Histórias do Multiverso escrita por Universo 9611


Capítulo 5
Mateus (Universo 203)


Notas iniciais do capítulo

O protagonista deste capítulo, sua aparência e parte de sua história foram criados por/inspirados em um amigo chamado Mateus Costa, o mesmo do primeiro capítulo, e esta é uma "sequência" àquela história.



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No planeta Terra do Universo 203, em agosto de 1941, a Áustria fazia parte do território da Alemanha Nazista, em um mundo onde a tecnologia de viagem no tempo existe desde 1919. Com isso, o avanço tecnológico desta realidade adiantou-se significativamente mais do que a versão desta época de nosso universo, embora, por algum motivo, a tecnologia nuclear não tornou-se viável e, ao invés disso, aparelhos alimentados com pilhas se popularizaram exageradamente.

A Segunda Guerra Mundial deste universo alternativo era ainda pior do que a ocorrida em nossa história, com o conflito tendo espalhando-se por territórios americanos e africanos, por conta do avanço tecnológico de submarinos, tanques, aviões, e alguns protótipos de drones pilotados à distância. Nada disso, não obstante, superavam os hediondos experimentos antiéticos que tanto o Eixo quando os Aliados faziam em seus próprios cidadãos, com testes não consensuais e secretos.

A tarde de um dia de agosto estava chegando ao fim, e nosso protagonista ruivo de nome desconhecido escondia-se em um beco mal iluminado, observando furtivamente um casal conversando em frente a um veículo, mas seu interesse ao assunto da conversa era nulo, importando-se apenas com o grande aparelho telefônico sem fio preso à cintura do homem.

Apesar deste início familiar, este não era o Universo 205, e esta não era a história de origem Morph Vegvísir, mas sim uma história diferente: o Universo 203 tratava-se da linha alternativa criada por Morph quando ele viajou para cinco minutos no passado, roubou um telefone, foi perseguido por guardas e então desapareceu, retornando ao seu presente original.

Normalmente, ninguém — principalmente viajantes do tempo — para pra pensar sobre o que acontecia com os passados alternativos que são "criados" e deixados para trás, mas o que aconteceu com essa linha temporal depois que Morph Vegvísir do Universo 205 a abandonou? Uma viagem no tempo de apenas cinco minutos no passado pode causar grandes mudanças, ou é inofensiva?

O rapaz ruivo de vinte anos permaneceu escondido, aguardando o casal ir embora para só então ativar seu traje de viagem no tempo e roubar o telefone, mas…

— Ladrão! — O marido gritou. — Aquele homem roubou meu telefone!

— O quê?! — O jovem de cabelos alaranjados ficou chocado ao ver alguém idêntico a ele surgindo do nada e roubando o dono do aparelho.

Nosso protagonista escondeu-se atrás de algumas latas de lixo quando o seu doppelgänger passou por ele, perseguido por dois guardas. Escondido, o ruivo viu o fugitivo de costas, girando a chave no centro de um traje de viagem no tempo que ele usava sob o paletó, girando-a para o lado oposto do que deveria levá-lo ao passado, ou seja, o ladrão pretendia retornar ao seu presente original, porém nada ocorreu.

— Ah, fala sério! — O ladrão atrás das latas de lixo ouviu seu eu do futuro exclamar antes de abrir sua pochete de pilhas, acidentalmente deixando algumas caírem no chão.

O jovem escondido deduziu que a sua contraparte deslocada no tempo iria trocar as pilhas do traje, mas não pôde ver isso acontecer porque tanto o seu doppelgänger quanto os guardas que o perseguiam sumiram de sua vista ao dobrarem a rua. Em choque, o rapaz aguardou mais algum tempo antes de deixar seu esconderijo, querendo certificar-se de que o homem que tinha sido roubado havia ido embora.

Quando tomou coragem e saiu de trás das latas de lixo, deixou o beco pelo caminho oposto ao usado pelo seu clone do futuro, tentando andar calmamente, mas seu nervosismo era visível.

— Maldição! — Ele exclamou após se encarar no espelho de uma casa abandonada que costumava usar como um de seus principais esconderijos. — O que diabos foi aquilo?!

Ele abriu a torneira e juntou as mãos em forma de concha para aparar a água e levá-la ao seu rosto, em parte para lavá-lo, mas principalmente porque queria ter certeza de que estava acordado e lúcido. Sentindo-se sufocado, o jovem austríaco retirou seu paletó depressa, livrando-se também do traje de viagem temporal, antes de fechar seus olhos e respirar fundo.

O ataque de pânico podia parecer ser uma reação exagerada, mas deve-se considerar que, mesmo vivendo nas ruas, o ruivo sabia como a ciência de seu mundo explicava as viagens no tempo.

— Certo, vamos lá. — Disse a si mesmo, andando de um lado para o outro. — O que acontece quando eu volto no tempo? A resposta é que o traje cria uma linha do tempo temporária, parecida com o passado, correto? Claro que sim, é o que os cientistas dizem!

Ele continuou seu monólogo enquanto andava em círculos no banheiro:

—… E o que acontece com essa linha temporal alternativa quando eu volto para o meu presente? Resposta: Ela deixa de existir. É por isso que se chama "Linha do Tempo Temporária". — O rapaz encarou-se novamente no espelho e acertou alguns socos leves na própria cabeça enquanto seguia com seu raciocínio: — A mesma coisa com os "futuros" que aqueles cientistas estudam, eles só existem pelo tempo que se observa eles. O "agora" é a única Linha Temporal Base, ninguém deveria vir do futuro para cá!

Percebendo que estava falando sozinho, e possivelmente enlouquecendo, o jovem terminou suas ponderações apenas em pensamento:

"Mas… Eu o vi! Se aquele cara era realmente eu do futuro, isso significa que esta é a Linha do Tempo Temporária e não a Base? Se sim, então toda a realidade vai desaparecer a qualquer momento?"

O ladrão de cabelos alaranjados olhou para o traje de viagem no tempo, lembrando-se de quando o roubou da casa de um velho político lambe-botas do Führer.

— O mundo vai deixar de existir por causa dessa porcaria! — Concluiu. — Apenas porque eu roubei a merda de um telefone!

Refletindo sobre sua própria existência, o criminoso questionou-se sobre haver algo de significativo em sua vida, entretanto nada surgiu em sua mente. Ele vestiu seu paletó, agarrou o traje e saiu da casa, com o objetivo de descartar o mecanismo de viagem no tempo em alguma lixeira.

— Isto é o que eu estou pensando que é? — Um homem mais velho, fumando na porta de sua casa, perguntou quando viu nosso protagonista na rua com o traje em mãos.

— Depende do que o senhor está pensando. — Respondeu cautelosamente.

— Como você conseguiu isto, rapaz?

O ruivo hesitou, ponderando se deveria só largar o traje e sair correndo, mas ao invés disso, disse:

— Se o senhor está tão interessado nessa coisa, pode ficar com ela. — Ofereceu, já entregando-o ao homem.

— Oh… Está bem. — O mais velho segurou o traje, surpreso. — Por que tanta ansiedade em livrar-se dele?

— Digamos apenas que isso representa uma parte da minha vida que quero deixar para trás, pelo tempo que me restar. — Foi a resposta do mais jovem.

O mais novo olhou para o final da rua, observando os últimos raios de Sol do dia, esperando que a realidade desaparecesse junto àqueles raios, mas nada aconteceu.

— Ei… O senhor é um cientista, não é? — Perguntou o ex-ladrão, notando o jaleco que vestia o homem que agora segurava o traje.

— Sou um professor, então, sim.

— O que o senhor entende sobre Linhas do Tempo Temporárias?

— Bastante coisa na verdade. Inclusive tenho algumas teorias próprias sobre o assunto. — Respondeu o professor. — O que acha da ideia de entrarmos e conversamos?

— Eu… Não creio ser uma boa ideia… — Disse o ruivo, hesitante.

— Ora, vamos! — Insistiu o homem mais velho, jogando o que restava de seu cigarro no chão. — O mínimo que posso fazer é oferecer um café e algumas respostas em retribuição a esse seu presente, que não é algo que se compra em uma loja.

O mais jovem sorriu, mas estava pronto para recusar o convite. O que o fez mudar de ideia foi um soldado dobrando a rua.

— Tudo bem, um café seria ótimo! — Sorriu, entrando na residência, temendo ser reconhecido pelo soldado.

O professor mandou sua governanta servir café a eles enquanto os dois sentavam-se nos sofás da sala.

— A propósito, eu me chamo Victor. E você é…?

— Meu nome? — O rapaz ponderou sobre se deveria revelar seu nome verdadeiro ou inventar um. Independente de sua decisão, ele respondeu: — Mateus.

Não havia como Mateus saber disso, mas por muita coincidência — ou talvez alguma divindade estivesse guiando seu destino — aquela residência era a mesma onde, em uma linha temporal divergente, uma versão alternativa sua, renomeada Morph Vegvísir, entraria para roubar um "item" específico.

Os dois homens conversaram enquanto tomavam café. O ruivo decidiu contar tudo o que ocorreu mais cedo, sem medo de julgamentos da parte de Victor, uma vez que tudo poderia acabar a qualquer momento mesmo.

Não obstante o professor ouviu atentamente a tudo, sem julgá-lo.

— Uau, é… uma história interessante, rapaz. Se o que diz é verdade, então toda a nossa realidade passou a existir há apenas… O quê? Meia hora? Quando você de outra linha temporal usou o traje.

— Isso significa que vamos todos morrer assim que ele, digo, "eu", retornar para o seu presente, não?

— Na verdade, afirmar que a linha do tempo alternativa desaparece quando o viajante retorna para a sua linha temporal original é apenas uma convenção. — Victor explicou. — Dizem isso porque, até onde sabemos, é impossível retornar à uma linha alternativa já visitada, 

— Então… o mundo não vai acabar?

— Relaxe, filho. O mundo vai continuar, pelo menos por hora, mas não subestime a capacidade de nossos líderes que transitam na linha entre prepotência e loucura. — Replicou. — Além disso, parece improvável que seu eu paralelo ainda esteja por aqui.

Mateus pareceu concordar com isso. Ao menos ele não seria a causa do fim de seu universo, pelo que entendeu.

— Mas há algo bastante interessante em seu relato. — Afirmou Victor.

— O quê? — O ruivo quis saber.

— O seu eu da outra linha do tempo roubou aquele telefone e, ao testemunhar isso, você ficou tão assustado ao ponto de querer se livrar do traje de viagem temporal. — Apontou.

— Mesmo uma simples mudança há cerca de cinco minutos no passado conseguiu mudar drasticamente sua vida.

— Eu… acho que tem razão.

— Aquela sua versão pode ainda ser um criminoso, mas e quanto a você? O que pretende fazer agora?

— Bom, eu… Eu sinceramente não faço ideia do que fazer. Talvez… recomeçar do zero?

— Oh, é ótimo ouvir isso! O que acha de começar agora mesmo? — Falou Victor enquanto levantava-se do sofá. — Você poderia me ajudar em uma entrega? Há algo importante que deve ser entregue a um amigo, no entanto quanto telefono para o seu número, é como se estivesse… fora da… área.

Os dois homens se encararam por alguns segundos, desconfortavelmente.

— Bem, isto é uma coincidência estranha. — Comentou o professor, percebendo que o telefone para o qual ele ligou, era o mesmo que a versão alternativa de Mateus havia roubado. — Um tanto quanto sombria também.

O mais jovem desviou o olhar, passando a fitar sua xícara de café vazia como se ela fosse muito interessante de repente.

— Bom, você falou que queria recomeçar, e se redimir é uma forma de se fazer isso, não?

— Eu realmente não acho que isto seja uma boa ideia…

...

Mateus e Victor estavam na rua, em frente à casa do doutor Rosenbauer. O ex-ladrão carregava um pequeno baú de madeira, enquanto o professor bateu na porta e aguardou ela ser aberta.

O céu já estava escuro, e algumas gotas caindo sinalizavam que logo iria chover.

— Você?! — Rosenbauer surpreendeu-se ao abrir sua porta e reconhecer Mateus.

— Acalme-se, meu amigo. — Victor tomou a frente, antes que o outro avançasse contra ou ruivo e/ou gritasse pelos oficiais.

— Victor? O que significa isso?

— Este jovem possui uma história assaz interessante para lhe contar, mas antes disso… — Victor abriu o baú que o antigo criminoso segurava, revelando que em seu interior havia um cristal arroxeado e brilhante, dentro de uma esfera de vidro.

— C-certo, entrem! — Permitiu o doutor.

Outra vez, Mateus contou sua história. Rosenbauer de início não confiava no relato, o qual julgava fantástico demais, no entanto sua credulidade melhorou com Victor mostrando-lhe o traje de viagem no tempo.

— Você de fato acredita nele, Victor?

— Acredito. — Respondeu.

Rosenbauer suspirou, e disse:

— Então eu também acredito. É necessária muita coragem para ter vindo aqui. — Apontou o doutor. — Jovem, se você estiver comprometido em mudar sua vida, eu o perdoarei pelo telefone.

Durante a conversa, Mateus questionou:

— Então, o que é isso dentro do baú?
Rosenbauer e Victor encararam-se.

— Chama-se cronorita. É o maior exemplar já encontrado… — O doutor começou a explicar, mas a partir desse ponto, Mateus não ouviu mais palavra alguma, pois avistou do outro cômodo uma garota um pouco mais nova do que ele.

Karolyne Rosenbauer, filha do doutor, sorriu para Mateus e sumiu de vista. O evento rápido, não obstante, não passou despercebido por Victor, que notou que o ruivo olhava para o outro cômodo com uma expressão boba no rosto, e também sorriu, entendendo o que havia ocorrido, enquanto que o pai da garota continuava sua explicação, alheio à distração de Mateus.

Na rua, olhando para a janela da residência, estava uma bela mulher de sorriso radiante, usando um guarda-chuva preto. Era a Deusa do Tempo do Universo 205, Aobh.

— Tenha uma boa vida, "Mateus". — Desejou a divindade, que tinha sido a responsável por fazer Mateus confiar em Victor, e fazer Victor acreditar na história do rapaz, tudo para que nesta linha do tempo, a versão alternativa de Morph Vegvísir tivesse uma história diferente, com um nome diferente, mantendo assim a sua promessa de proteger o passado do viajante do tempo.

Sorrindo, Aobh partiu, caminhando calmamente enquanto cantarolava "Singin' In The Rain", até desaparecer entre as gotas da chuva.


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Notas finais do capítulo

Tenho ideia de continuação para essa história, apresentando um conceito muito foda envolvendo o tempo, mas vou precisar de tempo pra desenvolver isso melhor.