Kháos escrita por Alice


Capítulo 4
Zahir


Notas iniciais do capítulo

Exp.

Em árabe: 1. algo ou alguém que uma vez tocado ou visto jamais é esquecido. 2. Situação que ocupa o pensamento e pode levar à loucura.



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— Agora é a hora de vocês me mostrarem o que prepararam sozinhos, então prontos?

O coro de "Sim!" podia ser ouvido à distância. Ramona riu alto, animada por ver as crianças se divertindo tanto. Para a última aula da semana, resolveu trabalhar com a criatividade deles ao organizar pequenos trios que precisavam criar uma coreografia para a música escolhida por outro trio. Era algo rápido, mas que ao longo das apresentações a fez ficar emocionada. Aquelas crianças realmente possuíam talento e uma força de vontade tão grande que a deixavam orgulhosa. Eram seus pupilos absorvendo o que ela estava ensinando e transformando em algo único.

Após o fim da aula, se despediu de todos, recebendo alguns abraços e "Até logo, senhorita Ramona". Foi uma semana produtiva, sua rotina se mesclou à de Jackson tão facilmente, lógico que talvez se devesse ao fato deles mal se verem, mas ainda assim era uma vitória. Ele trabalhava em horário comercial, porém, chegava alguns minutos mais cedo que ela e preparava o jantar. Era um hábito muito bem aceito por ela, até porque, pela primeira vez desde que chegara, estava tendo uma rotina saudável ao menos em relação à uma refeição.

— Ramona!

Girou no mesmo lugar, encontrando Daisy, Ryan e Liam, outro colega de trabalho, a esperando na entrada do estúdio. Apertou o passo para encontrá-los, o sorriso brilhante de Daisy anunciando um possível plano ou uma festa em qualquer lugar que estivesse tendo uma. A Elliot nunca fora crítica em relação aos lugares que escolhia para festejar, tendo pessoas, música animada e algo para beber já era o suficiente.

— Boa noite e já estou indo. - informou rápida, apontando para o lado contrário ao deles. Tentou passar apressada, mas foi impedida na mesma velocidade.

— Nada disso. Hoje você vem com a gente. - Liam declarou, enlaçando o braço ao dela e a impedindo de caminhar para longe. - Nada de fuga, linda.

— Por favor, não. - pediu, após um gemido inconformado, tentando se afastar dele sem parecer muito óbvio. - Da última vez que saimos eu voltei completamente destruída para casa. Na verdade eu nem lembro como consegui chegar em casa, o que é altamente perigoso se vocês querem saber. - pontuou, apontando o dedo indicador em acusação para eles que apenas riram.

Aproveitou para dar um passo para longe, não tendo resultado quando sentiu o aperto em seu braço aumentar.

— Mas foi uma noite memorável. - Ryan afirmou, se iluminando quando Daisy apertou seu braço em concordância.

— Ele tem razão. Você até voltou para casa com alguém. - a mulher mais baixa relembrou extasiada.

— Na verdade eu deixei ele em uma estação qualquer. - confessou, rindo quando viu as expressões de descrença. - Ele parou de me escutar assim que saímos para fora do clube e depois ainda teve a audácia de dizer que eu falo muito. Nunca ouvi isso em toda a minha vida.

— Mas ele não está assim tão errado. - Ryan opinou, desviando do pé de Ramona que quase acertou sua canela. - Você só é bem aleatória às vezes, mas bem pouquinho.

— Não liga para ele, meu bem. - Daisy veio em seu socorro, a puxando para longe dos braços de Liam. - Você é apenas... animada quando fala sobre o que gosta e isso é maravilhoso.

Sei. - estreitou os olhos para a amiga, que apenas sorriu inocente. Precisava de uma desculpa e rápido. - Mas eu não posso sair e deixar o Jackson sozinho, prometi a mãe dele que iria cuidar do filho dela.

Prendeu o riso quando escutou as exclamações descrentes. Sim, ele era um homem adulto que sabia muito bem como se cuidar, mas ela realmente havia prometido à DJ que ficaria de olho nele. Jackson poderia entrar em qualquer plano propenso ao desastre se conhecesse a pessoa certa.

— Você não vai passar a noite sendo babá de um homem adulto!

Deu de ombros para a exclamação descrente de Ryan.

— Ele está certo, onde está o seu amor próprio? Sua vida vai girar agora em torno dele só por que ele mora longe da mãe?

— Não é para tanto. - revirou os olhos para a explosão de Liam. Ele era um "defensor" ferrenho do direito das mulheres. - Não estou pausando a minha vida e nunca irei pausar por conta de um homem. Seja ele meu melhor amigo ou não. - deixou claro. Conseguia ver que Liam já estava formando uma imagem nada agradável de Jackson em sua mente.

— Você pode dizer isso agora, mas acredite quando digo que nem todos os homens pensam no bem-estar das mulheres.

Revirou os olhos para o tom paternal de Liam. Ele era apenas dois meses mais velho que ela, porém, sempre a tratava como alguém que não conhecia o mundo e via tudo por lentes cor de rosa. Idiota.

— O Jackson não vai se aproveitar dela. - Daisy veio novamente em sua defesa. - Eles moram juntos agora, é só ela avisar que vai sair e pronto, nenhum dos dois surtam.

— Então...

O desdém na voz de Liam enquanto ele gesticulava para ela fazer a ligação era o prelúdio de que um dia ela ainda iria esganá-lo. Apenas cinco minutos ao lado dele a lembravam do motivo de recusar qualquer saída com ele. Não sabia como Daisy aguentava, para um aliado, o loiro era bastante prepotente, para dizer o mínimo. Retirou o celular da bolsa lentamente, apertando os lábios em um sorriso sarcástico para Liam enquanto dava alguns passos para longe deles. Sabia que uma carranca adornava seu rosto assim que desmanchou o sorriso e não fez questão alguma de se livrar dela enquanto esperava o Fuller atender a ligação. Inspirou fundo, virando de costas para o pequeno grupo e observando as rachaduras na calçada em busca de algo que a livrasse da irritação crescente.

— Ei. - falou ao ser atendida, afastando o celular quando o som alto de vozes e música eletrônica invadiram sua mente. - Onde você está?

— Oi? - a voz de Jackson veio abafada pelo ruído, mas logo se tornou mais clara quando o barulho do outro lado diminuiu um pouco. - O que aconteceu?

— Como assim? Você não está em casa? - indagou confusa.

— A Edith e o John me levaram para sair um pouco. - informou animado.

Respirou fundo, aqui estava ela quase voando no pescoço de um de seus colegas de trabalho por apenas insinuar que precisava informar onde estava e Jackson apenas sai sem nem se dignar a...

— E não pensou em me avisar?

Ele deve ter percebido o tom frio em sua voz, já que a forma como falou em seguida foi menos animada e mais diplomática.

— Me desculpa, mas foi de última hora, acabei esquecendo.

— Olha, Jackson, você é novo na cidade, não conhece nada direito e eu prometi para a sua mãe que você não seria morto. - informou, tentando não gritar com ele. Estava cansada e estressada e não seria justo descontar tudo nele. Inspirou fundo o ar cheio de fumaça, expirando devagar antes de continuar resignada. - Então, da próxima vez que for sair e passar a noite fora, eu agradeceria se me enviasse ao menos uma mensagem informando.

— Olha, Ramona. - imitou seu tom, com uma óbvia irritação permeando as palavras. - Desculpe, novamente, por não ter avisado. Mas acho que posso me cuidar muito bem...

— Hum.

— Eu não preciso de uma babá e muito menos de uma segunda mãe me dizendo o que posso ou não fazer.

— Como se eu fosse perder meu tempo tentando regular a sua vida. - rebateu irônica. - Tenho muito o que fazer e com o que me preocupar para ficar registrando os seus passos.

— Então o que estamos fazendo agora?

Abriu a boca indignada, retirando o celular da orelha ao fazer uma careta para ele antes de retornar à ligação.

— Eu não estou controlando os seus passos, não seja exagerado, apenas me preocupo.

— E sinto muito por não avisar logo, pela terceira vez, mas não é como se eu tivesse feito de propósito.

Eu sei. - sussurrou a contragosto, não era hora para uma discussão.

Escutou a respiração de Jackson do outro lado, o som da música sem letra ao fundo. Fechou os olhos, já sentia as pontadas que antecediam uma chata dor de cabeça. Sendo sincera consigo mesma, ela só queria ir para casa e dormir, mas há tempos não saía com Daisy e prometera que iriam passar um tempo juntas. Por mais que em algum momento da noite sua amiga fosse desaparecer com alguém e deixar apenas um Ryan chorando suas mágoas em um copo de bebida e um Liam muito inconveniente. O último sempre tentava algo com ela quando chegava a um certo nível de álcool no sangue, era nojento.

— O que aconteceu para você me ligar?

A voz suave de Jackson a trouxe à realidade. Assim como ela, seu amigo parecia estar cansado e estava quase se convencendo a convidá-lo a voltar para casa e fazer um delicioso jantar para os dois. Mas se impediu, o Fuller precisava de amigos e se existiam duas pessoas dispostas a arrastar Jackson Tanner-Fuller para uma balada em pleno sábado#, Ramona não deixaria essa oportunidade ser em vão.

— Eu vou sair com alguns amigos e queria deixar avisado caso você chegasse em casa e não me encontrasse. - disse, sorrindo provocativa quando completou. - Porque é isso o que os amigos fazem.

— Certo, fico feliz em saber que o seu corpo sem vida não vai aparecer no jornal matinal boiando em algum rio.

— Espero que nem o seu em alguma lixeira em um beco qualquer. - retrucou. - Mas se você for vender algum órgão, ao menos deixe um pouco de dinheiro para pagar seu aluguel.

— Talvez você ganhe algo com o meu seguro de vida. - informou, era notável o sorriso em sua voz.

— Você me colocou como beneficiária? - perguntou encantada, levando a mão ao coração. - Isso é tão romântico.

— A maior prova de amor que eu poderia lhe dar. - se gabou. - E nem adianta franzir o nariz, você sabe que é verdade.

Sorriu ao perceber que estava realmente franzindo o nariz.

— Maior do que isso é só se o valor do seu seguro pode me comprar um apartamento ou não. - tentou soar despreocupada, enquanto analisava suas unhas.

A risada alta de Jackson fez seu sorriso aumentar. Era impossível para os dois permanecerem com raiva do outro por muito tempo.

— Chegue inteiro em casa. - foi impelida a completar automaticamente após alguns segundos. - E sem companhia, por favor.

— Digo o mesmo. - riu novamente. - Nos vemos depois, amor? Prometo que trago o café da manhã.

Revirou os olhos para o tom ironicamente parecido com os maridos britânicos de sit com's antigas que Steffi amava assistir.

— Só não me acorde antes do tempo, você sabe que eu...

— Detesta, eu sei. Eu tenho amor a minha vida, Ramona, não vou mexer com o dragão em um domingo de manhã.

— Ora seu...

— Até depois!

Encarou incrédula o aparelho quando a ligação foi encerrada, mas decidiu deixar para lá. Olhou para uma Daisy ansiosa, que a esperava junto com os outros a alguns metros de distância, e espelhou sua animação anterior.

— Issooo! - o grito de sua amiga ecoou pela rua enquanto ela corria em sua direção. Ramona riu quando foi envolvida em uma abraço cheio de pulos. - Ela vai e sem desculpa nenhuma! - gritou para os outros três que as aplaudiram igualmente animados.

— Vamos logo antes que você me envergonhe ainda mais. - brincou, a puxando para andar até seus amigos.

Quem sabe eles não tinham razão e ela encontraria alguém legal naquela noite? Só tomaria cuidado com as doses de tequila que sua amiga iria empurrar, acompanhar Daisy Elliot em uma rodada de drinks era competir com o impossível. No mais, ela iria ficar bem e longe de decisões ruins.

<♡♡♡>

Antes de abrir os olhos já podia sentir seu corpo dolorido, rolou a cabeça para o lado e a julgar pelo quão pesada estava, provavelmente iria passar o domingo com uma dor infernal. Se aconchegou contra as cobertas, escondendo o rosto contra algo quente e macio. Suspirou satisfeita quando braços a rodearam e a puxaram para mais perto da fonte de calor. Grande alerta vermelho, nenhum braço deveria envolvê-la. Abrindo os olhos assustada, teve que piscar para se acostumar com a semi escuridão. Ao menos lembrou de fechar a cortina.

Um peito branco pontilhado de sinais a recebeu, estava com muito medo de olhar para cima e encontrar um desconhecido. No momento mal lembrava do que acontecera na noite anterior e a primeira coisa que veio a sua mente foi ter prometido para Jackson que não traria ninguém para casa. Caramba, ela esperava que ele também tivesse trago alguém para o apartamento ou ela nunca ouviria o fim disso. Quando o sentiu se mexer embaixo dela, se afastou rapidamente. O tempo que demorou para sentar longe do homem foi o suficiente para escutar um grito estrangulado vindo dele. Virou o rosto para encontrar a última pessoa que deveria estar na sua cama. Sentiu seu coração começar a acelerar enlouquecidamente, as palmas de suas mãos suando em nervosismo.

— Merda, merda, merda. Puta merda.

Cobriu o rosto com as mãos, se encolhendo em si mesma para não encarar a realidade. O escutou lutar contra as cobertas e cair da cama, nem levantou o olhar para ver se Jackson estava bem porque era a última coisa que estava se passando por sua mente no monento.

— Ramona? O que... acabou de acontecer aqui?

Inesperadamente riu, o observando entre os espaços de seus dedos. Jackson franziu o rosto em uma careta confusa, piscando atordoado enquanto a olhava. Retirou as mãos do rosto rapidamente quando notou que a atenção dele estava em seus seios descobertos. Puxou o lençol sobre seu corpo, olhando ao redor à procura de uma peça de roupa.

— Nós transamos, foi isso. - observou de relance quando o rosto do Fuller começar a se tornar avermelhado. Prensou os lábios para não sorrir abertamente.

— E-eu preciso de um tempo.

Sua reação provocou uma onda de gargalhadas vindas dela.

— Caramba, Ramona! Isso é sério, que... saco!

A cada reclamação o riso dela aumentava ainda mais. Mesmo após tantos anos, sempre acharia hilário o fato do Fuller não conseguir xingar. Ele era mais parecido com a mãe do que gostaria de admitir. E a simples menção de DJ retirou qualquer vestígio de alegria de seu rosto.

— Oh, porra! - exclamou desesperada, saltando da cama e começando a procurar entre os cobertores a prova de que eles não foram burros.

— Teria como você não gritar? - pediu, massageando a testa com uma clara expressão de dor.

— Não, não teria! - gritou novamente, mesmo que sua cabeça estivesse latejando em protesto. Amassou um cobertor em uma bola e jogou na cara de Jackson. - Não posso porque não estou achando a porcaria de uma camisinha!

Se não estivesse tão irritada talvez teria rido do quão branco ele ficou após a sua explosão. Porém, estava em uma missão e não teria paz até encontrar a porra de uma camisinha usada! Não tinha como fingir e torcer para que eles tivessem feito absolutamente nada na noite anterior porque seria bancar uma ingenuidade desnecessária.

— E-eu... Hum.

— Não é hora para gaguejar ou sequer pensar em alguma coisa, Jackson! Levanta e começa a procurar!

Mandou desesperada, se inclinando sobre o colchão para empurra-lo. Amarrou um lençol ao redor do corpo antes de pular da cama e se ajoelhar para investigar embaixo do móvel. Deveria estar em algum lugar daquele quarto, tinha que estar.

— Encontrou?

— Nada ainda!

A resposta desesperada de Jackson fez seu corpo gelar. Ela teria que correr para uma farmácia e comprar uma maldita pílula. Levantou apressada, o empurrando para longe da porta.

— Estou saindo. - avisou, pegando uma muda de roupa jogada perto da cama. - Você continua procurando e pelo amor de Deus encontra a porcaria desse preservativo! - gritou, antes de correr para fora do quarto, mal dando tempo para Jackson falar algo antes de se trancar no banheiro.

Apoiando as mãos na pia, respirou fundo a fim de controlar a adrenalina em seu corpo. Escutava Jackson revirando o quarto, as batidas altas de seu coração e um mantra em looping de "porra, você fudeu tudo". Fechou os olhos, apertando a pia fria e focando nos arrepios subindo por seus braços. Expirou o ar lentamente por seus lábios ressecados, torcendo o pescoço e movendo os ombros como se estivesse se preparando para uma batalha.

— Ramona! Eu não estou conseguindo encontrar nada!

As batidas insistentes contra a porta mescladas aos gritos histéricos a despertou. Teria que calar Jackson antes que recebessem uma reclamação dos vizinhos logo pela manhã.

— Já vou!

Gritou de volta, olhando uma última vez para o reflexo da mulher exausta e assustada no espelho antes de vestir-se rapidamente. Abriu a porta apressada, passando como um raio pelo amigo em quase desespero antes de pegar o celular e a carteira na bancada da cozinha. Encontrou uma bala de menta em meio as cédulas assim que abriu a carteira, jogou a bala dentro da boca, mal lançando um olhar para Jackson antes de sair do apartamento.

<♡♡♡>

— Vamos concordar em ignorar o que aconteceu? - propôs em um sussurro apressado, cruzando os braços em frente ao corpo. Ainda não possuía coragem para encará-lo.

— Posso tentar. - Jackson respondeu em um tom baixo.

Pelo canto do olho o viu fechar os olhos e apoiar a parte de trás da cabeça contra o vidro do trem. Ele havia se fechado após a sua volta, como se também estivesse tentando colocar uma parede entre os dois. A questão era que a parede de Jackson poderia até ter uma porta e inúmeras janelas, mas a de Ramona se encontrava tendo sua segunda demão de massa. Após a loucura que foi a manhã, tiveram que correr para encontrar o corretor de imóveis após Ramona voltar da farmácia com uma cartela de analgésicos e o alívio de ter tomado a pílula. Apesar do Fuller não ter encontrado nada, apenas o fato dela ter tomado algo eficaz já acalmava suas almas. Nunca tinham estado tanto tempo sem se falarem, mas a estranheza da situação ainda se encontrava marcada como tinta fresca na mente dos dois.

Ramona, especialmente, nunca pensou que iria ver Jackson com outros olhos. Mas uma noite fora, regada a álcool e amigos malucos, fez os dois se encontraram em um bar perto de casa e irem para a mesma casa rumo a uma madrugada ainda mais insana e inesperada. Agora ali estava o resultado, dois melhores amigos mal conseguindo encarar o outro nos olhos e aquilo a estava matando por dentro. Não queria estragar uma amizade tão boa por um erro bêbado e sabia que Jackson sentia o mesmo. Eles eram adultos afinal, e como dois seres maiores de idade com seus próprios empregos e problemas, não iria ser uma boa escolha abraçar outro dilema em uma vida tão... complicada.

— Olha. - parou, respirando fundo antes de sentar de lado para encará-lo. Jackson espelhou seu movimento, mas sua atenção ainda estava fixa em um ponto no chão do vagão. - Eu estou detestando isso, foi uma decisão bêbada e estúpida que não deveria nos afetar tanto. Jackson, somos adultos, vamos apenas relevar e esquecer?

— Ramona, Ramona. - passou a mão pelo rosto enquanto ria cansado. - Anos atrás concordamos que víamos o outro como um irmão e hoje acordados nus na mesma cama, me desculpe se não consigo deixar pra trás algo que aconteceu há menos de seis horas.

Torceu o nariz para seu tom beirando a derrota.

— Você está vendo mais onde não existe. - ignorou o bufo impaciente e continuou. - Nada do que aconteceu vai mudar a nossa vida porque não precisa mudar. A escolha de dar importância demais para isso e acabar bagunçando tudo ou relevar e deixar para trás vai depender de nós dois. Então, o que me diz, vai ficar remoendo cada segundo passado e enlouquecer ou vamos voltar ao que éramos antes, antes, tipo ontem?

Jackson sorriu sem vontade, desviando o olhar do teto para ela. Ramona esperou, a respiração suspensa enquanto o par de olhos castanhos voltava a atenção para ela e parecia fazer fazer uma análise em sua alma. Os segundos se arrastaram, as linhas de tensão no rosto do Fuller se suavisando aos poucos. Ela sentiu seus ombros relaxarem quando o amigo abriu um pequeno sorriso como se não acreditasse na situação em que estavam. Apoiando a lateral da cabeça no vidro frio, piscou lentamente para ele, estendendo a mão para apertar seu braço em um pedido mudo.

— Eu...

— Sim? - indagou ansiosa, não adiantava fingir que estava tranquila porque seu estado de espírito se encontrava longe da calma. O silêncio de Jackson a estava matando. - Jackson! Fala algo, você não pode começar uma frase e não terminar.

— Eu poderia se você me permitisse. - retrucou, o canto de sua boca lutando contra um sorriso.

Ramona apertou os lábios para impedir o seu próprio, se inclinando um pouco mais para ele que a encarou com os olhos estreitos.

— Então, você?

— Eu? - abaixou a cabeça, arqueando uma sobrancelha.

A Gibbler abriu a boca para falar algo, mas ter jackson tão perto e a olhando de uma maneira que fazia todo o seu corpo formigar, não estava ajudando em nada. Bufou irritada, se afastando dele rapidamente.

— Saiba que ansiedade mata. - apontou um dedo em seu rosto, franzindo o nariz quando o Fuller envolveu a mão em torno da sua. - Se eu tiver uma ataque cardíaco por sua causa, tenha a certeza de que vou te assombrar pelo resto da vida.

— Você é inacreditável.

Sorriu abertamente quando o escutou bufar divertido, mal se contendo antes de se impedir de abraça-lo, ainda era muito cedo para isso. Contentou-se em apenas continuar sorrindo quando o escutou rir baixinho quando a viu vibrar. Com a mão ainda presa na dele, virou para frente, passando o resto do caminho em um silêncio razoavelmente tranquilo ao lado de seu amigo. Ignorando completamente o quão íntimo era ter seus dedos entrelaçados ao dele e a forma como o polegar de Jackson fazia círculos nas costas de sua mão.


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