Decisão - Damianya escrita por Nathalia Croft


Capítulo 3
Toque




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Quase tenho um troço quando Anya literalmente se joga em meu pescoço para um abraço, exclamando:

 

— SIM!!! EU ACEITO IR NO BAILE COM VOCÊ!!!

 

Esse é o máximo de toque físico que já tivemos em toda nossa vida. Quando percebo seu calor, não consigo evitar e entrelaço meus braços em volta dela, a apertando de leve. Naquele momento, descubro que quero mais disso. Quero mais do seu toque, e da sua presença.

 

Não sei por quanto tempo ficamos abraçados, com ela ainda se esperneando de empolgação e rindo, mas só paramos porque notamos que os outros alunos começaram a nos encarar no corredor do Colégio, como se perguntassem: “Ué, mas esses dois aí não se odeiam?!”

 

Quando nos afastamos, vejo que ela está um pouco vermelha e também sinto meu rosto corar. Anya me olha de baixo, como se fosse um cãozinho carente.

 

— Achei que você nunca iria me convidar… - ela diz, juntando as mãozinhas na frente do corpo.

 

— D-Desculpe por demorar tanto… - respondo, coçando atrás da cabeça, desviando seu olhar. Ela dá uma risadinha.

 

— Valeu a pena.

 

Volto a olhá-la e damos um pequeno sorriso.

 

“Ah… Se eu pudesse, te beijava agora mesmo,” acabo pensando.

 

Percebo que Anya arregala um pouco os olhos e os desvia de mim, parecendo nervosa. Balanço a cabeça sem entender e um silêncio constrangedor cai sobre nós. Preciso falar alguma coisa, qualquer coisa.

 

— E-Eu posso te pegar no sábado às seis? - pergunto, esfregando as mãos nas laterais do corpo.

 

A cerimônia de formatura iniciaria às sete e meia da noite do próximo sábado, onde seria assistida pelos familiares dos alunos. Entretanto, todos os formandos precisariam chegar uma hora mais cedo, para poderem se preparar e fazer todas aquelas coisas de organização que não convém eu detalhar.

 

Sem dizer nada, Anya apenas olha para mim com uma expressão gentil e acena com a cabeça, concordando. Ouvimos o sinal e entramos na sala de aula.

 

Sentado com meus melhores amigos na última fileira, descobrimos que teremos aula livre. Fico jogando cartas com Ewen e Emile, e pela primeira vez em todos esses anos estudando na mesma classe, da primeira fileira, Anya olha para trás com um sorriso, e eu retribuo.

 

♦♦♦

 

Estaciono meu carro em frente ao prédio que Anya mora com os pais. Respiro fundo e seco as mãos na calça. Antes de sair, vejo se tudo está limpo e organizado dentro do carro. Não quero deixar uma má impressão.

 

Vou até o interfone da porta principal do prédio e toco no número de seu apartamento. Bato o pé no chão repetidas vezes e aperto um pouco mais o pacote que trazia nas mãos. O interfone parece tocar por uma eternidade, até que finalmente uma mulher atende:

 

— Pois não? - noto que ela tem uma voz agradável e suave.

 

— O-Oi - respondo, sentindo minha garganta secar - É o Damian.

 

— Ah, sim! Pode subir!

 

Seu tom de voz parecia demonstrar um certo tipo de empolgação e sinto um frio na barriga ao ouvir a porta principal se abrir automaticamente. Começo a subir as escadas e meus passos refletem as batidas do meu coração.

 

Quando chego no andar certo, sinto que estou ofegante e paro um pouco para tentar me acalmar. O apartamento é o último de um longo corredor. Começo a andar, mas aquele corredor parece infinito. Chego na porta e antes de tocar a campainha, ajeito meus cabelos, o paletó e respiro fundo mais uma vez.

 

Mal toquei e a porta se abriu. Por um momento, levei um pequeno susto ao contemplar a pessoa que surgiu na minha frente.

 

Uma mulher me recebia com um grande sorriso. Deve ser a mesma que atendeu o interfone. Eu já a tinha visto antes e sei que é a mãe da Anya. Mas, o que me surpreendeu foi o barrigão de gestante que praticamente saltava de seu ser.

 

Como pude me esquecer?!

 

Anya estava esperando um irmãozinho ou irmãzinha e confesso que, pelo tamanho da barriga, iria nascer muito em breve. Me xingo em pensamento, pois acredito que teria sido educado da minha parte também trazer uma lembrancinha para a mãe e o bebê.

 

— Damian, querido! - diz ela, sinalizando para que eu entre - Por favor, fique à vontade! Já nos vimos de longe, mas acho que nunca nos apresentamos direito. Eu sou a Yor, mãe da Anya.

 

— O-Obrigado. Com licença. Muito prazer, Sra. Forger - nos cumprimentamos e percebo que ela tem um aperto de mão bem firme, comparado à personalidade calma e gentil que aparenta possuir. 

Entro muito sem jeito no apartamento e aos poucos vou olhando ao redor. É bem bonito e arrumadinho. Não tem nada de luxo, mas tudo parece ser de boa qualidade.

 

— Vou avisar a Anya que você chegou - diz Yor. Ela então se aproxima um pouco de mim e fala num cochicho - Ela está linda!

 

Acredito que fiquei um pouco vermelho ao ouvir a informação e acho que Yor percebeu, pois sai pelo apartamento dando uma risadinha.

 

Então, noto uma sombra surgir ao meu lado e na hora reconheço quem é: Loid Forger, o pai da Anya.

 

Não tem como eu não me sentir intimidado por aquele homem alto, apesar de sua expressão para comigo ser muito simpática. Ele sempre estava no Colégio em algum evento, reunião ou qualquer coisa que fosse.

 

Dava na cara que era um pai muito presente. Bem diferente do meu.

 

Ao pensar nisso, sinto uma certa melancolia em meu coração, mas procuro afastá-la. Loid estende a mão para mim, com um sorriso.

 

— Olá, Damian. Como vai? - ele me direciona para a sala de estar, onde tem um chá da tarde preparado - Por favor, sente-se.

 

Eu o cumprimento de volta e agradeço a gentileza, alegando que não precisava se preocupar, pois não queria tomar muito tempo e nem dar trabalho.

 

Loid me serve um chá com alguns biscoitos e, apesar da aparente expressão simpática, sinto como se ele estivesse me examinando de alto a baixo, quase como se lendo minha própria alma. Seu olhar parecia que poderia descobrir qualquer podre meu, até mesmo coisas bobas, como quando por exemplo, surrupiei alguns doces da despensa do casarão que eu morava quando tinha uns quatro anos de idade.

 

Um silêncio constrangedor paira por nós e dou meu máximo para puxar assunto. Comento coisas como a gravidez da Yor e elogio o apartamento. A cada assunto que eu comentava, o pai de Anya sabia responder muito bem, dizendo coisas interessantes e que felizmente, deixava a conversa fluir melhor.

 

Quando percebo que estamos ficando sem assunto de novo, Loid me pergunta:

 

— E então? Agora que vai se formar, quais os seus planos para o futuro?

 

Confesso que nunca gostei desse tipo de pergunta, e o principal motivo era que eu não tinha uma resposta para ela.

 

Normalmente, filhos de gente rica sempre seguem o caminho de seus pais, como numa empresa ou negócio da família. Mas, como já mencionei antes, meu pai era um completo estranho para mim. Até hoje, eu não sei te dizer com o que ele trabalhava, exatamente.

 

Minto. Sei que ele trabalhava com alguma coisa relacionada à política, mas simplesmente não suporto esse tipo de assunto. Porém, até o momento, mesmo com dezenove anos, ainda não sei o que fazer da minha vida profissional.

 

Mas, quando Loid Forger me faz aquela pergunta, não é a visão de uma profissão futura que vem à minha mente, mas a de uma certa moça de cabelos rosados.

 

Fico extremamente aliviado ao ver que Yor volta à sala um tanto quanto animada anunciando a chegada de Anya, porque acredito que aquele não era o momento e muito menos a hora de eu dizer ao Sr. Forger que meus planos para o futuro incluiam me casar com sua filha.

 

Nós dois nos levantamos para recebê-la e acredito que não consegui disfarçar a cara de surpresa que fiz. Até mesmo Loid parecia impressionado.

 

Anya estava magnífica.

 

Usava um longo e solto vestido verde água, dando um contraste perfeito com seus cabelos, que agora atingiam a altura de seu quadril em mechas compridas, brilhantes e sedosas. Ela parece flutuar pelo piso do apartamento. Acredito que a palavra que melhor a definiria neste momento era de que parecia uma fada saída dos livros de contos infantis.

 

Por alguns instantes, fico completamente sem palavras. Então, quando consigo falar de novo, a única coisa que sai é:

 

— Você está… Perfeita…

 

Anya tinha um brilho no olhar e dá um sorrisinho tímido, agradecendo. Yor deliberadamente já batia palmas em empolgação ao ver a filha tão linda. Loid, confesso, ainda estava um pouco surpreso.

 

Estendo minha mão e entrego a Anya o pacote que tinha trazido.

 

— Aqui… - sorrio, encabulado - E-Eu não sabia se você gostava de flores, então achei melhor trazer amendoim. Isso eu sei que você gosta.

 

Anya ri e fica bem feliz com o presente, me agradecendo com mais um sorriso que faz meu coração derreter. Como pude resisti-la por tanto tempo?!

 

Ela termina de pegar suas coisas e os pais combinam que se encontrariam conosco depois da cerimônia de formatura, antes do jantar e festa de gala que se seguiriam ao evento.

 

Quase tenho um piripaque quando, depois que nos despedimos de Loid e Yor na porta de entrada, Anya engancha seu braço no meu, para que possamos andar lado a lado no corredor, a caminho das escadas. Devo ter ficado muito vermelho.

 

Finalmente saímos do prédio e a encaminho em direção ao meu carro, abrindo a porta para que ela entre. Dou a volta no veículo ao mesmo tempo que respiro fundo para acalmar meu nervosismo.

 

Entro no carro e acontece o que eu temia: silêncio.

 

Nos olhamos de relance e limpo a garganta.

 

— Você quer ouvir alguma coisa? - sugiro.

 

— Claro! - ela me responde, se mostrando interessada.

 

Coloco uma fita cassete no radinho do carro e uma música suave no estilo blues começa a tocar, preenchendo aquele silêncio que antes pairava entre nós. Percebo que ela gosta da melodia e isso me acalma.

 

Começo a dirigir a caminho do Colégio e conversamos algumas coisinhas aqui e ali sobre a cerimônia e a festa. Aos poucos, o clima vai se amenizando e vamos nos sentindo mais à vontade na presença do outro.

 

Então, em determinado momento, após ela rir de alguma piada que eu consegui fazer com sucesso, novamente o silêncio cai sobre nós. Entretanto, desta vez não é ruim, mas um silêncio bom. Daqueles que não precisamos ficar encontrando assunto para preenchê-lo, mas que o simples prazer de estar na companhia do outro já é o suficiente.

 

O sol se põe lentamente, refletindo os doces olhos de Anya. A música está agradável e o ambiente, também. Então, percebo que ela está com a mão esquerda apoiada no banco, tamborilando o estofado.

 

Imediatamente, penso em como queria segurar em sua mão e, para minha grande surpresa, Anya me olha de uma maneira significativa e chega com sua mão um pouquinho mais perto de mim.

 

Mal pude acreditar. Ela também queria isso?

 

Olhando para a rua à frente, aos poucos, vou chegando meus dedos próximos aos dela e nossas mãos se roçam. Dou uma rápida olhada para Anya e ela me retribui com um sorrisinho tímido.

 

Então, lentamente, passo meus dedos sobre a palma de sua mão e vou subindo, até que por fim, nossos dedos se entrelaçam.

 

Sinto meu coração pulsar em meus ouvidos e me preocupo se ela seria capaz de ouvi-lo bater assim tão forte. Estou quase explodindo de alegria e não consigo evitar sorrir. Anya claramente percebe minha empolgação e ri, apertando um pouquinho mais sua mão contra a minha.

 

Com aquele pôr do sol, aquela música e aquela companhia, tenho plena certeza de que nada pode estragar minha noite.

 

Hoje, tudo será perfeito.


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