O Landau Vermelho escrita por Matheus Braga


Capítulo 30
Capítulo 29




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Foi o estopim para que se iniciasse uma acalorada discussão.

Fernanda negou-se veementemente a passar a localização fornecida pelo aplicativo de rastreamento, mas Adam permaneceu insistente em consegui-la. Haviam descido para a garagem para verificar o quadro geral de força da casa.

— Pelo amor de Deus, Adam, enfie um pouco de juízo nessa sua cabeça! — Fernanda exclamou, em tom alterado, gesticulando freneticamente — Isso aqui é vida real, e não um filme trash do Arnold Schwarzenegger! Não existe essa coisa de “vingança com as próprias mãos”. Isso é maluquice!

— Fernanda, eu não vou aceitar ficar aqui sem fazer nada depois de tudo o que houve! — Ele devolveu, também alterado, enquanto mexia no disjuntor de luz, que havia sido desligado — E mesmo que você não me passe a localização, eu posso descobri-la por mim mesmo. Também tenho acesso ao SpyTrac.

— Então tá, Adam, vai lá. Vá atrás de um assassino psicopata sozinho e com o braço machucado. Vai lá usar seu kung fu, dar um hadouken na fuça do sujeito. — Fernanda ironizou e cruzou os braços, emburrada — Vou ficar só assistindo, então.

O gerente religou a chave geral do disjuntor e as luzes da casa se acenderam. Ele fechou o quadro de luz num movimento brusco e se virou para a namorada com um semblante que misturava raiva e tristeza. Um trovão ribombou no céu, como se complementasse a expressão dele.

— Não quero brigar com você por isto, Fernanda. — O tom de voz dele saiu com um tom de resignação — Mas acho que você não entende o que estou sentindo agora.

Ele se virou e caminhou de volta para dentro de casa, no que foi seguido pela namorada. Ela sabia o que ele queria dizer. Ela podia até imaginar o quão terrível devia ser a combinação da tristeza pela perda do irmão com a impunidade dos envolvidos mais o terror e angústia a que estavam sendo submetidos pelas ações do “Landau vermelho”. Mas era só isso. Ela podia imaginar, mas nunca sentir o que ele devia estar sentindo.

E se ela não podia sentir, ela não podia entender.

— Tem razão, Adam, eu não entendo. — Ela concordou, tentando ser sensata — Eu só quero que você seja um pouco racional. Se você quer ir atrás do Landau, pelo menos ligue para o Guilherme e peça ajuda policial.

Outro trovão estremeceu a casa.

— Fernanda, eles não souberam nem diferenciar um Galaxie LTD de um Landau. Eles não conseguiram evitar nem uma morte sequer. Na verdade, a polícia nem fez muita coisa até agora. — O gerente devolveu, sem diminuir o passo — Acha mesmo que acreditariam que você conseguiu colocar um rastreador naquele carro? E mesmo que acreditassem, acha mesmo que mandariam uma equipe para o “cafundó do Judas” sem sequer terem certeza de que o Landau de fato está lá? Estamos no Brasil. O máximo que vão fazer é falar “Aham, tá bom, vou gerar seu número de protocolo”.

Fernanda percebeu que não conseguiria demovê-lo. Suspirando fundo, ela apelou para o lado sentimental.

— Adam, espere. — Ela alcançou-o e segurou-o pelo braço, fazendo-o parar e se virar — Não faça nenhuma besteira, por favor. Sei que você é um homem valente e muito corajoso. Conheço suas habilidades. Mas... — Ela olhou-o no fundo dos olhos e baixou o tom de voz — Já te perdi uma vez. Não quero perdê-lo de novo.

E pareceu funcionar. Sentimentos eram o ponto fraco de Adam, e a fala da namorada pareceu tocá-lo. Seus olhos negros permaneceram tensos por alguns instantes, mas ele logo passou a mão pelo cavanhaque e pareceu encolher os ombros.

— Tudo bem, Fernanda. — Ele suspirou, a contragosto — Não vou fazer nenhuma besteira. Eu prometo.

Ela arfou, aliviada, e achegou-se a ele, recostando a cabeça sobre seu peito.

— Você sabe que estamos vivendo um momento muito perigoso. Não suporto a idéia de me afastar de você outra vez.

Ele apoiou o queixo sobre a cabeça dela e enlaçou-a com o braço direito.

— Não pense nisso. — Ele murmurou — Não vou embora de novo. Vamos ficar juntos desta vez.

Fernanda inspirou fundo e soltou o ar devagar, relaxando o corpo. Ela acreditava em Adam. Apenas o fato de tê-lo ali, junto a ela, lhe transmitia uma enorme segurança e despertava nela o desejo de fazer todo o possível para tornar o relacionamento deles cada vez mais duradouro e repleto de cumplicidade.

Passaram algum tempo assim, juntinhos, como dois radiadores se esfriando mutuamente, mas Adam logo se recompôs e afastou-se um pouco.

— Vamos subir para o meu quarto. — Ele disse — Quero ver no que aquele desgraçado mexeu.

E enquanto subiam, Fernanda lembrou-se de um detalhe.

— Ele estava segurando alguma coisa na mão esquerda, você percebeu?

— Sim. — O gerente assentiu, ligeiramente tenso, enquanto ajeitava o braço esquerdo na tipóia.

— Parecia uma pasta, ou alguma coisa assim. — A encarregada continuou — Faz idéia do que pode ser?

Adam negou com a cabeça.

— Podem ser mil coisas. — Ele soltou, adentrando seu quarto e olhando em volta — Meus documentos pessoais, documentos do meu pai, ou da empresa, ou a escritura da minha casa ou de algum dos meus outros imóveis, sei lá.

Fernanda entrou no quarto também e se postou ao lado do namorado.

— Vamos chamar a polícia? Ou o Guilherme, pelo menos?

— Ainda não. — Adam fez um gesto negativo — Vamos ver o que está faltando primeiro.

A encarregada suspirou, cruzando os braços e avaliando a confusão que havia sido feita ali. Agora com a luz acesa, tinham uma visão melhor do cômodo. As gavetas da cômoda estavam puxadas e seu conteúdo revirado. O criado-mudo ao lado da cama também havia sido mexido. A primeira gaveta do guarda-roupa havia sido puxada e seu conteúdo estava caído ao chão. Fernanda aproximou-se para checar.

— O que você guardava nesta gaveta?

Adam pareceu ligeiramente embaraçado, enquanto verificava as gavetas da cômoda.

— Hã... Minhas cuecas.

A encarregada parou a meio caminho, virando-se para o namorado com um ar divertido.

— Ah, é mesmo? — Ela provocou, com um tom ordinário na voz — Vamos ver o que temos aqui, então.

Ela se abaixou e começou a virar as peças esparramadas pelo chão. Eram boxers vermelhas e pretas, em sua maioria, e Fernanda fazia questão de olhar uma por uma apenas para ver as reações de Adam. Ele parecia, de alguma forma, desconcertado. Ok, ela mesma já havia tirado a cueca dele algumas vezes, mas entre isso e analisar suas roupas de baixo tão cruamente havia algo... diferente.

— Que tal procurarmos por alguma coisa útil? — Ele sugeriu, fechando as gavetas da cômoda e caminhando em direção ao seu criado-mudo para verificar os documentos que ali estavam.

— Não sei, não. Estou gostando do que estou vendo aqui. — Fernanda devolveu, erguendo uma boxer Louis Vuitton dourada no ar — Nunca te vi usando essa.

— Dá pra me ajudar, por favor? — Adam elevou o tom de voz enquanto abria sua carteira e checava seus documentos pessoais.

— Hummm, tamanho G. — Fernanda continuou sua avaliação da roupa íntima de seu parceiro, falando mais consigo mesma do que com ele — Sorte sua que você tem com o quê preencher isso tudo, não é?

Adam se virou com o cenho franzido.

— Fernanda...

— Eu seeei, Adam. Só estou brincando. É que esse climão está chato e eu queria quebrar o gelo. — Ela se pôs de pé e caminhou até ele, arfando e dando-lhe um beijo suave na bochecha — Mas é sério, quero ver você usando aquela Louis Vuitton depois.

Ele relaxou o semblante, suas bochechas corando de leve.

— Depois a gente combina isso.

Fernanda deu uma risadinha e concentrou-se em ajudá-lo.

— E aí, está faltando alguma coisa?

— Aqui, não. — Ele fechou o criado-mudo, encarando-a — Você achou alguma coisa entre minha roupa íntima, sua depravada?

— Não. — Ela devolveu, mordendo o lábio inferior de leve — Deveria?

Adam devolveu com um sorrisinho, mas depois seu semblante fechou-se com rispidez, como se ele tivesse subitamente se lembrado de algo.

— Na verdade, deveria. – Ele respondeu baixinho.

Piscando os olhos algumas vezes, o gerente adiantou-se e se ajoelhou junto ao conteúdo da gaveta caído ao chão, espalhando suas boxers ainda mais e procurando algo entre elas com certa ânsia. Fernanda veio até ele.

— O que é?

Ele pareceu não ouvir. Continuava revirando suas peças íntimas em busca de algo.

— Adam?! — Fernanda chamou-o — Descobriu o que está faltando?

— Documentos pessoais. De quando estive nos Estados Unidos. — Ele respondeu, sem sequer encará-la.

A encarregada não entendeu.

— Porque alguém iria querer pegar seus documentos dos Estados Unidos?

O gerente parou de procurar e se pôs de pé, ajeitando sua tipóia com um gesto lerdo e permanecendo de costas para Fernanda. Toda sua expressão corporal demonstrava uma súbita exaustão, e em seu rosto estampou-se uma estranha tristeza.

— Você não entende, não é? — Ele indagou, com voz aguada — Tudo o que comprova que eu estive nos Estados Unidos por doze anos estava naquela pasta. Sem ela, não consigo provar que eu estive lá sequer a passeio.

A realidade a atingiu como uma bala de canhão no meio da testa. Sentindo uma súbita falta de ar e consciente de que seus olhos deviam estar arregalados como duas bolas de golfe, Fernanda pôs-se a falar bem devagar:

— Então... Sem esses documentos, a culpa dos assassinatos do Landau pode recair toda sobre você. Porque você não vai conseguir provar que esteve morando fora do país e nenhum juiz irá aceitar apenas sua palavra como prova.

Ele se virou para fitá-la, assentindo.

— Exatamente.

Ambos olharam para o conteúdo da gaveta caído ao chão.

Desgraçado. Era a única e melhor definição para o motorista do Landau, e brotou na mente de ambos como um flash de luz. Porque quem quer que fosse o sujeito, sabia exatamente o que fazer e como fazer para que a suspeita recaísse exatamente sobre Adam. Por mais evidências que ele apresentasse para comprovar sua inocência, sempre haveria a suspeita de que ele estava na verdade se vingando dos assassinos de seu irmão.

O casal trocou um olhar vazio, e Fernanda percebeu uma depressão profunda refletida nos olhos do namorado. Uma depressão e algo mais. Adam não estava incomodado apenas com a perda de documentos, ela pôde ler na expressão dele. Naquela pasta havia mais alguma coisa que ele não estava dizendo, mas ela não focou naquilo. Devia ser algo muito pessoal dele, e esse detalhe ela descobriria mais adiante.

Ela tratou de se achegar a ele e envolvê-lo num abraço.

— O que você vai fazer? — Ela perguntou baixinho, mais para incentivá-lo a falar do que para saber mesmo o que ele faria.

— Eu ainda não sei. — Ele respondeu, deixando-se ser confortado por ela.

— Vai ligar para o Guilherme?

Ele demorou um pouco para responder, mas por fim concordou.

— Talvez. Mas não de imediato. — Ele ergueu os olhos — Agora eu só quero descansar e... Bom, preciso passar algum tempo sozinho.

— Tudo bem. — Fernanda aquiesceu, sem discutir — Vou embora então.

Porque ela sabia que ele precisava de espaço pessoal naquele momento. Porque assim que ele pronunciou Estados Unidos, ela soube que lembranças de Alan pipocariam na cabeça do namorado pelo resto da noite. Ele precisava de um tempo consigo mesmo para se recompor e, quem sabe, chorar sozinho um pouco. Traduzir as angústias da alma em forma de lágrimas às vezes é reconfortante. Fernanda queria estar ao lado do namorado para oferecê-lo algum conforto, mas ele queria ficar sozinho e ela entendia que ele precisava daquele momento consigo mesmo. Ela não faria nenhuma objeção. E além disso, ela tinha outros planos em mente.

Adam ergueu a cabeça e encarou-a com ternura.

— Obrigado por entender, amor.

Ela devolveu o olhar terno e sorriu largamente. Ele franziu o cenho.

— O que foi?

Ela aproximou-se até que suas testas estivessem unidas e soltou baixinho:

— É a primeira vez que você me chama de amor.

Desta vez foi Adam quem sorriu, suspirando um pouco. Mantiveram-se um tempo como estavam, as testas unidas e as pontas de seus narizes se tocando, cada um com um sorriso bobo no próprio rosto, mas por fim se afastaram um pouco. O olhar intenso e o beijo que se seguiram foram bastante semelhantes aos trocados por Jack e Rose na proa do Titanic na famosa cena em que ela diz que “está voando”. De repente foi como se todo o Universo tivesse se colocado a entoar uma melodia lírica para embalar aquele momento, com um solo de piano, flautas doces e violinos tocando ao fundo, tendo como pano de fundo uma noite de cores infinitas, cintilantes e profundas. Tudo era mágico, tudo era lascivo, e o toque das bocas de Adam e Fernanda parecia um bálsamo divino maravilhoso que aliviava o terror e tensão a que estavam submetidos.

Era cósmico.

Mas a realidade não demorou a bater à porta, e o celular de Fernanda apitou. De início não deram importância, mas o aparelho logo apitou uma segunda vez. Ligeiramente contrariada — mas ainda mantendo o sorriso de satisfação estampado no rosto — a encarregada pegou seu celular e percebeu que Bruno havia lhe enviado duas mensagens no Whatsapp.

Ela abriu a conversa e leu as mensagens.

vc mexeu no meu celular, né? e_e’

o spytrac tem histórico de visitas, tá?? Kkkkkkkkkk

Ela sentiu-se subitamente mal. Virou-se para Adam, resignada.

— Eu vou embora. — Ela disse — Você tem que descansar e eu tenho que... resolver umas coisinhas.

Adam franziu uma sobrancelha.

— “Coisinhas"?

— Sim, coisinhas. — Ela devolveu, com ar de desaforo, mas depois se recompôs — Mas é sério, Adam. Preciso ir.

— Tudo bem, então. — Adam finalizou — Vem, eu te deixo em casa.

Não conversaram muito mais depois disso. Desceram, pegaram o Fiat Toro do gerente e ele deu a volta no quarteirão, deixando-a em casa. Trocaram mais algumas palavras e beijos dentro da caminhonete e concordaram que iriam juntos à delegacia na manhã seguinte. Adam tinha certeza de que Guilherme daria um jeito de conversar com eles, apesar de ser domingo.

Fernanda concordou e, despedindo-se do namorado com mais um beijo, saiu do carro e correu para casa para escapar da chuva. Dando uma rápida sacudida na roupa para tirar o excesso de umidade e ouvindo a caminhonete de Adam se afastar, a encarregada suspirou. Estava prestes a cometer uma loucura.

Porque uma fala de Adam estava se repetindo em sua mente desde o instante em que ela a ouvira.

"Vamos ficar juntos desta vez."

E iriam mesmo. Ela tomaria as devidas providências para isso. Entrando em casa, tirou seu celular do bolso e abriu o Whatsapp às cegas, clicando na primeira aba de conversa e digitando uma resposta às mensagens de Bruno.

sim, Bruno, eu mexi no seu celular, me desculpe :(

é que a situação está ficando complicada, e eu não queria ter te envolvido nisso.

mas obrigada por sua ajuda ;)

pelo que vc já deve ter visto aí, eu já descobri onde o Landau está.

E para finalizar, ela enviou a localização das coordenadas fornecidas pelo aplicativo de rastreamento.

Na sequência, ela correu para o quarto e trocou de roupa. Tirou as peças molhadas que usava e tratou de vestir uma calça comprida, uma camiseta de malha e uma jaqueta e calçar um par de tênis confortáveis.

"Não vou fazer nenhuma besteira. Eu prometo."

Era o que Adam havia dito. Ele havia prometido que não faria nenhuma besteira. Mas ela não havia prometido nada. E ela faria uma besteira. Porque havia algo implícito no olhar de Adam que a motivara a tomar aquela decisão. Quem quer que fosse o motorista do Landau, ele havia levado mais do que apenas documentos pessoais de Adam naquela pasta. Ele havia levado algo que poderia destruí-lo em vários sentidos, ela pôde ler nos olhos do namorado. E ela não permitiria que isso acontecesse.

"Vamos ficar juntos desta vez."

A encarregada prendeu seu cabelo num rabo de cavalo apertado e olhou para o relógio sobre seu criado-mudo, percebendo que passava pouco das oito e meia da noite. Era noite de sábado, ainda estava razoavelmente cedo para fazer o que quer que fosse. Fernanda pegou as chaves de seu Fiat Idea, seu celular e sua carteira e saiu. Entrou no carro, ligou-o e saiu para a noite chuvosa novamente. Acelerando pelas vias principais de seu bairro, ela logo chegou ao Anel Rodoviário de BH. Tomou-o e seguiu no sentido Vitória.

No sentido da cidade de Caeté.

Sua cabeça estava a mil. Várias frases e cenas recentes passavam diante dos seus olhos como em um retroprojetor cerebral travado em replay infinito, acionado por algum espírito malfadado, tudo girando e vindo à tona num turbilhão vertiginoso. Adam estava dizendo:

"Alguém dirigindo um Landau bordô matou o delegado Lacerda, o Ramon, o Arthur, o Gustavo e o Heitor. Tudo isso tendo início na mesma época em que retornei ao país."

E Guilherme estava perguntando:

"Como o Adam reagiu à morte do irmão?"

E então, era Adam quem dizia, com voz embargada e uma lágrima correndo por seu rosto:

"Eu só queria levar uma vida normal. Voltar dos Estados Unidos, assumir os negócios do meu pai e, quem sabe, tentar ser feliz daí em diante."

Depois, era Bruno quem comentava:

"Bom, para mim está muito claro que tem alguém tentando prejudicar o Adam. De uma maneira doentia, mas meu palpite é esse. O negócio é descobrir quem e por quê."

E Guilherme perguntou de novo:

"Você sabe de alguém que possa querer prejudicar o Adam?"

Em seguida, era Adam segurando a mão de Fernanda e dizendo:

"O que eu quero mesmo é te agradecer por acreditar em mim novamente. Por acreditar em nós."

E a esposa do gerente da oficina mecânica estava perguntando:

"Vocês estão juntos, não é?"

Ao que Fernanda simplesmente respondeu:

"Estamos, sim."

E a frase que Adam dissera mais cedo pareceu apenas complementar:

"Vamos ficar juntos desta vez."

E, logo após, outra frase dita pelo gerente em tom glacial:

"Acho que você não entende o que estou sentindo agora."

E por fim, a imagem daquele Landau enorme, quilométrico, com aqueles quatro faróis brilhantes e diabólicos avançando em direção a ela no intuito de esmagá-la. Aquele ronco grave ecoando pelos canos de descarga como um potente rugido lúgubre e aqueles vidros escuros, negros como uma noite sem estrelas refletida sobre o mais profundo lago. A imagem de corpos mutilados por aquele sedã bordô sendo atirados de lado, nuvens rubras de sangue respingando sobre aquela carroceria de proporções gigantescas e, por trás do volante, um vulto negro tenebroso e sem rosto, algo um tanto reptiliano.

Ao voltar a si, Fernanda teve um sobressalto que quase fez seu carro dançar entre as faixas da rodovia. Arfando e pressionando ainda mais o acelerador, fez seu Idea Adventure ganhar velocidade. Por que desta vez ela iria tomar uma atitude. Abandonaria a imagem de "songa-monga", de mulherzinha frágil e "avoada" e correria atrás de seus interesses. Ela já havia sido submetida a estresse demais para simplesmente cruzar os braços e esperar outra pessoa aparecer com a solução para o caso do "Landau vermelho".

Adam dissera que ficariam juntos desta vez. E ela iria fazer com que isso se tornasse realidade.

Ela iria atrás da verdade. Colocaria um ponto final naquela angústia. Ou, pelo menos, tentaria. Porque Adam prometera que não faria nenhuma besteira, mas ela não havia prometido nada.

Ela iria atrás do Landau.


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