que amanhã ele ainda vai estar aqui comigo.

Até amanhã ♥20:33

Estaciono o carro na minha vaga e sigo saltitante para casa.  Finn e Kylo afastam os meus pensamentos sobre minha família biológica. Kylo por motivos óbvios, não consigo pensar em coisas tristes ao seu lado, só há nós dois. E Finn é mais simples, eu estive esperando pelo meu primo/irmão por anos; ele é os meus dias de uma primavera fresca, ensolarada e feliz. Se fosse descrever Finn como algo, seria como música. É aquilo que me alegra, me motiva e eu amarei por toda a minha eternidade. Meu, e da Jannah, irmão.

Pulando dois degraus, fico imaginando por onde começar a Finntalização – momento em que atualizo ele sobre tudo da minha vida – e o que iremos fazer enquanto ele está aqui. Cada segundo será importante e feliz para mim e eu quero que para ele também seja assim.

Talvez tenha quebrado o recorde de: Menor tempo em abrir uma porta. E eu me orgulho bastante disso. Meus olhos varrem cada centímetro da casa em busca do meu irmão, cada canto é vasculhado. Por sorte os presentes estão intactos em cima da estante, a única coisa diferente do normal é a figura masculina sentada no meu sofá. Reconheço de imediato o homem com traços de Yarvin sentado no meu sofá, desde seu cabelo pretos como a noite até sua pele bronzeada.

— Poe?


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Notas finais do capítulo

Dale Moreno! Vulgo Poe.
Sobre o capítulo e a historia: Eu gosto que o Finn deu alguns empurrões para uma Rey temerosa nos filmes, como incentivar ela a sair de Jakku.
Eu quero isso, a evolução da Rey nos filmes. Que foi de uma garota presa nos temores e esperanças do passado para uma Jedi livre das amarras de Jakku.

♥-♥

Esse capítulo é para a minha irmã, Sabryna, eu sei que você nunca chegará a ler isso, mas eu quero deixar aqui gravado pelo menos 0,1% (De 100%) do meu amor por você. Você me ensinou muitas coisas, entre elas a amar alguém ao ponto de destruir a humanidade só pelo o seu bem estar. Eu sou o Darth Vader/Anakin Skywalker por você. Ao mesmo tempo, eu sou o seu Obi-Wan Kenobi e você o meu Anakin Skywalker.

PS: Se você falar mal da minha comida de novo, eu vou colocar açúcar ao invés de sal.



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