Histórias diversas escrita por Vinicius Aparecido Salatta


Capítulo 5
A vida nas ruas de um gato




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    “Hmm...” *lambe os beiços*... “Deixa cair só um pedacinho” *encara fixamente* 

    O dono da peixaria percebe o gato o encarando e prestes a dar o bote, como se dissesse “já que não vai cair, eu mesmo pego”, e rapidamente pega a vassoura. 

  – Sai daqui seu gato fedido! – grita. 

    “Miaaau, não é como se eu quisesse messsmo”, reflete após correr até o beco da rua. “Um gato de rua tem um restaurante em caada caanto da cidadee, miauu...”. Enquanto encara a lata de lixo como próximo alvo, ele salta na beirada a ponto de derrubá-la no chão. A refeição está posta... A não ser... 

  – Ora, ora, o que temos aqui! – outro gato aparece no beco com outros dois atrás – Essa área já tem dono!  

  – É... Me desculpa então aí, viu – ele recua – Nós somos da mesma família dos felinos, será que a gente não consegue dividir pela camaradagem? 

  – Camaradagem? Tá vendo isso, galera? Há! – ele se aproxima do gato ladrão – Se você não meter o pé agora, eu e meus amigos aqui vamos te mostrar como não somos camaradas... 

  – Tudo bem, então... Eu tô indo... Mas me deixa só pegar isso aqui antes! 

     Com agilidade ele abocanha um osso de frango e sai correndo enquanto os outros gatos o perseguem... Felizmente o fugitivo conhece bem aquelas ruas e consegue despistar seus perseguidores. 

    A refeição do dia estava garantida, assim como mais um dia de vida nas ruas. 

 

—---------  

 

    O gato sem nome olhava do lado de fora de uma janela de uma casa. Era natal, e aquele peru sobre a mesa parecia bem apetitoso. Do lado de dentro ele via outro dos seus, sendo acariciado por uma garotinha enquanto colocava ração no seu prato. 

    “Olha lá, que otário”, pensava, “De que adianta ser dono de uma família se você não pode comer a comida deles? Se eu tivesse a minha família, eu ia mandar e desmandar, isso sim!”. Ele olha para o céu... “Parece que vai chover...” 

    Achar um lugar pra dormir na chuva nunca é tão fácil. Existem tantos gatos de rua hoje em dia que qualquer lugar para fugir da chuva parecia uma caixa pequena cheia de gatinhos, apertada e barulhenta. Nesse momento, para o nosso amigo gato, até fazia sentido ser dono de uma família, “só por causa da cama quentinha”, pensava. 

    Falando com outros gatos desabrigados, ele ouvia todo tipo de história: uns fugiram por maus tratos, outros se perderam de casa depois de saírem a noite pra festejar... Outros foram expulsos de casa depois de saírem a noite pra festejar. 

   – Fala sério, eles não gostavam que eu miava a noite. Mas o único som que sai da minha boca pra eles é “miau”, o que eles querem que eu faça? – reclamava para o nosso amigo gato de rua que apenas ria – Mas e você, qual a sua história? 

    – A minha? – respondia o felino se espreguiçando – Eu já fui dono de uma família, já tive nome, mas já faz tanto tempo que nem me lembro mais qual era... Miaaau – boceja ele – Mas não deu certo entre a gente... Eles achavam que mandavam em mim e não o contrário... Ficavam colocando gravata em mim, gravando vídeos de eu fazendo nada, me davam banho, fala sério eles sabem que o gato sabe se lamber, neh? E isso sem falar do Max, o cachorro que chegou depois. Que-cara-chato! Correndo pra lá e pra cá todo alegre sempre, ficava me chamando pra brincar toda hora e eu só queria dormir em paz. Aí não deu pra mim. Falei pra ele “ou ele ou eu!”. Fiz uma revolta pra mostrar que eu falava sério: pulei em cortina, derrubei pote de vidro no chão, andava miando pela casa toda. Mas no dia que tentei marcar aquele território e mostrar pro cão que a casa era minha, minha família decidiu que o novo dono deles era o cão, e me mandaram pra uma prisão pra gatos. 

    Todos os outros gatos se espantaram. Alguns deles já tinham passado pela prisão de gatos, e os que fugiram contavam de histórias de outros que não voltavam mais de lá. Nosso amigo era um deles. 

   – Poxa cara, que tenso – dizia um deles – sinto muito por ter perdido a sua família. 

   – Miauu, tudo bem... Eu não preciso deles... Viver na rua é tudo de bom... Eu faço o que eu quero na hora que eu quero... Me sirvo da comida deles em vez de comer ração... Espera, que cheiro ruim é esse? 

   – Desculpa, eu comi um peixe meio duvidoso hoje de manhã...  

   – Credo, cara! – diziam todos os outros gatos reclamando. 

 

—---------  

 

    Após a chuva, no dia seguinte, os gatos foram acordados por um barulho de humano. Quando nosso amigo abriu os olhos, já viu um de seus amigos sendo capturados por um dono de prisão pra gatos. 

    – Corre! – gritou um dos outros gatos para seus amigos felinos. 

    Todos saíram correndo em direções distintas, mas o humano não estava sozinho, pois mais três o acompanhavam. “Pra estarem em tão grande número, com certeza fomos dedurados por outro humano”, pensava ele. 

    Correu por debaixo das pernas do primeiro enquanto driblava o segundo e o deixava no chão. Outros dois saíram correndo atrás dele até um parque, onde o encurralaram próximo a um lago. 

   – Agora você não escapa! 

    De repente, um homem aparece. 

   – Ei, o que estão querendo com o meu gato? – disse ele. 

    “Meu gato?”, pensava o felino. 

   – Esse gato é seu? – dizia um deles com a cara fechada – Mas nós o encontramos no beco agora a pouco. 

   – Ele saiu ontem a noite e acho que a chuva não deixou ele voltar pra casa. Mas se quiserem pegar ele, eu terei que denunciar vocês! 

     Após alguns resmungos de reclamação, os dois foram embora, deixando o gato e o humano que o salvou sozinhos. O humano se abaixou e tentou afagar sua cabeça. O gato um pouco desconfiado tentou desviar, mas a mão do humano parecia convidativa demais. 

   – Meu nome é Rafael e eu acabei de salvar a sua vida. Pode ir agora, mas vê se não se mete mais em encrencas, hein! 

   – Encrenca? Eu sou um gato de rua, sabia? Encrenca é meu nome do meio! – dizia ele ao humano, o qual ouvia apenas alguns “miaus” – Eu não precisava da sua ajuda! Eu já tinha até a rota de fuga toda preparada na minha cabeça! Eu ia pular ali naquela árvore e depois eu... Nossa mas esse carinho tá bom... 

    Rafael se despedia do gato e ia embora, mas o gato o seguiu e se entrelaçou em suas pernas. 

   – Quer saber? – dizia o gato – Eu já me decidi. Vou ser o seu dono! Mas nada de gravatas e comida de gatos! Eu quero comida de humanos, comida de verdade! E não aceito cachorros, ainda mais de nomes Max! Cachorros com esse nome costumam ser bem chatos. 

    Rafael se abaixou para o bichano. 

   – Se quer vir comigo, tudo bem. Mas você vai ter que ser bem persuasivo pra convencer a minha esposa – dizia rindo. Minha filha vai adorar você. Acho que até já sei do que te chamar... Neko... É, acho que é um bom nome! 


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