Histórias do Multiverso escrita por Universo 9611


Capítulo 7
Carol Paiva (Universo 9)


Notas iniciais do capítulo

A protagonista deste capítulo, sua aparência e parte de sua história foram criados por/inspirados em uma amiga chamada Carol Paiva. Esta é uma versão bastante sombria dela, e na verdade o capítulo inteiro é bem sombrio e possui um tom um mais pesado do que os anteriores, incluindo cenas gráficas de assassinato.
Os demais personagens são quase todos baseados em mim mesmo. Fará sentido no contexto.
Apesar desta ser a sua história de origem, Carol apareceu brevemente no capítulo anterior desta história, que cronologicamente se passa após os eventos aqui narrados.



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Com um número transfinito de universos contidos no Multiverso, não é raro haver cruzamentos entre realidades. Como já vimos em capítulos anteriores, muitos destes cruzamentos entre universos ocorrem quando — seja por meios mágicos ou tecnológicos, de propósito ou acidentalmente — indivíduos ou grupos nativos de determinada realidade visitam ou invadem outra.

Para os habitantes do chamado Universo 9, esses cruzamentos sempre foram extremamente frequentes, pois todos os lagos deste mundo eram portais mágicos que mostravam e levavam à outras realidades.

Carol e Lúcas estavam em uma grande praça, observando um desses lagos, que ficava no centro do local e mostrava várias imagens de incontáveis mundos. Embora a menina de doze anos e o garoto de dezessete não fossem parentes e nem tenham sido criados juntos, eram bem mais próximos do que muitos irmãos de sangue, e tratavam-se como se realmente o fossem, ao ponto de até mesmo chamarem um ao outro de "maninho(a)".

— Feliz aniversário, maninho. — Carol desejou pela terceira vez naquele dia, abraçando-o. — Mais um ano e você vai fazer dezoito.

— Obrigado. — Agradeceu o mais velho, retribuindo o abraço.

— Você tá estranho… — Ela percebeu. — Tá tudo bem? Você tá chateado com alguma coisa?

— Não, é só que… Sei lá. — Lúcas suspirou. — Quantas vezes isso já não aconteceu?

— Como assim? — Perguntou Carol, querendo entendê-lo. — "Isso" o quê?

— Esse momento. — Respondeu o rapaz. — Quantas quintilhões de vezes uma Carol diferente falou "Feliz aniversário, maninho!" para um Lúcas diferente nesses infinitos universos? O que deveria ser um momento especial e único, nosso, acaba por ser só um momento repetitivo.

Carol desfez o abraço, encarando-o.

— Eu acabo sendo só mais um repetindo tudo isso. — Concluiu Lúcas, observando o lago, que mostrava uma versão alternativa dele, mais velho, com todo seu corpo feito de cronorita, ao lado de uma Carol, também mais velha, loira e com pequenas asas douradas no lugar das orelhas, que o parabenizava.

— Você é único para mim, maninho. — Carol falou, o abraçando mais forte. — Os outros Lúcas… "Lucases"… São apenas sombras, ecos de você!

O garoto sorriu, e ambos ficaram em silêncio, apenas curtindo o momento juntos, até que algo sombrio surgiu na mente de Lúcas.

— Ei… — Ele chamou.

— Sim, maninho?

— Você gosta de mim de verdade?

— Claro! — Carol respondeu enquanto pensava algo como "Que tipo de pergunta é essa?"

— Então prova.

— Como? — A garota quis saber.

— Mata todas as minhas versões do Multiverso. — Lúcas pediu. — Para eu ser único de verdade.

A menina ponderou sobre este incomum e lúgubre pedido de aniversário. Considerando que o Multiverso superava o infinito em possibilidades, eliminar todas as versões de uma pessoa seria impossível, um legítimo Trabalho de Sísifo.

Não obstante, ainda considerando o Multiverso, era certo que infinitas versões alternativas dela — e de outras pessoas — já aceitaram essa tarefa, e ela estava apenas atrasando-se ainda mais enquanto pensava.

— Tá bem. — Carol concordou, sorrindo.

A adolescente abraçou seu irmão de consideração, despedindo-se dele antes de pular no lago. Carol nunca havia assassinado alguém antes, portanto ao escolher as primeiras realidades para começar sua sinistra tarefa sem fim, mundos como o Universo 65 — onde Lúcas era um mercenário experiente em combate — ou o Universo 1, em que todos os seres humanos possuem poderes que beiram ao divino, estavam fora de cogitação, por enquanto.

Atravessando um dos portais no fundo do lago, Carol encontrou-se dentro de uma sala de aula, no Universo 15.

— Onde… Onde está o Lúcas? —A menina perguntou, um pouco nervosa, para a sala os alunos que estavam assustados por ela ter surgido ali magicamente.

Todos viraram-se para encarar o garoto vestindo um casaco branco, no fundo da sala.

— Eu? — O aluno de treze anos perguntou, confuso. — Quem é você?

— M-meu nome é Carol Paiva. — Ela apresentou-se. — Eu vim matar você porque… entre todos no Multiverso, você é o mais fácil.

Assim que Carol pronunciou a última palavra, todos na sala, com exceção dela, caíram sem vida.

Por alguma razão, a letra "F" não existia no Universo 15, e toda a forma de vida nativa desta realidade que ouvisse alguma palavra com essa letra, morria instantaneamente. Podia ser ridículo, mas ao menos era conveniente para uma garota de doze anos que precisava iniciar uma trilha de cadáveres e que tinha que se familiarizar com pessoas morrendo.

Carol abandonou aquele mundo e partiu para o Universo 60, surgindo no quarto do Lucas desta realidade, que estava deitado em sua cama.

— Carol? É você mesmo? — A voz desta versão alternativa era rouca, e ele estava magro, de forma não saudável.

— Não sou a Carol que você conhece. — Revelou a habitante do Universo 9. — Eu vim aqui te matar.

— Ah… Então tá, mas seja rápida. — Era exatamente a reação que ela esperava de alguém desse mundo.

A garota aproximou-se de Lucas e o segurou pelo pescoço, não recebendo reação alguma de autodefesa vinda do rapaz, que apenas ficou encarando-a passivamente enquanto ela o enforcava. Carol precisou desviar o olhar para conseguir terminar o que estava fazendo.

— Espero que você esteja vendo isso, maninho. — Murmurou, segurando as lágrimas. — Estou fazendo isso por você.

Correndo até a cozinha casa, Carol encontrou uma faca de cozinha e a pegou, observando por algum tempo, hesitante sobre se deveria continuar sua tarefa ou apenas deitar-se no chão e chorar até morrer de fome, mas ela resistiu à essa ultima opção porque conhecia a história desse universo:

Desde que uma entidade incorpórea interdimensional penetrou nesta realidade, ela começou a sugar a motivação de todos os seres vivos, e era por isso que aquele Lucas estava há dois dias deitado em sua cama. A garota sabia que a sua vontade de desistir do "lucascídio" era consequência da entidade começando a afetá-la, por isso manteve-se forte em seu objetivo. 

— Ok, as coisa vão ficar mais desafiadoras agora. — Disse enquanto deixava aquele mundo.

Carol chegou no Universo 737 no dia dez de janeiro de 2017, no exato momento em que a internet parou de funcionar no planeta inteiro de forma repentina, no que só mais tarde seria revelado como a primeira etapa de uma violenta invasão extraterrestre.

— A internet caiu aqui no celular. — Avisou o Lúcas desse mundo.

— Aqui também. — Disse o tio do garoto, reiniciando, em vão, o modem de internet.

Completamente distraídos, não havia como eles reagirem quando a assassina de outro universo surgiu bem na frente de Lúcas e cortou a garganta do jovem de dezenove anos, deixando-o engasgar no próprio sangue enquanto ela partia para a próxima realidade.

E assim se iniciou a história de uma garota de doze anos que aceitou o pedido de seu Lúcas para eliminar todas as versões alternativas dele pelo Multiverso. Mesmo em nosso mundo real, o chamado Universo 1997, o Lúcas, autor desta história, ao escrevê-la originalmente em seu notebook, deitado em sua cama, temeu por sua vida ao questionar-se mentalmente: "A Carol Assassina de Lucases é realmente apenas uma personagem fictícia ou o Multiverso transfinito de fato existe e eu mesmo sou uma vítima em potencial?"

— Já foram três… — Carol sussurrou sozinha. — Quantos ainda faltam? Bilhões? Trilhões? Decilhões? Centilhões?

Todos esses números grandes eram pífios, no entanto.

A homicida multiversal surgiu no quarto do Lúcas do Universo 8, que estava de costas para ela, concentrado em seu notebook enquanto escrevia uma história sobre uma menina que viajava pelo Multiverso, assassinando versões alternativas dele próprio.

Carol se aproximou sorrateiramente do garoto, sem que ele percebesse. Se ele apenas se virasse e olhasse para trás, talvez tivesse alguma chance de lutar por sua vida, mas ao invés disso Lúcas continuou escrevendo sobre a jovem assassina, inconsciente de que ela esta bem ali.

Lúcas digitava uma cena onde Carol chegava bem próximo dele e…


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Notas finais do capítulo

Eu devo confessar que foi estranho descrever versões de mim mesmo sendo assassinadas, e temi continuar.
Nenhum Lúcas está seguro, nem mesmo o Lúcas do capítulo 4 ou eu mesmo, o autor. E com as infinitas possibilidades, mesmo você, leitor(a), deve temer, pois certamente há assassinos multiversais matando versões alternativas suas, e você pode ser a próxima. Quanto tempo será que vai levar até que ele(s) chegue(m) em nosso universo atrás de você?