EndGame escrita por Helly


Capítulo 7
Nível VI. Fácil


Notas iniciais do capítulo

Era para ter postado ontem, mas aqui no RJ deu muito calor ultimamente e não pude ficar muito tempo no meu quarto porque tenho problema de pressão baixa, mas revisei metade e resolvi o problema que estava empancando o 8 e o 9.

O próximo deve demorar, mas eu já estou quase no final. Fé no pai que até o final do mês eu posto, ou só mês que vem. Eu vou escrevendo e postando os capítulos. Geralmente faço os dois próximos capítulos ao mesmo tempo. Então já comecei o 8 e o 9 há tempos e estou terminando o 7, que fazia par com o 6.

Creio eu, que este seja o melhor capítulo já escrito por mim.
AVISO: Não consegui colocar a imagem do capítulo aqui, não sei porque e, cá entre nós, é a melhor das capas.

E só para constar, porque nunca tinha colocado aqui:

……※……
Sonho/Lembranças

»»×»»
Quebra de tempo muito grande

»» »» »»
Quebra de tempo em minutos ou horas

«»×«»
Quebra de tempo curta 

»»»»ↄ««««
Mudança de POV



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“Poderia ter dito que este dia estava chegando

Eu digo seu nome como se eu pudesse telefonar

Você está meio em revelações

Gostaria que você nunca me deixasse ir”

Bad Idea – Dove Cameron

 

REY

 

Em Star Wars existe um personagem cheio de ambiguidade chamado Darth Vader. Ele é um NPC, a abreviação em outra língua de Non Player Characters que por sua vez significa Personagens Não-Jogáveis. É um personagem para quem gosta de treinar, ou jogar sozinho, todos duelam ao menos uma vez contra ele; seja da resistência, seja militar.

Não se sabe muito sobre a história dele, só que ele encontrou o amor ainda jovem, se casou com a mulher dos vitrais, ela engravidou e morreu de algo relacionado ao coração. Toda essa dedução é feita com cada vitral dela que aparece desde que o jogo foi lançado ainda nos consoles, os vitrais ficam espalhadas por todo o jogo e a maioria delas fica no campo de batalha desse NPC – um bairro desolado em um planeta desértico.

Aí entra a ambiguidade dele, na história e nos duelos. Antes de ser um militar ele era da resistência, o melhor guerreiro e piloto, essa é a única informação concreta que se tem dele. A cada atualização da década, ele vem de um jeito diferente. Às vezes ele vem como um guerreiro que se arrepende de ter se juntado aos militares e quer voltar a ser o homem que a mulher dos vitrais tanto amou. E às vezes ele vem como um guerreiro sanguinário que quer destruir tudo que consegue, porque, no fundo, desde que ela partiu, uma parte dele se foi e a que ficou foi destruída pela vida. Mesmo quando ele vem como militar, ainda há esse traço nele que nunca sai, essa parte da resistência e da mulher que tanto ama dentro dele.

Por isso ambíguo, são dois lados incertos, com múltiplos sentidos. Quando ele é Darth ele usa um capacete robótico preto sinistro e um traje preto robótico igualmente boladão. Quando ele é Vader, ele usa um traje preto, com uma aparência mais leve e de pano, e não utiliza nada na cabeça. Seu cabelo é um tom escuro de loiro, seus olhos azuis como o céu e uma leve cicatriz no rosto.

Falam que esse personagem foi inspirado no criador do jogo, Anakin Skywalker, e a mulher dos vitrais seria sua esposa, que morreu de ataque cardíaco, já na casa dos cinquenta, Padmé Amídala. A aparência delas é a mesma, por isso todos acreditam nessa teoria.

Por que estou dizendo isso? Bem, por causa do meu Darth e, ao mesmo tempo, o meu Vader. O meu eterno guerreiro ambíguo, Kylo Ren.

Kylo é uma pessoa de sentido múltiplo, ambíguo. Ao mesmo tempo que é o homem carinhoso, gentil, engraçado e parceiro do chat; é o homem sério, desinteressado com os outros seres vivos e o CEO gélido. Múltiplos sentidos.

Qual lado terei que encarar? Não faço ideia.

Aceno do outro lado do restaurante. Creio que todo mundo tem um tio doido das ideias, às vezes ranzinza e às vezes zoeiro. O meu é o tio Luke, um tio mais alternativo que muita banda Indie.

Aproximo da mesa feliz só por vê-lo. Meu tio é uma grande inspiração para mim, é formado em inúmeras coisas, mas optou seguir a vida acadêmica e é reitor de uma renomada universidade de filosofia em Tatooine. Vive dizendo que rodou, rodou e rodou; e acabou escolhendo o que o pai mais criticava.

— Como você está? Continua na mesma altura. – faz dois anos que não o vejo, geralmente envio um e-mail por mês contando tudo que faço e aconteceu. – Sua mãe disse que você está passando por um momento difícil na adaptação e que foi machucada por um amigo. É verdade?

— Ela contou para todos?

— Talvez. – pelo tom de voz dele posso deduzir que sim, mamãe contou para todos.

Tá tudo bem o tio Luke saber, ele sempre sabe o que dizer e como dizer. É quase um mestre dos magos sem paciência. Se bem que o tio Luke é o meu mestre.

Ganhei de presente dele, aos quinze, aulas de esgrima e desde então nunca parei de fazer. Toda vez que nos encontramos acontece um duelo sem misericórdia, em resumo, todas as vezes eu apanho enquanto ele chama a minha atenção. Tio Luke não tem pena de ninguém.

— Gostaria de falar com o seu mestre? Ou prefere conversar em uma quadra?

E levar tapas na mão? Nem pensar! Cada erro meu ele revida com um golpe, ou então me faz correr ao redor da quadra umas dez vezes. Meu tio daria um ótimo instrutor de Crossfit.

— O senhor nunca contou para ninguém o que eu lhe dizia. – não é uma pergunta e sim uma afirmação.

— O que você me diz é entre eu e você. 

— O senhor também nunca contou para os meus pais, nem quando eles ameaçaram arrancar sua alma a dentadas.

— Como disse a muito tempo, o que minha discípula diz, fica entre mestre e discípula. – seu sorriso realça as rugas que surgiram sem que percebêssemos. Tio Luke envelheceu bem. – Um mestre nunca sai por aí espalhando o que o seu aprendiz diz.

Tio Luke costumava dizer isso e que aprendeu muito com erros passados e não voltaria a errar da mesma forma de novo. Ele é um mestre em vários sentidos e sabe dar os melhores conselhos de forma parcial e crua.

— Que tal a gente fazer o mesmo esquema que papai e Han?

— Te jogar dentro de um lago e esperar que você milagrosamente aprenda a nadar? – isso realmente o assusta até hoje.

— Pedir a comida e conversar enquanto ela não chega.

— Bem mais normal, a velhice está fazendo bem para aqueles dois birutas. – fico rindo de suas palavras. – Eu soube que aqui vende um salmão magnífico e não se preocupe com o valor, o seu mestre paga tudo.

— O suborno não envelhece. – era assim que ele me convencia na adolescência, oferecendo comidas que mamãe não me deixava comer.

— Na verdade isso é algo de família. Meu pai costumava fazer o mesmo comigo e com a minha irmã e consequentemente com o filho dela. – sorrindo nostálgico, ele deixa o cardápio na mesa. – É a forma que ele criou de estabelecer um local seguro, um momento bom e agradável, para podermos conversar tranquilamente em um local onde não havia nada além de nós. O irmão mais velho dele fazia isso com ele e depois comigo e com a minha irmã.

— E o senhor faz comigo.

— E você não é a minha sobrinha favorita? – fico com um biquinho devido o sorriso contido.

— Salmão. – ponho o cardápio na mesa.

— Ótima escolha, e de entrada?

— Tio, só o almoço e a sobremesa.

— Tá bom, tá bom. – erguendo alguns centímetros a mão, tio Luke chama o garçom. Não leva nem um minuto, sequer trinta segundos, para o garçom chegar. – Dois salmão grelhados, um vinho tinto e uma Coca-Cola.

Seu olhar absurdamente azul recai sobre mim. Sua concepção sobre Coca-Cola não é a das melhores e chega a ser uma ofensa ter que almoçar comigo e ver um copo na mesa. Só que o tio Luke é como os meus pais e Han, né, muito amor e mimos.

O garçom sai com a comanda e eu arrumo o meu vestido vermelho. Deixo a bolsa preta na cadeira que há entre nós dois e observo o recinto. Há inúmeras mesas só para duas pessoas, não entendo porque estamos em uma para três; tio Luke é peculiar, então não há muito que estranhar.

Novamente estou sentada perto de uma janela enorme com vista para a rua. É um local bem chique o restaurante, geralmente tio Luke me leva a lugares chiques e caros, o oposto do bistrô e do padrinho. As paredes daqui lembram as paredes de castelos, as cadeiras são de madeira talhadas a mão e as mesas são cobertas por seda branca. Tudo aqui grita podre de rico.

— Então, sobre o que começamos a conversar?

— Você iria atrás de conhecer alguém que é presente na sua vida? Mas presente em um sentido virtual. – vamos começar pela ponta do iceberg.

— Você sabe os riscos disto? Sabia que o tráfico humano começa assim? Você quer ser traficada?

— Eu sei. Mas… – coço minha nuca. – Eu meio que já conheço ele pessoalmente, por vista, e sei que não é um psicopata ou assassino. Eu acho. – sussurro a última parte.

— Rey, precisamos repassar a história da menina que foi desovada na praia do meu condomínio?

— Não. – por isso que nunca o conheci pessoalmente antes. – É que ele não é um criminoso, psicopata ou traficante. Mal educado? Com certeza. Mal humorado? Também. – nada disso o tranquiliza, para convencê-lo só citando fatos bons. Se Han a conhece, há grandes chances de tio Luke também conhecê-la devido o ciclo de amigos serem os mesmos. – Eu não sei se o senhor a conhece, mas, a presidente da empresa que trabalho o conhece.

— Leia o conhece?

— O senhor tem intimidade para chamá-la assim? – que mundo é esse que todo mundo conhece A Leia Organa pessoalmente e cheios de intimidade?

— Ela é a minha irmã gêmea. – escancaro a boca descrente. – Volto a repetir, Leia o conhece? 

Eles não são nada idênticos, praticamente o oposto um do outro. Tio Luke é loiro de olhos azuis e Leia Organa tem olhos castanhos e cabelos igualmente castanhos. É como dia e noite, sol e a lua. É o maior plot twist da minha vida depois de O sexto sentido.

Será que ele conhece Kylo? Se conhece, será que sabe porque ele é tão fragmentado? Será que entende o porquê de existir dois dele?

— Sim, ela almoça todo dia com ele. – mexo no meu cabelo inquieta. – O nome dele é Kylo Ren, o senhor o conhece também?

— Kylo Ren? – toda a atenção no restaurante se volta para nós após o seu grito. – Kylo Ren? K-Y-L-O R-E-N? – concordo com a cabeça, começando a ficar preocupada com a sua possível, bem óbvia, síncope. – Alto, um pouco musculoso, cabelo preto longo, olhos castanhos que nem os da mãe, um pouco revoltado, mas isso é herança de família; e um ótimo esgrimista?

— Pelo visto o senhor também o conhece. – percebo pela parte envolvendo esgrima, são poucos que sabem que Ren prática.

— Querida, eu quero saber os detalhes. – tio Luke joga minha bolsa para sua cadeira e senta do meu lado. – Não poupe detalhes.

— Ele é uma pessoa ruim?

— Não. – sua mão bate na minha duas vezes. – É alguém machucado pela vida.

— Como assim?

— História longa e complicada. Como vocês se conheceram? Já conversaram sobre se encontrar? Ele sabe quem você é? Sabe que você é a pupila de Han? De onde surgiu essa ideia de se conhecer pessoalmente? Veio dele? Há quanto tempo vocês conversam?

— Respira. – seguro suas mãos preocupada, tio Luke é velho, né.

— Eu estou respirando. A ideia de se conhecer veio dele? Onde vocês se conheceram? Foi na empresa da Leia?

— A gente se conheceu no jogo há uns dez ou nove anos atrás. Ele não sabe muito sobre quem eu conheço e ele não me conhece pessoalmente, diferente de mim.

— Conte tudo do princípio, Rey, e como se desenvolveu... isso.

E lá vamos nós mais uma vez, pela terceira vez. Diferente das outras vezes, desta vez não omito ou modifico algo. Eu só conto toda a verdade, chega a ser libertador e esclarecedor. Falo tudo desde que o chamei no chat pela primeira vez, a forma que a nossa amizade evoluiu para isto e como me sinto... Bem – ainda não sei como denominar – ao seu lado. Conto também da proposta e o porquê de não ter respondido – medo de ser presa a mando do CEO da empresa.

— E eu não sei o que responder a ele, caso responda. Tenho inseguranças em relação a nossa conversa.

— Por causa da forma que ele falou com você?

— Isso também. Eu meio que sinto medo desse lado dele me mandar para a cadeia. Eu sei que o meu amigo não me mandaria e compreenderia o meu lado, mas eu desconheço esse homem com quem Leia almoça.

— Todos desconhecem, querida. – suspirando tio Like encosta nas costas da cadeira. – Ele anda tão mal-educado e ranzinza ultimamente.

— Pois é. – quem suspira cansada dessa vez sou eu.

— Você deve conversar com ele! – tio Luke solta repentinamente em um tom elevado.

— Tio, o senhor está tão aleatório nos últimos minutos.

— Felicidade, querida, felicidade.

— Por viajar? – é mais fácil o mundo acabar do que o meu tio viajar.

— Por ver uma possibilidade de ajudar alguém a ser feliz novamente. Parando para pensar é a possibilidade de duas pessoas serem felizes.

— O senhor realmente gosta dele. – o que é peculiar, porque, aparentemente, a maioria morre de pavor dele.

— Ele foi meu discípulo também, sabia? Quando virei professor de esgrima, ele foi o meu primeiro aluno. – sorrindo nostálgico, seu olhar divaga para tempos outrora bons. – É impossível não gostar dele.

Eu só... Não reajo, não esboço nada. Somente fico perplexa com as revelações. Nunca ouvi falar de um outro aluno de esgrima, julgava ser a primeira e única. É interessante termos mais uma coisa em comum.

Tio Luke realmente possui sentimentos bons em relação a Kylo, mas há essa tristeza sobre o homem que ele se tornou. E eu não posso julgá-lo por isso, porque ele não sabe o que eu sei. Supremo é como a melhor parte de mim, Kylo Ren é isso... Um desconhecido tão conhecido intimamente. Ele é uma cebola cheia de camadas, cujo fato de fatiar eventualmente traz um bocado de lágrimas para o corajoso, e inexperiente, com a faca.

Tenho essa lacuna, sobre a existência dessa máscara do homem frio. Creio que a única pessoa ao meu alcance que pode sanar minhas dúvidas esteja na minha frente, pensando sobre o mesmo homem que eu.

— Como ele ficou assim, tio? É por causa da briga com o pai dele?

— Você sabe sobre a briga?

— Sim. Foi assim que nos aproximamos.

Não disse tudo detalhadamente, até porque são nove anos e lembrar tudo que aconteceu em nove anos é difícil – é metade de uma vida, se pararmos para pensar. E também acreditava ser algo pessoal dele e que muitos não sabiam, mas pelo visto todos devem saber.

— Você sabe quem são os pais dele? – nego com a cabeça. – Ótimo, melhor você conhecê-los nas festas de final de ano.

— Eles vão estar lá? – minha vontade de ir nessa festa despenca mais ainda, olha o tipo de gente que irá. Se padrinho não fosse tão amado e importante para mim, eu não iria ao mesmo local que esses monstros.

— Eles sim, Kylo não. – não sei se fico aliviada ou angustiada. – Tudo que aconteceu, entre eles, não passa de um mal entendido.

— Pelo que sei não tem mal entendido e sim palavras feias que um pai nunca deve dizer para um filho.

— E se eu te contar que o pai dele nunca disse essas palavras para ele? – fico um tempo parada tentando absorver suas palavras.

— Mas ele tem certeza de tudo, isso é algo que realmente o machuca. Não há essa possibilidade. Se houvesse, ele se agarraria nela e nunca soltaria. Kylo ainda. – interrompo minha frase no momento em que percebo o deslize que cometeria.

Kylo ainda ama o pai e isso é vergonhoso para ele, algo que ele não disse nem para mim. A anotação sobre esse amor sem fim e pulsante era como um expurgo de algo que ele odeia admitir até para si.

— O pai dele era o seu herói, é traumatizante ouvir do seu herói que você é uma decepção. E decepção foi a menor das ofensas para ele naquela briga.

— Você realmente o conhece.

— Como se fosse uma parte de mim.

— E eu conheço o herói, sei que não foi sua intenção dizer aquelas coisas para Be... Kylo. – tio Luke coça a cabeça rindo sem graça. – Essas mudanças dele ainda me confundem.

— Kylo é instável? – troco de assunto.

— Depende. Para mim, um claro sim. São dois lados distintos se digladiando sobre o que sentem por mim. Para a mãe, que é o mesmo caso que o seu, só há um homem bem estável e leal. Ele pularia na frente de um trem por aqueles que possuem a sua lealdade.

Meu amigo é assim. Aquele que é a minha outra metade, realmente faria de tudo para me proteger; como eu faria por ele.

— É, ele é idiota nesse nível. – respondo-o chorosa, não preciso me ver no espelho para saber que estou sorrindo melancólica.

— Fala com ele. – tio Luke diz ternamente. – Sabemos que isso será o melhor para você.

— Eu quero muito. – passo a língua sobre meus lábios em uma tentativa de não parecer uma chorona chata.

Sou salva pela comida que chega. Jantamos em silêncio e não é sufocante, talvez porque a comida realmente é tudo isso que falam que é. Sinto uma vontade enorme de gemer a cada colherada, é como se a melhor felicidade da minha vida virasse comida e eu comesse ela para sempre em um explosão avassaladora. Nunca mais irei comer esse prato novamente, então é melhor aproveitar.

— Sobremesa? – pergunta o garçom ao retirar nossos pratos.

— Dois Suflê de chocolate. – tio Luke espera o garçom sair para voltar a falar. – O que de pior pode acontecer?

— Ser presa e demitida?

— Isso não seria ruim. 

— Ah, por que? – questiono rindo.

— Porque você finalmente estaria fazendo algo que você quer e não algo que faz puramente pelos seus pais e Han. – fico imovel, talvez por medo de mais uma verdade ser jogada na minha cara caso eu me mova. – Não digo essas coisas só em benefício dele, mas do seu também.

— Que? – agora estou rindo de nervoso.

— Ah, perdão. Ainda é cedo para este tópico? Achei que estava entrelaçado ao fedelho. – continuo imovel, apavorada por ele saber a verdade. Mas como meu tio sabe disso? Não é tão óbvio assim para os meus pais e Han, por que com ele é? – Você parece ter muitas perguntas, mas vamos focar no problema que vem te afetando a pouco tempo, Kylo.

Não sei se tenho coragem para falar isso, mal sei se tenho coragem para falar disso comigo. Há coisas que não quero nunca admitir ou lembrar que existem, essa é uma delas. Isso ainda não, não nesse instante que decidi lutar por essa vida que levo.

— Você me lembra muito ele, quando o mundo ainda não tinha destruído ele. A única diferença é que ainda há resquício de uma inocência adorável em você.

— E ele não tem?

— Não sei. Pela forma que você fala dele, creio que Kylo possa ter e não demonstrar. Ultimamente ele vem se escondendo por medo de se machucar, o que é compreensível de certa forma. Por isso que creio que vocês deveriam conversar, porque ele é ele com você e ele não é ele com qualquer um depois da briga com os pais. – tio Luke sorri vitorioso. – O homem da empresa surgiu devido a essa briga e você é alguém importante para o verdadeiro fedelho e não o personagem que ele criou para se proteger e evitar que a dor daquela briga aconteça novamente, Kylo Ren. – droga, essa me pegou despreparada. A forma lenta que ele diz faz parecer que ele está saboreando o nome em sua boca e averiguando se é um bom prato.

— É. – to sem palavras ainda.

— Agora sobre a proposta de trabalho que ele ofereceu a você. O que você sente em relação a ela?

— Bem… Eu não tinha parado para pensar nela por si só.

— É uma boa proposta de trabalho e você disse que eles serão maleáveis com o seu horário de trabalho para não causar divergências.

— E o valor pago também é bom. - adoro quando as rugas surgem no momento em que ele sorri amorosamente, o tempo foi bom com o tio Luke.

— É uma proposta maravilhosa, o que a impede de responder um grande e feliz “sim”?

— Ele. – respondo sem graça.

— Você precisa parar de basear as suas escolhas em pessoas. Principalmente no que elas querem, como sua faculdade. Suas escolhas tem que ser o que você quer de verdade.

Ele sabe, aquilo que evito. A minha primeira faculdade foi algo que eu realmente amava e queria trabalhar, meu sonho era trabalhar com carros e qualquer coisa que envolvia; por isso fiz Engenharia Mecânica. Mas meu pai e Han falaram tanto dessa faculdade e como ela era perfeita para mim, o tanto que era certo e que eles me viam fazendo ela; eles até me levaram em simplórios e palestras que envolviam o meu curso atual. Eu só não queria decepcionar eles, então eu aceitei fazer uma segunda faculdade após a minha graduação. Achei que as coisas com o tempo iam passar e não ia evoluir muito, só que eu estava errada. Agora estou com tudo traçado e toda entrelaçada nessa área que todos dizem ser ideal para mim. Tudo porque tive medo de decepcionar e soar ingrata, queria tanto agradar eles e mostrar que eu não merecia ser deixada para trás de novo.

E é isso que me faz perceber o porquê de voltar a falar com Kylo Ren, mesmo que só para jogar ou falar bobeiras. Não foi tio Luke, não foi padrinho ou meus pais. Foram os demônios que temos em comum, ser deixados para trás no menor sinal de erro ou medo. Eu fui deixada para traz inúmeras vezes por desconhecidos, Kylo foi deixado para trás pelos próprios pais – que nem eu também. A mesma dor que dói em mim e me aprisiona, dói nele e o aprisiona.

— Eu gosto do meu curso.

— E por que você não me fala dele com a mesma empolgação que falava sobre a sua primeira graduação?

— Eu falo. – continuo respondendo no mesmo tom cabisbaixo.

Eu fiz o que fizeram comigo, só devolvi por medo de um único erro meu e dele. Eu fui o meu demônio por causa de um medo, não tive a coragem que todos dizem que possuo e eu sei que possuo. É horrível a sensação de se desconhecer devido a um medo sufocante que nos cerca.

— Eu só quero o melhor para você e que você não viva as sombras de outras pessoas, eu já vi como isso destrói lentamente uma pessoa. – pelo olhar compreendo que ele entendeu que não estou bem. Concordo com a cabeça. – Que tal você resolver primeiro com ele e depois pensar com carinho na proposta.

— É uma boa ideia. – eu não sei nem por onde começar a me desculpar, não sei como explicar a minha doideira toda; sei nem por onde respondê-lo.

Ficamos em silêncio até os suflês chegarem. Comemos em silêncio, a sobremesa do bistrô era bem melhor. A mesa treme devido o celular dele apitar e vibrar sem parar, sorrindo envergonhado ele pega o celular. Por minutos a fio tio Luke só mantém os olhos vidrados no celular. Termino de comer e o espero soltar o celular e voltar a comer, realmente o teor da mensagem mexe com ele.

— O que foi? – pergunto preocupada com o que possa afetar um homem como ele.

— Pensando sobre a vida e como ela age. – tio Luke chama o garçom. – Pode levar os pratos e trazer a conta, por favor.

— Aconteceu algo?

— Uma epifania me atingiu, querida Rey.

— Epifania? Qual?

— Tenho uma ideia melhor para você. – sua voz é elevada em êxtase. – Que tal você pensar mais sobre como falar com Kylo, sabe? Contar a sua versão mais detalhada e mais elaborada para não machucar ambos. E sobre a proposta, você pode ficar pensando até as festas de final de ano. Que tal?

— Eu preciso conversar com ele, tio. Não posso mais evitar isso.

— Você pode conversar com ele, dar uma desculpa enquanto pensa e desenvolve como irá explicar tudo isso e falar com ele. Já sobre a proposta você diz que irá responder no dia trinta e um e até esse dia você reflete sobre a proposta separadamente. Tira um tempo para pensar na proposta, nem que seja por trinta minutos por dia.

— Por que?

— Você confia em mim? – que pergunta estranha.

— Claro. – não há margens para hesitação na minha resposta.

— Então você só irá responder sobre a proposta dia trinta e um e só irá explicar tudo nesse dia.

— Por que? Por causa de uma epifania?

— Confie em mim e faça isso. É a única coisa que te peço. – literalmente.

Meu tio não é do tipo de pedir, sequer pede água quando chega na nossa casa. Han diz que quando ele abre a boca para pedir algo é o prelúdio da merda. Papai diz que é engraçado Han achar isso, porque a única vez que Luke pediu algo a ele, a consequência foi ele conhecer a esposa. Padrinho sempre me alerta para evitar este momento, só que mais uma vez não quero soar ingrata.

Ele me adotou também, sabe? Não foram só os meus pais, a família toda me adotou e isso é tão importante para mim. Tio Luke me trata como se eu fosse sangue do seu sangue, como se eu tivesse existido aqui o tempo todo e me ama da sua forma maluca-as-vezes-agressor-de-criança-e-depois-mulher-utilizando-um-galho-não-que-ele-me-acertando-com-um-galho-tenha-me-deixado-em-estado-de-alerta.

— Tudo bem, eu faço isso.

Será bom, me dará tempo para tudo. Agora só preciso pensar por onde conversar com ele. Quando adicionei o seu número, não pude deixar de notar que ele possui Skype registrado naquele número – diferente de mim, que registrou com o mesmo email idiota que utilizei no jogo anos atrás. Esse é um bom jeito de conversar com ele, de me manter no anonimato até que eu termine a promessa do tio Luke. Após isso, eu posso conversar à vontade com ele no meu Whatsapp. O Skype é a melhor forma de manter tudo em um local seguro para mim no trabalho.

— Muitíssimo obrigado, querida. – o garçom chega e logo tio Luke paga 170 reais em dinheiro, esse salmão era o que? Um peixe ator que participou do filme A pequena sereia? – Vamos?

— Vamos. – levantamos e ele leva minha bolsa até sairmos do restaurante.

Paramos na calçada um de frente para o outro.  Pego minha bolsa sorrindo para ele. De certa forma ele me ajudou hoje, me deu um caminho para seguir. Recebo toda contente o seu beijo na testa e seu abraço caloroso.

— A única coisa que te peço neste instante, Rey, é que você não desista dele e das suas vontades. – tio Luke se afasta sorrindo melancólico, suas mãos seguram a minha gentilmente. – Muitos já fizeram isso e se arrependem todos os dias por está decisão horrível. – recebo dois tapinhas leves na mão. – Creio que ambos sejam a salvação um do outro e que surgiu de algo puro e bom, assim como vocês. É uma bela amizade, não a perca. Você sim o conhece, melhor do que eu ou a minha irmã.

— Eu sei. E só terei que enfrentar o homem na empresa.

— O homem na empresa é um personagem que ele criou para se proteger. – pela primeira vez o vejo sendo mal educado e cortando a frase de alguém. – Você foi uma das poucas pessoas que ele se sentiu seguro o bastante para se mostrar de verdade. Talvez você seja a única a conhecê-lo de verdade, a ter alcançado o homem atrás da máscara.

— As vezes tenho medo disso não ser o suficiente.

— É mais do que o suficiente. O homem da empresa nunca conseguiria te prejudicar, não quando você é alguém estimado por Kylo. Nem a maior da dualidade conseguiria transpor ou prejudicar alguém que Kylo é fiel e estima.

— Como o senhor sabe? – enfio as mãos nos bolsos do casaco.

— Dá para contar em uma mão a quantidade de pessoas que ele deixou se aproximar dele e ele protege, você é uma delas. – mordo meus lábios para não chorar. – Bom, minha carona chegou.

— Tchau tio. – meus braços circulam a sua cintura e deixo que o seu queijo se apoie na minha cabeça e ficamos minutos assim. Após o nosso abraço a sensação que fica em mim é de estar leve, bem mais leve do que quando eu cheguei aqui. – Obrigado.

— Deixa eu ir, preciso encontrar Kylo antes de seguir viagem. – meu corpo inteiro para de funcionar, como se esse fato fosse o suficiente para me sobrecarregar e me obrigasse a desligar. – Diferente de você, não sou tão adorado assim por ele.

— Eu... Eh... Ele... Bem... Que? – fico rindo nervosa. Meu criador, estou com um vírus que me deixa disfuncional.

— Até as festas de final de ano, fedelha.

 

 

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“Amigos se separam, amigos se casam

Tendências mudam, boatos voam por novos céus

Mas eu estou exatamente onde você me deixou”

Right where you left me – Taylor Swift

 

KYLO REN

 

— A sua tia Maz mandou lembranças, disse que não vê a hora de você e eu conhecermos a filha dela. – meu coração se espreme todo, como se fosse esmagado por enormes mãos geladas.

— Eles conseguiram adotar uma criança?

— Ela e Han estão fazendo mistério, disseram que só irão contar tudo na festa de final de ano. Mas, – típico dela, a verdadeira rainha do suspense – contou que já estão com ela há mais de dez anos e que não é mais uma criança e não tem como tirar ela deles. Pelo menos na idade ela já é grandinha, para sua tia continua sendo a menininha magrinha que chegou acanhada em sua vida; parafraseando a sua tia.

Respiro fundo para afastar o choro. Eu deduzi, depois de Luke e Lando me tratarem como vilão, que eles dois também me tratariam igual aos outros, até porque não falava direito com eles nos anos antecessores ao meu rompimento com os meus pais. Odiei virar o vilão e fui tão machucado pelas palavras dos meus tios, que decidi não falar com o tio Chewie e a tia Maz. Porque eu sabia que não suportaria ouvir o que eles tinham a dizer sobre mim, seria a minha ruina total de certa forma. Eles são os que mais me amavam e mimavam, nem o meu tio de sangue era como eles. Eles eram os meus pais e a minha família saudável quando nem os meus pais eram. Teve uma época que desejava que eles fossem os meus pais biológicos, ou simplesmente rogava para eles me adotarem. Tenho pavor até hoje de ver mágoa e desgosto no olhar deles, por isso os evito há anos. Com eles é tudo tão diferente, é como minha mãe e Tai. Meus tios loucos pela natureza e fazendas sempre tiveram um lugar especial no meu coração e isso nunca vai mudar.

Eles perderam tantas crianças por tantos motivos tristes, que eles terem uma criança há mais de dez anos me deixa em êxtase. Eles finalmente conseguiram realizar o sonho de serem pais, isso aquece cada uma das partes do meu coração fragmentado.

— Ela disse que está ansiosa para você conhecer a sua prima. – mamãe segura minha mão sorrindo amorosamente. – Sua tia disse que ela e seu tio continuam te amando da mesma forma e que querem muito que você e sua prima tenham a melhor das relações, até porque a sua prima também joga Star Wars. – belisco meu nariz rindo.

Saber que eles querem me incluir nesta família, como primo, me faz pensar que fui precipitado, como Rey avisou que poderia estar sendo, com eles e julguei tudo no calor do momento e com o medo gritante da rejeição.

— Sabia que meu tio viciaria a filha também. Aposto que ele a leva para convenções. – assim como fazia comigo no começo da minha adolescência. – Eles devem estar muito felizes, certo?

— Estão. – eu esperei tanto para o momento em que eles realizariam esse sonho. – Han disse que sua tia quase arrancou o braço dele semana passada só porque achava que a menininha dela estava triste. E que seu tio fica todo risonho perto dela. Seu... – mamãe se contém antes que o chame daquilo que odeio ouvir. – Han disse que eles estão empolgados para que você e ela se conheçam e criem uma amizade, porque a sua prima é que nem você. Vive no jogo, não tem muitos amigos e é amorosa.

— Quando é essa festa mesmo? – pergunto sobre a festa que ela vem conversando comigo nas últimas semanas.

— Começa dia vinte e três e vai até o dia três. Seus tios também vão, até o seu tio Luke.

— Uhum. – mamãe ergue somente a sobrancelha esquerda em advertência. – Que bom.

— Ele veio antes, hoje. – sua expressão muda para aquela que ela costumava fazer quando quer me dar ordens e evitar que eu seja mal-educado. – E deseja conversar pessoalmente com você antes de ir embora. Seu tio informou que estará no Restaurante Imperial e deseja encontrá-lo lá às três da tarde, ele já vai estar lá com uma companhia.

— Vou estar ocupado.

— Ben. – o primeiro sinal de advertência foi soltado.

— A senhora sabe que sou um homem ocupado e cheio de reuniões de tarde.

— Até para ir nas festas de final de ano e conhecer a sua prima?

— Para isso não. Irei nas festas de final de ano. – tranquilizo mamãe. – Estarei ocupado hoje, de verdade, o novo projeto vem me rendendo muitas reuniões e a senhora sabe como é importante. Infelizmente estarei até tarde na empresa.

— Vou avisar a ele. – mamãe ri como se a minha desculpa não bastasse para ela e para ele.

 »×«

 

Durante a tarde toda fiquei focado no trabalho para não pensar nele, fiquei de certa forma aliviado quando anoiteceu. Imagine a minha surpresa com o velhote surgindo às oito e pouca da noite no meu escritório ao lado da mamãe. Não tive escapatória, não com mamãe me olhando cheia de medo.

— Veja só como você envelheceu.

Não era bem assim que imaginava nosso reencontro, é bem melhor. Se me lembro bem, ele disse que eu era uma Marionete do Anakin – não que eu ainda guarde grande rancor disso, imagina – e ingrato com eles e com os meus pais. Interessante a visão dele de ingratidão, me viu ser trocado por trabalho inúmeras vezes e mesmo assim o vilão sou eu.

Estou no ponto que Luke Skywalker disse que eu nunca alcançaria e eu alcancei facilmente – com a ajuda da Rey, que não me respondeu ainda. Me tornei tudo que meu avô me criou para ser e isto basta para mim, chega de tentar dar orgulho e amor para pessoas que não me tratam com o devido respeito.

— Fedelho. – sua voz solene diz o "apelido" que ele me deu quando criança, ele e Han são "criativos" na hora de apelidar.

— Skywalker. – não quero chamá-lo de tio, mas chamá-lo pelo nome soa estranho demais. E também mamãe está do outro lado da porta e pode ouvir.

— Como você está? Sua altura mudou, está maior do que na última vez que o vi. – faz treze anos que não o vejo, geralmente enviava um e-mail por mês contando tudo que fazia e acontecia na minha vida. Quando brigamos foi por telefone e foi a pior ligação que já tive, depois disso cortei contato e qualquer tentativa dele de contato. Ainda dói. – Sua mãe disse que você está passando muito tempo no trabalho e mal tem tempo para si, ou para fazer amigos. É verdade?

— Ela contou para todos? – Skywalker ri de algo incompreensível para mim.

— Talvez. – pelo tom de voz dele posso deduzir que sim, mamãe reclamou com todos. – Gostaria de conversar comigo como o seu mestre? Ou como o seu tio? – isso dói, mais que uma dor física. Essa palavra me corta como uma faca bem afiada entrando em minha garganta lenta e dolorosamente.

Aos onze ganhei de presente dele aulas de esgrima, com ele sendo o meu professor. Como estávamos morando na mesma casa, do avô Anakin, não tive escolha além de aceitar. Naquela altura da vida eles eram os únicos que estavam presentes diariamente na minha vida, tudo que queria era impressioná-los e dar orgulho a eles – assim eles não me abandonariam que nem os meus pais.

Dos meus hobbies na adolescência, esgrima era o que eu era melhor. Venci inúmeros campeonatos e quase fui para as olimpíadas. Desisti de tudo quando percebi que nem mesmo indo para olimpíadas os meus pais se importavam ou vinham me ver, tinha dezesseis anos na época. Logo tratei de priorizar outro hobbie para chamar a atenção do meu pai e dar orgulho ao meu avô – corrida de carro.

Depois de quase morrer, durante a faculdade, com o meu segundo hobby, dirigir em rachas, voltei a praticar esgrima aos vinte e três. Após a minha briga com os meus pais e tios desisti de praticar, naquela época não tinha ânimo para nada – mal me levantava da cama. Foi ela que me salvou e resgatou o meu amor pela esgrima. Foi graças a ela que voltei um ano depois, da briga, para o ginásio de esgrima e nunca mais sai. É mais uma coisa que temos em comum e fico feliz de compartilhar com ela.

— É mentira, preocupação de mãe. – desconverso.

— Você continua péssimo em mentir.

— Se o senhor acha isso, – encosto nas costas da cadeira. – não posso fazer nada.

— Como anda a vida amorosa?

— Boa. – normal, nada fora do comum.

— E a esgrima? Sua mãe disse que você deve ir ao ginásio hoje.

Toda vez que nos encontrávamos duelávamos, em resumo, todas as vezes apanhava de um velhote. Skywalker não possui pena de ninguém, é um guerreiro velho feroz. Costumava admira-lo como o maior dos guerreiros do universo, era um moleque ingênuo e idiota.

— Verdade, continuo treinando mensalmente.

— Invicto?

— Invicto.

— Continua fora dos campeonatos?

— Sim.

— Sabe, eu tenho uma nova aprendiz. – suspeito quem seja e fico feliz que a criança deles saiba esgrima. – Adoraria ver vocês dois competindo, ela realmente é boa, assim como você. Chewie costuma dizer que vê você nela quando duelamos. Até os movimentos bruscos e tempestuosos são iguais.

Manteria minha imparcialidade e desinteresse em sua visita e suas palavras, mas isso é algo que quero saber e desperta o meu interesse. Diferente do irmão da minha mãe, eles nunca tomaram lado e nunca me machucaram. Muito pelo contrário, eu que me afastei quando entrei na faculdade. Eles sempre tentaram contato comigo e se preocupavam, costumavam mandar presentes por meio de Han.

— Ela já participou de alguma competição?

— Sim, a garota é realmente boa. – seu sorriso orgulhoso é o mesmo que ele usava ao falar de mim nos torneios. – Igualzinho a você, a diferença é que ela não se interessou em continuar competindo. Mas dos dois que participou, ganhou de lavada. Foram dois anos consecutivos e seriam três se não tivesse quebrado o braço.

— Deixou sequelas?

— Não, mas a fez passar mais tempo em Star Wars e seu hobbie mudou.

— O senhor sabe o user dela? – coço meu pescoço.

— Não, acho que só Chewie sabe. Eles jogavam juntos quando ela chegou.

Óbvio que jogavam. Se há algo que Chewbacca Wookie sabe, é como jogar Star Wars só para uma criança machucada não se sentir só. Essa é uma das melhores recordações que tenho.

— Ela é uma boa filha?

— A melhor que eles poderiam ter. É uma fusão peculiar e doida, mas mesmo assim eles amam aquele monstrinho sagaz. – meu antigo mestre sorri nostálgico. – Eles a defendem com a mesma devoção e amor que te defendem. Se vocês dois tacarem fogo no mundo, eles dirão a todos para olhar para o lado bom.

— Eles vão na festa?

— Infelizmente não, mas a sua prima sim e ela está bem empolgada para te conhecer. É como se ela te conhecesse há anos.

Às vezes converso com Jannah, temos idade próximas – trinta e trinta e três. Mas nos afastamos com o tempo, não somos mais tão íntimos como antes. E o traidor, bem, nunca fomos tão próximos assim; jogávamos no mesmo time e achava que seria assim até ele sair e depois surgir do outro lado da força. Ele fazia parte da minha equipe, era muito estimado por Phasma, que o via como um aprendiz, e para Hux era só mais um soldado que entrava e saia do top cinco.

Não sei qual é a concepção dela sobre mim, se é boa ou ruim. Não sei se ela foi contaminada com as loucuras dos meus tios e Han, ou se é como os pais dela. O mínimo que posso fazer pelos meus tios é ver o sonho deles se realizar, comigo sendo um primo amável e companheiro, e me esforçar para não cagar com tudo, como todos devem esperar. Quero ser o primo legal e vou me empenhar nisso.

Meu tio Chewie costumava vir à cidade só para me visitar, ele fez o papel de pai por muitas vezes e me ensinou algumas coisas que o meu pai deveria. Uma vez Han marcou de ir comigo em uma convenção de Star Wars e eu fiquei horas esperando por ele, que sequer ligou para desmarcar comigo, tio Chewie apareceu algumas horas depois e me levou na convenção e de quebra levou Tai também. Viajamos de carro, cantando músicas aleatórias da rádio, descobrindo histórias sobre as cidades que passamos e ele já tinha ido. A convenção em si foi nada comparada ao carinho e atenção que ele me deu naquele final de semana. É a melhor lembrança que possuo dos meus quatorze anos.

— Devo aparecer nas festas por alguns dias e conhecê-la pessoalmente. – não sei o que me motiva a dizer isso.

— Fedelho, você deveria abrir os seus olhos e observar ao redor. A resposta dos nossos problemas está sempre nos rondando. No seu caso, pode estar do seu lado. – ele sussurra uma palavra no final, mas não ouço ou compreendo.

— Bacana. – respondo com uma expressão fechada, para deixar claro que não abro espaço na minha vida para um cara que me chamou de pirralho mimado que não tem uma real expectativa de vida.

— Esse final de ano será uma experiência e tanto. – erguendo-se cansadamente da cadeira, Luke deixa claro que já não é mais aquele mestre de esgrima cheio de vida e ágil que eu tanto idolatrava. – Eu sinto que você terá uma grande surpresa boa, creio que depois dela você voltará a ser o meu aprendiz, Ben. O fedelho que é como o meu filho mais velho.

— Então eu estou bem mal de pai, visto que os dois me atacaram gratuitamente quando não fiz o que desejavam. – sua risada me irrita bastante.

— Você continua genioso que nem os seus pais. Por mais que você não creia, os seus dois pais, eu e Han, te amam tanto como Ben quanto como Kylo. – Luke sorri antes de dar as costas e sair. – Te vejo por aí, fedelho. 

Continuo imovel, com as suas palavras retumbando por mim. Amor, é estranho ouvir isso vindo dele e é difícil digerir essa frase dele. Ouço essa palavra de uma pessoa só, mamãe gosta de dizer às vezes o quanto ela me ama. Talvez ela pense que a qualquer momento irei embora e ela não quer viver sem falar isso para mim ao menos uma vez por mês – pelo menos eu sou assim e digo que a amo por isso.

Meu pai não me ama, ele foi bem claro sobre isso naquele dia. Luke também não me ama, se me amasse não teria dito que eu era uma grande decepção como aprendiz e sobrinho, que estava me tornando um maluco como o meu avô. Quem ama não ataca o outro sem misericórdia.

— Senhor! – Kandia balança duas pastas na frente do meu rosto. – É sobre o projeto com a senhora Phasma e o senhor Hux, o senhor pediu para vir correndo avisar sobre qualquer avanço.

— O que é? – passo as mãos no meu cabelo.

— Todos os membros dos militares que trabalham aqui já aceitaram.

— Bom, bom, bom.

Amor, ele sabe o que é isso? Sabe que o amor não machuca? Posso não ter vivido muitos amores, posso ter vivido alguns amores dolorosos, mas sei, do fundo da minha alma, que o amor não humilha um dos lados.

Amor era o que eu sentia por eles. O amor dessas relações vinha do meu lado, não do deles. Esse amor dele só me machucou e me humilhou, me fez me humilhar por eles e para que? Para descobrir que eu sou uma decepção de ser humano? Para não ser correspondido? Quando eu contar isso para Rey, ela irá rir tanto disso quanto eu estou rindo de descrença com a coragem dele de dizer de amor. Claro, isso se ela voltar. Porque, aparentemente, eu realmente sou uma decepção de pessoa.

— Senhor?

— Vou treinar esgrima. – ergo zonzo da cadeira. – Chame o motorista.

— E a agenda, senhor?

— Vem. – Kandia compreende que ela deve me seguir.

 

»         »        »

 

Não que eu goste de destruir a santidade do ginásio de esgrima, porém, essa nova técnica realmente sabe flertar, o que é raro aqui. Geralmente são homens velhos, ou mulheres jovens. Não há muitas mulheres abaixo dos quarenta e acima dos vinte e cinco.

Foi necessário muito esforço para me concentrar na esgrima, mais esforço ainda para retribuir o flerte. Ainda ouço Luke dizendo que ele e Han me amam, é horrível ser derrotado pelos meus pensamentos. A cada estocada que dava, pensava que era eu ali do outro lado e rezava que a ponta da espada atravessasse meu peito e tirasse esse sentimento de dentro de mim. Depois de sofrer muito e ser patético por mais de duas hora, optei – covardemente – em dissociar no menor indício de voltar a pensar sobre esse “amor”. Já que Rey não está aqui para me ajudar e a minha última opção, esgrima, não conseguiu me ajudar, nada melhor do que fugir do que sinto.

Estava pensando na bela mulher na minha frente e que me chamou para acompanhá-la até o banheiro, tentador, e na Kandia do outro lado da quadra me gritando insistentemente.

De alguma forma punitiva, penso nela. Porque eu sou sadomasoquista e gosto de sofrer psicologicamente, ou seja pelo fato do meu celular está tocando e haver uma possibilidade de ser ela.

Ok, sendo justo, eu sempre penso nela quando venho no ginásio de esgrima, é algo que temos em comum e é normal que eu pense nos golpes que ela usaria, no equipamento e quanto tempo ela dura em um duelo. No entanto, essa é a primeira vez que penso sobre o vestimento que ela deve usar, talvez seja porque a nova técnica usa algo ousado e, na minha concepção, Somente Rey usa roupas esportistas, levando em consideração que ela também faz esgrima e é uma pessoa prática. Na minha imaginação ela vive de tênis de marca e esportivo. Sua forma de se vestir e seu rosto são as únicas coisas que não sei sobre ela e eu gosto de devagar algumas vezes pensando sobre isso.

 Basicamente sei que ela é magra, deduzi após ver seus dedinhos finos, delicados e pequenos – em comparação aos meus, fiz o teste segurando um mesmo objeto que ela –; caucasiana e com leves sardas nas costas das mãos e deve morar em uma manicure, cheguei nessa conclusão após perceber que suas unhas nunca estão sujas de terra, mesmo com ela mexendo todo dia nas plantas, e sempre pintadas de cores peculiares como verde abacate, laranja neon ou roxo beterraba.

— Você vem? 

— Senhor, seu celular não para de vibrar. – Kandia grita pela segunda vez a mesma coisa que disse a poucos minutos, seu dedo aponta temeroso para o objeto em questão.

E se for ela? E se ela voltou com novas unhas e uma história boba sobre como trocou de computador e não teve tempo de entrar?

— Outra hora.

— Ah. – a decepção é perceptível em sua voz.

Caminho até o banco tirando a camisa, deixando-a amarrada na minha cintura. Pego o celular com o coração a mil, o que digo a ela? Por onde eu começo? Ela viu a notificação do jogo? Em que momento conto a ela quem eu sou? Pergunto sobre a sua saúde e a da sua família? Digo que estava com saudades e matei três plantas?

É agora, desbloqueio a tela e vejo quem me liga. Não é o número que esperava ver.

— O que você quer? – resmungo ao atendê-lo.

— Pelo visto seu lado bom ainda não voltou da reclusão. – Tai é o único ao qual ando conversando sobre ela. Somente Rey me proporcionou um agradável momento de mandar print para ele, Tai amou dizer que não tinha nada demais na conversa para ela se afastar. Só duvido de sua palavra devido ao fato dele ter descoberto aos quinze anos que mulheres menstruam. Como um homem assim pode entender sobre mulheres?

— Ainda não. – pego minha garrafa e logo viro ela em minhas costas desnudas e quentes. – Achei que você era ela, por isso deixei a bela técnica de esgrima ir para o banho sozinha. 

— Desejando uma enquanto todas o desejam. Típico caso de Ben Organa. – ele é um dos poucos que podem me chamar de Ben, mas nunca daquele outro sobrenome.

— Me diga uma vez que desejei alguém e não consegui.

— Verdade, você nunca desejou tanto outra pessoa, sempre teve tudo e todas as garotas aos seus pés. Era o oposto. – o silêncio de Tai é um típico caso de drama pela sua parte. Algo que se comprova real quando ele completou rindo. – Mas existe uma primeira vez para tudo, não?

— Vai a merda. – rimos de forma cúmplice, que nunca se vai mesmo depois de vinte anos de amizade. – E Voe? – pergunto, porque, mesmo me odiando, ela está levando dentro de si o meu primeiro afilhado ou afilhada.

— Ainda te odiando e rindo do seu sofrimento.

— A gravidez, idiota.

— Ah. – sua risada alivia minhas preocupações. Eles estavam anos tentando engravidar e finalmente conseguiram, fiquei com medo deles serem como os meus tios, que tiveram inúmeros abortos. Outro agravante é que essa é uma gestação arco-íris, Voe sofreu um aborto espontâneo ano passado; mal tinha feito três meses, mas dessa vez ela conseguiu passar do trerceiro mês e está com oito meses. Semanalmente ligo para Tai para perguntar sobre a gravidez. – Eles estão bem, Voe entretém nosso bebê contando sobre como o padrinho, barra, tio cafajeste está sofrendo por uma mulher e colhendo toda a dor que plantou.

— Ela está fazendo acompanhamento psicológico? Não é normal entreter uma criança assim. E se o bebê pensar que sou um fracassado?

— Não, e o bebê já acha isso pelas histórias que conto. – sento no banco exausto. – Porém, Lia amou saber dessa sua história.

Já faz uma década que compreendi que Tai e Voe são quase uma pessoa só e que dividem entre si segredos. Foi graças a essa mania de contar tudo um para o outro que Voe descobriu que era eu o “Idiota insensível” que magoou sua melhor amiga. Estávamos ficando e, por algum motivo desconhecido, ela achou que estávamos namorando. Nunca dei falsas esperanças, na verdade deixei bem claro no começo que seria algo casual e que não passaria disso.

Lia era uma garota legal demais, o ideal que meus pais queriam para mim. Só que naquela época eu queria atormentar os meus pais, que estavam me atormentando, e comecei a namorar a Xena, Ena, algum nome nessa pegada; que era uma modelo conhecida pelos escândalos. O outro motivo para não ter nada com Lia, era o fato de ser esquisito sussurrar um nome parecido com o da minha mãe durante o sexo.

O incidente Lia é a coisa favorita de Tai, ele vive utilizando isso nas suas implicâncias mensais. Não posso dizer que sou santo, até porque utilizo também, só que não é com ele.

— E como está a bela Lia? Ainda com belas coxas e bunda? – para não perder o posto de mais odiado.

— Eu não acredito que esse. – ouço Voe gritando ao fundo. Tai faz uns barulhos estranhos, que cortam o monólogo de ódio da esposa, e demora a voltar, quando volta está respirando ofegante.

— Viva voz? – pergunto, já sabendo a resposta.

— Ela está curiosa durante a gravidez. Quando você for pai ou se casar, irá entender. – gargalho de suas palavras.

— Nunca!

Não é que não possa, só não quero mesmo. Primeiro que não achei o amor que me foi ensinado, seja o amor ensinado pela mamãe, ou o ensinado pelo meu avô. Aquele amor que move o universo e toda a existência se curva para aquela pessoa. Jurei que só casaria se achasse esse amor e que só teria filhos com esse amor – como os meus avós.

Não ser pai é algo mais simples. Nunca tive um pai, como poderia ser um? A única coisa que aprendi com Han é como chegar em um dia, dar esperanças para a criança e ir embora de repente sem se despedir. Além é claro, de deixar a criança com os avós.

— Nunca diga nunca.

— Obrigado, Coach.

— Ninguém sabe o que o futuro guarda para nós, Ben. 

— Mas sabemos o que queremos e eu não quero isso. Estou muito bem levando a vida desse jeito.

Tai é o portador da visão da vida perfeita em um casamento, o messias do casamento. Pelo menos é assim que ele se enxerga, só isso para explicar sua mania de implicar com o fato de ser solteiro.

— Evitando comida de Corellia, jantando depois das onze e se devotando e conversando virtualmente com a mesma mulher durante anos. – tão sentimental. – Como isso é levando bem?

— Você fala de uma forma meio pejorativa. Não é tudo isso. – respiro fundo para poder me defender sem dar brechas para ele enfiar suas suposições doidas. – Enjoei das comidas de Corellia de tanto que comi, devido o meu trabalho só consigo comer depois das onze e eu não sou devoto a Rey, já namorei várias vezes desde que nos conhecemos e nós só conversamos. Somos somente... Algo.

— Porque é tudo isso! Não entrarei novamente no tema comida de Corellia. – até porque ele sabe que me estresso e da última vez brigamos feio e ele estava certo, parei de comer comidas desse país por ser o país de nascença do Han e ele fazia frequentemente. – Mas sobre os dois outros temas, aceite e lide com o que irei falar. Já disse, mais de uma vez, que esse trabalho está levando muito do seu tempo e te deixando sem tempo para viver. – odeio ter que admitir que ele está certo novamente. – E pelo amor do criador, se toca, você acabou de perder uma noite de sexo achando que era uma mulher, que está puta contigo por algum motivo que você desconhece, ao celular. E você tem a. – Tai finalmente para de berrar no meu ouvido. – Merda!

— Que foi? Voe está bem? O bebê quer nascer? Não é mês que vem? Liga o carro, idiota! Chama a SAMU! Não sei!

— Não. Não é nada disso. Voe e o bebê estão bem. E não sei se chama SAMU para isso.

— O que foi então? – relaxo no banco.

— Você não percebeu? Sério?

— O que? – estou a um passo de gritar “O que Desgraça”.

— Vocês estão no meio de uma DR.

— Do que?

— Desculpe, deixe-me falar na sua língua de solteiro convicto na casa dos trinta. Você e a sua relacionamento-não-denominado, estão no meio de uma briga de casal.

— Não, não estamos não. – respondo na mesma hora. Bagunço o meu cabelo, rindo descrente com a sua falta de noção.

— Aposto todo o meu dinheiro que você bagunçou o seu cabelo rindo nervoso.

Por via das dúvidas o procuro em cada canto possível. Nenhum sinal de um careca alto que parece o ovo do Gato de Botas.

— Sempre faço isso.

— Eu sei, estou aqui há mais de vinte anos. Por isso tenho doutorado para discursar sobre esse tique nervoso.

Primeiro Luke e agora Tai. Ótimo dia para ser eu e ter que aguentar provocações e provações.

Briga de casal. Enfio as mãos entre meus fios e movo a minha mão rapidamente para direita e para a esquerda. Não somos um casal. Não a vejo romanticamente, é a Rey. A Rey é... A Rey. Casal, coisa ridícula, não somos. Ela só está puta comigo por algum motivo que desconheço. Casal, coisa besta. 

Nem sinto aquele amor que o meu avô sentia pela minha avó. Meu sentimentos por ela são puramente... Sentimentos. Isso de categorizar não é algo legal, nós só somos algo extremamente maravilhoso e bom.

— Vai a merda. – antes de desligar a ligação na cara dele, dou o meu aviso típico. – Diz para o bebê que o amo mesmo tendo pais estranhos.

Alongo o meu corpo ao levantar do banco. Que coisa idiota de se dizer. Quer dizer que um homem e uma mulher não podem ser amigos de longa data? Bagunço meu cabelo impaciente. Droga, tenho que parar com essa mania que Han criou.

Agora tudo está me irritando e me levando para uma atitude infantil. Não sei porque continuo fazendo isso depois do que ele me fez.

Eu só queria ser incrível como o meu... Pai, só desejava ter a coragem e força que tinha quando ele bagunçava o meu cabelo e dizia que nada era impossível para mim. Então criei esse tique estúpido para ser destemido igual ao meu pai e não possuir limites. Agora Han e eu não gostamos um do outro e eu tenho um tique patético.

— Para onde a técnica foi? – Kandia aponta para a porta à direita da arquibancada. – Liberada por hoje.

Jogo a garrafa na cadeira e caminho para a direção indicada. Para a minha felicidade, a bela loira ainda está parada na entrada dos vestiários. Pelo menos uma vitória no dia de hoje, algo que não me faça pensar sem parar nela e que não estamos em uma DR.

— Senhor! – Kandia esbraveja aflita.

— Vai para casa Kandia!

— Mas senhor.

— Eu tenho alguns assuntos para tratar com ele, vai para casa vai. – a técnica desencosta da parede após gritar para Kandia. Se aproximando em passos lentos, chegamos a ficar a centímetros um do outro, ambos olhando de cima a baixo de forma maliciosa e desejosa.

— É uma notificação de mensagem, senhor. – travo, Tai não me manda mensagem após falar comigo no celular e mamãe a essa hora está em um cerimônia chata junto a Han. – É no Skype, senhor.

Trabalho, possivelmente Hux ou Phasma. Uso Skype somente para videochamadas do trabalho com outros acionistas e empregados. Kandia deve ter esquecido de avisar que já fui para casa e não desejo ser importunado.

— Você não vai mesmo me dispensar uma segunda vez, vai?

— Não. – envolvo sua cintura e aproximo seu corpo do meu.

— Senhor, não para de apitar aqui.

— Não vai atender?

— Não. – sussurro a centímetros dos seus lábios.

Beijo seus lábios com raiva e cheio de volúpia. Coisa estúpida de casal. Não somos um casal em uma DR. Pelo que entendo disso, a mulher precisa estar presente para ser DR. Rey sumiu, não tem como haver.

— Senhor, agora são notificações no jogo. – aqueles dois estão empenhados em me importunar após o trabalho. – É no celular pessoal as mensagens no Skype, o que eu devo fazer? Não é no celular do trabalho.

Qual a chance disso acontecer? Phasma e Hux estão ocupados na empresa e só irão mandar mensagens no celular do trabalho e não no pessoal – até porque eles não tem. Os únicos que podem me mandar mensagem ou me ligar no Skype são Leia, Tai e ela. Afasto minha boca da bela mulher na minha frente. Só há duas possibilidades e somente uma grita que é ela.

— Você não vai mesmo fazer isso comigo.

— Prioridades. – afasto de seu corpo e caminho apressado até Kandia, chegando em segundos, puxo o celular de sua mão. – Liberada!

Essa mulher ultimamente vem me mantendo sabático junto a Rey. Elas conseguiram o que mamãe nunca conseguiu.

— Obrigado senhor, tenha um ótimo final de semana. – sinto no fundo da minha alma, que ela quer cuspir no meu café.

— Vai ganhar aumento, faça os papéis e aumente mais 7% e me entregue para ler e assinar segunda. – desbloqueio o celular com a minha digital e entro no Skype, que estava usando somente para ver Voe e Tai.

— Obrigado senhor. – seus olhos azuis brilham de felicidade. – Tomara que seja a sua namorada, senhor.

— Ela. – minha língua cessa e meu coração ganha vida novamente, é como se o fato dela mandar um simples “oi” me desconfigurou todo.

Oi :)” 21:30

“Sou eu, a Somente Rey” 21:30


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Notas finais do capítulo

A galáxia subiu, Luke chegou!
Eu estranhamente gosto do Luke ranzinza e meio zoeiro da sequel, tem um toque ala Yoda reverso com zero paciência.

Se eu pudesse escolher um nome para esse capítulo, seria: Paralelos. Há inúmeros, na verdade, até com outros capítulos.

Um fato interessante, Kandia é uma subordinada que Kylo Ren acha que presta no livro do The Rise of Skywalker. Ela aparece rapidamente naquela cena sobre a localização da Rey. Achei que seria legal colocar ela na fic. Assim como o Tai e a Voe, que também são personagens de Star Wars, da HQ do Kylo Ren.
Os únicos que criei foram as gêmeas da recepção.



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