Histórias diversas escrita por Vinicius Aparecido Salatta


Capítulo 4
Donna




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O telefone toca. Donna atende. 

— Mãe, socorro! Eu fui sequestrada! 

— Oi, filha! Meu Deus, filha, você tá bem? 

— Aqui quem tá falando agora é o cara que tá com a sua filha... 

— Meu Deus! Por favor, não façam nada com a minha filha! 

— Relaxa, dona. Ela vai ficar numa boa se você cooperar com a gente... 

O valor do resgate era de dez mil reais. Donna diz que vai conseguir o dinheiro, mas precisa de tempo. Ela ouve um disparo pelo telefone e o grito de sua filha. 

— O que vocês fizeram!? – diz entrando em desespero enquanto senta no meio fio da calçada. 

— Ela tá bem, não tá bem, moça? – Donna ainda ouve sua filha ao fundo – A gente quer esse dinheiro até amanhã ao meio dia. 

O telefone desliga. Dona fica com as duas mãos na cabeça, sem reação. 

— Eu nunca achei que teria que voltar a fazer isso, – diz para si mesma – mas eu não vejo outra escolha... 

Um silêncio se segue por alguns segundos. 

— Corta! 

Um grande movimento começa ao redor de Donna. Pessoas passando com figurinos, outras arrumando o cenário, maquiadoras retocando a maquiagem de Donna. 

— Donna, ficou muito bom, muito bom mesmo! – diz o diretor enquanto se aproxima – Mas podemos fazer mais uma vez, com um pouco mais de desespero agora? Se você conseguisse chorar um pouco também assim que ouve o disparo ficaria muito bom! 

Donna concorda, afinal se ela quer mesmo ganhar o prêmio de melhor atriz, ela precisa se entregar o máximo que puder ao personagem. 

Todos correm de volta às suas posições. As câmeras ligam. 

— Muito bem, pessoal, silêncio! Esse é o filme “De volta ao jogo”! Cena três, tomada doze... Ação! 

O telefone toca. Donna atende. 

 

—--------- 

 

Depois de um dia cansativo, Donna chega em casa. Ela não tem o que reclamar em sua vida. O emprego dos sonhos foi capaz de fornecer a casa e o conforto dos sonhos. Ron, seu gato, a recebe ronronando enquanto se entrelaça em suas pernas. Donna procura por sua filha e a encontra no quarto conversando com suas amigas ao telefone. 

— Vou pedir pizza hoje, você quer? 

A filha concorda gestualmente enquanto continua ao telefone. Donna fecha a porta do quarto e volta para a sala. Pede a pizza e algum tempo depois, a campainha toca. Donna atende. 

— Donna Roy?  

— Sim. 

— A sua pizza meia atum, meio chocolate. Ficou quarenta e sete e noventa e cinco. 

— Eu paguei pelo aplicativo mais cedo. 

O entregador põe as mãos na cabeça. 

— Aí, verdade! Desculpa Donna, eu errei a fala. Eu vou voltar lá atrás e a gente tenta de novo. 

— Tentar de novo? – pergunta Donna confusa. 

— É. – responde rindo – Eu prometo que acerto dessa vez. 

Mais movimento ao redor de Donna. O diretor se aproxima. 

— Donna, tudo bem? 

Donna se sente um pouco confusa. 

— Você vai receber a pizza, a sua filha vai aparecer dizendo que mudou de planos e vai sair com as amigas dela. Aí vai ficar tarde e você vai ficar preocupada e sair atrás dela, tá lembrada? 

— Sim... Sim, lembro – responde Donna sem entender aquela situação – Desde quando eu estou atuando? 

O diretor ri sem entender muito bem a pergunta. 

— Donna, você está bem? Essa é a vigésima sétima semana de gravação. É a sua chance de pisar no tapete vermelho! Tudo bem que “De volta ao jogo” não teve uma boa crítica, mas esse... Esse eu estou com um bom pressentimento! 

Donna sorri. Todos correm de volta à suas posições. As câmeras ligam. 

— Muito bem, pessoal, silêncio! Esse é o filme “Perseguição explosiva”! Cena vinte, tomada seis... Ação! 

Depois de um dia cansativo, Donna chega em casa... 

 

—---------  

 

Donna chega no café e pede o de sempre: um capuccino e duas rosquinhas. Uma para comer agora e a outra para sua filha levar para a escola. Helen, sua filha, esperava no carro. 

— Ficou doze e trinta – diz a atendente. 

Donna retira o cartão da carteira e faz o pagamento. De repente, um homem armado entra no café e realiza o primeiro disparo para cima. 

— Todo mundo de joelho com as mãos na cabeça, isso é um assalto! 

Todos gritam e se ajoelham, assim como Donna. O assaltante percebe as roupas e joias chiques e logo se aproxima de Donna. 

— Ei você, me passa essas joias e a bolsa agora! 

Donna parece calma, como se já tivesse passado por aquela situação antes. 

— Anda logo – apressa o ladrão – Eu não tenho o dia todo! 

Donna faz um movimento rápido e tenta puxar a perna do ladrão. A intenção era pegar a arma dele assim que ele caísse atordoado, mas ele nem se mexe. Ele é mais pesado do que imaginou que seria. 

— Você tentou me derrubar!? – O assaltante parece furioso – Tá achando que você é uma heroína!? Que isso aqui é um filme!? – ele aponta a arma para Donna – talvez isso aqui te de um choque de realidade. 

A filha de Donna no carro ouve um disparo e chama a polícia. O assaltante foge sem levar o dinheiro. A ambulância chega. Donna está sangrando e perdendo a consciência. 

Donna não sabia se o sangue era falso ou não. “Desde quando estou atuando?”, pensava ela. 

— Como eu me saí? – perguntava ao socorrista com a voz rouca. 

— As pessoas disseram que você tentou ajudá-las. Foi imprudente, mas você pode ter sido uma heroína hoje. 

Donna se sente cada vez mais fraca e em um último suspiro, seus olhos lentamente se fecham. 

Um silêncio toma conta do ambiente... 


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