Sobre gatos, lobos e amizade escrita por Myosotis Fox


Capítulo 7
[VI] segredo


Notas iniciais do capítulo

bem... eu disse que pararia no V se ninguém lesse. acontece que alguém leu alguns capítulos, mas depois não apareceu mais. então, vou postar mais um aqui de saideira, e deixar o aviso logo de cara
eu realmente gosto muito dessa história e não queria deixar em hiatus, mas não faz sentido postar se ninguém tem interesse :( então estamos em hiatus até segunda ordem



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Se, alguns meses antes, lhe dissessem que estaria dividindo um apartamento com sua chefe e que as semanas de lua cheia seriam um evento a parte em sua rotina, Chaewon teria rido. Gargalhado, até. No entanto, lá estava ela, exatamente naquela situação.

Toda vez que mais um ciclo lunar se completava – ou iniciava, nunca tinha certeza de qual maneira lobos se orientavam –, não podia deixar de se perguntar como tudo seria tão diferente se não tivesse entrado naquela empresa. Era curioso pensar como aquele emprego nem era sua primeira opção, e só tinha o aceitado por não conseguir a vaga que estava verdadeiramente almejando. Tinha ouvido boatos que a nova CEO era exigente e dura demais, e, apesar de ter noção de como sempre pesavam avaliações quando era uma mulher na liderança, não podia evitar certo receio em se juntar à equipe. Quando descobriu como Hyeju era bem jovem, suas ações fizeram mais sentido – ela precisava manter uma postura rígida ou ninguém a respeitaria, e talvez nem assim conseguisse. Além disso, em uma das poucas conversas que teve com ela nas suas primeiras semanas, pode perceber que a garota tinha uma faceta gentil e divertida. Quem conseguisse se aproximar dela provavelmente descobriria alguém caloroso e amigável.

Chaewon não achava que seria ela quem faria isso. Pelo menos, não até aquela noite. A noite que lhe ensinou o que verdadeiramente era medo, e que amanheceu com Hyeju ao seu lado, tomando conta de seu bem-estar, preocupada em lhe acolher. Por mais que fosse tudo confuso e estivesse justificavelmente muito arredia naquele momento, seu instinto sabia que tinha encontrado alguém em quem poderia se segurar.

E, nos meses seguintes, a mais nova se esforçou em provar que aquela sensação estava certa, sempre checando como se sentia, tentando facilitar seus passos naquela nova vida, e às vezes até exagerando em quanto cuidava dela. Talvez, se fosse outra pessoa, Chaewon teria se incomodado com isso, mas conseguia ver as boas intenções de Hyeju, e a compreensão lhe domava antes do que a irritação. Até porque, como obviamente passaram a conviver mais, pode perceber como havia uma sintonia fácil entre elas. Conseguia ler suas expressões e sensações de maneira fácil, e mesmo a irmã mais velha dela tinha apontado isso no mês anterior quando passaram uma semana inteira juntas.

Nunca foi alguém de acreditar em destino, mas ultimamente estava repensando tal posicionamento, por que como mais descrever o que acontecia? Bem, sabia que as outras pessoas tratavam aquela afinidade fácil com outro nome – até o destino também levava aquele nome para o público geral, porque aparentemente um melhor amigo era algo pequeno demais para as estrelas se ocuparem em apontar –, mas aquele sentimento era algo fora de cogitação para Chaewon. Então, lhe restava acreditar que alguma força bacana do universo tinha lhe colocado no caminho certo com as pessoas certas, a fazendo dividir o mesmo teto com alguém que inegavelmente combinava com ela. Esperava do fundo do coração também que Hyeju não lesse aquela aproximação com outros olhos, porque não tinha certeza se saberia lidar com aquilo vindo dela. Às vezes, se pegava já se afastando, tentando ter certeza de que não seria entendida de maneira errada, mas bastava se desligar e já era puxada de volta para o conforto daquela ligação.

Será que isso tinha algo a ver com ser um lobo? Talvez estivesse assimilando que era mesmo parte daquela alcateia, e então a amizade fluía de maneira mais natural. Era bem verdade que já se sentia melhor enquanto arrumava as roupas que levaria para o retiro do mês, mas não diria que já se sentia tão familiarizada assim com aquele grupo. Eles eram legais, e tinha certeza de que fariam qualquer pessoa se sentir bem recebida, mas ainda não se sentia tão à vontade assim com eles – se sentisse, já teria feito essa pergunta em voz alta pelo menos para alguém, mas ainda não tivera coragem. E, okay, também não tinha visto ninguém fazendo nenhuma insinuação para os jovens nem mesmo aos adultos solteiros – algo que sempre acontecia nas reuniões de sua família –, então talvez pudesse se sentir mais segura em perguntar algo assim sem acharem que queria “se acertar” com a filhote deles.

Ainda estava perdida em seus pensamentos ao que terminou de arrumar sua mochila, então apenas decidiu que não era mais momento disso. Caminhou até o quarto da mais nova, estranhando que ela já não estivesse com tudo pronto. Encontrou-a revirando um armário, e, pela expressão que tinha, estava irritada por ainda não ter encontrado qualquer que fosse a peça de roupa que queria. Chaewon estava a ponto de se oferecer para ajudar – mesmo que soubesse que tinha poucas chances de saber a localização de algo naquele cômodo – quando a garota parou, mexendo em um tecido que aparentemente lhe surpreendera.

—Não é a toa que me esqueci de te consertar, olha onde escondi. – murmurou, em seguida jogando o que tinha em mãos na cama, voltando a seu foco original

A mais velha poderia não ter dado atenção ao que acabara de acontecer, mas sua visão foi atraída pela faixa roxa, e então percebeu o que era. Composta por faixas roxa, cinza-escuro, cinza-claro e branca, aquela era uma bandeira do orgulho assexual, e Chaewon a reconheceria em qualquer lugar. Na verdade, por uns três segundos, se perguntou de maneira muito séria se não estava imaginando coisas, porque aquilo já seria um arranjo do universo bom demais para ser verdade. Okay, Hyeju andava sempre com um anel preto no dedo médio da mão direita, e alguns comentários que ouvia vez ou outra lhe deram sérias suspeitas, mas ainda era surreal que estivesse certa.

—Isso... é uma bandeira ace?

—É sim. – a garota respondeu sem fazer muito caso, ainda focada na sua busca – Ela ficava pendurada ali na parede, mas rasguei sem querer quando... – a ficha pareceu finalmente cair para Hyeju, e ela se virou com uma expressão surpresa – Pera, você conhece?

Queria rir pela naturalidade com que ela falou antes de se lembrar de que não era algo que muitas pessoas soubessem. Não ficaria surpresa se descobrisse que era um conhecimento comum na alcateia, porque eles soavam bem receptivos a todos em qualquer maneira de ser. Também queria rir pensando que, se tivesse dado de cara com aquela bandeira no quarto da garota assim que passaram a compartilhar a casa, algumas paranoias suas já teriam sido chutadas.

Mas antes tarde do que nunca – até porque, já se sentia bem mais leve.

—Claro que conheço. Sou de uma bandeira meia-irmã da sua. – sorriu – Sou arromântica.

Pode ver o brilho que os olhos de Hyeju ganharam ao que pronunciou aquelas palavras. Ainda assim, sua primeira reação vocal foi um simples “ah...”, que pareceria tosco se não conseguisse ler além dele – a garota estava tão feliz quanto ela mesma.

—Sério? – indagou a mais nova, mas sabia que não estava duvidando, talvez apenas espelhando sua primeira sensação

—Totalmente sério. Arromântica estrita.

A expressão dela era algo entre riso e alívio.

—Cara, vai soar estúpido, mas eu tava meio com medo de ficar muito próxima de você e... bem, você sabe...

—Eu entender errado e achar que é algum sinal de que eu to a fim de você? – completou Chaewon, pensando em quantas vezes remoera esse exato medo – Pra falar a verdade, eu tava me sentindo assim também. Aquela noite que a gente dormiu na sala...

—Eu sempre dormi com alguém por perto! – Hyeju nem deixou ela terminar – Até eu me mudar pra cá, eu sempre dormi com meus irmãos.

—Sério? – a mais velha quase riu, porque a imagem era adorável, principalmente pelo contraste do que ela tentava ecoar em sua rotina – Não achava que você era chicletinho assim.

—Um pouco. – admitiu ela, encabulada – Eu gosto de contato físico. Mas humanos adoram entender isso como sinal que você tá apaixonado, sempre penso muito antes de fazer qualquer coisa.

—É péssimo. – concordou Chaewon, e não resistiu a indagar, percebendo a palavra que ela usou – Lobos não tem isso? Digo, eu percebi que vocês são mais afetuosos, mas achei que era porque... família, né?

—Em partes, é. Mas é também porque a gente não liga. – explicou Hyeju – A gente se gosta e pronto, e demonstra do jeito que quiser. Você que diz o que é.

—E o que a gente é? – indagou, a expectativa preenchendo seu peito

—Amigas?

Havia quase um “por favor” ecoando ali. E sabia o que queria responder.

—Amigas.

 

Quando viu aquele conhecido ponto vermelho pelas câmeras, Seonghwa se colocou de pé em um pulo. Tinha quase certeza que a irmã já deveria ter enviado uma mensagem para seu número avisando que Hongjoong apareceu por lá mais uma vez, mas nem precisara do aviso, já caminhando pelos corredores à procura de seu amigo. Apesar da alegria em vê-lo, quando o encontrou, não resistiu à provocação – até pelo horário tão próximo de fechar, quando quase nunca via público pelos corredores.

—Daqui a pouco eu vou achar que você começou a trabalhar aqui.

—Não seria má ideia... – brincou Hongjoong, enquanto o mais velho se sentava ao seu lado – Mas é um ótimo lugar pra visitar... e é onde eu sei que posso te encontrar, né? Pelo menos às vezes.

Se aquilo foi algum tipo de crítica a como nunca saia de casa, Seonghwa não se importou ou sequer percebeu, completamente focado em como alguém se importava em encontrá-lo – e, na verdade, ultimamente até se arriscava a sair às vezes, mesmo que totalmente coberto e rotas curtas como ir na padaria. De qualquer maneira, pensando naquela ligação, enquanto também tentando não se deixar levar por seu emocional, se lembrou de algo que queria comentar com ele.

—Ah, seus amigos estiveram aqui hoje! O casal.

—Yunho e San? – tinha quase certeza que eram esses os nomes que sua memória deveria puxar, então assentiu – Bom saber que eles voltaram mesmo depois da minha exposição. Só espero que não tenham passado vergonha...

Seu rosto deve ter demonstrado sua dúvida, porque o mais novo emendou.

—Ah, você sabe... – ele fez uma voz forçadamente melosa antes de demonstrar – “Ai, Yuyu, você tem que sair nas fotos também, porque você é a arte mais linda daqui”.

O híbrido não conseguiu não rir da imitação, até por saber a resposta, pois Haseul tinha comentado ter ouvido algo naquelas linhas quando passou pelo casal no corredor.

—Você conhece eles bem.

A risada de Seonghwa pela expressão desgostosa que o ruivo fez foi um tantinho alta demais.

—Okay, apaga a informação de que eles são meus amigos, eu definitivamente não conheço eles.

—Para, eles parecem tão fofos...

—Gay. – replicou Hongjoong, dando um chute de leve em sua perna – É porque você não vive com eles.

—Eu convivo com a Siyeon, não deve ser muito diferente. – argumentou, com um sorriso brincalhão – E eu adoro aquele tom de rosa que tá o cabelo de um deles... Acha que é muito difícil pintar? Com as orelhas felinas...

O mais velho percebeu que tinha gesticulado mostrando o topo da própria cabeça, e então recolheu a mão no mesmo segundo. Okay, um humano poderia fazer o mesmo gesto enquanto falando aquilo, e talvez ter reagido assim fosse mais incriminatório do que simplesmente deixar acontecer, mas era um tanto tarde para pensar nisso. Felizmente, Hongjoong nem tinha atinado para aquilo, apenas prosseguindo com sua resposta.

—Nah, é só ter cuidado. Sou eu que pinto pra ele, na verdade.

—É? – questionou, surpreso, ganhando um murmúrio de afirmação

—Quando eu comecei a pintar meu cabelo, ele sempre elogiava muito e começou a comentar que queria fazer também, mas não tinha coragem. Então, eu comprei a tinta e me ofereci pra ajudar. Acabou se tornando uma rotina nossa, geralmente a cor sai pela mesma época...

Era curioso – para não dizer adorável – ver como ele sempre falava dos amigos zombando deles e poucos minutos depois revelava constantes gestos de afeição e cuidado.

—Vocês já experimentaram muitas cores?

—Pra falar a verdade, Sannie mudou mais que eu. – riu o mais novo – Começou com um roxo bem fechado, nem dava pra notar de longe, depois foi pra branco, e tá há mais de um ano nesse rosa. Acho que é o preferido dele, né? Eu sempre deixei no vermelho. Até já pensei em tentar outras, mas... meio que foi inspirado em alguém que admiro muito. Gosto de estar parecido com ela. – e porque ele não conseguia deixar uma conversa tão emotiva por muito tempo, logo desviou do tópico – Mas então, já pensou em tentar alguma cor no seu cabelo? Posso fazer pra você se quiser.

—Ah, n-não... – por reflexo, o híbrido puxou a ponta de seu capuz mais para baixo, tendo certeza que cobria bem o topo de sua cabeça, e também desviou o olhar para longe – To feliz com meu cabelo assim.

Sendo sincero, nunca nem tinha cogitado aquela possibilidade, então não poderia dizer se gostaria ou não de fazer tal mudança. Mas definitivamente não poderia deixar o garoto mexer em seu cabelo, por motivos bem óbvios. Talvez um pouco de seu nervosismo tenha escapado em suas ações, ou talvez Hongjoong só estivesse esperando a oportunidade, mas, qualquer que fosse o impulso para a próxima fala de seu amigo, ele definitivamente não esperava por isso.

—Achei que você já soubesse que eu não tenho problemas com você ser um híbrido.

A frase ecoou de um jeito tão casual que quase não registrou. Mas aí seus pensamentos finalmente processaram o que tinha ouvido, e Seonghwa sentiu como se tivesse caído em um lago congelado de tanto que gelou por dentro. Era só uma suposição, não era? Não soava como uma, mas tinha que ser, porque ele nunca deixara nada escapar, deixou? Por um lado, havia certa tranquilidade porque realmente foi só mais um comentário, dando um toque de verdade ao que era expresso... Mas nada lhe acalmaria o bastante para lidar com aquilo.

—Que? – foi tudo que conseguiu escapar de sua boca

—A gente tava literalmente falando de um amigo meu que é um híbrido?

—Mas de onde você tirou isso? – o mais velho decidiu recorrer à incredulidade, e até deu uma risada, mas soou mais como nervosismo do que descrédito

—Hm, vejamos. – não gostou de como Hongjoong pareceu prestes a enumerar uma enorme lista – Você é super tímido e evita pessoas, mas na verdade você não é nada antissocial. Quanto mais eu convivo com você, mais eu vejo que você gosta de estar perto de outros, só... evita isso por algum outro motivo.

—I-isso pode vir de muita coisa.

—É verdade. – admitiu ele, mas sem desistir – E aí você tá sempre com esses casacos, se cobrindo todo mesmo em dias mais quentes.

—A galeria tem ar-condicionado? – ao menos sempre ter as desculpas em mente ajudava, porque já teria travado se precisasse improvisar

—Claro... – o mais novo revirou os olhos – É por isso também que você nunca tem uma foto sua, né? – dessa vez, não teve chance de tentar se defender, porque ele jogou a última carta absolutamente indefensável no instante seguinte – E você ronronou quando me abraçou semana passada.

Depois dessa, só conseguiu esconder o rosto ardendo nas próprias mãos. Ele se esforçava ao máximo para reter aquela ação, mas era parte de seu instinto, e Hongjoong inegavelmente o fazia se sentir feliz. Estar atento para não deixar aquela reação escapar era uma das tarefas mais difíceis que já tinha feito, e talvez até devesse se congratular por ter demorado mais de dois meses para se entregar daquela maneira.

—Se te consola, foi quase imperceptível. – seu amigo adicionou, como se percebesse sua culpa – Eu só percebi porque to acostumado com o San fazendo isso comigo.

A lembrança sobre aquela presença no cotidiano do mais novo, especialmente o jeito simples e afetuoso como ele apontava os traços felinos – sem estranhamento, sem desdém, apenas mais um detalhe que fazia parte de ter aquela amizade –, fez com que Seonghwa conseguisse respirar propriamente de novo. E, sendo realmente sincero consigo mesmo, ele estava cansado de ter que se esconder de Hongjoong. Era cansativo se esconder de qualquer maneira, mas havia um toque a mais de culpa quando se fazia isso com alguém que aprendera a se sentir confortável ao lado.

Então, em um ímpeto de coragem, apenas puxou o capuz para trás. Não conseguiu se convencer a olhá-lo, contudo, apenas esperando a reação que viria.

—Gato preto? – o tom de Hongjoong era realmente casual, o que já era muito para seu coração assustado – Combina com você.

—Por que eu trago azar?

—Só humanos muito estúpidos acham isso. – resmungou o ruivo – Pra mim, você dá sorte.

Depois daquela fala, finalmente tomou coragem para voltar o olhar para o mais novo, e gostou do sorriso amigável que viu. Ele ainda era acolhimento e conforto, e isso era tudo que precisava.

—Desculpa por não ter falado antes. Eu...

—Hey, tá tudo bem. Não precisa me explicar como humanos podem ser péssimos. Mas alguns são minimamente decentes, sabe? E não é justo você viver escondido por causa dos outros.

—Minhas irmãs sempre dizem isso. É só... difícil pra mim. Mas eu to tentando. – com você, pensou, e percebeu que ele merecia ouvir aquele pedaço – Você é meu primeiro amigo fora da minha família.

—Jura? – ele pareceu genuinamente surpreso, e assentiu para confirmar – Faz sentido, mas... ah, sei lá, você é tão fácil de se aproximar... pelo menos pra mim.

Saber que transmitia a mesma sensação que sempre estava presente quando interagia com Hongjoong o fez inegavelmente feliz, conseguindo até mesmo sobressair ao nervosismo que ainda atrapalhava sua respiração. Chegou a hesitar um pouco, mas perguntou se podia se aproximar, se consolando muito em como ouviu um “claro” sem hesitação. Então, Seonghwa abraçou o amigo, esfregando de leve o rosto contra o braço dele como sinal de afeição. E se sentiu ainda mais quentinho por dentro ao que o ruivo afagou seu cabelo, mostrando que realmente não tinha problema algum em interagir com ele mesmo com aquela verdade.

—Desculpa te fazer falar assim... – murmurou o mais novo – Eu devia ter te deixado escolher quando contar, né?

—Olha... talvez eu nunca contasse.

Mesmo que não estivesse vendo, tinha quase certeza que Hongjoong revirou os olhos, e então ele deu um tapa de leve na sua cabeça.

—Então ainda bem que fiz. Você tá bem menos tenso agora.

—Eu tava tenso?

—Tava. – o tom dele não deixava nenhuma dúvida – Tem nem um minuto e seu corpo já tá bem mais relaxado.

—Ah... Não devia ter arranjado um amigo tão empático.

—Não mesmo. – riu Hongjoong, se levantando – Vem comigo.

O mais velho estranhou aquele pedido, mas ainda acatou, se levantando e o seguindo. Ao que percebeu que o amigo se colocou do lado de uma janela, se apressou a levantar o capuz de novo, mas sua curiosidade era maior do que pensar sobre isso.

—Eu sei um segredo seu, acho justo você saber um meu. – o ruivo se limitou a dizer

Aquela explicação críptica o deixou com mais perguntas do que antes, mas preferiu apenas deixar que Hongjoong se explicasse. Contudo, nenhuma palavra escapou dele, que apenas respirou fundo e brevemente moveu os lábios sem que nenhum som escapasse. Seonghwa estava a ponto de verbalizar sua confusão quando algo capturou sua atenção: a luz natural que banhava o cômodo tinha reduzido drasticamente, então em gesto automático moveu seu olhar para o céu, vendo como tinha ficado nublado de uma hora para outra.

—Nossa, eu não achei que fosse chover hoje... – comentou, vendo as primeiras gotas d’água alcançar a terra

—Não ia. – afirmou Hongjoong, e foi no sorriso convencido dele que encontrou a resposta

—Você... é um bruxo! – exclamou, ainda que tomando cuidado para manter a voz baixa, e ganhou uma confirmação – Que incrível! Pera, é por isso que você entende as pessoas tão bem?

—Ah, não. – ele começou a explanar – Alguns bruxos conseguem ler auras, sim, e minha tutora até suspeitava que eu conseguiria... mas, quando testamos essa magia, não funcionou.

Ao que concluiu a fala, o ruivo pronunciou mais uma daquelas palavras silenciosas, e a chuva foi cessando aos poucos.

—Fantástico. – sussurrou Seonghwa, genuinamente admirado, e se voltou para o amigo – Obrigado. Por... confiar em mim.

A magia já era algo de conhecimento geral, tanto quanto lobos ou híbridos, mas isso não significava que todo usuário dela alardeava isso publicamente. E, se ainda não tinha descoberto esse detalhe da vida de Hongjoong, é porque ele não queria que qualquer um soubesse.

—Sei que dá pra confiar em você.

—Por que eu não tenho muita gente pra contar? – indagou o mais velho, um fundo de verdade ainda que não desse esse tom

—Também. – respondeu o ruivo, rindo ao ver que ele levou aquela resposta a sério – Claro que não. E, na real... você é meu único amigo não-bruxo que sabe sobre isso.

O híbrido ficou alguns instantes sem reação, porque precisou de um momento para assimilar o que tinha ouvido e para conseguir acreditar. Aquele era um incrível voto de confiança, e saber que realmente ocupava aquele lugar na vida de Hongjoong lhe comovia.

De qualquer maneira, o resto da conversa foi bem casual. Eles voltaram a caminhar pela galeria, comentando obras e coisas do dia-a-dia – e, por estar longe de possível visão pública, Seonghwa já tinha deixado o capuz abaixado de novo, apreciando que podia fazer isso. Estava tão distraído que nem percebeu um terceiro par de passos se adicionando aos sons do corredor, só se dando conta da aproximação da irmã quando ela entrou no seu campo de visão. Contudo, ela foi muito mais tomada pela surpresa do que ele assim que percebeu como não estava se escondendo mesmo enquanto acompanhado.

—Você... – murmurou ela, ainda em choque – suas orelhas...

—Ah, é... O Joongie meio que descobriu.

—Você ronronou enquanto me abraçava. – replicou o mais novo, porque claro que ele tinha que trazer o argumento mais vergonhoso à tona

—É uma gracinha quando ele faz isso, né? – comentou Siyeon, afagando de leve seu cabelo – Mas olha, desculpa interromper a conversa de vocês, mas já to fechando aqui.

—Ah, claro. – concordou o visitante – A gente se vê por aí.

Conforme Hongjoong se afastava, Seonghwa não conseguiu evitar o pensamento de que a mais velha estaria com um discurso pronto quando se vissem sozinhos. Porém, tudo o que ganhou foi um abraço apertado – ao qual respondeu um segundo atrasado por não esperar aquela ação, mas nunca deixaria de abraçá-la de volta. Quando ela ergueu o rosto, havia um sorriso emocionado delineando seus lábios, e, se a conhecia bem, a garota parecia a ponto de chorar.

—To orgulhosa de você.

E, naquele momento, ele percebeu que sentia o mesmo.


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Notas finais do capítulo

pode não parecer, mas hwa deu um passo importantíssimo aqui! o capítulo até ficou mais longo do que a média que tento manter nessa história, mas não dava pra tirar nada nele
enfim.... se alguém chegou até aqui, meu muito obrigada! espero que tenha aproveitado a leitura ^^



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