PLANO DESCONHECIDO

WANDA MAXIMOFF NO MUNDO DE THE BOYS

DIA 28

— Não sei o que quer dizer com isso – Wanda olhava desafiadoramente para a figura que emulava o Visão.

— Deixe que eu lhe mostre então – com um pequeno gesto de Chthon, o chão sob os pés deles ganha uma transparência, mostrando um apartamento. Ambos observam tudo do alto. Wanda desconhece o local, mas logo se dá conta quem é a figura que aparece. É Tyler Johnson. Ela volta o seu olhar para Chthon – você vem flertando com esse humano a vários dias, Wanda.

— Você tem me espionado? – algo como um sentimento de repulsa surge no olhar dela.

— Esse exílio que me impuseram limitam enormemente qualquer possibilidade de intervenção minha fora desta dimensão para onde fui exilado – ele responde – a nossa ligação tem me permitido essa possibilidade, ainda que um tanto limitada. Mas que fique claro, Wanda, eu não sou o que os humanos chamam de pervertido. Eu apenas quero provar um ponto para você.

— Do que está falando?

— Olhe você mesma, Wanda – ele faz um gesto, apontando para a transparência no chão, mostrando Tyler no seu apartamento, como se estivesse num andar abaixo de onde Wanda e Chthon estavam – nós podemos vê-lo, mas ele não tem a menor ideia de que está sendo observado por nós. É assim que seres como eu veem essas criaturas. Em algum tempo no futuro, é assim também que você os verá.

LOCAL DESCONHECIDO

WANDA MAXIMOFF NO MUNDO DE THE BOYS

DIA 4

Sempre que está voando, ele considera essa a melhor parte dos seus poderes. Sentir o vento no rosto, os cabelos esvoaçando, a visão do céu parecendo infinita diante dele. Ele gosta sempre de voar acima das nuvens, chegando próximo da atmosfera. A sensação de vazio completo é sem igual, como se ele fosse o único ser em todo o universo. Tudo isso começa a se esvair, no entanto, quanto mais próximo de seu destino ele se aproxima. A descida é o pior, quando já pode ver as construções, os carros, animais e pessoas. Ao pousar no seu destino final, toda a sensação de antes já se fora. Ele se percebe num universo cheio de insetos aos seus pés. Felizmente está indo se encontrar com alguém que não é nem de longe um inseto. Alguém que é mais do que sua própria espécie. A visão dele correndo em sua direção, o sorriso no rosto, é tudo o que deseja.

— Você demorou a vir dessa vez – a voz de Ryan é um bálsamo para ele – o que houve?

— Está tudo bem, amigão – ele abraça o filho – estava muito ocupado. Vamos para dentro e eu te conto tudo.

Esse é um local isolado, parte do acordo que fez com Victória Neuman. Era o seu desejo manter Ryan longe de toda a podridão da qual ele está cercado. A preocupação com a segurança dele nem é a prioridade, seu filho já mostrou que tem poder para se cuidar. O que ele quer é ver Ryan longe de outras influências, cercado apenas do que é o melhor para firmá-lo como seu principal aliado. Mais do que nunca, ele sabe que precisará do filho ao seu lado. O Capitão Pátria sorri para o casal que cuida de tudo. Ambos foram escolhidos a dedo para essa função. Sem filhos, admiradores do Capitão Pátria. Perfeitos enfim. O sorriso dos dois é pateticamente submisso, mas ele trata de retribuí-los, pois é útil tê-los assim.

— Que bom que veio Capitão – o homem se dirige a ele, enquanto ao fundo, a mulher e Ryan estão juntos, em volta do fogão – Ryan fala o tempo todo sobre quando o senhor virá.

— Ele fica muito tempo em volta da sua mulher na cozinha? – o olhar dele já indica a razão da pergunta.

— Ele gosta de vê-la cozinhar. Aproveita sempre para roubar uns petiscos – o homem continua sorrindo abjetamente para o Capitão Pátria, que dá o seu melhor olhar intimidador.

— Cuide para que ele tenha mais atividades masculinas – um breve brilho surge no olhar dele, fazendo o homem recuar assustado.

— É claro, Capitão, eu vou cuidar disso, prometo – a ansiedade na voz dele, misturada a um início de pânico, faz o Capitão Pátria sorrir novamente.

— Ótimo – ele se volta para o filho – ei Ryan, vamos dar uma volta – Ryan o segue para fora da cozinha, com ambos levantando voo assim que chegam no quintal.

PLANO DESCONHECIDO

WANDA MAXIMOFF NO MUNDO DE THE BOYS

DIA 28

— Olhe para ele, Wanda, totalmente alheio ao fato de que estamos observando-o – Wanda vê a figura de Tyler em seu apartamento, tentando imaginar no que ele está pensando.

Tyler teve um plantão difícil no hospital. Foi um daqueles plantões que testam se você realmente tem material suficiente para levar essa vida. Tudo o que ele quis foi tomar um banho rápido e ir até a lanchonete, encontrar aquela que tem sido seu único momento de alegria em muito tempo. Desde que a conheceu ele tem pensado muito naquela mulher, embora tenha desde o início, a sensação de que algo nela o obriga a ser muito cuidadoso em suas ações. Ela tem uma tristeza no olhar que o deixa comovido. O sorriso é luminoso, mas parece carregado de perdas. Tudo o que quer é vê-la feliz, ver aquele sorriso mais vezes diante dele. Tyler sabia que deixar bem claro o seu interesse foi uma jogada arriscada, mas não havia razão para continuar o sutil flerte entre os dois. Ambos são adultos, é preciso decidir de vez até onde podem chegar.

Tyler tenta controlar sua ansiedade, mas a verdade é que se sente um adolescente, esperando a ligação dela. Ele respira fundo. A sua jogada foi feita, agora é esperar para ver qual será a reação do outro lado. Tyler afasta esses pensamentos, entra no banheiro de seu apartamento, pronto a lavar o rosto e se preparar para jantar. Vida de médico não permite grandes refeições próprias, mas hoje decidiu se oferecer um bom e saudável jantar, em vez da comida pronta habitual. Ele nota as minúsculas formigas no fundo da pia, decidindo ligar a água com cuidado. Hoje se sente com muita paciência para esperar que estas estejam bem a salvo, antes de começar a se lavar.

********************************

— Veja só o cuidado com que ele liga a bica da pia, Wanda – Chthon e Wanda continuam observando Tyler de sua dimensão desconhecida, como se estivessem no andar de cima de um apartamento – ele está se permitindo ser benevolente com as pequenas formigas, dando-lhes a chance de não se afogarem.

— O que você quer dizer com isso? – a pergunta de Wanda provoca um sorriso nele.

— Eu confio que você é bem capaz de entender o que se passa em meus pensamentos, Wanda – Chthon responde – tenho plena confiança nisso.

— Você acha que Tyler está para você como aquelas formigas na pia estão para ele – o olhar de Wanda para Chthon demonstra o quanto ela desdenha esse fato – você parece exatamente como o Capitão Pátria.

— Eu deveria me sentir ofendido com essa comparação, Wanda. Em verdade eu me sinto, de fato, mas tudo bem – ele mantém o sorriso – é compreensível que você ainda não entenda a diferença entre a tola arrogância de um humano que foi agraciado com grandes poderes, e um deus de verdade, apenas se reconhecendo como tal.

— Você acha mesmo que isso o diferencia do Capitão Pátria?

— No fundo você sabe que essa diferença entre eu e aquele tolo mortal existe, Wanda – o olhar dele para ela é bem intenso – você mesma mostrou isso quando fugiu do seu cativeiro. É que você é muito jovem, ainda muito presa a sua origem humana, aos padrões morais de sua espécie, suas superstições e emoções. É uma sabedoria apenas instintiva, mas não se preocupe Wanda. O tempo fará com que a distância entre você e a humanidade se torne tão grande quanto a distância que separa aquelas formigas na pia do seu pretendente humano.

EM ALGUM LUGAR DOS ESTADOS UNIDOS

WANDA MAXIMOFF NO MUNDO DE THE BOYS

DIA 4

Eles desceram juntos numa colina, localizada não muito longe da propriedade em que Ryan vivia com o casal. Voar era algo que os dois faziam juntos, um prazer compartilhado. Capitão Pátria sentia-se bem como pai. Era um papel que lhe ajustava bem, pelo menos em sua concepção. Ver Ryan crescer em admiração por ele o deixava realizado. Ele só sentia que precisava estar mais presente, até para evitar a normalização de situações como a que viu na cozinha. O homem conhecido como Capitão Pátria também sabia que iria precisar de Ryan do seu lado, embora não imaginasse que tal necessidade fosse ocorrer tão cedo. Era difícil admitir que precisaria do filho para derrotar aquela bruxa, mas era um fato do qual não podia fugir. O isolamento de Ryan também tinha outra finalidade. As instruções dadas ao casal que fica com o menino era de selecionar cuidadosamente o que deveria ser assistido na TV, mesmo a internet, e outras redes sociais, são devidamente selecionadas. Ele iria falar com o filho sobre a Feiticeira Escarlate, mas faria isso nos seus termos.

— Você parece preocupado – Ryan ter notado isso o deixou muito feliz.

— Preciso te falar de algo, amigão – Capitão Pátria se abaixou para ficar numa altura aproximada do filho – seu pai irá precisar de ajuda contra uma ameaça séria que surgiu em nosso mundo.

— Um supervilão?

— Na verdade é uma supervilã – ele respondeu – alguém mais poderoso que qualquer um que enfrentei. Vou precisar da sua ajuda para derrotá-la.

CIDADE DE NOVA YORK

WANDA MAXIMOFF NO MUNDO DE THE BOYS

DIA 4

Tudo o que Maria quer ao chegar em seu apartamento é tomar um banho, comer algo leve e cair na sua cama para dormir pelas próximas 24 horas. Depois de tudo o que aconteceu em frente ao prédio da Vought ela teve que enfrentar um interrogatório de horas. A jovem policial também teve de preparar um relatório aos seus superiores. Como se não bastasse, foi obrigada a aturar as frustrações do general Desmond. O sujeito claramente queria descontar nela a humilhação que sofreu por parte de Wanda. A jovem de origem latina certamente não deixaria isso acontecer. Por conta disso, ela ficou feliz por ter tido o suporte do Capitão Graves, que fez questão de ficar ao seu lado durante todo o tempo em que o interrogatório durou. Tudo o que queria agora era descansar, mas isso ainda não seria possível, pois ver a luz acesa na cozinha faz com que saque sua arma. Não deixou de ser uma surpresa ver quem estava lá.

— Me desculpe pela intromissão, mas eu estava com muita fome – ver aquela mulher comendo um sanduiche na sua cozinha era algo surreal para Maria. “Ela deveria sentir fome?”. Foi o que passou pela sua cabeça de imediato. Esse pensamento foi logo descartado. Maria guardou a sua arma e foi até a geladeira preparar um sanduiche para si mesma – eu preciso da sua ajuda – a voz de Wanda em suas costas ainda soa estranha para ela.

— Em que eu poderia te ajudar? – Maria responde, enquanto começa a preparar o seu sanduiche.

— Antes de qualquer coisa, você poderia me explicar o que aconteceu com a magia em seu mundo?

— Do que você está falando? Pelo que sei o melhor lugar para encontrar mágicos é em Las Vegas.

— Eu estou falando de magia de verdade, policial – havia uma intensidade no olhar de Wanda que impressionava Maria.

— Magia de verdade? – o olhar de Maria tinha uma perplexidade que deixou Wanda assustada com a resposta que ela já imaginava receber – isso nunca existiu de verdade nesse mundo.

Wanda manteve o sanduiche em suas mãos por quase 1 minuto, em vez de comer. Ela ainda estava sob o impacto do que acabara de ouvir. Em seu mundo muitas pessoas não acreditavam em magia, ainda que esta existisse. Neste mundo, entretanto, não era com o ceticismo de algumas pessoas que ela teria de lidar, mas se deparar com uma realidade onde a magia simplesmente não existe, talvez nunca tenha existido. Olhar para Maria, ver a perplexidade dela com a ideia de que magia de verdade pudesse existir, era algo que Wanda não tinha se preparado para enfrentar. Estava explicado enfim, toda a sua dificuldade em canalizar seus poderes. A descrença desse mundo se mostrando uma barreira terrível para a sua magia.

— Agora que eu respondi a sua pergunta, eu preciso que você responda a minha. Como você conseguiu encontrar o meu endereço? – Maria e Wanda, com a ex-Vingadora tendo superado o impacto inicial, estavam comendo seus respectivos sanduiches. As duas sentadas à mesa, pareciam duas amigas em um bate papo informal, mas essa era uma dúvida que Maria precisava esclarecer.

— Eu usei meus poderes para conseguir isso – Wanda deu uma boa mordida no seu sanduiche após responder.

— Usou seus poderes como? – Wanda demorou a responder, como alguém que conjecturava algo.

— Existe o conceito de “Negação Plausível” em seu mundo? – Maria foi capaz de notar um tom ligeiramente jocoso na pergunta de Wanda.

— Existe sim, por quê?

— Nesse caso é melhor eu não te contar como eu usei os meus poderes para descobrir o seu endereço – ela deu a última mordida no sanduiche, saboreando bastante aquele pedaço.

— É sério mesmo que você... – o celular de Maria toca antes que ela possa completar a frase – alô.

— Coloque no viva-voz. Eu quero que a Feiticeira Escarlate também possa ouvir – é com um ar preocupado que Maria segue a instrução – antes de mais nada, saibam as duas que não temos nada a ver com o Capitão Pátria, nem com a facção do governo que come na mão dele – a voz de Bruto é ouvida com um forte sotaque britânico de classe operária – nós só queremos conversar.

— Quem são vocês? Como sabiam que eu estaria aqui? – agora era a voz de Wanda se fazer ouvir.

— Deduzimos que você iria procurar pela ajuda da oficial Alvarado e montamos uma vigilância para o apartamento dela – Bruto continuava a falar – podemos nos apresentar, se você permitir que tenhamos uma conversa. Nós podemos te ajudar, Wanda.

— Me ajudar como?

— Tenho dois companheiros meus na porta do apartamento da oficial Alvarado – Bruto responde – permita que eles entrem que tudo será explicado.

PLANO DESCONHECIDO

WANDA MAXIMOFF NO MUNDO DE THE BOYS

DIA 28

— O que você quer dizer com essa demonstração? Que Tyler está muito abaixo de mim, e que eu deveria me afastar dele?

— Por favor Wanda – ele mantém o sorriso sem alegria enquanto fala – longe de mim querer influir em suas escolhas mundanas. Mais uma vez, pare de me confundir com um amante contrariado. Eu já disse que estou muito além disso.

— Então por quê? – ela insiste em perguntar.

— Apenas enfatizando uma realidade a qual você precisa ficar atenta, minha cara – ele faz um gesto suave e Wanda percebe que isso afeta Tyler.

— O que está fazendo?

— Apenas uma pequena demonstração, Wanda – ele continua apontando sua mão para Tyler, que agora parece atacado por uma sensação de sufocamento.

— Como você consegue fazer isso? Não te exilaram justamente para impedi-lo de usar o seu poder contra as pessoas?

— Eu normalmente não teria a capacidade de fazer isso – ele continuava fazendo Tyler sentir-se sufocado – é a nossa ligação nesse lugar que me permite intervir desse modo. Eu apenas quero mostrar a você o que me separa desses humanos, o que no futuro irá separá-la deles também.

— Pare com isso – ela grita agora – você vai matá-lo – Wanda dispara uma rajada contra Chthon, que consegue contê-la, ao mesmo tempo que continuando usando seu poder para sufocar Tyler.

— Você não conseguirá me deter, Wanda – ele afirma – mesmo com o máximo do seu poder, você não conseguirá me deter antes de eu matá-lo.