Decisão - Damianya escrita por Nathalia Croft


Capítulo 2
Confirmação




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Naquela noite, deito em minha cama bastante inquieto. Preciso decidir se convido Anya para o baile de formatura, ou não. Pode parecer algo muito fácil, mas não é. Não é apenas um simples convite para uma festa.

 

É uma constatação.

Se eu convidá-la para o baile, significa que finalmente admiti minha derrota. De que Anya Forger finalmente conquistou Damian Desmond.

 

Não sou ignorante. Eu sei o que pulsa aqui dentro quando nossos olhares se encontram, quando ela fala comigo, e também quando acidentalmente, ela toca em minha mão.

 

Eu sei que, se eu convidá-la para o baile, não vou querer parar por aí. Vou querer sua companhia cada vez mais e mais.

 

Porém, eu tenho medo. Muito medo. Posso parecer durão e soberbo por fora, mas por dentro, às vezes sinto que sou o mais covarde de todos os homens. Tenho medo de estragar alguma coisa, que nem ao menos começou…

 

Por isso, preciso de uma confirmação. Algo que me dê certeza de que devo ir adiante com essa ideia.

 

Estou cansado, muito cansado…

 

Me viro na cama e pego a fotografia, agora solta, que deixei na mesa de cabeceira. Olho para meu eu criança novamente e a angústia que senti pela manhã quer me invadir de novo. Então, olho para Anya e a sensação imediatamente desaparece. Mal percebo quando pego no sono com a fotografia repousando em meu peito.

 

Eu tive um sonho.

 

Estou subindo as escadas do que parece ser uma casa até que bem bonita. Sei exatamente para onde estou indo: o meu quarto.

 

Entro no cômodo e me encaminho em direção ao banheiro da suíte, mas algo me chama a atenção. Repouso na grande cama de casal o jornal que iria me fazer companhia no trono.

 

Vejo que a porta da minha parte do guarda-roupa está aberta e toda revirada.

 

Alguém andou mexendo nas minhas coisas.

 

Vou até lá e confirmo minhas suspeitas. As roupas das gavetas estão desarrumadas e até mesmo sinto falta de um sapato social meu. Respiro fundo.

 

Então, ouço risadinhas vindo do corredor, seguidas por passinhos errantes e barulhentos. Me levanto e espio pela porta.

 

Ao longe, vejo duas cabecinhas que possuem as mesmas cores de cabelo que os meus correrem em direção a um quarto.

 

São meus filhos. Meliantezinhos safados.

 

Não consigo evitar rir internamente. A vontade de ir ao banheiro até passou.

 

Fazendo menos barulho possível, me encaminho em direção ao quarto deles. Devagar, coloco minha cabeça entre a porta e os vejo.

 

Dois meninos, dançando loucamente na frente do espelho. São bem pequenos. Um deve ter a idade que eu tinha quando entrei no Colégio Éden, e o outro é uns dois anos mais novo.

 

Preciso tapar minha boca para não rir. O mais velho está usando uma camisa social branca minha, com uma gravata porcamente enrolada no pescoço, quase no risco de enforcá-lo. O mais novo está usando os sapatos sociais que senti falta e um paletó, que se arrasta no chão, tão grande que ficou nele.

 

Sinto um calor em meu coração e não consigo evitar um sorriso. Então, dou um grande salto para dentro do quarto, abrindo os braços.

 

— PEGOS NO FLAGRA! - exclamo. Os meninos perdem totalmente a cor por um instante, mas, ao verem que eu tinha uma expressão brincalhona no rosto, começam a gargalhar e tentar fugir de mim, correndo em círculos pelo quarto (o mais novo levou um capote assim que começou a correr, por causa dos sapatos grandes).

 

Não é nada difícil para mim alcançá-los. Levanto os dois no alto, eles dão um gritinho de euforia e os jogo em cima de uma das camas.

 

— Posso saber o que vocês estão fazendo com as minhas roupas?! - pergunto, enquanto os encho de cosquinhas e eles riem tanto, que ficam vermelhos.

 

— Ai, papai! - exclama o mais velho, se desvencilhando das minhas mãos e agora praticamente escalando minhas costas - A gente queria ficar igual ao senhor!

 

— Igual a mim? - pergunto, o pegando de volta e o sentando em meu colo - Por quê?

 

— Porque a mamãe sempre diz que o senhor é um “bunito hómi de negócios” - responde o mais novo, seus olhinhos verdes brilhando para mim.

 

— A mamãe diz isso, é? - pergunto, olhando desconfiado para os dois - Não estou sabendo…

 

— O que está acontecendo aqui, hein? - uma voz feminina surge da porta do quarto e eu e os meninos nos viramos.

 

Naquele instante, meu eu de dezenove anos que está sonhando parece tomar consciência de que aquela mulher é ninguém menos do que Anya.

 

Sinto meu coração disparar.

 

Ela está parada à porta, bela como sempre. Agora, não é mais uma mocinha, mas uma mulher. Seus cabelos estão presos em um coque elegante e alto. No seu colo, uma bebezinha de uns oito meses de idade começa a rir para mim. É uma cópia exata de Anya.

 

— Xiii! A mamãe chegou! - exclama o mais velho, tentando se esconder atrás de mim - Estamos fritos!

 

Anya imediatamente percebe o que está acontecendo e começa a rir, baixinho. Porém, também percebe que eu a encaro com um certo brilho no olhar e talvez, até mesmo com uma expressão de assombro.

 

— Amor? - ela chama, se encaminhando até mim e colocando a mão em meu rosto - Está tudo bem?

 

Ao sentir seu toque, meu eu pai/marido volta a tomar consciência e apenas balanço a cabeça, dizendo que sim, estou bem.

 

Anya senta na cama e nossa bebezinha abre os braços, sinalizando que quer vir no meu colo, dando o sorriso banguela mais lindo que já vi. Essa cena quase faz meu coração derreter. Meu menino mais novo vai para o colo da mãe que ficou desocupado.

 

— Tô bunitão igual o papai? - ele pergunta, levantando os bracinhos para o alto com o paletó. Ele balança as pernas em empolgação e meus sapatos sociais literalmente saem voando até o outro lado do quarto. Todos nós rimos.

 

— Sim, querido… Está - responde Anya. O mais velho a encara com um semblante esperançoso - Você também - ela ajeita sua gravata, para que fique no mínimo, decente.

 

Observo minha esposa arrumando meus filhos, para que fiquem mais parecidos comigo e dou um sorrisinho bobo. Minha bebê dá um gritinho alegre e me deito, erguendo ela no alto. Trago ela próxima ao meu rosto e encho aquelas bochechas rechonchudas de beijos. Ela dá uma risada gostosa.

 

Anya se deita ao meu lado naquela apertada cama de solteiro de um dos nossos filhos e os meninos se amontoam em cima da gente. Todos estão sorrindo para mim.

 

Como em câmera lenta, olho um a um e sinto uma grande paz invadir meu coração.

 

Naquele momento, me sinto o homem mais amado do mundo.

 

Ouço o despertador tocar. Meio grogue, abro os olhos e vejo que já é de manhã. Devagar, me sento na cama e passo as mãos no rosto.

 

Me lembro do sonho que tive essa noite.

 

Eu finalmente tive minha confirmação. Convidarei Anya para o baile de formatura.

 

Mas, não vou parar por aí.

 

Pela primeira vez na minha vida, irei fazer algo por mim mesmo. E não pelo meu pai.

 

Para um rapaz que hoje não tem ninguém de sua família que se importe com ele, a visão daquele futuro que eu tive parecia muito, muito promissora. 

 

Bem diferente do estilo de vida mostrado por Donovan Desmond.

 

Decidi que eu não quero mais que Anya seja somente minha parceira para o baile.

 

Quero que ela seja minha parceira para a vida.

 


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