O Landau Vermelho escrita por Matheus Braga


Capítulo 31
Capítulo 30




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807167/chapter/31

A BR-381, mais especificamente o trecho entre as cidades de Belo Horizonte e João Monlevade, é conhecida nacionalmente como “Rodovia da Morte”. O índice de acidentes é altíssimo em qualquer época do ano, graças principalmente ao tráfego constante de veículos pesados em alta velocidade e ao traçado sinuoso e não-duplicado da via. E apesar do patrulhamento constante e de todo o esforço dispensado pela Polícia Rodoviária Federal em sinalizações de advertência e campanhas de conscientização, nunca houve de fato uma redução significativa no número de mortes naquele trecho da estrada.

E mesmo com essas informações perturbadoras cutucando seu cérebro como pregos ordinários e a chuva constante que caía como uma cortina de água fantasmagórica, Fernanda não diminuiu a velocidade de seu Fiat Idea. O ponteiro do velocímetro variava entre os 100 e os 120 quilômetros por hora, apesar da noite escura. Pouquíssimos carros trafegavam no mesmo sentido que ela na rodovia, o que a garantia uma maior tranquilidade ao dirigir e lhe deixava mais livre para pensar.

O ímpeto que a havia feito “dar a louca” e pegar seu carro para ir até a localização fornecida pelo SpyTrac não havia diminuído. Pelo contrário, parecia continuar girando em sua mente como numa betoneira maléfica e desregulada, que em vez de concreto misturava sentimentos sórdidos como ódio, ranço e desejo de vingança.

Além dos próprios pensamentos da encarregada, os únicos outros sons que se ouviam eram o do vento passando rápido pela lataria do Idea e o da voz longínqua de um jornalista que vinha do rádio.

— ...relataram que o objeto avistado sobre a zona rural da cidade de Lagoa Santa possuía a forma de um triângulo de luz azul e não emitia som. Ele orbitou o céu por alguns minutos e depois desapareceu na direção da Serra do Cipó, quando...

Fernanda desligou o rádio. Seus pensamentos pareciam saturar sua mente, e ela não queria nenhuma distração externa. Porque se ela parasse para pensar racionalmente no que estava fazendo, ela provavelmente daria meia volta e iria embora. E ela não queria aquilo. Ela queria levar aquilo até o fim. Ela seguiria em frente.

Ela iria atrás do Landau e de seu motorista.

Para fazer o quê? Ela não sabia. Por qual razão? Ela também não sabia ao certo. Tudo que ela sabia era que aquele sentimento misto de ansiedade com desespero e permeado por uma estranha dose de rancor havia chegado ao seu limite máximo. Ela não poderia continuar esperando que outra pessoa fizesse algo. A polícia não havia chegado a lugar algum com a investigação e nem o próprio Adam tinha idéia de quem poderia estar fazendo aquilo com ele. E ela, que assistia a tudo de camarote, estava aflita. Aflita por saber que alguém queria matar seu namorado. Por saber que alguém queria matá-la. E por ninguém saber quem esse alguém era.

Sendo assim restava a ela, como nos filmes clichês do Arnold Schwarzenegger que ela tanto detestava, tomar uma atitude. Porque ela sabia que Adam tinha razão em um ponto: se ela passasse a localização do Landau à polícia, não havia a menor garantia de que eles acreditariam nela ou de que eles fariam algo. E mesmo se fizessem, o motorista do Landau certamente daria um jeito de escapar, como já fizera tantas outras vezes.

Então ela, a sonsa, a songa-monga, é quem colocaria um ponto final naquilo tudo. E mesmo que ela não acabasse com aquilo de fato, ao menos faria um grande avanço para a solução daquele inferno. Afinal de contas, ela tinha o fator surpresa a seu favor.

Um som baixo e distante se fez ouvir. Fernanda desviou a atenção de seus pensamentos e olhou para o lado, percebendo que o som vinha do porta-luvas. Seu celular estava tocando. Ela deu de ombros e voltou a atenção para a rodovia. Não iria atender ninguém. Pelo menos por enquanto. Não estava em condições de falar com quem quer que fosse, pois não estava conseguindo colocar ordem nem em seus próprios pensamentos.

— Em setecentos metros, saia da rodovia BR-381 e vire à direita. Uma voz feminina retumbou pelo interior do Fiat Idea, assustando a encarregada.

Ela olhou em volta, ligeiramente sobressaltada, até se dar conta de que a voz vinha do GPS de seu veículo. Ela havia inserido as coordenadas da localização do Landau no navegador da central multimídia de seu carro para não ter que ficar com o celular em mãos. E então, distraindo-se do vagalhão emocional que tumultuava seu cérebro e concentrando-se no trajeto e atendendo à orientação fornecida pelo GPS, a encarregada logo alcançou uma saída da rodovia e entrou à direita, reduzindo a velocidade e caindo em uma estrada de terra.

— Siga por onze quilômetros até o distrito de Antônio dos Santos. O GPS anunciou.

Fernanda assentiu sozinha e pisou com mais força no acelerador. O Idea agora avançava a seguros 60 quilômetros por hora, apesar do pavimento ruim e escorregadio. Graças ao seu grande vão livre passava facilmente por valetas e mata-burros que cortavam a estrada, e seus pneus de uso misto garantiam-lhe uma excelente aderência ao solo mesmo debaixo de chuva.

Em alguns momentos seu celular tocou novamente, insistente, mas ela mais uma vez ignorou. Quem quer que estivesse ligando ia querer saber onde ela estava e o que ela estava fazendo, e ela não daria explicações a ninguém enquanto não tivesse feito algo. Nem que fosse chegar ao local indicado pelo GPS e olhar para um monte de nada.

Sem maiores surpresas pelo caminho, o veículo chegou ao pequeno distrito de Antônio dos Santos em menos de meia hora. O céu noturno, carregado e chuvoso, estava escuro como um poço de piche e os poucos postes de luz ao longo da rua principal da cidadezinha pouco iluminavam com suas lâmpadas de vapor de mercúrio. A encarregada dirigiu lentamente na direção da pracinha principal do distrito, completamente deserto àquela hora. Já passava das nove e meia da noite e não se via uma única luz acesa além das que pendiam dos postes. A pequena Antônio dos Santos parecia mais uma vila fantasma. E assim que o Idea passou pela pracinha da rua principal, o GPS soltou:

— Siga na direção de Barão de Cocais por mais três quilômetros.

E pela primeira naquela noite, Fernanda se permitiu suar frio.

Estar se aproximando do seu objetivo de fato fez com que um enregelar estranho lhe subisse pela espinha, e o sentimento de realidade da situação alcançou-a repentinamente. Pela primeira vez ela se permitiu pensar no pior. E se o motorista do Landau realmente estivesse no local indicado pelo SpyTrac? E se ele realmente quisesse vê-la morta? E se ele a atacasse, o que ela faria para se defender? E mesmo se ele não estivesse por lá e ela descobrisse quem ele era e as intenções dele, o que ela faria depois? E como ela daria a notícia a Adam?

O celular de Fernanda tocou mais uma vez, estridente. Com o Idea parado e uma pontinha de incerteza lhe cutucando a nuca, ela suspirou e finalmente decidiu ver quem era. Pegando o aparelho no porta-luvas, ela olhou para a tela e viu quem era.

Adam.

Na tela de fundo, uma foto dele usando um terno cinza e ostentando um sorriso discreto e um olhar intenso, superposto por aquelas sobrancelhas angulosas que lhe deixavam permanentemente com um ar severo.

O aparelho continuava tocando e vibrando.

Chamada recebida...

Fernanda suspirou. Apertou o telefone com mais força e encarou a foto do namorado na tela como se pudesse encará-lo de fato. Queria poder dizer mil coisas a ele, mas sabia que aquele não era o momento.

Me desculpe, Adam. Ela sussurrou baixinho, levantando seu celular e encostando-o em sua testa Mas estou fazendo isso por nós dois.

E ela jogou o aparelho, que ainda tocava com insistência, de volta no porta-luvas. Engatando a marcha do Idea, arrancou e seguiu pela rua principal do distrito, seguindo na direção de uma plaquinha em um poste que dizia Barão de Cocais, 28 km e logo caindo em um novo trecho de estrada de terra, ainda mais escuro do que a que conduzia ao distrito de Antônio dos Santos. Era uma estrada tortuosa, encimada por grossos galhos de árvores que tapavam a visão do céu em alguns pontos, com valetas de erosão mais fundas e rochas pontiagudas projetando-se para cima, ameaçando furar pneus e escapamentos que ousassem esbarrar em suas extremidades. A água da chuva parecia se acumular sobre a copa das árvores e desabar com ainda mais intensidade sobre a estrada, dando um ar de Jurassic Park maldito àquele ambiente. Os relâmpagos que tremulavam entre as nuvens não ajudavam a clarear a negrura que cobria a terra, e os faróis do Idea iluminavam parcamente os vinte metros à frente do veículo.

Fernanda redobrou sua atenção na direção. Sentia-se subitamente dentro de um filme, uma obra surreal saída do recanto mais obscuro da mente de Stephen King. O Idea Adventure mantinha-se ainda bem seguro ao rodar, mas a encarregada suspeitava de cada pedra, de cada forma escura que surgia adiante. Seguiram assim, Fernanda fazendo companhia ao Idea e o carro retribuindo o sentimento, como um único ser biomecânico esgueirando-se silenciosamente sob a escuridão.

Por isso, quando o GPS finalmente deu um novo sinal de vida, o susto foi garantido.

 Em cinquenta metros, vire à direita e desça por mais duzentos metros.

Fernanda quase gritou.

Estava passando por uma plantação de eucaliptos que margeava a estrada em ambos os lados e deixava tudo com um clima ainda mais funesto, mas conseguiu perceber uma plaquinha branca circular brilhando alguns metros à frente, refletindo os faróis do Fiat Idea. Era apenas uma roda de arado fixada a uma estaca de madeira com uma inscrição já bem deteriorada pelo tempo, mas com uma seta vermelha ainda visível indicando uma entrada à direita.

Obedecendo à indicação do GPS, a encarregada dobrou à direita. Começou a descer por um morro de terra bastante batida, e pela primeira vez o Idea escorregou de lado. Fernanda consertou a trajetória do veículo com um golpe de direção, mas as rodas travaram com a frenagem subsequente. Desviando de um enorme coqueiro de macaúba à esquerda, a encarregada visualizou um pequeno descampado à direita da estrada e achou melhor encostar.

Estacionando o Idea e apagando os faróis, Fernanda recostou-se contra o banco e respirou fundo. Dali em diante a estrada era bastante íngreme, e lá embaixo ela conseguiu divisar o brilho tênue da superfície de uma enorme lagoa. Fazendo uma rápida avaliação do cenário, ela achou melhor deixar o carro exatamente onde estava.

E descer a pé.

Outra vez aquele suor frio brotou em seu couro cabeludo. Estava escuro, frio, chovendo e ela não conseguia enxergar nem cinco metros à sua frente sem o auxílio de alguma fonte de luz. A estrada à frente tornava perigosa a descida do Idea, e ela não iria arriscar derrapar de lado e cair com ele naquela lagoa. Descer a pé era, sim, a melhor opção.

Mas ainda havia outro porém. Pegando seu celular no porta-luvas e ignorando as incontáveis chamadas perdidas de Adam, ela abriu o Google Maps e percebeu, com certa apreensão, que as coordenadas fornecidas pelo rastreador que ela jogara contra o Landau estavam a meros 100 metros à sua frente. Ela estava se aproximando do covil do “Landau vermelho”. E seu motorista, um monstro sádico e sanguinolento, poderia muito bem estar por lá.

Fernanda piscou e suspirou de novo. Forçando a vista através do para-brisa, não divisou nenhuma luz acesa adiante. Também não se ouvia nada além da chuva e do vento que soprava entre as árvores de forma arrastada e impetuosa. Os vidros do Idea estavam começando a embaçar, e ela precisava tomar uma decisão. Precisava escolher se seguiria em frente ou daria as costas e voltaria para casa, satisfeita por pelo menos ter descoberto o esconderijo do Landau assassino. Mil vozes ecoavam em sua mente, cada uma delas dando-lhe um argumento para ir adiante ou retroceder, e ela sentiu que estava pirando.

Para por fim de uma vez àquilo, resolveu se mover. Fechou sua jaqueta até o pescoço, enrolou o cabelo em um coque apertado e empunhou seu celular com firmeza, destravando-o e abrindo novamente aquela foto de Adam em seu terno cinza.

 “Vamos ficar juntos desta vez.”

Foi como se a voz dele ecoasse pelo interior do Fiat, servindo como o estimulante que faltava a Fernanda. Respirando fundo mais uma vez e engolindo em seco, a encarregada tirou a chave da ignição e abriu a porta do carro com um gesto brusco.

A intensidade da chuva a atingiu de imediato como uma bofetada no rosto e o frio imediatamente chegou-lhe aos ossos, fazendo-a arfar com o choque térmico repentino. Ela bateu a porta do carro e trancou-o, enfiando a chave no bolso e tentando acender a lanterna de seu celular. E quando o flash branco finalmente cortou a escuridão, uma coruja que dormia no galho baixo de um dos eucaliptos assustou-se e voou a centímetros de Fernanda, piando alto e quase jogando-a ao chão.

A encarregada levou a mão ao peito, arfando pesadamente e já completamente ensopada pela chuva. Se ela fosse um pouco mais supersticiosa, diria que aquilo havia sido um sinal. Mas ela não era supersticiosa. E agora que já estava ali, não retrocederia.

 “Vamos ficar juntos desta vez.”

Recompondo-se, ela endireitou o corpo e seguiu pela estrada que descia à frente. Tomou a precaução de conseguir um pedaço de madeira comprido e grosso o suficiente para ajudá-la a se sustentar, enquanto iluminava o caminho com o celular. Ela procurava manter o facho de luz da lanterna direcionado para o chão o mais perto possível de seu corpo, para evitar ser vista por alguém que por acaso estivesse nas redondezas. Escorregando aqui e ali e já morrendo de vontade de engolir um chá mate bem quente, Fernanda chegou ao pé do morro e deu de cara com uma porteira velha pintada de preto. A lagoa agora era bem visível à esquerda da estrada, e seu espelho d’água escuro denunciava sua grande profundidade. Dali em diante a estrada contornava a lagoa e subia, levando ao que Fernanda deduziu ser a entrada de algum sítio ou chácara.

Enfiando o celular no bolso da jaqueta por um momento e agradecendo a Deus por ele ser à prova d’água, a encarregada passou por cima da porteira. A madeira rangeu um pouco no início, mas logo firmou-se. Pousando no meio da estrada novamente, Fernanda parou e escutou por alguns instantes, certificando-se de que não havia mesmo alguém por ali. Empunhando novamente seu telefone, direcionou o facho de luz da lanterna para baixo e continuou em frente. Subiu o ligeiro aclive após o contorno da lagoa e parou para contemplar o que se erguia diante dela.

Uma porteira dupla, também pintada de preto e coroada por um telhado estilo colonial sustentado por grossas toras de eucalipto, anunciava a entrada de um sítio. A placa com o nome da propriedade já estava bastante desgastada pelo tempo e sua leitura era impossível, mas ela continuava lá no alto, suspensa por correntes enferrujadas. Fernanda aproximou-se e fez uma nova avaliação do entorno. Depois da porteira, uns trinta metros acima, erguia-se uma casa modesta e, mais além, o que parecia ser um pequeno galpão improvisado com chapas de zinco. Das construções não provinha nenhuma luz ou som, e a encarregada julgou que estavam desertas. O Landau poderia até estar ali, mas seu motorista não estava.

Engolindo em seco mais uma vez, ela reuniu cada pontinha de coragem que havia dentro dela e pulou a porteira de entrada do sítio. Ao lado da via de entrada havia algumas moitas de bambu fino e algumas roseiras bem volumosas, e Fernanda tratou de se esconder por trás delas enquanto subia em direção à casa. À frente da construção estendia-se um pátio semicircular modesto, e a encarregada avaliou cada centímetro dele antes de apagar a lanterna de seu celular e andar sorrateiramente até a varanda da frente da casa.

Entrar debaixo do telhado da varanda e escapar da chuva fria foi um alívio momentâneo que Fernanda permitiu-se sentir, a fim de quebrar um pouco de toda a tensão que a envolvia. A atmosfera à sua volta parecia feita de algum gás pesado, sufocante e que incitava ataques de ansiedade, mas a encarregada tratava de respirar fundo e se controlar. Já havia chegado mais longe do que qualquer outro naquela bagunça toda. Ela não ia pirar agora.

 “Vamos ficar juntos desta vez.”

E iriam mesmo. Fernanda ia descobrir algo que os ajudasse a se livrar daquele inferno e então desfrutariam de sua vida a dois com a tranquilidade que mereciam. Viajariam juntos para algum lugar quente e ensolarado, alguma praia paradisíaca no Nordeste que os afastasse de todo aquele sentimento lúgubre proporcionado pelas ações do “Landau vermelho”.

Sentindo aquele ímpeto inicial aquecê-la novamente, ela arfou e começou a contornar a casa lentamente em direção aos fundos. E logo na primeira esquina à esquerda, saindo da varanda e entrando numa pequena garagem coberta, deparou-se com aquele dinossauro metálico, escuro e amaldiçoado que tentara esmagá-la contra o muro da casa de Adam. Ela reconheceria aquela traseira empenada pela colisão do ônibus 2950 em qualquer lugar.

Estava diante do “Landau vermelho” mais uma vez.

Ela não segurou uma risada nervosa. Não exatamente uma risada, mas uma mistura de suspiro com deboche e escárnio. Porque aquele carro enorme, que rugira seu motor para ela como uma fera demoníaca e avançara em sua direção como um trem descarrilado, não parecia tão amedrontador agora. Com aquela traseira empenada e uma de suas rodas traseiras arriadas, parecia um enorme monstro africano recém-abatido por um caçador.

Fernanda permitiu-se um sorrisinho ordinário. Não se sentia exatamente satisfeita, mas estava um pouco melhor por saber que o “Landau vermelho” ficaria fora de circulação por um bom tempo. Talvez por tempo suficiente para que a polícia encontrasse quem havia estado ao volante dele por todo esse tempo. Dando uma olhada em volta e percebendo que não havia mais nada por ali além do sedã escangalhado, a encarregada terminou de contornar a casa com cautela. Parando diante da porta de entrada, ela suavemente girou a maçaneta e tentou empurrar a folha de madeira, mas ela estava trancada. Reprimindo um resmungo de frustração, ela se virou e encarou o galpão que se erguia por trás da casa.

Era uma construção modesta, mas bem estruturada. Parecia ter quase 500 metros quadrados e um único portão de acesso, bem à sua frente. Fernanda adiantou-se, curiosa para saber o que haveria lá dentro. Saindo para a chuva novamente, correu até o portão e constatou que uma corrente havia sido passada sobre a fechadura, mas o cadeado que pendia entre os elos não havia sido trancado.

Ela não ficou surpresa. O motorista do Landau não esperaria receber nenhum visitante ou intruso naquele lugar, então não precisaria se preocupar em trancar tudo. Soltando o cadeado e puxando a corrente, destrancou o portão e adentrou o galpão, sendo imediatamente engolida pela mais absoluta escuridão. Foi como se ela de repente tivesse caído dentro de um buraco negro. O ar era quase congelante e ela não via um palmo sequer diante do rosto. Fechando o portão atrás de si e empunhando seu celular mais uma vez, destravou o aparelho e acendeu a lanterna, direcionando a luz branca para frente e quase deixando o aparelho cair com a súbita fraqueza que se abateu sobre ela.

Um trovão retumbou no céu, como uma explosão apocalíptica. Porque ali, bem diante dos olhos incrédulos de Fernanda, estava a visão mais perturbadora de sua vida. Algo sem sentido, doentio, visivelmente elaborado por uma mente diabolicamente perturbada. Portas, para-lamas e chapas penduradas junto às paredes. Canos de descarga e peças de motor empilhadas sobre bancadas nas laterais do recinto. Pistolas de tinta, adesivos isolantes e um pequeno compressor de ar cuidadosamente posicionados mais além.

E mais seis Landaus estacionados lado a lado no meio do pequeno galpão.

Outro trovão explodiu no céu, estremecendo o mundo, e o GPS do celular de Fernanda finalizou:

 Você chegou ao seu destino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Landau Vermelho" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.