O Landau Vermelho escrita por Matheus Braga


Capítulo 36
Capítulo 35




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Às vezes a vida se resume em apenas um ato de insanidade.

A célebre frase, proferida pelo personagem Jake Sully no filme Avatar, cravou-se na mente de Fernanda como um prego quente. Porque toda, toda a sua vida pareceu perder seu significado quando ela viu Bruno empalar Adam com aquela haste metálica. Ela havia deixado os dois distraídos um com o outro e se esgueirado por trás dos sedãs parados no armazém para tomar uma atitude que pegaria Bruno de surpresa e ajudaria Adam a sair daquela situação, mas não conseguira agir a tempo. Ao chegar onde queria, ao lado de um dos Landaus bordô, havia assistido àquela cena horrível com uma riqueza de detalhes destruidora.

Toda a sua vida pareceu se resumir àquele momento. Então, era isso. Iriam morrer pelas mãos de alguém que era mesmo maluco.

A enxurrada de pensamentos e sensações conflitantes que invadiu a mente e o corpo de Fernanda era tão ou mais volumosa do que os riachos correntes que a tempestade formara do lado de fora do galpão. Lembranças e sentimentos opostos espocavam e giravam através dela como um enorme paradoxo astral gravado em uma fita cassete embolada. Momentos intensos que ela havia vivido ao lado de Adam se misturavam às risadas que ela havia dado ao lado de Bruno. As tórridas noites de amor com o gerente se misturavam aos dias cômicos com o gestor de frota. A noite do ataque do Landau diante da casa de Adam se misturava à noite do magnífico espetáculo Vegas 90’s. Uma bagunça, uma confusão enorme, girando, girando, girando, e ela sentiu que desabaria.

Uma tremedeira incontrolável se apoderou do corpo de Fernanda e lágrimas correram livremente com gotinhas de diamante. Um calor insuportável queimou em seu corpo ao mesmo tempo em que o vento gelado vindo de fora do armazém a fazia tiritar de frio. Uma irrompente anarquia. Ela sentia sua garganta se dilatando e se enrijecendo, tornando-se em algo oco e negro como a boca de um canhão vazio que não emitia som algum.

O corpo de Adam jazia inerte no chão, tombado de lado, e tudo que ela queria fazer era correr até ele e acalentá-lo nos braços, dizer que o amava e que tudo ficaria bem. Ao mesmo tempo queria gritar com Bruno, berrar, espancá-lo impiedosamente e fazê-lo sumir com toda a força de seu ser. O gestor de frota continuava parado de costas para ela, imóvel, encarando a escuridão da noite de forma sinistra, toda sua atitude corporal com um quê de altivez. E no meio de toda aquela confusão que se remexia em seu cérebro, Fernanda se deu conta.

Se ela não se movesse, seria a próxima.

Não, o pensamento retumbou em sua cabeça como um bate-estacas e quase a fez tropeçar no nada. Ela não iria permitir isso. Assistir ao que acabara de acontecer a seu namorado remexeu algo dentro dela. Ela sentia um pesar imenso, uma dor angustiante que a deixava sem ar e a dilacerava intensamente como algum tipo de lâmina diabólica, mas a frase que espocara em sua memória como o farol de um trem sem freios voltou a brilhar.

Às vezes a vida se resume em apenas um ato de insanidade.

Pois bem. Se toda a sua vida fosse mesmo se resumir àquele instante, então ela iria agir insanamente. Iria mesmo fazer o que estava pensando ao se abaixar e se esgueirar por trás daqueles sedãs. A despeito de tudo o que sentia, das lágrimas correntes e do ardor em seu peito, iria desligar sua mente por um momento, tentar se esquecer de toda a negatividade que se abatia sobre ela e iria tomar uma atitude.

Seu semblante se enrijeceu automaticamente, como lava ardente atingida de súbito por água gelada. A expressão que se desenhou em seus olhos, apesar das lágrimas que corriam, era de algo incandescente misturado a algo frio e primevo, um tanto quanto indescritível. A personificação perfeita da protagonista de algum filme de Quentin Tarantino. Movida por um impulso, como se alguma força invisível a impelisse para frente, Fernanda se ergueu e alcançou o que queria: a pistola Glock que Bruno havia deixado sobre o capô do Landau bordô antes de confrontar Adam.

Foi isso que ela quis fazer. Percebendo que os dois homens se concentrariam apenas um no outro, a encarregada se esquivou por trás dos automóveis parados com a intenção de alcançar a arma e, no momento certo, apontar e alvejar Bruno. Teria dado certo. Teria... Se ela não tivesse demorado tanto. Se o desfecho daquela cena não tivesse vindo de forma tão brusca e trágica. Se Bruno não tivesse sido tão ferino, tão pérfido.

O eterno e maldito jogo do “se”.

O cano da arma se ergueu no ar, negro e reluzente. Um tanto hesitante, mas firme o suficiente. Fernanda achou que a pistola seria fria, pesada, como uma barra de chumbo moldada, impossível de ser manuseada, mas acabou se surpreendendo com a relativa leveza e ergonomia do artefato. Ela faria aquilo. Seria o ponto final do caso do “Landau vermelho”. Não tinha como errar. Bruno estava de costas para ela, a poucos metros. Ela firmou o dedo no gatilho e cerrou os olhos, concentrando-se e já calculando mentalmente a trajetória da bala. Todo o turbilhão de emoções que retumbava dentro dela pareceu ganhar força, como uma massa gelatinosa cinzenta que fervilhava por seu corpo e embaçava-lhe a vista, ameaçando enfraquecê-la, deixando-a mais fraca, mais atordoada, mais...

Click.

Um som de estalo. Seco. E só.

O cão da pistola havia batido em falso. Não houve disparo. A arma estava travada. Um relâmpago cortou o céu, como uma cortina flamejante de luz prateada, e o trovão que seguiu estremeceu o chão. Não. Não podia ser.

Fernanda arfou. Vacilando por um segundo e perdendo momentaneamente a firmeza dos membros, a encarregada soltou um palavrão entre os dentes e encarou a pistola em sua mão. Nem passara por sua cabeça que a trava de segurança poderia estar acionada. Ela segurou a arma com as duas mãos, girando-a freneticamente de um lado para o outro para tentar descobrir como destravá-la, tentando conter a tremedeira dos dedos e...

Bruno olhava fixamente para ela.

O mundo pareceu congelar. Perder o foco, as cores, como se tudo de repente estivesse se desbotando. O olhar do gestor de frota era vazio, horripilante, um tanto predatório, como algum tipo de dinossauro pálido e sanguinolento. Fernanda sentiu todo o ar de seus pulmões se esvaindo. Era quase como se apenas o olhar de Bruno estivesse perfurando-a e desinflando-a como um balão de gás. Não havia palavra terrível o suficiente no idioma português para definir aquela sensação macabra.

O rapaz se virou e veio caminhando lentamente na direção dela, pé após pé, com os olhos ainda fixos nos dela e o pescoço parecendo ondular ao avaliá-la, reforçando ainda mais aquela impressão de um réptil bípede. Uma espécie de Velociraptor moderno. Ou talvez ele quisesse mesmo imprimir aquela imagem. Não tinha como saber. Combinada aos cortes no rosto dele, aos incontáveis hematomas e ao sangue que escorria livremente por suas bochechas, qualquer expressão dele o deixaria com um ar jurássico.

Um sorriso se desenhou em seus lábios enquanto ele se aproximava ainda mais de Fernanda.

— Você achou mesmo que seria como nos filmes? Só pegar e atirar? — Ele fez um gesto negativo com o dedo indicador e franziu a boca num biquinho — Tsc, tsc. Não é bem assim que a vida funciona.

A encarregada escondeu a arma às costas depressa, tentando impedir Bruno de alcançá-la, mas em momento algum ela havia sido o alvo dele. Avançando os últimos passos com velocidade incrível, ele a agarrou com força pelo pescoço e o apertou com uma força cegante. O fluxo de ar que descia para os pulmões de Fernanda foi cortado tão repentinamente que ela logo viu estrelinhas espocando diante dos seus olhos.

O rapaz inclinou a cabeça de lado, ainda com um sorriso ordinário e sangue pingando no chão.

— Não me leve a mal, Fernanda. Não é nada pessoal. — Ele sussurrou, aproximando sua boca do rosto dela, sua voz adquirindo um tom glacial — Foi só um azar tremendo. Você estava no lugar errado, na hora errada... com o cara errado.

Ele a arremessou com tanta força para trás que ela sentiu por um instante que suas pernas haviam sido separadas de seu tronco, uma sensação horrível de desmembramento seguida pela leveza desconcertante de seu corpo voando descontrolado para trás. Ela descreveu uma longa curva no ar até bater com toda a força contra o para-lama traseiro do Landau e cair de lado no chão, ansiando por ar. Seus olhos ainda estavam esbugalhados como bolas de golfe saltadas, sua boca se abrindo e fechando em busca de goles de ar como um peixe fora d’água. Mesmo assim, algo dentro dela a fez se dar conta de um detalhe inóspito: ela havia deixado a arma cair.

Tateando rapidamente em volta de si e ainda tentando precariamente se recompor, ela procurou pela pistola Glock. Não levou muito tempo para que ela vislumbrasse o volume negro da arma recortado contra o piso do armazém embaixo do Landau, do outro lado, próximo à roda traseira direita do sedã, mas ela não conseguiu se abaixar para alcançá-la. Bruno se aproximou e segurou Fernanda pelos cabelos, erguendo-a a meia altura.

A encarregada gritou, sentindo uma dor imensa, como se alguém tentasse arrancar todo seu couro cabeludo de uma única vez, e tudo que ela conseguiu fazer foi erguer os braços e engalfinhar suas unhas nas costas das mãos de Bruno, sentindo a pele dele se rasgar de imediato. O rapaz soltou um berro de dor e bateu a cabeça de Fernanda com força contra a lataria do sedã, desorientando-a momentaneamente, e jogou-a ao chão outra vez.

O pavimento já estava bastante marcado, manchas vermelhas borradas aqui e ali, mas novas gotinhas começaram a surgir. Apesar da dor excruciante que sentia e da tontura que se abatera sobre ela, a encarregada passou a mão pela cabeça e sentiu um corte bem acima de sua fronte direita. Ela também estava sangrando.

Bruno se aproximou de novo.

— Você me entende, não é? — Ele a segurou pelo cabelo outra vez, embolando-o entre seus dedos — Sabe, eu até gosto de você, Fernanda, mas... não posso deixar nenhuma ponta solta aqui. Você sabe como eu sou. Eu faço as coisas direito.

Sentindo os dedos dele se retesando e sabendo que ele a puxaria de novo, ela olhou e tateou em volta desesperadamente em busca de alguma coisa, qualquer coisa, para tentar se defender. Na penumbra, sua mão bateu em algo frio e metálico e ela percebeu que era o pedaço de um cano de escapamento que devia ter sido serrado de algum dos Galaxies. Um lampejo brilhou em seu cérebro. E quando Bruno finalmente a puxou pelos cabelos outra vez, sua mão se fechou em volta do cano e ela o ergueu meio às cegas com força, acertando-o bem no meio do rosto do rapaz.

Houve um som horrendo de algo metálico e aquoso, seguido quase instantaneamente por um rugido de dor. Bruno largou Fernanda e cambaleou para trás, caindo sentado e levando as mãos ao rosto outra vez. Sentindo-se solta, a encarregada se apoiou de quatro no chão e rastejou para trás do Landau.

O gestor de frota berrou, ensandecido, um som que misturava ódio e frustração. Seu rosto adquirira uma nova deformação entre a bochecha esquerda e o nariz, um vergão rubro descia de sua testa até o queixo, e seu olho esquerdo já estava bastante avermelhado. Este último golpe havia sido um tanto certeiro e cruel. Pondo-se de pé cambaleante, Bruno apoiou-se contra o capô do Landau.

 — Desgraçada! — Ele berrou — Onde você está?

Ele começou a contornar o carro, apoiando-se na carroceria longilínea para manter-se de pé, e levou algum tempo para chegar até a traseira do sedã e olhar para o chão. Fernanda não estava mais ali. Ele grunhiu outra vez, um som estranho e ofegante, pois sua boca estava se enchendo de sangue. Ele cuspiu, deixando mais uma mancha de cor terrosa no chão, e continuou contornando o carro.

Click.

Outra vez aquele estalido seco.

Um vento frio cortou os ares do pequeno armazém, e Bruno se virou para olhar. Fernanda estava de pé poucos metros à frente, bem diante do capô do Landau, segurando a pistola Glock outra vez com as duas mãos. Ela também sangrava, sua pele estava pálida como alabastro e um hematoma roxo destacava-se em sua testa, mas a arma estava erguida.

O rapaz parou, encarando-a, com a testa franzida num gesto de escárnio.

— Pfff... — Ele bufou entre os lábios, em deboche — Isso de novo? Se enxerga. Você não...

Ela alcançou a trava de segurança com o polegar esquerdo e puxou-a para baixo, destravando-a.

Click.

Bruno se calou imediatamente, mas a expressão odiosa de seus olhos ainda estava lá. Eles se avaliaram silenciosamente, com apenas o som estrondoso da chuva caindo lá fora e um ou outro trovão como pano de fundo. Nada mais precisava ser dito. Não havia mais justificativas ou desculpas.

Ambos sabiam que aquele seria o ponto final da história.

Bruno fez um discreto movimento negativo com a cabeça, e os cantos de sua boca se ergueram num sorriso sarcástico.

— Não adianta, Fernanda. Você não vai...

A bala o atingiu no meio do peito com a força de uma marreta, e naquele momento o som de seu osso esterno se partindo em dois pareceu se sobrepor à detonação do disparo. Ele foi arremessado para trás e caiu inerte ao chão.

Ponto.

Fernanda arquejou pesadamente, abrindo a mão e deixando a pistola cair. Ela havia mesmo feito aquilo. Ainda sentia o ricochetear potente da arma ao apertar o gatilho. Ainda parecia ver a bala saindo do cano e indo se enterrar na caixa torácica de Bruno com uma lentidão incrível. Havia sido uma descarga de adrenalina gigantesca, avassaladora, e...

Ponto final. Aquele havia sido o ponto final. Não havia mais “Landau vermelho” a ser temido. Não havia mais Bruno. Não havia mais...

Adam.

A súbita lembrança do nome dele foi como um golpe no estômago. Se esquecendo de tudo que havia se passado e do próprio universo ao seu redor, Fernanda se virou e correu até a entrada do galpão. A distância de poucos metros pareceu levar horas para ser percorrida. O vagalhão de sentimentos conflitantes que a afligia momentos antes desabou sobre ela como as comportas de uma hidrelétrica se abrindo de uma única vez, e tudo que ela queria era alcançar Adam. Chegando até onde o namorado estava caído, no entanto, ela parou. Vista de perto, a cena era ainda mais aterradora. Aquela haste atravessando-lhe o corpo, a ponta reluzindo em vermelho brilhante... mas por alguma razão que ela não se deu ao trabalho de interpretar, sua mente percebeu que havia menos sangue empoçado no chão abaixo dele do que ela esperava.

Sua garganta foi a primeira a reagir, engolfando-se e dando início a soluços curtos. Seus olhos a seguiram, transbordando lágrimas quentes. Fernanda se ajoelhou ao lado de Adam, sentindo-se muito mal. Haviam passado por tudo aquilo, feito todo aquele esforço, para acabar assim. Era muito injusto.

Ela chorou. Permitiu-se chorar livremente, extravasar a angústia acumulada, toda a tensão, toda a tristeza. Tudo que era queria era gritar até arrebentar as pregas vocais, até que alguma entidade divina a escutasse e a oferecesse algum alívio. Ela chorou por ter perdido seu namorado. O amor da sua vida, com quem ela queria passar todos os anos vindouros. Chorou por ter matado um amigo, a despeito de toda a traição. Apenas chorou. Não se preocupou em buscar razões. Não procurou porquês. Apenas deixou as lágrimas fluírem, na esperança de que elas levassem todo o mal embora consigo.

Ela estendeu a mão e tocou o ombro de Adam, tentando, uma última vez, se confortar. Se confortar ao se lembrar da força dele, da presença dele, do carinho dele... E ele tossiu.

Fernanda se aquietou de imediato, pensando não ter ouvido direito. Negando com a cabeça e já dizendo mentalmente para si mesma que estava ficando louca, ela se firmou sobre os joelhos e se debruçou sobre Adam, virando seu corpo um pouco na direção dela e... Ele tossiu outra vez, esguichando sangue da boca.

— Adam!

Fernanda apressou-se em virar o namorado e erguer-lhe a cabeça, apoiando-a em seu colo, tomando todo o cuidado para que o peso do corpo dele não repousasse sobre a haste metálica que lhe varava o abdômen. Ela acariciou-lhe o rosto, tentando não rir de nervoso e desespero, e chamou-o de novo.

— Adam?

Começou com um leve franzir de sobrancelhas, seguido por um leve murmúrio, mas ele logo apertou os olhos de leve e abriu-os um pouco. Fernanda conteve uma gargalhada.

— Oi, meu amor. — Ela disse, aproximando seu rosto do dele.

Ele arfou, tentando firmar o olhar nela.

— Oi... — Foi um sussurro penoso.

Ele tentou erguer uma mão, mas Fernanda conteve o gesto dele. Não iria deixá-lo fazer nenhum esforço desnecessário. Ela passou a mão pela franja dele, tirando alguns fios de cabelos teimosos que caíam por sua testa. Agora fazia sentido não ter tanto sangue no chão. Se a haste de metal não tivesse atingido nenhum órgão vital, ela estancaria seu próprio ferimento apenas por permanecer cravada ali. Uma estranha lógica reversa.

Mas Fernanda forçou sua mente a não se concentrar nisso, e sim nele.

— Já acabou, Adam. Acabou. — Ela falava com voz suave, a despeito do cenário sinistro que os envolviam — Agora somos só você e...

Ouviu-se o baque de uma porta sendo batida, e o ronco do escapamento duplo do Landau irrompeu pelo galpão. O V8 que funcionava debaixo do capô do sedã pareceu rugir com ódio, seus cilindros batendo com força dentro do bloco do motor. Os quatro faróis circulares se iluminaram de repente, como uma enorme besta-fera acordada de um sono profundo, e os pneus traseiros logo cantaram sua fúria.

Fernanda nem teve tempo para processar aquilo. O choque de ver aquele maldito Landau sendo ligado outra vez seria o último sentimento que ela sentiria. Agindo por instinto, tudo que ela fez foi apertar Adam contra seu próprio corpo e esperar. Só isso. O som dos pneus cantando continuou, continuou e... e continuou. Ela estranhou. Abriu os olhos com certo receio, mas pôde ver que o sedã estava cantando seus pneus traseiros quase sem sair do lugar, arrastando-se penosamente alguns centímetros para frente.

Seu cérebro processou mil coisas ao mesmo tempo. Se o Landau estava ligado, Bruno havia sobrevivido ao tiro. Como? Não importava. E Bruno não havia apenas sobrevivido como estava em condições de se arrastar para dentro de um carro e dirigir. Talvez estivesse resvalando para a inconsciência, talvez estivesse firme atrás do volante, talvez... Milhares de talvez. Mas algo ainda estava errado. Por que o carro não saía do lugar?

O freio de mão, a resposta brilhou na mente de Fernanda, e ela logo reagiu. Pondo-se de pé, ela segurou Adam pelas axilas e começou a arrastá-lo para fora do armazém. Ele se esqueceu de soltar o freio de mão.

Então ele não estava tão bem assim, já que havia esquecido algo tão trivial. Mas mesmo assim, ele estava bem o suficiente para estar atrás do volante do Landau. Não dava para ignorar. Esforçando-se o máximo que suas pernas lhe permitiam, Fernanda arrastava Adam para longe do armazém. Algo dentro dela a dizia para voltar lá e acabar de vez com aquela história, mas para isso ela precisava deixar Adam em algum lugar seguro.

E ela iria fazer isso.

Olhando rapidamente em volta e procurando algum lugar para deixar o namorado, à luz de um relâmpago viu um pequeno paiol no lado oposto do pátio, a uns 15, talvez 20 metros de onde ela estava. Era apenas um pequeno telhado erguido sobre uma estrutura de madeira com paredes de compensado para cobrir o que parecia ser um padrão de luz, mas parecia bastante sólido e não chovia debaixo dele. A duras penas Fernanda arrastou Adam até lá, seus tênis chafurdando na lama encharcada. Ouviu o motor do Landau rugindo atrás de si, como se ele protestasse por ela estar indo embora, mas o carro permaneceu onde estava.

Chegando até o paiol depois do que pareceu um milênio, ela escorou o namorado contra o padrão de luz e deu uma olhada em volta, percebendo a cerca de divisa do terreno do sítio bem atrás da modesta construção e, logo após, um barranco quase vertical que mergulhava na enorme lagoa que ela havia visto lá embaixo pouco antes de chegar àquele local enfadonho.

Suspirando fundo, segurou o namorado pelos ombros e teve certeza de que ele a olhava.

— Adam, me escute. — Ela o chamou, tendo como resposta um fraco murmúrio e um olhar perdido da parte dele — Eu volto logo, ok? Eu volto logo. Me espere. — Ela deu a devida ênfase à última frase, e o olhar dele pareceu ficar mais sério por um instante.

Suspirando outra vez, ela se pôs de pé e olhou para o galpão à frente. Dava para ver metade da dianteira do Landau se projetando pela abertura de entrada, e ainda era possível ouvir o ronco sofrido do motor do sedã. Bruno parecia ainda não ter entendido o que estava impedido o carro de se mover. Ajeitando o cabelo novamente e passando a mão pelo rosto para retirar o excesso de sangue e sujeira, Fernanda se preparou para voltar para lá.

— Fernanda... — A voz de Adam se fez ouvir, baixinha.

Ela logo se virou e se ajoelhou diante dele, segurando-o ternamente pelas bochechas.

— Não, Adam. Não se esforce. Eu vou...

— Eu... te amo. — Ele conseguiu dizer, arrastado, mas bastante compreensível.

E para ela foi como uma facada no fígado. Por alguma razão, aquelas palavras doeram. A sinceridade que elas continham chegava a machucar, dor física, torturante. Ela não se permitiu chorar outra vez. Ela iria voltar para aquele galpão e pôr um fim definitivo naquela situação. E então, ela voltaria para ele. Se ajoelhando, aproximou seu rosto do de Adam e colou sua boca à dele de leve, um beijo terno e suave, com um gosto distante de sangue e suor, uma nota de vida real que ela não pôde deixar de notar. E ele retribuiu. Apesar de seu estado convalescente, ele conseguiu retribuir. Ele ainda tinha força suficiente para expressar o que sentia por ela.

Um trovão explodiu de súbito no céu, trazendo-os de volta à realidade, e Fernanda se pôs de pé novamente.

— Eu já volto. Eu prometo.

E se virou, caminhando de volta para o pequeno armazém. Iria pôr um fim àquilo. Iria acabar com aquela palhaçada. Já não havia mais tristeza dentro dela. Não havia mais angústia, nem incerteza, nem receio. Tudo havia sido substituído por uma motivação estranhamente quente, uma raiva efervescente que a impelia adiante. Logo ela, a sonsa, a lerda, a passiva. Que via a vida passar diante dos seus olhos sem fazer nada. A songa-monga.

No final, havia sido ela a escolhida para acabar com aquilo.

Chegando até o armazém, ela se empertigou e postou-se bem à frente do Landau, sentindo-se iluminada e até um pouco aquecida pela luz que provinha dos faróis. Teve a leve impressão de ter visto um Bruno com movimentos grogues por trás do para-brisa, mas o vidro era escuro demais para ter certeza. Ela ouviu um clique vindo de baixo do carro, e os pneus de tarja branca pareceram relaxar sobre o pavimento.

O freio de mão estava solto.

Fernanda respirou fundo e esperou. Ela já havia pensado mais ou menos no que iria fazer. Precisaria contar com a sorte, mas era a única solução na qual ela conseguia pensar. Ela precisava pegar a arma novamente.

O Landau arrancou. De repente, sem cerimônia. O ronco do motor aumentou e o escapamento duplo trombeteou com força enquanto os pneus traseiros cantavam outra vez. Fernanda viu o enorme sedã vindo em sua direção e esperou o momento certo de agir. Com poucos centímetros separando seu corpo da grade dianteira do veículo, a encarregada retesou os joelhos e se jogou de lado, caindo atrás do Galaxie verde-claro. A dianteira do Landau bordô se enterrou contra a bancada de ferramentas pregada na parede, o som horrível de metal sendo amassado e vidro se quebrando preenchendo o ar. Toda a estrutura do armazém pareceu tremer com o impacto, e dois dos faróis dianteiros do veículo se apagaram. Pondo-se de pé e se virando para encarar o sedã, Fernanda mal podia acreditar que aquilo havia mesmo dado certo.

Mas não havia tempo para contemplação. As luzes de ré do Landau logo se acenderam e o sedã recuou para o meio do galpão. A vontade de Bruno de fazer com que aquela “novela” acabasse conforme os desejos dele devia ser imensa. Fernanda se virou e contornou o sedã verde um segundo antes de o Landau bordô atacar novamente, vindo enterrar seu focinho contra as portas do Galaxie. Novamente aquele som de metal se retorcendo e borracha sendo arrastada contra o pavimento, e logo o Galaxie verde jazia empenado em um canto. Sem os devidos reforços estruturais, nem mesmo os outros Galaxies seriam páreo para o Landau modificado.

Fernanda passou por trás do Galaxie bege, e o Landau bordô tentou alcançá-la. Derrapando na arrancada, o sedã avançou com ímpeto brutal em direção aos fundos do armazém, mas a encarregada se jogou para frente e saiu mais uma vez do caminhou do veículo, que veio colidir violentamente com a bancada onde ela havia encontrado a pasta amarela com a documentação da internação de Adam. Uma das calotas saltou do aro. O motor começou a engasgar e pareceu a ela ter ouvido um berro de frustração vindo de dentro do sedã, como se Bruno estivesse protestando, mas o som borbulhante que vinha dos canos de descarga era alto demais.

A encarregada contornou o Galaxie seguinte, prateado. Estava passando por trás dos carros justamente para o que o Landau não pudesse segui-la com seu porte avantajado. Ela estava caminhando o mais depressa que podia, mas não conseguia correr. Ainda estava tonta e um tanto fadigada, e sua cabeça doía-lhe terrivelmente. Houve um novo estrondo de metal sendo amassado, e ela se virou a tempo de ver o sedã bordô dando ré de volta para o meio do galpão e tentando alinhar-se na direção dela.

Ela agora contornava o Galaxie lixado. Faltava apenas contornar o próximo carro, o segundo Landau bordô concluído, para que ela conseguisse ver a arma caída ao chão. Ela se lembrava vagamente de onde a havia deixado cair e esperava muito que a movimentação do Landau não a tivesse esmagado ou a jogado para longe. Mas se ela contornasse o outro sedã bordô, ela se lembrou, ela estaria em um espaço aberto o suficiente para ser atacada. Ela precisava dar um jeito de imobilizar o sedã bordô por tempo suficiente para que ela corresse e alcançasse a pistola Glock.

O motor do Landau foi acelerado, instigando-a a agir, e ela encarou o veículo. Aquela frente deformada, como uma caveira metálica, a teria assustado em outras ocasiões. Talvez a teria feito se borrar toda. Mas agora não mais. Aquela carroceria longilínea gigante, como uma carruagem demoníaca, não a metia mais medo. Permitindo-se sorrir com uma genuína expressão de desaforo, Fernanda estendeu o braço direito e elegantemente ergueu o dedo médio na direção do carro.

Houve um segundo de hesitação onde o motor do sedã pareceu engasgar, consternado, mas seu ronco potente logo foi ouvido outra vez. O Landau retumbou seu protesto pelo escapamento duplo e arrancou, rabeando a traseira ao sair, e investiu velozmente na direção da encarregada. E era exatamente com isso que ela contava.

Esperando o momento exato, ela viu o Ford se aproximar roncando, seus faróis alaranjados tremeluzentes iluminando-a parcamente, cada vez mais próximos, o para-lama dianteiro do sedã empurrando o outro Landau para o lado e... Fernanda novamente se jogou de lado, para a esquerda, e caiu atrás do segundo Landau bordô. O veículo que Bruno dirigia passou a milímetros de suas pernas e foi enterrar sua dianteira com ímpeto na bancada de ferramentas logo atrás. Estilhaços de metal voaram pelo ar, tilintando como guizos de Natal, e Fernanda aproveitou para engatinhar para frente.

Erguendo-se parcamente, caminhou o mais depressa que pôde de volta para o meio do galpão e logo viu a pistola caída ao chão. O Landau não a esmagara por pouco. Os canos de descarga do veículo agora tremiam, o motor fraquejando como num estertor de morte, e a encarregada soube que dali aquele carro não sairia mais. Preso entre a carroceria do Galaxie lixado e o segundo Landau bordô e provavelmente engastalhado nos destroços da bancada de ferramentas, o sedã dirigido por Bruno parecia estar finalmente acuado.

Fernanda manteve-se alerta por um momento, esperando alguma reação do veículo, mas tudo o que se seguiu foi o pequeno estouro da válvula de um cilindro vermelho de acetileno que o sedã atingira ao colidir com a bancada. Fora isso, o Landau permaneceu exatamente como estava, seu motor arquejando, parecendo agonizar. Ela suspirou, sem saber exatamente o que fazer. Não sabia se queria se aproximar do sedã para se certificar como Bruno estava, ou se...

A ficha dela caiu.

Acetileno. Aquele cilindro estava vazando acetileno, um gás altamente inflamável. Provavelmente sendo usado originalmente em alguma máquina de solda, aquele recipiente agora deixava seu conteúdo escapar livremente. Fernanda precisava sair dali depressa. Ela mal havia se virado quando ouviu um clangor metálico vindo do Landau bordô, seguido por outro e mais outro. Os canos de descarga cuspiram tufos de fumaça cinza e começaram a tremer com mais intensidade. Mais além, o motor emitiu um som incerto, mas potente.

O Landau ainda resistia. Bruno ainda resistia.

Aquilo foi demais para Fernanda. Aquilo já havia durado tempo demais. Já havia feito vítimas demais. Ela não conseguiria suportar mais nada que dissesse respeito a Bruno ou àquele carro. Ela queria acabar com aquilo tudo e voltar logo para Adam.

Chega.

Saindo do armazém e levantando a arma, sem sequer notar as duas lágrimas que correram de seus olhos, ela mirou na direção das lâmpadas que pendiam do teto. Ok, eram lâmpadas fluorescentes, mas serviriam do mesmo jeito. Bruno pareceu notar o que ela estava prestes a fazer, pois o ronco do motor do Landau pareceu aumentar e as rodas traseiras começaram a patinar de marcha a ré, tentando desgarrar o sedã de onde ele havia se enfiado.

Mas não houve tempo. Retesando o dedo sobre o gatilho, Fernanda pressionou-o e sentiu outra vez a arma ricochetear em sua mão. A bala saiu do cano a uma velocidade supersônica e foi se enterrar numa luminária bem acima do Landau, fazendo as lâmpadas explodirem e uma chuva de faíscas brotar de seus polos. O acetileno que escapava do cilindro logo se incendiou, e uma violenta explosão varreu o armazém. Telhas foram arremessadas para o alto com força e uma enorme bola de fogo clareou a noite. O chão tremeu com violência, e o estrondo da detonação ecoou pelas serras e foi levado para longe pelo vento.

O súbito e violento deslocamento de ar jogou a encarregada para trás bruscamente, dezenas de detritos flamejantes do que outrora havia sido o armazém vindo aterrissar junto dela. Recompondo-se logo e erguendo-se com a ajuda das mãos, Fernanda olhou para frente e viu apenas altas labaredas amarelas diante de si.

Um repentino cansaço se abateu sobre ela. Seus ombros pesaram e suas pálpebras ameaçaram se fechar, tamanho o esgotamento físico que ela sentia. Tudo que ela queria era dormir. Se desligar do mundo por algumas horas e descansar, relaxar a cabeça e corpo após momentos tão extenuantes como aqueles. Mas ainda havia um porém.

Ainda havia Adam. Ela precisava se certificar de que ele sairia dali a tempo de ser devidamente socorrido.

Em algum momento ela o ouvira dizer que ele havia chamado o detetive Guilherme para encontrá-los ali. A ajuda estava a caminho, mas ela se certificaria disso. Arrastou-se de volta para o paiol onde havia deixado o namorado na intenção de pegar seu celular e ligar para o detetive, saber se de fato ele estava indo até eles, mas encontrou Adam de cabeça baixa ao chegar até onde ele estava. Ela arquejou.

Não.

Esquecendo-se de tudo, ela se aproximou dele.

— Adam? — Ela chamou, num sussurro, pousando a mão sobre ele e sentindo sua pele fria.

Não houve resposta. A realidade da situação se abateu sobre ela, mas ela se negou a aceitar. Posicionando os dedos ao redor do pescoço dele, sentiu sua pulsação fraca. Erguendo a mão para diante do rosto dele, sentiu que ele respirava em arfadas curtas e quase inaudíveis. Mas era a pele dele o que mais a preocupava. Estava pálida e fria demais. E aquilo não era um bom sinal.

Engasgando-se com o choro que certamente viria, ela tentou mais uma vez:

— Adam? Está me ouvindo? — Ela se aproximou e sentou-se ao lado dele, puxando-o e recostando-o em seu colo — Por favor, Adam. Eu voltei.

Um trovão ecoou nas nuvens.

— Adam... Por favor, acorda. Eu estou aqui. — Ela insistiu, envolvendo-o com os braços.

Nada.

Ela se recusava a aceitar aquilo. Se recusava a se conformar. Não era justo.

— Adam, por favor... — Ela balbuciou — Me responde.

A resposta veio de onde ela menos esperava. De quem ela menos esperava.

Com um estrondo escandaloso de metal sendo empurrado para todos os lados, o Landau que outrora havia sido bordô recuou de ré para o meio do pátio. Sua lataria estava chamuscada, agora ostentando uma doentia cor acobreada, resultado da exposição ao fogo. Quase todos os seus vidros haviam sido trincados e o vinil da capota havia sido reduzido a pedaços. O motor rangia como se todas as suas peças estivessem empenadas, e um dos pneus estava arriado. Um dos canos de descarga pendia da traseira, e um único farol dianteiro restava aceso.

Era como olhar para um zumbi. Um carro zumbi.

Um som estranho escapou da garganta de Fernanda. Era uma mistura de choro convulsivo com risada nervosa e deboche. Um som de recusa, de negação. Ela se negava veementemente a acreditar no que seus olhos viam. Não tinha mais forças para isso.

Algo se revirou dentro dela. Um sentimento quentinho, reconfortante, que subiu de seu peito e irradiou para todo seu corpo. Não importava mais. Era melhor ignorar. Ela estava com Adam agora. Iriam ficar juntos.

Juntos para sempre.

Houve um som gorgolejante quando o Landau escangalhado acelerou seu motor, as rodas traseiras patinando e jogando lama para o alto. O veículo deslizou de lado, tentando corrigir sua trajetória, o vulto negro por trás do volante tremendo de forma animalesca. Levou algum tempo, mas os pneus do sedã ganharam tração e o veículo se moveu para frente.

Fernanda não percebeu. Já não ligava mais. Estava mais preocupada em dar atenção ao sentimento caloroso que corria por suas veias. Ela sabia que aquilo acabaria logo. Não haveria mais tristeza, nem sofrimento, nem medo. Dentro de pouco tempo seria apenas Adam e ela, cumprindo a promessa mútua que haviam feito um ao outro de ficarem sempre juntos. Fazendo um movimento positivo com a cabeça, como que confirmando seus próprios pensamentos, a encarregada achegou ainda mais o corpo do namorado contra o seu e apenas aguardou.

O som descompassado do motor do Landau foi adquirindo intensidade, como se o motor se regenerasse à medida que o veículo ganhava velocidade, a despeito da sinfonia de peças fora de arranjo. Os amortecedores rangiam sobre o chão irregular, toda a carroceria do sedã emitia um som lúgubre enquanto aquele vacilante farol aceso se aproximava cada vez mais do pequeno paiol. Aquele único farol circular, com um fraco brilho alaranjado, que estranhamente parecia ser a luz da solução para tudo.

Houve um baque surdo quando a dianteira deformada do Landau atingiu a modesta estrutura de madeira, levando-a consigo numa chuva de lascas e arrancando o padrão de luz do chão com uma força tremenda. Sem perder o embalo, o veículo atravessou a cerca de divisa do sítio, arrebentando o arame com relativa facilidade, e arremessou-se barranco abaixo, parecendo flutuar no ar por uma eternidade antes de embicar para a lagoa lá embaixo.

Ouviu-se um som vultuoso de água sendo atirada para todos os lados, a superfície da lagoa recendendo em grandes ondas espumantes. Por um instante o Universo pareceu se congelar, tudo pareceu se imobilizar como se um buraco negro se abatesse sobre a terra, mas um súbito relâmpago perolado clareou a noite e colocou a realidade de volta nos trilhos.

E a última coisa que se viu na superfície da lagoa foi o nome Landau estampado em elegantes letras cursivas na tampa traseira do sedã que afundava.

 

 

FIM


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