O Landau Vermelho escrita por Matheus Braga


Capítulo 37
Epílogo I




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Dias depois

 

Parcas nuvens brancas cruzavam o céu azul. O gramado que se estendia a perder de vista era de um verde intenso, ressaltado ainda mais pelo sol que brilhava e contrastando com pequeninos buquês de flores amarelas que brotavam aqui ou ali. A profusão de cores era magnífica, e a brisa leve que soprava tornava o ambiente ainda mais pacífico. Árvores frondosas se erguiam do chão espaçadamente, as copas volumosas destacando-se acima dos troncos quase verticais.

E ali, debaixo de um vistoso oiti que se erguia no alto de uma colina, repousavam as duas discretas lápides em granito cinza. Duas placas retangulares com gravações em letras pretas descansando sobre o gramado, elegantes e austeras. De alguma forma, aqueles dois marcos fúnebres pareciam dar àquele local ainda mais a impressão de um lugar de descanso, embalado por uma trilha sonora suave que misturava o sopro leve da brisa com o constante canto dos passarinhos e, ocasionalmente, o rugido longínquo das turbinas de algum avião cruzando o céu.

Parado sob a copa da árvore com as mãos repousadas nos bolsos de seu casaco sobretudo, Guilherme observava as duas lápides com uma expressão vazia por trás de seus óculos escuros. Limitava-se a fitar as placas de granito em silêncio, numa atitude respeitosa, como se elas estivessem prestes a lhe revelar algum segredo.

— Não acabou exatamente como você esperava, não é? — A voz do delegado Jorge Mascarenhas soou por trás dele.

O detetive se virou para fitá-lo. O delegado havia se aproximado silenciosamente e se postara poucos metros atrás dele.

— É. Não mesmo. — Guilherme respondeu, a meia voz.

Jorge cruzou os braços na altura do peito, suspirando.

— Não se culpe por isso, Guilherme. Não tinha como você prever.

O detetive balançou a cabeça num gesto negativo.

— Eu sei. Sei lá, eu só... — Ele olhou para as lápides novamente — Eu só queria ter me antecipado a isso.

O delegado baixou a cabeça, balançando-a de um lado para o outro, e aproximou-se de Guilherme, pousando-lhe uma mão no ombro.

— Essa é a pior parte de lidar com serial killers, detetive. É muito difícil prever seus próximos passos, quanto mais se antecipar a eles. Você já deveria estar acostumado. — Ele deu de ombros — Era uma pessoa doente, perturbada. Por mais que seguisse um padrão, poderia agir a qualquer momento contra qualquer um.

Guilherme se limitou a suspirar. Jorge olhou para as lápides de granito também, e por um momento sentiu uma pontada de pena. Perder alguém envolvido numa investigação era sempre muito ruim.

— Mas diz aí, como esse caso vai ficar? — Ele perguntou.

— Ainda não sei direito. Preciso pensar. — O detetive se empertigou e encarou o outro — O Antônio tinha dois filhos fora do casamento, e um deles, chamado Bruno, inclusive era o gestor de frota da transportadora. Eu cheguei a vê-lo uma vez, mas não sabia desse detalhe. Eu acredito que ele é quem esteja por trás disso tudo. Aquele Fiat Uno preto que ficou lá no sítio está licenciado no nome dele. Além disso, encontramos algumas digitais parciais em um dos Landaus que estava fora do galpão incendiado que podem ser dele. — Ele suspirou profundamente — Mas de qualquer forma, tudo que posso fazer agora é esperar. A perícia precisa ser finalizada, e temos que encontrar o Bruno. Ele simplesmente sumiu do mapa.

— Como assim? — Jorge pareceu um pouco incrédulo.

— Bom... Ninguém sabe onde ele possa estar. — Guilherme confirmou — Apesar da destruição no sítio e do Landau afundado na lagoa, não encontramos nem o corpo dele nem nenhum indício de que ele tenha escapado. Além disso, a mãe dele faleceu há alguns anos e aparentemente ele não tinha amigos no bairro onde morava que pudessem confirmar o seu paradeiro. Se ele de fato saiu vivo dessa situação, vamos ter algum trabalho para localizá-lo. Mas já estamos trabalhando nisso.

O delegado franziu os lábios e aquiesceu.

— E o rapaz que foi preso?

— O Jefferson? — O detetive negou com a cabeça — Parece que o Bruno tentou usá-lo como bode expiatório. Aparentemente ele tem um caso extraconjugal, o que explica a falta de detalhes sobre as ausências dele em casa e no serviço e a resistência dele em contar a verdade, mas nada que o ligue ao nosso caso.

Jorge concordou com a cabeça outra vez e deu dois tapinhas nas costas de Guilherme.

— Eu sinto muito, detetive. Você é um cara competente, merecia um desfecho melhor para essa bagunça. — Ele olhou para as lápides novamente — E esses dois?

O detetive suspirou outra vez, sentindo-se subitamente um pouco triste.

— Agora, olhando em retrospecto, pareciam ser duas pessoas boas. Amavam muito um ao outro e não mereciam o fim que tiveram. — Ele balançou a cabeça em negativa outra vez e ajeitou seu casaco, preparando-se para ir embora — Bem... Pelo menos agora, onde quer que estejam, eles ficarão juntos para sempre.

Dito isso, deu mais uma olhada rápida para as lápides e suspirou. Virou-se e pôs-se a descer a colina em direção ao seu carro acompanhado pelo delegado, enquanto um casal de curiós vinha cantar nos galhos mais baixos do oiti.


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