EndGame escrita por Helly


Capítulo 2
Nível I. Fácil


Notas iniciais do capítulo

Volto daqui há duas ou três semanas com o capítulo dois, eu já tenho todo o enredo desenvolvido e estou escrevendo o capítulo 7 - já estou no meio terminando o POV do Kylo.



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"Toda noite ela ouve

Uma vozinha persistente

Que tenta convencê-la de que

Ninguém jamais se sentiu

Tão triste ou sozinha

Ou tão insignificante

Como ela se sente agora.

— Princesa de gelo"

Faça a sua coroa de gelo brilhar – Amanda Lovelace

 

REY

 

UM fato interessante sobre a força da terra perante um acontecimento cataclismo. De forma leiga e resumida, o sol costuma sofrer de erupções solares que irradiam coisas perigosas como raios gama, aquela radiação que transformou Bruce Barne em Hulk e na vida real causa câncer; que percorrem o cosmo – o nosso sistema solar e não o padrinho mágico – e atinge tudo pelo caminho. E esse acontecimento é bem ruim e bem maléfico, de forma simples, é o autor matando o personagem predileto de todos. A nossa sorte é que o local ao qual vivemos é bem especial e ideal para a vida surgir e prosperar – como o casal que torcia o livro todo ser Endgame.

A terra, o planeta ao qual vivemos e possui alguns seres que o fato de existir gera uma dúvida, sobre o grau de inteligência, na população, um exemplo, Palpatine, um babaca que já existiu nesta cidade; é um planeta um tanto peculiar e possui algo, bem difícil de explicar chamado de Campo Magnético, que, de forma menos difícil de explicar, é um tipo de roupa transparente que protege contra ondas malignas das erupções do sol. Esse Campo Magnético diminui o impacto da radiação, na terra, emitida pelo sol durante as erupções, o que nos possibilita viver.

De forma clara e de fácil compreensão, o Campo Magnético é o Edward protegendo a Bela, que é o planeta, contra o carro, a própria radiação, em Crepúsculo.

Servindo um ao outro e belo tipo de exemplo explicativo. A criação do universo são os meus pais biológicos, o ato deles de me abandonarem são o sol, os traumas que desenvolvi e me afetam até hoje são as erupções solares e a mudança magnífica na minha vida aos quatorze anos é o Campo Magnético que me protege de ser destruída, diminuindo a dor dos traumas. Pelo menos é assim que gosto de me ver em certos dias, como hoje.

Não possuo muitas lembranças dos meus pais, fui deixada na Igreja Santa Força quando tinha seis anos e qualquer lembrança boa que possuía foi suprimida e substituída pelo último momento ao lado deles, ou seja, quando eles deixaram uma Rey chorona com a madre superior.

Depois disso as lembranças são vagas e melancólicas, sendo adotada e depois devolvida. Eles me pegavam e quando eu não suprimia seus sonhos e vontades, era devolvida e substituída por uma criança melhor. Eu não faço a mínima ideia do que fiz de tão errado para ser devolvida como algo defeituoso e trocada por um produto melhor ou o dinheiro devolvido. Eram frequentes as noites em que dormia questionando “Por quê? O que fiz errado? O que poderia ter feito para ter agradado a eles?”. 

Meus dias melhoraram quando achei os livros que eram deixados para doação, a maioria era de curso e, os que não eram, envolvia o mesmo tópico: Eletricidade, mecânica e informática. O que era algo normal levando em consideração que Jakku é um lugar repleto de cursos sobre esses temas e profissões relacionadas ao mesmo, é uma dos melhores estados de Tatooine quando o assunto é esse.

Sendo a minha válvula de escape e a única coisa que eu tinha para fazer lá, li todos os livros que tinham na igreja e no orfanato e praticava o que lia. Graças a esses livros e os que vinham semanalmente, que também envolvia esse tema, eu me especializei nesses três e com a ajuda de algumas madres, que procuraram ONG’s e falaram sobre a jovem brilhante que havia no orfanato Santa Força, consegui entrar em cursos dos três temas que mais tinha fluência. Era considerada uma jovem prodígio brilhante e a mais nova dos cursos que frequentei. Mas mesmo assim não me queriam.

Só que a existência em si é algo instável que muda a cada instante e às vezes as mudanças são inimagináveis, verdadeiros milagres. Foi por causa desses cursos que conheci Han Solo, meu mentor e apoiador ferrenho. Ele mudou minha vida da água para o vinho. Se eu sou algo hoje em dia é graças a ele, que me ajudou desde que tinha doze anos. Só consegui o meu trabalho na Jedi Company por causa dele e o meu fusca amado também obtive com a ajuda de Han e de Chewbacca; os dois são o pai que o universo me negou por muitos anos.

Uma das coisas que mais agradeço a ele é o fato de ter me apresentado ao casal que me adotou e nunca me devolveu. Mesmo quando dava motivos ao me machucar toda e quebrava coisas ao esbarrar, Maz Kanata e Chewbacca Wookiee nunca me devolveram. Não tinha esperança nenhuma de ser adotada naquela época, faltava quatro anos para completar minha maioridade e não via o porquê de me adotarem, mas eles adotaram e eu sou eternamente grata aos três.

Faz doze anos que sou Reyhan Ruyi Shivanshika Kanata Wookiee e eu ainda me sinto toda boba ao assinar os nomes e os sobrenomes dos meus pais em qualquer papel. Por metade da minha vida era somente Rey, não possuo qualquer lembrança dos meus pais biológicos falando nosso sobrenome e, por causa disso, metade da minha vida eu não tive um. Era somente Rey.

Depois de um ano de adoção, meus pais e eu nos mudamos para outro país – Yavin. Fomos para uma cidadezinha adorável, cercada por bosques e riachos, chamada Takodana. Foi a primeira vez que sai de Jakku, a cidade no deserto ao qual fui abandonada, e eu fiquei encantada com o bosque, as árvores, o riacho, as plantas e as montanhas que Takodana oferecia. Havia tanto verde e azul, que parecia impossível para mim que pudesse existir um local com essas duas cores tão predominantes. Poderia viver ali para sempre, até cursei a faculdade da cidade com a esperança de ficar ali aconchegada aos meus pais e a vida verde que nos cercava.

Foi Han que me convenceu a sair da cidade há dois anos e vir trabalhar em D’Qar, cidade no país, Alderaan, vizinho ao meu. Ele conseguiu um estágio em uma companhia importantíssima do país e de quebra conseguiu me colocar na fila de espera no curso de pós-graduação de Engenharia de Software mais requisitado do país, é só eu terminar a faculdade e já começo a pós. Falta somente mais dois meses para terminar o meu curso e tenho um contrato de três anos com a Jedi Company.

Tudo tão perfeito, uma vida tão perfeita, com pais tão perfeitos e tudo é tão perfeito. E de alguma forma horrível, eu continuo sendo assombrada pelo meu passado e sangrando diariamente pelas feridas emocionais que possuo.

Mesmo cercada pelo amor dos meus pais e de Han, eu ainda me sinto solitária e não é porque estou vivendo sozinha na cidade – meus pais me visitam a cada três meses e Han vejo quase toda semana. A verdade é que me sinto solitária desde que tenho seis anos, suspeito que meus pais biológicos não levaram em consideração o fato que ao me deixarem chorando e implorando por eles em um lugar completamente desconhecido, onde eu ia e voltava de casas, fosse me destruir tanto assim.

Acho que devo agradecer mais vezes ao criador por ter enviado Han para a minha vida, porque ele que me apresentou a minha válvula de escape dessa solidão densa que me cerca. Quando me sinto só, quando estou triste, quando estou melancólica, quando tudo parece um caos, quando minha vida está desmoronando na minha frente e até quando estou feliz; jogo o melhor jogo online que já existiu, Star Wars.

O jogo é simples, escolho o lado que desejo jogar, o da resistência, que lutam pela liberdade da galáxia; ou o dos militares, que desejam destruir a galáxia e instalar uma ditadura. A jogabilidade pode variar de duelos e ataques entre os personagens, onde se utilizam escadas ou armas de lazer feitas por luz; ou corridas e ataques utilizando naves espaciais. É como uma batalha naval e um campo de batalha medieval, às vezes um campo de guerra, no espaço.

Inicia-se jogando sozinho e com o tempo vai se formando uma equipe com o intuito de vencer as rodadas contra os militares e ter uma retaguarda. Também pode duelar contra uma pessoa, ou uma dupla, da resistência ou militar ao decorrer do jogo; costumo duelar com o meu nêmesis todos os dias, ele torna tudo mais divertido e leve.

Ambos os lados são jogadores reais, e não uma máquina, NPC ou software; no entanto, há a possibilidade de jogar contra NPC que os dois lados possuem. Cada personagem, NPC, do jogo possui uma variedade de campos de batalhas e armas.

A cada batalha semanal e mensal leva para a grande batalha final, que ocorre no meio do ano e no final do ano e decide o destino do universo – se os Militares ou se a Resistência ganhou. O lado ganhador terá ofertas e coisas grátis durante seis meses no jogo e isso contribui muito para as equipes subirem nos dois Rankings de equipes, a do lado que está jogando, Resistência ou Militares, e a que consta os dois lados, ou como chamamos, o Ranking da Galáxia. 

O Ranking da Galáxia é responsável pela criação dos dialetos que utilizamos nos jogos. A Resistência costuma falar que os militares estão do lado sombrio da força e, como a carapuça serviu, os militares costumam dizer que a Resistência está do lado da luz.  Dentro dos militares ainda há uma hierarquia e com isso mais dialetos, onde o mais fraco e novato é chamado de Stormtrooper e o maior de Líder ou Imperador. Sei que escolhi o lado certo quando na resistência só possuímos uma hierarquia de novato à general e nenhum outro dialeto.

Minha equipe, a Bronze Trio, é a equipe da Resistência que possui mais vitórias em toda a criação do jogo e é a primeira equipe no Ranking mundial da resistência e da Galáxia. Possuímos um ótimo atirador a longa distância, o FN-2187; um dos melhores jogadores pilotos que já existiu no jogo desde que virou um jogo online, Damen; e eu, uma ótima guerreira, sendo modesta eu sou a terceira maior jogadora que esse jogo teve.

Consequentemente minha equipe, por ser a maior da Resistência, é a inimiga número um da maior equipe dos militares, a Primeira Ordem; uma equipe que está a uma vitória de se igualar a nós no quesito vitórias. Eles são comandados pelo maluco, que se autodenomina, Supremo Líder do jogo, esse ser até botou essas duas palavras como nickname; ninguém sabe qual era o seu nome antes desse, até porque ele é um veterano, joga há quinze anos e possui inúmeras vitórias marcantes. Hux, um ótimo estrategista e general, infelizmente é irritante demais. E Phasma, simplesmente a melhor atiradora deles e comandante dos atiradores deles.

Nesses meus dez anos jogando, fui a única a conseguir a proeza de se igualar ao Supremo Líder. Nos igualamos em praticamente tudo, exceto no número de vitórias, onde ele está a dez vitórias em jogo solo na minha frente e a minha equipe está uma vitória na frente da dele; e o fato de que não sou tão prepotente ao ponto de me chamar de Suprema, meu nickname está até hoje “Somente Rey” e eu até gosto desse nome – é diferente e único, também não possuía um sobrenome na época que criei a conta.

Papai Chewie diz que não devo adicionar nenhum sobrenome no meu nickname, porque pode ser perigoso para a minha vida. Fica mais fácil de algum maluco me achar e fazer algo muito ruim comigo. Foi um momento importante para mim esse dia, porque foi a primeira vez que ele se dirigiu a mim como “filha”.

Meus pais são a melhor coisa do mundo e sempre me incentivaram. Às vezes, questiono-me o que fiz para receber pais tão bons assim depois de todo o inferno que vivi. Sempre tento ser a melhor filha do mundo para eles, dar orgulho e fazer tudo pela felicidade deles; eu até aprendi Língua de Sinais para poder conversar com papai Chewie sem ter que chamar a mãe para me explicar o que ele está falando e para ele parar de usar um caderno para se comunicar comigo. Papai nasceu mudo e depois de um acidente ficou com surdez moderada, ele se esforçava diariamente com o caderninho para conversar comigo e criar boas lembranças e laço de pai e filha. A primeira vez que conversei em Língua de Sinais com ele, disse que me sentia honrada de ser sua filha, que o amava imensamente, que agradeço o seu esforço para se comunicar comigo e criar laços fortíssimos e expliquei que gosto de chamá-lo de papai Chewie por achar fofo. O criador foi tão benevolente ao me dar pais tão incríveis.

Pulo na cadeira assustada, Plutt, o chefe babaca do meu departamento, põe uma pilha de papéis na minha frente. Estava um momento tão gostosinho até esse babaca estragar tudo de novo. Não sei se ele confunde a palavra escravo com funcionário, ou se ele realmente gosta de me ter como faz tudo dele e como o seu alvo favorito de ataques.

— Revise esses documentos e depois vá até o último andar para consertar o computador da secretaria da presidente.

— Tudo bem.

Vai fazer seis meses que deixei de ser estagiária e mesmo assim ele me trata como uma. Passo a manhã toda revisando cálculo de projetos, se os pedidos do escritório estão corretos, reviso textos em busca de erros ortográficos e se os códigos utilizados nos sites de vendas das empresas estão dentro do padrão pré-estabelecidos pela Matriz – no caso, nós. Às vezes subo para o último andar para consertar um erro, ou bug, bobo no computador de algum funcionário e, ao menos uma vez por mês, mexer em todos os computadores daquele andar, sozinha, para atualizar o computador delas.

Na hora em que deveria estar almoçando, deixo todos os documentos em cima da mesa de Plutt, que saiu para almoçar, e sigo para o elevador. Ele não me deixaria em paz se eu não fosse agora. Levei exatamente duas horas para terminar o meu trabalho matutino da vez. Até que dessa vez os três documentos não tinham tantos erros para consertar, no máximo uma vírgula em um local errado.

Minha área de trabalho só possui dois acessos, o elevador e a escada de emergência. A maioria do pessoal do meu departamento não gosta desse andar por ser no subterrâneo, eu gosto. Nunca tinha entrado em um lugar como esse, por isso tudo me encanta. Faz dois anos e continuo com a mesma impressão de isto daqui ser absolutamente fantástico. 

O elevador chega e logo entro, sou a terceira pessoa nesse elevador. Mais um ponto positivo para o nosso andar, sempre pegamos ele vazio para subir; o contra é que para descer o elevador fica lotado. Mas é um elevador, não tenho muito a reclamar. Lembro que a primeira vez que peguei um elevador fiquei tão assustada que quase chorei, em Jakku não havia elevadores e eu era obrigada a subir nove andares todos os dias quando ia para os meus cursos. Takodana é uma cidade no interior e eu vivi longos anos em uma fazenda, não tive muito contato com elevadores. Minha faculdade era o antro de criação de rampas e escadas.

Minha vida teve uma virada tão brusca que não estava preparada nem para o primeiro segundo. A forma que o destino age é peculiar, às vezes tenho impressão de que ele gosta de me pegar desprevenida e mudar tudo de tal forma que não me vejo da mesma forma que antes. É como me conhecer e ao mesmo tempo não me conhecer, é ter lembranças conflitantes sobre um mesmo tópico.

Solto no último andar, um suspiro de surpresa e admiração escapa de mim toda vez que saio do elevador e dou de cara com uma das melhores paisagens que já vi. Mesmo de manhã a paisagem da cidade é magnífica. Há tanto verde e cinza, que é um belo retrato da luta da natureza contra a modernização massacrante da civilização.

Cumprimento as gêmeas da recepção, a maioria das vezes que subo aqui é para resolver algum problema no computador delas. Elas são amigáveis e gentis comigo todas as vezes e não é porque eu conserto o seu computador, só são educadas e possuem empatia – algo que muitos por aqui não tem.

Conheço o caminho até a sala de espera da presidência, geralmente a secretaria só autoriza minha subida à noite. Por isso morro de amores pela paisagem que há no lobby, porque a noite a cidade é como uma galáxia cheia de vida e luz. É como estar dentro de uma nave espacial, que está percorrendo o vasto universo.

Geralmente o trabalho é rápido neste andar, só tenho que atualizar os computadores com o novo software do mês, por algum motivo a empresa troca a cada mês o software e alguns códigos de comando. Mas não sabia que já tinham mudado e lançado o software de Novembro, jurava que teria que vir aqui só daqui há uma semana.

Korr Sella, estranhamente, não está sentada na sala de espera e concentrada na sua agenda preta; todas as vezes, que venho aqui, ela está assim. Sua cintura apoiasse na mesa e sua expressão, de pânico, me dá a impressão que o meu dia será longo e trabalhoso. Ela é uma das mulheres mais belas que já vi, normalmente está impecável da cabeça aos pés.

— Ah, estagiária, que bom que você chegou nesse instante.

— Eu não sou mais estagiaria. – informo para ver se a verdade pega e geral passe a entender e parem de me tratar assim. Eu quero os privilégios de ser efetivada, o café quentinho é bom, há os bolinhos de chocolate e o almoço.

— Toma. – Korr Sella ignora completamente o que eu disse e enfia um celular no meu peito. – Resolva o problema desse celular primeiro, depois pode fazer o que quiser com esse computador. Faça a sua mágica peculiar.

Conheço a marca do celular, é a mesma que a minha, e, ao apertar o botão de bloquear, reconheço a mensagem e o que sinaliza. Vivo passando por esse mesmo problema e estou acostumada a resolver, só necessito do meu computador e pronto; nada tão mirabolante e impossível.

— Hum, terei que levar o celular comigo até o meu setor. Precisarei usar meu computador e um programa instalado nele para poder consertar o celular dentro do tempo estipulado por você.

— Tudo bem, você tem duas horas até eles voltarem do almoço, ou, talvez menos, depende do humor dele.

Ah, um clássico caso de namorada tentando desbloquear o celular do namorado e não conseguindo graças ao software e códigos de segurança que esse celular oferece. Quando a senha é errada três vezes esse celular trava tudo, desde aplicativos até o próprio sistema e a única coisa que fica na tela é a mensagem sobre o problema. Por isso é necessário o aplicativo da mesma empresa que faz o celular no computador. Geralmente necessita de senha e essas coisas, mas não possuo tempo para ficar quatro horas desbloqueando celular todo dia. Por isso utilizo alguns comandos e um aplicativo além do fabricante para liberar o essencial como aplicativos e o software em si. Os arquivos deixo para desbloquear em casa.

— Tá bom. Não costuma demorar muito, você pode ir buscar daqui uma hora e meia.

— Claro que não irei, eu preciso distrair ele. – óbvio, ela não deve querer que ele saiba sobre a cagada que ela fez ao tentar desbloquear esse celular.

— Ok. Volto em uma hora e meia.

— Não me dê falsas esperanças. – fico rindo de sua resposta, chega a dar pena o seu desespero, mas é engraçada a entonação dramática dela.

— Não é. Demoraria mais se eu não tivesse o aplicativo e alguns comandos, mas como tenho vai levar ser rápido. Faço isso direto no meu celular.

— Por quê? Você esquece a sua própria senha?

— Porque costumo colocar o celular meu no jeans, que fica tentando desbloquear no meu bolso, e também porque o gato do meu vizinho vive brincando com a tela do meu celular.

— Eu não conseguiria viver um segundo desta vida. – sou empurrada bruscamente quando a porta é aberta.

Fico extremamente aliviada com o fato desse celular não cair no chão depois que fui empurrada para o lado – são tão caros. Endireito minha postura somente porque percebo que não está só nós duas, entrou mais duas figuras marcantes na área. Diria que o que intimida no homem é a sua altura; ele é enorme, todo grandão. A CEO da companhia parece até um anão de jardim perto dele, é um contraste assustador esses dois. Esse deve ser o homem que estava deixando a secretaria em pânico, isso não há margens para dúvidas e nem o porquê de questionar o seu medo; ele parece uma figura assustadora, mas eu já vi de tudo e não sinto nenhum medo de carrancas. Pobre Korr Sella, o homem que ela não queria que flagrasse seu deslize a encontra com a boca na butija.

— O celular fez um barulho estranho e ficou assim do nada. – rápida, admiro sua capacidade de criar uma história curta e direta. Só que não coincide com a verdade e o dono do celular deve saber que tudo é mentira. – Mas, a estagiária aqui sabe mexer como ninguém em qualquer eletrônico e irá resolver o seu problema.

— Eu não sou mais estagiaria. – digo novamente.

— Creio que não. – fui ignorada novamente, mas dessa vez pelo homem de voz grossa e calma, combinação peculiar. – Esse celular possui um sistema diferente dos demais e também um software que bloqueia completamente o celular e todas as contas nele até fazer o processo de desbloqueamento em um aplicativo no computador, que possui a chave para desbloquear. Precisa ser um gênio da informática para dissecar o software e o programa com o aplicativo sem as chaves de acesso.

Ele duvidou de mim? Péssima escolha. Esse homem não ouviu Korr Sella? Eu sei mexer como ninguém em qualquer eletrônico! Korr toma a frente da situação como um capitão pegando o mastro no meio da tempestade, que ela mesma nos enfiou.

— A estagiária possui o mesmo celular e problema, ela disse que resolve em poucos minutos. – eu não disse uma hora e meia? De onde ela tirou poucos minutos?

— Eu não confio em estranhos para mexer no meu celular. 

— Mas ela não é uma estranha. – Leia Organa, a dona de tudo, finalmente diz algo na conversa. – Ela é uma das pessoas que mais confio dentro desta empresa. Seu... – ela respira fundo e solta um suspiro cansado. – Han a recomendou e eu confio plenamente nela, por isso a deixei responsável pelos computadores desse andar.

Fico inerte de tão surpresa que estou com o fato de Han conhecer Leia Organa, é como se houvesse um crossover mega doido e improvável. É interessante, um tanto assustador, mas instigante. Eu sabia que entrei por recomendação dele a uma pessoa, só não esperava que fosse uma recomendação diretamente para a CEO responsável por tudo. E estou em choque porque foi ela que me designou para este andar e não Plutt. Nunca mais irei reclamar de ter que descer no elevador lotado.

— Han? – o homem não esconde o desgosto em sua voz, não gostei disso. – Deixe o celular aqui que eu mesmo irei consertar depois.

— Por favor, deixe-a consertar e vamos almoçar. – o homem estende a enorme mão em minha direção, de birra não devolvo o celular. Nossa pelo tom suplicante dela até eu quero me deixar consertar o celular e ir almoçar com ela. – Me ofende o fato de você não confiar na minha funcionária, justo a que mais confio.

Quero rir de nervoso e orgulho, meus pais irão ficar tão felizes quando descobrirem isso. Finalmente consegui um jeito de retribuir todo o trabalho que Han fez por mim e esse é só o começo. Meu peito de certa forma se espreme e não é por causa de um motivo bom.

— Tudo bem. – ele responde relutante depois de segundos em puro silêncio esmagador. – Você tem duas horas para resolver isso.

— Não tem problema, resolvo em menos de uma hora, até porque eu sei muito bem como dissecar, montar e fazer qualquer coisa com esse Software e programa. – um pequeno repuxar de lábios surge em seu rosto, algo em mim diz que não é um sorrisinho legal. – Eu sei as chaves de cabeça.

— Vamos? – a senhora Organa estende o braço para ele toda sorridente.

— Vamos. – após essa palavra todos saem do recinto e eu fico parada me perguntando com que espécie de criaturas eu acabei de me envolver, Leia era a única normal.

Depois que o clima passa, decido voltar para o meu departamento. Por sorte o elevador não fica lotado. Até encontro Kaydel. Ela é literalmente a única pessoa que converso aqui. Nos conhecemos assim que fui efetivada, ela é do RH e o pessoal do seu setor não gosta muito dela e os outros temem ela só por ser do RH. Eu gosto dela, é engraçada e também gosta de novelas e séries de outros países. Almoçamos juntas todos os dias, com exceção de quando estou sobrecarregada de trabalhos de estagiária – como hoje.

— O que houve?

— Se eu te contar você vai ficar descrente, mas em resumo, só irei almoçar depois que desbloquear um celular.

— Tudo bem, podemos ir às duas e meia no Subway. Também tenho que revisar uns papéis e pegar o resto da papelada no setor de marketing. Tchauzinho, Del Rey.

— Tchau. – aceno para a única interação social normal que costumo ter.

A descida até que é rápida, a maioria está indo almoçar e descem no térreo. Só foi sufocante e assustador, tantas pessoas presas em um cubículo de ferro que pode despencar, por uns quatorze andares. Preciso maneirar nos animes que ando vendo, já estou ficando paranóica depois de assistir Another.

Caminho em passos lentos depois que saio do elevador. Até que estou feliz de fazer algo que não seja revisar papelada e resolver bugs simples na plataforma de vendas das empresas. A Jedi Company é um conglomerado, ou seja, um conjunto de empresas que são subordinadas por uma empresa mãe, ou matriz. A empresa que mais lido diariamente é justamente a maior empresa de vendas de jogos e bonecos em ação e a matriz, que é onde o escritório fica. Por mais que trabalhe na matriz como a garota do T.I, eu gosto do meu trabalho envolvendo a segunda empresa. É algo que sempre gostei e vivia comprando nesse site, hoje em dia eu fico cuidando dos bugs deste site e ganho desconto nas minhas compras.

Não é um percurso longo do elevador até a minha mesa, por isso chego rápido – mesmo que tenha andado que nem uma lesma. Sento na minha cadeira e inspiro profundamente, fechando os olhos no processo. É o que eu quero, tenho quase certeza. Expiro lentamente, bora para mais uma rodada.

Trabalhar aqui é algo inimaginável para a garota abandonada em Jakku, não compreendo o porquê de tanta incerteza. A solidão eu compreendo, a sinto desde que fui abandonada – inúmeras vezes. Só que essa solidão passa, graças ao Supremo Líder. Mas e essa incerteza? É como um piolho na minha cabeça.

Pulo na cadeira quando o som do baque ecoa alto. Levou um minuto até ele vir me fazer de Verificação ortográfica. É sempre Unkar Plutt.

Outro fato interessante sobre erupções solares, campo magnético e a bolota verde, azul e branca; mais conhecida como terra. O Campo Magnético surge do interior da terra e ao proteger a terra de radiações intensas, acaba ocasionando em algo assustadoramente belo, as Auroras Boreais.

Mais um fato interessante, estou dizendo esses fatos porque o meu chefe disse que para uma filha de uma asiática eu sou bem burra e a minha burrice era o sinal de que eu poderia ser adotada. Então eu estou agindo que nem a terra, criando um Campo Magnético contra as ações ruins de outra massa presente no sistema. Estou bloqueando os males, as palavras e ataques gratuitos dele, assim como a terra bloqueia os males, radiações eletromagnéticas; mas, assim como a terra, não consigo bloquear tudo e sim diminuir a intensidade, a famosa freada, do impacto daquelas palavras em mim.

Hoje até que estou conseguindo lidar com as consequências do evento, há dias piores que afetam o meu interior, que nem o caso de 1859, conhecido como Evento de Carrington, onde linhas telefônicas se incendiaram e auroras boreais surgiram em lugares como Jakku e Tatooine – deserto e em um continente oposto ao qual geralmente aparece.

— Tem uma hora para me entregar tudo.

— Recebi ordens para consertar este celular dentro de uma hora e meia.

— E em que momento eu mandei você consertar esse celular? Me dê ele. – com o rosto contorcido de impaciência e raiva, Plutt estende sua mão.

— Você não mandou.

— Correto, eu não mandei e se eu não mandei, então você não faz. Passe logo esse celular para cá.

— A senhora Organa me mandou, pessoalmente, consertar esse celular. Eu, não você. Ela confiou a mim e especificou que tinha que ser eu. Se o senhor quiser verificar, basta ligar para a secretaria Korr Sella. – eu sei que o meu sorriso prepotente o irrita, é bom tirar o sorrisinho babaca do rosto babaca dele. – Elas saíram para almoçar, aposto que a senhora Organa irá amar ter seu almoço interrompido por causa de um motivo bobo como este.

Seu rosto redondo chega a ficar vermelho de raiva. Possivelmente dei munições para mais ofendimentos, mas eu dei a minha palavra para eles e também quero mostrar que Han fez um trabalho magnífico em me recomendar, quero dar orgulho a ele.

— Vai trabalhar.

— Eu estava e voltarei assim que você sair.

— Quanto mais você demorar, mais papelada terá.

— Aposto que a senhora Organa ficará feliz em saber disso.

Tudo que ele faz é rir cheio de raiva e sair furioso. Às vezes, como hoje, eu o respondo; não aguento mais ficar calada sofrendo, isso me deteriora como a oxidação do ferro.

Pego na minha bolsa o cabo USB do meu celular e logo boto no celular e depois no computador. Digito os comandos e deixo o computador desbloquear os aplicativos, as especificações para tal problema já estão salvas no computador. Estranho quando só constam dois aplicativos, tirando os que vêm de fábrica. Deve ser novo, será mais fácil e rápido.

Assusto-me com a quantidade absurda de arquivos, mais de dois mil. Esse homem deve mijar em um vaso de ouro para aperfeiçoar a memória desse celular. O meu só consegui graças ao desconto que Han possui na empresa do celular, Amidala. Que faz parte do conglomerado Jedi e mesmo com o meu desconto de funcionária, ainda estava muito caro. Somente assim não paguei sete mil reais e sim dois mil – choro até hoje por isso. Comprei logo quando me mudei, Han me ajudou a comprar o celular e os meus pais o computador. A combinação do computador com o celular é algo que a pequena Rey, que vivia em Lan House e catava latinhas para ter dinheiro e ir nas Lan House, sonhava com frequência em ter.

O aviso piscando na tela avisa que a primeira etapa, desbloquear o celular, foi concluída com sucesso. Só falta desbloquear o sistema, os aplicativos, o chip, o programa, a memória interna do celular e o cartão de memória dele – se ele tiver. Estalo os meus dedos e começo a digitar e digitar e digitar mais e mais comandos e códigos.

O que demora a desbloquear mesmo é os aplicativos, os arquivos – mesmo codificados – costumam ser algo rápido, porque para desbloquear o usuário necessita entrar com senhas e etapas de reconhecimento facial. Desbloquear os arquivos é algo que somente o dono pode fazer. Os aplicativos e o sistema só são desbloqueados com tanta facilidade por mim por causa das coisas ilegais que faço e um aplicativo igualmente ilegal, Díade, que uso para burlar o aplicativo padrão do celular. Facilmente seria presa por desbloquear o celular hackeando ele e o aplicativo, também seria presa por hackear o computador do meu trabalho para ninguém saber o que faço no tempo vago.

Adianto meu trabalho de Revisora ortográfica e me divido em digitar os comandos, que gravei como se fosse uma parte do meu corpo, e corrigir trabalho alheio.

Novamente sou atingida pela incerteza e solidão. Ao mesmo tempo que este trabalho é algo que quero fazer, tem essa dúvida e o fato de ser feita como uma faz tudo piora ainda mais. Tenho ciência de que eu sou boa no que faço, gravei mais de cem comandos e codigos do meu celular e do sistema e softwares da empresa. Só que – esse maldito “ que” – eu não sei se quero fazer isso por muitos anos. Não sei se só estou fazendo isso para agradar os meus pais e Han, não sei se trabalho aqui porque cresci privada de coisas que tenho hoje e por isso trabalho aqui pelo dinheiro, para não voltar a ser aquela Rey. A verdade é que não tenho medo de voltar a ser aquela Rey, tenho medo das coisas que fui obrigada a viver sendo aquela Rey de Jakku.

Tenho vinte e sete anos, pela lógica deveria ser mais decidida e segura das minhas escolhas, mas a realidade é o oposto do esperado. E isso me assusta muito, porque não possuo mais tempo para mudar toda a minha vida e me arriscar em algo novo e imprevisível. Por mais que queira, é arriscado perder toda a minha estabilidade e posso me pôr no mesmo estado que aquela Rey da infância tinha. Tenho medo de decepcionar os meus pais e voltar a ser a Rey de Jakku, abandonada por não ser boa o suficiente.

Recebo uma notificação de Star Wars e me desespero, aperto qualquer coisa para a notificação sumir da minha tela; digamos que meu supervisor babaca não sabe que instalei esse jogo e outros aplicativos no computador da empresa. É neste jogo que procuro alívio quando Unkar me leva até o limite; é muito bom xingar ele junto ao Supremo Líder, ele tem os ofendimentos mais engraçados que já vi. Sou tirada do mundo das incertezas e medos por algo especial que está nesse jogo, é terapêutico.

Mesmo morrendo de curiosidade, não abro o jogo e continuo meu trabalho. Aposto que foi o Supremo líder, conversamos todo dia e quase a cada hora. Na metade do tempo ele me provoca e me tira da minha zona de solidão, é divertida e um refúgio a nossa relação, na outra metade conversamos profundamente sobre tudo e até sobre nossos demônios, é muito bom me sentir acolhida por quem realmente sou. De certa forma, Supremo líder é alguém importante na minha vida, a pessoa que mais converso diariamente e que me vê, não a Rey órfã sem sobrenome, não a Rey pupila do Han, não a Reyhan Ruyi Shivanshika adotada por pais incríveis, não a Rey insegura com as escolhas da vida; e sim a Rey, Somente Rey, aquilo que realmente sou e não oculto com medo de ninguém compreender ou me acharem uma ingrata. É bizarro como o meu inimigo número um é o ser que mais me conhece e me fornece segurança quando sou 70% água e 30% insegurança.

Olho o relógio quando o desbloqueio acaba, levei quarenta minutos e revisei duas pastas com dez folhas cada – faltam oito pastas. Guardo o celular na minha bolsa e mando uma mensagem para o computador de Korr Sella, avisando que já acabei e pode vir buscar o celular. A primeira mensagem que ela irá ver quando ligar o computador será essa.

Continuo meu trabalho, se é que posso chamar de trabalho. O tempo passa rápido, assim como a revisão. Alguns realmente são bons na escrita e nos cálculos, então não tenho muito que corrigir. Leva exatamente uma hora até ela vir buscar e nem um agradecimento recebo.

É isso que me desmotiva nesse emprego, o quanto se parece com o meu passado tanto na escola quanto nos cursos. Tenho aversão a gente soberba e mal educada. Talvez mamãe tenha razão e eu precise ir em um psicólogo para resolver meus traumas e parar de fugir quando revivo esse momentos. Também pode ser o fato de que desde que fui adotada tudo foi flores, amor e felicidade e esse é o meu primeiro contato com um mundo desalmado que me desacostumei.

A tarde passa rapidamente, almoço às 15h com Kaydel, o tópico da vez foi sobre a ingratidão e falta de educação da empresa. Creio que Han não sabia que as coisas eram assim antes de conseguir esse trabalho para mim. Há tantos relatos de abuso moral no RH. Ela faz milagre em resolver tudo isso, por isso a chamam de ceifadora – demite sem dó e piedade. Queria que ela tivesse poder o suficiente para demitir Unkar.

Como o dia está tedioso e lamentoso, faço o que sei de melhor. Abro o jogo somente para responder meu nêmesis, o sujeito sem ter o que fazer, e ver se FN-2187 já decidiu o que iremos fazer hoje a noite.

Demora muito para abrir, já suspeito que está sobrecarregando o processador e a placa de vídeo, até porque não é um PC Gamer. É um notebook bom, mas básico e o jogo e outros aplicativos às vezes pesa e trava tudo. Quando por fim abre, a tela inicial do jogo está completamente o oposto da minha tela inicial cotidiana – tons claros e arenosos. É tanto preto e vermelho que me sinto enclausurada em uma nave inimiga.

Será que fui hackeada? Como? Sempre faço de tudo para evitar, a minha senha literalmente é uma frase obscena. Eu teria percebido enquanto consertava o celular.

E é nesse instante, nesse maldito instante, que percebo que a demora em carregar não foi uma sobrecarga ou um travamento típico. Minha conta simplesmente foi desconectada porque o meu aplicativo no computador e o aplicativo do grandão estavam abertos ao mesmo tempo quando eu desbloqueei o seu celular. Demorou porque estava entrando na conta do grandão.

Na época que foi lançada a atualização que permite logar a conta, mesmo offline, no celular e no computador utilizando somente um cabo USB, QR Code ou Bluetooth, eu amei; era mais fácil em tudo para mim. Eu só teria que habilitar a minha conta no celular e no computador, nada demais e mega fácil. Bem que dizem que há um efeito inesperado de usar Díade para burlar o sistema do celular. A Díade deve ter habilitado sozinho o celular para logar no aplicativo do jogo no meu computador, que, como o aplicativo padrão do celular e a Díade, vive aberto no computador.

Ele não parecia um homem que joga Star Wars, o gigante usava gravata e era tão sério que sua expressão parecia uma bela estátua de mármore que há em outros países, como Coruscant. Sejamos francos, o fato dele andar com a Leia Organa e jogar esse jogo é o que mais me surpreende, esse jogo é o rival direto dos jogos deste conglomerado.

A curiosidade por esse contraste da aparência e do fato dele ter autorizado logar a conta desta forma me leva a mexer no seu menu principal. Aperto no menu principal com o coração batendo mais rápido que um instrumento musical. É no menu que se encontra o personagem e o nome que utiliza, eu só quero saber em que nível ele se encontra e qual lado está – se bem que suspeito que seja dos Militares. E também confirmar que não fui Hackeada.

Meu corpo para de funcionar devido ao choque, e eu tenho ciência que foram muitos minutos desperdiçados no puro suco de surpresa e perplexidade. Minha única reação é olhar boquiaberta para a tela do computador, descrente com o que vejo e descobri. Só quero sentar e chorar por logar na conta errada, do lado errado da batalha e do lado maluco da situação. Tanta gente que joga Star Wars, mais de trinta mil, e foi justo a conta do Supremo Líder que loguei?

Meu nickname pisca no balão do chat, em tom vermelho carmesim, sem parar na parte inferior da tela. A notificação que recebi, depois que desbloqueei o celular, foi a minha mensagem, que mandei está manhã antes de começar o trabalho.

Nunca esperei que algo tão peculiar e bizarro acontecesse justamente comigo. Mas às vezes a vida é cheia dessas coisas malucas e lúdicas, que só acontecem em livros ou filmes; jurava que não viveria nada disso, achava que minha vida seria monótona e normal.

O lado bom disto é que ele não é um psicopata, no máximo ele é só um cara calado e de carranca profunda. Anos de conversas, nove, e eu não percebi que ele era um homem de negócios, esse perfil até que combina com ele. Sendo franca acho que qualquer perfil é melhor que um psicopata, como meu tio costumava falar. Pelo menos essa história não será de terror.

Poderia fazer tanta coisa, entre elas, saber sobre suas missões, descobrir quem é o espião que vem traindo a Resistência – algo que o jogo possibilita que o jogador seja – e ver seus planos de ataques. Mas só consigo estar curiosa sobre ele, como pessoa e não arqui inimigo de jogo. 

Porém, só vou nos chats de conversa dele para silenciar as notificações e abrir a minha conversa para fazer a notificação sair da tela inicial do computador. Apenas poderei sair e fechar o jogo no final do meu turno, será melhor silenciar as notificações dos chats primeiro – é a primeira coisa que faço quando logo a minha conta neste computador.

Existe algo maléfico chamado vida, que utiliza uma arma igualmente maligna chamada curiosidade para ferrar com qualquer ser existente. Minha curiosidade sobre ele aumenta após notar que eu sou a única pessoa com quem ele conversa diariamente e que sou o primeiro nome no chat dele e que entre o meu nome há o apelido que ele escolheu para mim “Plantinha”, sinto vontade de rir ao ler isso. É algo nosso, apelidos íntimos e que só fazem sentido para nós dois. O dele é "Exterminador" até hoje.

A parte de chat de conversa costuma organizar os nomes com frequência de conversa, assim como no meu, nosso chat está em primeiro lugar e logo em seguida vem os membros da sua equipe; e é isso que atiça minha curiosidade, o fato que a última conversa dele com um membro da sua equipe foi há nove dias atrás. Esse cara é idêntico a mim no jogo, passo a maior parte do tempo conversando com o meu inimigo do que com os membros da minha equipe.

Perco a minha – não tão árdua – batalha contra a curiosidade e desisto de largar tudo e fechar o aplicativo. Faço o contrário, mexo na sua conta, não nas conversas, até porque só consta três chats contando comigo; e sim nas suas anotações. Faz dois anos que surgiu o Diário de bordo, que permite ao jogador escrever o que quiser; pode até salvar como arquivo do Word. Suspeito que tenham planos de ataques aqui e eu preciso deles, minha equipe e a Resistência necessitam disto neste momento crítico. Pelo visto Supremo líder vive de anotações sobre as pessoas e não planos, como a maioria.

Fico rindo boba de algumas anotações dele sobre mim; como eu seria fora do jogo, o fato de sermos iguais e ao mesmo tempo diferentes no jogo, se eu também asseio pelas nossas interações, há coisas que ele não falou sobre mim para mim e que aqui ele fala; se eu sei o quão tão importante eu sou para ele, se tenho ciência do quanto o ajudei no momento mais difícil para ele, que eu sou de certa forma o seu recomeço, que ele deveria criar um jeito de mandar fotos das plantas dele para mim e a data do meu aniversário.

Alguns desabafos dele chamam a minha atenção por serem bem autopunitivos, depressivos, melancólicos e tristes; principalmente os que envolvem o pai dele e os sobre si mesmo. Ele se vê de uma forma bem triste, creio que seja por causa do pai dele; por isso ele não enxerga o quão extraordinário é. Já sobre Supremo e o pai, eles possuem uma relação difícil, nos aproximamos quando o pai dele o machucou de uma forma horrenda com palavras mais horrendas ainda. A minha maior surpresa no dia é o desabafo dele sobre o amor que ele ainda sente pelo pai e que não possui coragem o suficiente para contar a alguém sobre isso e ao mesmo tempo o ódio e vergonha que sente sobre si e sobre o fato de não ter conseguido matar esse amor pelo pai. Ninguém merece sentir ódio de si mesmo por causa dos pais. Ele tem copiado uma mensagem, que suspeito ser do pai dele, dizendo que está feliz pelo emprego que ele conseguiu na empresa do avô. Tenho noção do quanto isso deve machucá-lo.

Fico tocada pelo jeito gentil e amoroso que ele fala sobre o avô e a mãe. É bem fofa, mas as feridas são gritantes em alguns trechos. O fato dos pais dele serem ruim nesse “trabalho” e o avô ser o herói a muito perdido, sempre me deixa furiosa por ele e ao mesmo tempo feliz por ele ter tido pessoas como o avô na vida.

A maioria são dúvidas e desabafos dele, ao qual decido não continuar lendo ou me aprofundando. Encontro uma anotação que chama a atenção, um tipo de cronograma onde há “Almoço com Leia”. Seria ele um pupilo solitário de Leia, assim como eu sou a pupila solitária de Han?

— Rey, oi. – pulo na cadeira assustada, jogo meu corpo na tela para impossibilitar a visão do que estou fazendo.

Fecho rapidamente o aplicativo apertando Alt F4. Afasto da tela sorrindo sem graça, ainda bem que é a garota gentil do escritório e não Plutt.

— Oi. Em que posso ajudar?

Não gravei o nome de todos no escritório, até porque quase ninguém se apresentou para mim quando cheguei há dois anos e não falaram os seus nomes depois disso. Mal sei como ela sabe o meu nome e possuo vergonha demais para perguntar o nome dela, visto que ela sabe o meu nome e eu estou aqui há muito tempo e não sei o seu. Também tenho medo de ser indelicada ao perguntar e ela parar de ser gentil comigo e isso daqui piorar ainda mais.

Para não soar como um completo fracasso social, eu sei que a irmã dela se chama Paige e trabalha no setor de máquinas.

— Minha pasta. – seu sorriso gentil me lembra que ela é uma das poucas que são educadas e gentis comigo. Já falei que ela é gentil comigo?

— Desculpa, aqui. – passo para ela a primeira pasta.

Seus olhos somem quando ela sorri, retribuo o sorriso na mesma intensidade. Essa garota é muito amável e tem uma vibe cativante, talvez o fato dela ser educada e bondosa torne tudo mais suave em uma interação. Há dias que quero puxar assunto com ela, só que não sei o que falar e temo por uma reação negativa que nem as que eu tinha na escola.

— Obrigado, é muita gentileza da sua parte.

— De nada. – de maneira acanhada aceno para ela. Um leve arrependimento passa por mim, só não fica porque ela retribuiu o ato.

Isso é um grande passo para mim. Com Kaydel as coisas foram mais fáceis devido ao fato dela ser extrovertida. Deveria pegar alguns conselhos com ela para poder tentar criar uma relação com a menina fofa do meu setor.

Até hoje não compreendo como consigo conversar calmamente e sem nenhum medo, ou insegurança, com o Supremo líder. Sempre foi fácil conversar com ele, nossas conversas fluem de uma maneira sem igual e… boa.

 Por mais que não sejamos amigos presencialmente, que se veem todos os dias pessoalmente, ainda somos arqui-inimigos/amigões que conversam diariamente e se expõem de forma verdadeira e crua um para o outro. Somos algo não denominado e que é muito gostoso de se viver. Nossas conversas são a minha maior interação social e eu usei esse grande exemplo para conversar com Kaydel. A diferença é que com o Supremo Líder é mais íntimo, profundo e diferente dos demais. É único.

Não é falando mal da comunidade ao qual faço parte. Mas ser mulher e jogar um jogo predominantemente de homens, é bem pesado e machista, fora os assédios. O Supremo Líder me trata como igual, como as mulheres devem ser tratadas e nunca me julgou. Acho que foi esse um dos motivos de me aproximar dele e o motivo que me fez ficar, além das noites viradas conversando, é que eu sou só a Rey e isso basta para ele. Ser aceita por quem realmente sou é libertador e aceitá-lo por quem ele é, é tão bom.

Com ele na cabeça a todo instante, o resto do dia transcorre rápido. Enrolei horrores para ser a última a sair, tudo por causa da droga do jogo ainda aberto. Plutt nunca reclama quando alguém sai por último e fecho tudo. Na verdade ele ama, porque assim não precisa ser ele.

Esfrego meus olhos e abro o jogo, já são 20:30, com certeza ele entrou no jogo, ou vai entrar nos próximos minutos. Preciso tirar esse computador dos dispositivos autorizados e sair da sua conta o mais rápido que consigo. Me sinto uma espiã.

Faço isso em quatro minutos e acho que dei muito mole e fui lenta. Apago qualquer rastro dele que possa ter no computador. Se pudesse, tacava fogo. Não sei, mas pela primeira vez na minha vida me bateu um medo de ser presa por fazer coisas ilegais. Existe primeira vez para tudo, né? Coisa louca.

Desligo o computador e pego minha bolsa dentro da primeira gaveta da mesa. Tranco tudo e depois aciono o alarme. Esse lugar é mais seguro que muitos bancos por aí.

Caminho para o elevador mexendo no celular. Respondo meus pais primeiro e depois Han, é meu ritual diário. Assim que entro no elevador, vem a parte que está me dando um gelinho gostoso na barriga. Responder ao Supremo Líder.

Ignoro todas as mensagens e abro a dele primeiro. Consegui fazer tudo a tempo, respiro aliviada. Só há uma mensagem no tamanho normal - grande, mas nem tanto. Se me lembro bem, falei com ele sobre a minha vitória milenar contra os Cavaleiros de Ren, uma subunidade que serve a ele, e que eu os comi facilmente na porrada e lhe informei dos boatos de que foi a maior batalha do mês. Supremo Líder deve estar indignado não só com a pobre da Korr Sella, mas também com os Cavaleiros de Ren.

Não importa o quanto me esforce para imaginar uma voz furiosa, apenas consigo ouvi-lo nitidamente com a mesma entonação calma, de hoje de manhã, enquanto leio. Minha imaginação é realmente impressionante.

— Boa noite, sucateira.

Iniciei o jogo como sucateira para conseguir as Skin que não poderia ter e as armas necessárias para elevar meu nível e chegar em um nível altíssimo, e bum, sou a sucateira para o resto da vida dele. Eu nunca cheguei a contar a ele sobre o meu tempo de sucateira para jogar em Lan House, mas ele também nunca me falou que ainda amava o pai. Estamos quites.

— Desculpe a demora para responder, tive alguns imprevistos e sua notificação curiosamente não apareceu para mim.

Até que estou feliz que os imprevistos não é ele escondendo corpos de jovens em um terreno baldio. Supremo líder realmente não é um vagabundo, deve ser alguém muito importante no meio empresarial para almoçar com a senhora Organa e ter muita intimidade com ela. Suspiro aliviada, não aparecerei no jornal da noite como vítima de um homicídio qualificado.

Viver em Jakku, onde havia uma taxa elevada de Serial Killers e homicídios, realmente me traumatizou. Incrível! Você sai de Jakku, mas Jakku não sai de você.

Balanço a cabeça e volto a ler sua mensagem.

— Infelizmente devo lhe informar que não, não tive conhecimento de nenhuma batalha milenar em que você se envolveu esses dias. Estaria você relaxando e perdendo o tato para a coisa?

Talvez quem vire uma psicopata, que aparecerá no jornal nacional, seja eu. Quem sabe eu não tenha tato para isso?

Ah, o homem consegue ser soberbo no jogo e na vida real. Ele deveria tirar o abacaxi que há em sua bunda para relaxar. Respiro fundo e volto a ler.

Se você quiser, e estiver disponível, podemos jogar uma partida hoje. No horário de sempre, às 22:00. Será ótimo lhe ensinar algumas coisas, você precisa aparentemente. Aguardo sua resposta. Atenciosamente, O Supremo líder da Galáxia.

Outra coisa que fico extremamente aliviada dele não ser, um velho serial killer – droga Jakku. A forma que ele costuma falar sempre levantou essa hipótese dele ser velho.

Ele realmente tem essa cisma de querer me ensinar coisas e ser meio megalomaníaco. Pode não ser psicopata, mas necessita procurar uma ajudinha psicológica. Ou, quem sabe, eu que deva procurar uma ajudinha psicológica, levando em consideração o fato de que gosto de conversar com isso sobre o meu dia, problemas, meus demônios, filmes, jogos, livros, séries, comidas, notícias e esgrima – algo que ambos já fizeram e às vezes fazemos, é difícil fazer isso depois que se cresce e arruma um emprego. Conversamos sobre tudo, não escondemos nada um do outro – com exceção de uma única coisa aparentemente.

Novamente minha curiosidade ataca e sinto vontade de conhecê-lo melhor, é como uma via de mão dupla essa curiosidade – porque ele também quer isso. Ele quer? Pelo que foi escrito no Diário de bordo, existe essa vontade também nele. Quero tanto isso, desejo saber se realmente somos tão parecidos e diferentes assim.

Está decidido, amanhã irei começar a conhecer melhor a pessoa que converso todo santo dia. Óbvio que estou falando que irei observá-lo antes de qualquer grande passo – para garantir a minha segurança –, como me apresentar e passar o numero do meu celular. Tomarei cuidado em observá-lo, para não ser descoberta, e respeitarei o seu espaço.

Acima de tudo, irei averiguar se ele não é um surtado que pode tentar me matar. Ele ainda pode ser um psicopata, eu vi Um psicopata americano e sei que as aparências enganam. Ao decorrer da minha vida, conheci tudo conter maldade e sei reconhecer alguns sinais.  Serei bastante cuidadosa em averiguar cada coisinha e no menor sinal de psicopatia, ou de surto, meterei o pé e não falarei mais com ele. 

Fico feliz no fundo, é outro grande passo social meu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado :D



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