Kháos escrita por Alice


Capítulo 12
Ramé


Notas iniciais do capítulo

Do Balinês: 1. algo que é caótico e lindo ao mesmo tempo.



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— Então, um mês?

Não disfarçou a chateação em sua voz. Não queria que ele ficasse longe por tanto tempo. Mas em contrapartida, era uma oportunidade incrível e Jackson seria louco se não aceitasse... e ela seria egoísta se o impedisse de ir. Conseguia lê-lo como um livro aberto com epílogo e posfácio escritos, seu namorado idiota iria ficar se ela pedisse, só estava esperando por um sinal. Arranhando a garganta que ficara subitamente apertada, se forçou a caminhar até ele, o abraçando pelos ombros. Jackson apoiou a cabeça em seu peito, passando os braços por sua cintura, a apertando com cuidado em busca de um apoio.

— Certo. - engoliu em seco quando sua voz saiu embargada, respirou fundo antes de tentar novamente. - Eu estou imensamente orgulhosa de você ter feito seu trabalho tão bem que pediram a sua ajuda em outro estado. Agora, você vai lá, faz um trabalho ainda melhor no que quer que você trabalhe...

— Já disse que sou auxiliar de Técnico em seguranca...

— E eu já falei que não entendi nada do que você explicou. - rebateu em uma falsa impaciência, revirando os olhos quando o sentiu rir. - Estou aqui tentando fazer um discurso motivacional, seu insensível.

— Me desculpe, Yoda. - afastou o rosto para poder sorrir para ela. Os olhos castanhos brilhantes transbordando de um carinho que a amoleceu por dentro. - Continue, você estava quase me convencendo de que posso correr a maratona do início do ano.

— Há! Só se eu quiser ficar viúva na mesma hora.

— Então estamos nessa fase do relacionamento. - provocou, beijando sua clavícula.

— Estou carregando seu bebê, não seja idiota. - empurrou a cabeça dele para longe, porém, congelou no lugar quando percebeu o que havia falado.

Jackson a encarava em um misto de emoções, os olhos brilhando por lágrimas não derramadas e Ramona jurou que se ele a fizesse chorar ainda mais ela iria mandá-lo para Los Angeles naquele instante.

— Você disse meu bebê. - falou em um tom emocionado, fungando alto.

Não, não ouse. - ordenou, tentando se afastar dele, mas mal conseguindo dar um passo antes de ser apertada em um grande abraço de urso. Lágrimas grossas começaram a cair de seus olhos no mesmo momento que as de Jackson. - Eu te odeio tanto.

Ele apenas riu como o bobo de sempre. Ramona o apertou mais forte, não queria passar o fim do ano longe de Jackson, não com tanto acontecendo com os dois nos últimos tempos. Não queria contar a ninguém sobre o bebê, e sim, ela percebia que havia escolhido ficar com ele. Contar para seus amigos seria se deparar com perguntas que ela não queria responder. Como estava melhor, se encontrava novamente a caça de um emprego, qualquer que fosse. Teria que ficar em casa por uns meses então deveria trabalhar o máximo que conseguisse durante o tempo que restava.

— O que você quer fazer agora? - Jackson a afastou, segurando seu rosto entre as mãos enquanto a observava atentamente. - Quer contar para alguém? Devo chamar Rocki para passar o fim de ano?

Torceu a boca considerando a proposta, mas logo negou. Sua amiga iria irrita-la em algum momento e por mais que a amasse, talvez um tempo sozinha a ajudaria a colocar seus pensamentos no lugar.

— Não precisa, vou ficar bem sozinha. - sorriu tranquilamente quando notou sua inquietação. - Eu vou ficar bem, Jacksito, confie em mim.

Soltando um alto suspiro insatisfeito, ele a puxou para os seus braços novamente.

— Não é que eu não confie em você, mas na sua situação você não pode ficar sozinha, Ramona. - falou, beijando sua têmpora.

Era como se ele não pudesse ficar um segundo sem sentir uma parte dela. Teve que admitir que estava gostando daqueles carinhos a mais, não que ele não fosse carinhoso antes, mas era bom se sentir acolhida. Mas logo sua fala foi compreendida por ela.

— Ah, por favor, Jackson Fuller. Estou grávida, não doente.

— Você está carregando um bebê, não pode se esforçar muito, nem carregar peso ou...

— Tá, tá, tá. - o interrompeu, se desprendendo de seus braços.

— Ramona...

— Eu sei. - e ela sabia, não era ignorante ao que podia ou não fazer durante a gravidez. Morou com duas mulheres grávidas durante sua adolescência, caramba! - Mas se você continuar desse jeito durante todos os seis, sete ou oito meses, que seja porque eu não sei direito de quanto tempo estou, eu vou acabar...

— Me jogando de algum lugar, eu sei. - interrompeu gentilmente. - Mas, meu amor, o máximo que você vai conseguir é me sufocar a noite com a sua barriga. Igual a um gato.

Não conseguiu controlar a risada, apontando o dedo indicador na direção dele ao dizer:

— Ah, não duvide das minhas ameaças.

— Quando elas forem mais realistas eu não vou duvidar.

Bufou, o jogando um almofada que foi facilmente desviada. Jackson riu, a jogando de volta e acertando o rosto de Ramona.

— Isso é agressão! - disse, abrindo a boca em indignação exagerada. - Você agrediu uma mulher grávida?

— Agora você está intocada?

Depende. - sorriu maliciosamente quando o viu ficar vermelho.

— Você é inacreditável.

Gargalhou alto quando ouviu o resmungo bem-humorado. Se jogando no sofá antes de ligar a televisão, um programa de culinária estava começando, o que fez sua boca salivar assim que imagens de sanduíches de queijo ornamentados e batatas fritas crocantes praticamente dançaram na tela. Girou o corpo para olhar para Jackson, ele estava de costas para a sala, mexendo algo em uma panela. Franziu a boca pensando se deveria fazê-lo parar o jantar ou não, ele já estava quase no fim, mas quando voltou o olhar para a TV, a imensa vontade de comer um sanduíche de queijo a preencheu completamente. Já conseguia sentir o gosto da manteiga quentinha e do pão crocante esfarelando em sua boca. Praticamente choramingou quando jogou a cabeça para trás, apoiando a nuca no encosto enquanto esticava as pernas à sua frente.

— O que foi agora?

Ignorou o tom arrastado do Fuller, abraçando uma almofada enquanto respondia levemente incomodada.

— Quero comer sanduíche de queijo com batatas fritas, mas você já está fazendo o nosso jantar e eu não quero ser um fardo.

Sabia que estava soando dramática, mas realmente queria comer um sanduíche de queijo. Sua boca salivava de uma maneira que ela não acreditava ser possível, o desejo era óbvio e piscou atordoada quando notou que estava encarando a tela de uma maneira quase maníaca. Caramba, se desejos eram assim, ela estava perdida.

— Eu faço um depois do jantar.

Negou antes que Jackson terminasse de falar, ela queria comer naquele instante.

— Não tem como fazer um nesse momento? - pediu, ficando de joelhos e virando o corpo na direção dele. Cruzou os braços sobre o encosto e apoiou o queixo acima deles. Seu lábio inferior projetado para frente em um gesto manhoso. - Por favor?

Jackson abriu a boca descrente, apoiando as mãos na cintura enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. Ramona juntou as sobrancelhas, intensificando seu olhar, pensou em inclinar a cabeça e piscar lentamente, mas percebeu que seria um exagero.

— O que é isso? - perguntou, gesticulando para ela, mas um sorriso se abria lentamente em seu rosto.

— Esse é o olhar de uma namorada com desejo. - respondeu, inclinando a cabeça em derrota, empurrando o pensamento de que estava lidando melhor com aquela situação do que esperaa. - Agora seja um bom pai e faça um sanduíche para o seu filho.

— Você vai jantar, Ramona. - declarou, cortando alguns legumes com uma rapidez que a impressionou e ainda sem encará-la. - Minha mãe sempre diz que um bom jantar ajuda a pensar melhor. Depois eu faço seu sanduíche.

— Jacksonnn.

— Ramonaaa.

— Você está virando a sua mãe. - resmungou, cruzando os braços em um gesto infantil, mas realmente não se importava, principalmente quando o viu rir silenciosamente. - Não me diga que vai ficar assim pelo resto da sua vida?

— Responsável?

— Um pouco chato.

Sorriu satisfeita ao escutar o som de insatisfação.

— Eu não sou chato! Quem foi que pulou daquele telhado na festa do Popko?

— Isso foi há quase dez anos atrás. - o lembrou, virando de lado para ficar de frente para ele.

— Eu fugi um fim de semana inteiro para participar de um campeonato de videogame. - apontou uma faca em sua direção, mas logo arregalou os olhos e abaixou o talher quando percebeu o gesto. - Isso não é ser chato.

— Mas avisou ao Max antes de sumir. - apoiou o queixo nos braços cruzados acima do encosto.

— Não queria matar a minha mãe de preocupação. - murmurou alto, a dando as costas e jogando os legumes dentro de uma frigideira. - E isso não é ser entediante e sim não ser um idiota.

— É só um sanduíche, meu amor.

Quando ele resmungou algo e se virou para a geladeira, voltando com alguns frios na mão, Ramona sabia que havia ganhado a discussão. Porém, minutos depois após comer sua refeição e correr para o banheiro se desfazendo dela em questão de segundos, ignorou completamente o sorriso prepotente no rosto do Fuller e o empurrou para fora do cômodo.

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Arrumou as alças da bolsa em seu ombro, o peso das frutas e verduras a incomodando. Claro que Jackson ligaria em um domingo pela manhã e a convenceria a ir à feira e atrapalhar seu sono. Mesmo longe ele ainda insistia em vistoriar suas refeições. Suspirou em pensamento, os próximos meses iriam ser um teste de paciência monumental. Jackson se transformou, principalmente após a sua primeira consulta com o obstetra, um homem educado e simpático que explicou pacientemente o porque da pílula do dia seguinte não ter tido efeito. Algo a ver com se a fecundação já tinha ocorrido, existiu cerca de cinquenta por cento do zigoto ter sido implantado no óvulo. Ela não captou muito bem as palavras, estava com muito sono para absorver tudo, mas o pouco que compreendeu a fez passar o resto da consulta irritada.

Pelo visto o momento da concepção da gravidez só ocorre após o óvulo ter se implantado no útero, o que leva cerca de seis a oito dias após a fecundação. E a bendita da fecundação acontece durante o período fértil. Ramona e sua sorte como sempre estavam desalinhadas, e ela estava em seu período fértil quando se envolveu com Jackson. Como a pílula não é um método cem por cento eficaz, por mais que digam o contrário, ela se viu fazendo parte de uma estatística rara, mas real, das 3 a cada 100 mulheres que engravidam após a ingestão da pílula.

Ramona Gibbler agora sabia que estava grávida de 10 semanas, quase três meses sem perceber que carreagava outro ser humano dentro de si. O doutor Barry tinha afirmado que era normal muitas mulheres não notarem os sintomas por não serem os clássicos enjoos e tonturas e no caso de Ramona, como sua menstruação estava vindo desregulada nos últimos anos, ficou mais fácil para a gravidez passar despercebida. Porém, essa explicação não acalmou os nervos da Gibbler, ela ainda se sentia uma péssima mãe por não notar nada. Esse foi um dos motivos que a fez recusar escutar o coração do bebê ou vê-lo durante a ultrassonografia. Ramoma não se sentia preparada e iria esperar pela volta de Jackson para não ter que passar por tudo aquilo sozinha.

Não contou para o namorado que poderia ter visto o minúsculo humano, mesmo que fosse ainda uma marcha em preto e branco em uma tela pequena, porque sabia que ele iria ficar chateado e o Fuller estava muito longe para eles dois discutirem novamente. Apertou o passo quando avistou seu prédio, porém, logo parou quando notou quem estava sentado nos degraus de entrada. Gemeu inconformada, só queria um dia de paz e solidão, mas a figura logo a notou justamente quando ela estava a um passo de dar meia volta e retornar para conversar com a vendedora faladora da banca de frutas.

— Ramona Gibbler, não ouse escapar de mim!

Bateu o pé direito no chão em insatisfação, começando a caminhar apressada para longe dele. Bastaria apenas um minuto ao seu lado para Max descobrir tudo! Ele era irritantemente esperto e Ramona nunca detestou tanto a inteligência do Fuller do meio quanto detestaria assim que ele descobrisse sobre a gravidez. Porém, não iria deixá-lo do lado de fora, estava começando a esfriar e as nuvens escuras que se juntavam aos poucos eram o anúncio de uma chuva que iria congelar a todos que molhasse. Girou em seus pés, fazendo o caminho de volta. Passou por ele, subindo os degraus em uma pequena corrida que mataria Jackson e destrancou a porta, dando um passo para trás ao esticar o braço sinalizando para Max entrar. Ele fez uma pequena reverência antes de passar por ela com um sorriso convencido.

Bufando, Ramona trancou a porta novamente, o empurrando para ir em direção às escadas. Eles moravam no segundo andar, era uma subida curta e faria bem ao garoto caminhar alguns lances para ver se tirava o sorrisinho daquele rosto redondo. Max parou no meio do caminho, girando para encará-la em determinação antes de retirar a bolsa de seu ombro. Ramoma sorriu agradecida, remexendo os ombros doloridos antes de passar por ele e correr os últimos lances. O corredor se encontrava vazio, olhou brevemente para o apartamento de Tom, Jackson tinha pedido para ela ficar de olho no senhor rabugento. Talvez fizesse algo e levasse para ele depois, Tom sempre abria um pequeno sorriso quando ela o levava comida, o que deixava Jackson louco já que ele não sorria em hipótese alguma para ninguém.

Ele é meu amigo, Ramona! Arranje seu próprio velhinho.

Riu ao lembrar do quão indignado ele ficou quando ela retornou da rua contando que Tom havia sorrido quando ela o desejou boa noite ao passar pelo corredor.

— O que foi? - Max perguntou curioso.

— Nada. - desconversou, mas logo apagou o sorriso e se virou seria para ele assim que pararam em frente ao apartamento. - Agora você vai me dizer porque estava sentado na porta do meu prédio em pleno Dezembro?

Torcendo a boca, o Fuller chutou algo invisível enquanto desviava o olhar para longe dela. Ramona suspirou alto em impaciência, mas se forçou a ficar calma. Inspirando e expriando em pequenos goles de ar, não podia se estressar, ordens médicas que não havia contado para Jackson ainda. Durante a segunda semana de seu namorado fora, e alguns dias antes dela passar o Natal com Daisy, sentiu fortes dores de cabeça que fizeram um sinal de alerta soar em sua mente como uma sirene. O doutor Barry informou que não era nada anormal, porém, se elas continuassem e com uma intensidade maior, Ramona precisaria ir imediatamente para o hospital. Enquanto isso, ela precisava cuidar da alimentação e tentar passar pelo resto dos meses sem estresse. Há! Como se isso fosse possível, mas ela tentaria pelo bem do bebê.

— Vamos entrar logo.

Destrancou a porta e empurrou Max para dentro, ignorando seus resmungos sobre a sua brutalidade e falta de hospitalidade. Retirou o casaco, aliviada por ter vestido um suéter mais grosso pela manhã. Como era magra e um pouco baixa, uma pequena saliência começava a se formar em sua barriga, como uma mini pochete que só era visível quando ela retirava a blusa. Para quem a olhasse nada havia mudado, mas a Gibbler já se sentia aumentar a cada dia que passava. Se a criança dentro dela fosse puxar os genes de crescimento de Jackson, ela não poderia disfarçar a barriga com blusas largas e casacos grossos por muito tempo. Estava contando com a sorte e ter passado o Natal com Daisy e Ryan sem nenhum deles perceber foi um alívio imenso. A falta de álcool em seu copo foi justificada por vergonhas passadas e a Elliot disse que se juntaria a ela na "promessa de ano-novo" de que não beberia além do limite.

Ryan riu e apostou com Ramona que na virada do ano encontrariam Daisy abraçada novamente a desconhecidos enquanto cantava no meio da avenida. Ela amava aqueles dois e ficava feliz em ver a proximidade entre eles aumentando a cada dia. Observou Max dando a volta pelo apartamento, que não era muito grande; parecia que ele estava à procura de algo e Ramona sentia que iria se arrepender de tê-lo deixado entrar em alguns minutos. Guardou o casaco em um gancho perto da porta, retirando as botas para sentir o tapete macio que ficava em frente ao sofá quando caminhou até o móvel. Sentou-se rapidamente e deu tapinhas no espaço ao seu lado para chamar a atenção do mais novo.

— Então? Por onde começamos?

Max desviou a atenção do estreito corredor que levava aos quartos e caminhou devagar em sua direção.

— Que tal pelo fato de você e meu irmão estarem realmente morando juntos?

— Sim, estamos namorando, não é grande coisa. - quis voltar ao assunto principal, mas antes de abrir a boca, Max falou por cima.

— Ramona, com a nossa família sendo a nossa família, como isso não é grande coisa?

— Estamos tomando nosso tempo, Max. - afirmou, não era o momento certo para contar nada para eles. - E obrigada por não ter contado nada em casa. Não estou com cabeça para explicar... tudo isso.

E um bebê. Completou mentalmente, puxando uma almofada para cobrir a barriga instintivamente. Mas também não poderiam demorar muito para contar, chegar em São Francisco com um recém-nascido no colo iria provocar um velório. Não estava a fim de viver uma versão menos louca, mas igualmente insana, de Quatro casamentos e um funeral.

— Em algum momento vão descobrir que vocês não são só "colegas de quarto".

— Papai quase descobriu no mês passado. - confessou, sorrindo quando notou a forma animada com que Max a encarou, ele adorava uma fofoca. - Seu irmão idiota chegou em casa me chamando de amor, mas consegui desviar a atenção e disse que ele estava em uma ligação com a nova namorada.

— Impressionante o Fernando não ter comentado essa informação falsa. Ele tem um hobbie de espalhar fake news.

Riu da indignação dele, procurando o controle da TV, Max o estendeu para ela e se acomodou contra as inúmeras almofadas. Jackson sempre reclamava que eles não precisavam de tantas em cima do sofá, mas Ramona adorava deitar em meio a elas, eram tão macias e fofas que adormecia divinamente bem. Acessou um canal de streaming, procurando por um reality show enquanto Max mexia forçosamente entediado no celular.

— Vamos falar sobre o elefante na sala? - indagou calmamente, dando play no mais novo episódio do reality que estava acompanhando. Jackson que a perdoasse, mas ela não iria esperar por ele para assistir. - Ou iremos passar o dia todo olhando para a cara do outro sem falar nada de importante?

Max revirou os olhos dramaticamente, cruzando os braços de maneira birrenta antes de focar a atenção na televisão. Ramona esperou, ele nunca conseguia ficar calado por muito tempo, era como um super poder reverso em algumas situações.

— Vou precisar comprar algumas roupas depois, não trouxe nada comigo além dos documentos.

Piscou atuardida após o resmungo inconformado, virando totalmente o corpo para se concentrar nele.

— Você fugiu?

— Só saí um pouco. - declarou, como se fosse algo sem importância.

— De São Francisco para Nova Iorque?! Que saída foi essa Max Tanner-Fuller? DJ sabe que você está aqui?

— Vou ligar para ela, mamãe pensa que estou passando uns dias com um amigo da faculdade.

Max.

Ele se encolheu minimamente ao escutar o tom de repreensão em sua voz. Ótimo, era para ele temer um pouco. Pensou satisfeita por estar treinando seu "tom de mãe".

— Não preciso de um sermão agora, Ramona. - disse em um tom petulante. - Não vim atrás de alguém que me diga o que fazer com a minha vida e as minhas escolhas, quero apenas uns dias de paz antes de voltar para o campus. Então, digo isso com todo o meu coração, não se intrometa.

Um som de incredulidade saiu por seus lábios. Aquele garoto que ela viu praticamente crescer estava realmente a mandando calar a boca?! Oh, ele definitivamente iria ouvir o que ela pensava disso, mas apenas depois quando ela estivesse mais calma.

Respire, Ramona! Pense no bebê...

Se forçou a respirar fundo, quando estivesse mais calma e Max mais aberto a uma conversa tentaria de novo. No momento não poderia fazer muito sem causar uma discussão desnecessária. E olhando bem para ele, notou a tensão em seus ombros e o piscar rápido de seus olhos, provavelmente para impedir as lágrimas. Não seria bom para nenhum dos dois forçar algo naquela hora.

— Eu... você é impossível.

— Também te amo, cunhadinha. - abriu um sorriso aguado para ela, secando rapidamente um dos olhos antes de mudar de assunto. - Quando o Jackson volta?

— Dia quatro. - soltou o ar pesadamente pelo nariz, deslizando para baixo no sofá. - Mas talvez consiga voltar antes se o treinamento terminar rápido.

— Quem diria que meu irmão estaria sendo cobiçado dessa forma? Jackson Fuller amadureceu.

— Sim. - concordou orgulhosa, ele realmente estava se tornando um homem incrível.

— E você está completamente apaixonada. - comentou rindo, era claro em seu rosto a diversão misturada com surpresa. - Nem adianta me olhar desse jeito, estou apenas constatando fatos.

— Você e seus fatos de merda. - resmungou, se remexendo no sofá enquanto ainda escutava as risadas dele ecoando pelo apartamento. O programa na televisão já não chamava a atenção e ao olhar pela janlea não podia discordar da manhã bonita que estava fazendo. - Agora vamos sair, não vou passar o dia trancada em casa só porque você está de luto.

O puxou pelo braço para se levantar, sorrindo das reclamações dele.

— Eu não estou de luto, apenas distraindo a minha mente.

— Claro, Max. - fingiu concordar, o empurrando para a porta antes de pegar seu casaco.

— Pare de dar uma de irmã chata. - pediu, tentando soar irritado, mas ela o conhecia bem para notar o carinho em sua voz. - Podemos comer aquela torta maravilhosa que a tia Michelle traz para casa?

— Primeiro, que só um pedaço daquela torta custa um rim e sua tia não mora mais na cidade para a gente fazer ela nos comprar uma. - vestiu o casaco novamente, apalpando os bolsos para constatar que as chaves ainda estavam no bolso interno. - E segundo, não quero comer nada que tenha maçãs ou canela no meio.

— Mas é sua sobremesa de Natal preferida!

— Não mais. - torceu o nariz só em pensar no cheiro, estremecendo ao lembrar do gosto. - Vou te levar para comer em uma cafeteria ótima que seu irmão encontrou a alguns quarteirões daqui.

— Ah não, Ramona. - gemeu inconformado enquanto ela trancava a porta atrás deles. - vamos ter que caminhar? Está tão frio, não podemos pedir um táxi?

— Considere isso uma penitência por ter mentido para a sua mãe. - afirmou, dando alguns tapinhas em seu ombro ao passar por ele.

Sorriu satisfeita quando o escutou resmungar algo em francês enquanto passos apressados a seguiam. Diminuiu o ritmo, as mãos enterradas nos bolsos quando Max igualou seus passos. Bateu seu ombro no braço dele, o vendo perder um pouco o equilíbrio antes de bufar em meio a uma risada. Um sorriso amável ficou colado em seu rosto durante toda a saída do prédio, ter Max ali era bom e a fazia se sentir menos sozinha. Quando passou seu braço pelo dele e o guiou em direção à cafeteria, o assunto veio fácil e o dia passou tranquilo. Claro que a torta de chocolate com caramelo salgado foi o ponto alto de sua saída, mas deixaria Max pensar que fora sua companhia.


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