Encontros e despedidas escrita por kcaldas


Capítulo 3
O Sol Voltou


Notas iniciais do capítulo

Depois de tantos dias cinzentos, finalmente o sol volta a aquecer os corações desses apaixonados.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806609/chapter/3

Saíram apressados. Heloísa respirou aliviada e se sentiu vitoriosa! – “Espero que a Violeta esteja feliz” - Falou baixinho, sorrindo e olhando pra fora pela janela do carro.

— O quê Minha Rosa? Eu já falei que eu tenho um pouco de dificuldade de ouvir desse lado. O quê você falou?

— Nada Leônidas, não falei nada... falei para irmos logo embora que eu estou exausta!

— A noite foi do balaco hoje mesmo! Pena que dona Violeta não quis ir ao baile, anda tão triste depois que o Dr. Matias foi internado.

— Ahan, tadinha da minha irmã. – Ironizando a frase do companheiro.

— Inclusive, amanhã eu já volto para o Rio de Janeiro para ir ao hospital para ver como ele está. Se a senhora quiser ir comigo, eu ficaria muito feliz com a sua companhia.

— Eu?! Eu não!!! Não sei quem é mais doido, se é você ou o Matias... só você mesmo para ficar pajeando aquele demente!

Leônidas parou o carro de repente, segurando o corpo de Heloísa que foi um pouco para frente com a freada. Mais rápido ainda foi como ele desceu do carro e abriu a porta do outro lado do carro onde ela estava.

— Que é isso Leônidas, pirou de vez?

— Eu não gosto que fale assim do Dr. Matias, Minha Rosa. Olha aí, ajuda a todo mundo, não combina com você esse ódio que sente por ele.

Ela se virou, colocando as pernas para fora do carro o encarando de frente.

— Ah, tá bom!!! Quem sabe um dia você descubra que seu amigo não presta e, talvez, me dê alguma razão... Mas por que parou aqui perto do rio? A casa grande fica para o outro lado.

— É seu lugar preferido nessa fazenda, não é? – ele a encarava e perturbava a sua razão. – Já vai amanhecer e eu tenho certeza que o sol hoje vai finalmente nascer mais bonito... ele vem pra te ver, Minha Rosa.

Heloísa ficou desconcertada com as palavras dele. Sentia uma profunda gratidão por ele ter se oferecido pra ir com ela ao baile. Sabia que se não fosse ele não conseguiria se livrar de Úrsula. Mas não era só isso. Ele acalmava a sua impetuosidade, trazia paz para o seu coração agitado, e... como era lindo! Sem pensar mais em qualquer coisa se atirou nos braços dele o abraçando fortemente. Atrás dele pôde ver os primeiros raios de sol da alvorada.

Leônidas se assustou com a resposta daquele abraço, mas sorriu! Sentiu uma felicidade que não cabia nele. Tratou logo de apertá-la nos braços e a levantá-la no abraço para tirá-la do carro. Heloísa ficou emocionada com o carinho dele, o sol já aparecia menos tímido e aquecia o arzinho frio da margem do rio. Saindo do abraço, para segurar as mãos dele e igualmente o encarando nos olhos:

— Obrigada por ter ido comigo ao baile! Eu não poderia ter uma companhia melhor essa noite. Mais uma vez, você foi meu herói. – sem graça, com a declaração, ela tentou desviar o olhar, mas ele não deixou procurando os olhos dela.

— Eu serei pra sempre o seu herói se você quiser.... posso?

Tirou o cabelo dela do rosto. Ela piscou lentamente e de forma sutil fez sim com o pescoço. Era a permissão que ele precisava para beija-la. Beijaram-se na alvorada. Uma explosão de sentimentos nascia junto com o raiar do dia unindo as bocas e os corações daqueles dois. Ela aproveitou no abraço dele o momento de calmaria que findava a noite agitada que tiveram juntos. Ali não tinha medo de nada e até esqueceu a culpa que corroeu a sua vida por mais de 20 anos. Aquela que não a permitia amar. Sentia que finalmente as algemas se abriram e a liberdade a deixava mais radiante!

Não sabiam ao certo por quanto tempo ficaram ali, mas o sol já estava um pouco mais alto quando Heloísa, preocupada, interrompeu mais um dos vários beijos que trocaram.

— Leônidas! Esquecemos da hora aqui! A Violeta deve estar morrendo de preocupação com o nosso sumiço! E a Dorinha, meu Deus?! Tomara que já esteja dormindo em casa, se não Violeta vai me matar! Precisamos ir embora!

Ele achou graça como ela mudou da delicadeza para o furacão num piscar de olhos! Levantou, mesmo querendo passar o resto da vida ali, e, já ia pegar a direção do carro para cumprir mais uma ordem dela, mas não antes de beija-la novamente, o que mais a irritava, ser contrariada, mas dessa vez até gostou da desobediência e correspondeu ao último beijo, mais demorado que até lhe tirou o ar!

— Vamos, seu maluco! Não tenho o dia inteiro pra ficar te beijando!

— Ah, mas eu tenho! E se eu pudesse, ficava! – beijando-a novamente, mas dessa vez beijinhos curtos em que as bocas se estalavam.

— Mas é maluco mesmo! Precisamos ir embora, criatura! Mas olha, mais uma vez eu quero te agradecer, você foi perfeito! E... eu não falei antes para não te deixar convencido, mas foi a melhor dança que eu já tive na vida! Então, me leva logo pra casa, antes que eu me arrependa de te falar tudo isso!

— Tá bom! Em um minuto chegaremos em casa. Eu tô tão feliz que eu sou capaz de levar a senhora...

Ela estranhou.

— De levar você nos meus braços até a casa grande! Nunca mais vou esquecer essa noite, esse dia.

Entraram no carro e um ar de tristeza pairou sobre ele fazendo ela perceber que algo estava errado.

— O que é isso homem? Não acabou de dizer que estava muito feliz? Mas de repente você não me parece mais tão feliz...

— É que parto hoje à noite parto para o Rio de Janeiro e já está me doendo ficar longe da se....

Ela o encarou novamente, brava dessa vez.

— Ficar longe de você, mas eu preciso ir. Eu sinto que o Dr. Matias precisa de mim lá.

— Pois então, eu vou com você! – foi a frase que trouxe o sorriso dele de volta.

— Você vai?

 - Vou! Depois de tudo o que você fez essa noite, o mínimo que posso fazer é não deixar você ir sozinho. Já que você insiste em cuidar do doido, vamos ao Rio de Janeiro, cuidar do doido!

Ela mal conseguiu terminar a frase e já estava ele a beijando novamente! Ela correspondeu, mas em segundos interrompeu.

— Vamos embora homem, chega disso! O sol já está alto e eu nem quero pensar no sabão que Violeta vai me dar por ter não dormido em casa! – Ele riu da preocupação de adolescente dela. Sabia que a irmã mais velha não estaria brava e nem preocupada. Ele já tinha conquistado a confiança da patroa. Tinha certeza que a dona da tecelagem sabia que nada de mal aconteceria à irmã com ele do lado dela.

Finalmente ligou o carro e partiu para a casa grande. Ao estacionar, Heloísa viu que Dorinha ainda se despedia de Rafael e ficou tiririca com a sobrinha! Saltou logo do carro sem nem se despedir dele. Leônidas não ficou triste, já esperava encontra-la mais tarde para irem juntos ao Rio de Janeiro. Desligou o carro e foi para o seu quarto para não atrapalhar a bronca em Isadora.

— Dorinha! Eu não acredito que você está chegando do baile agora!

— Sim tia! Eu e o Rafael ficamos lá com os amigos, como eu te falei, acabamos engatando na conversa e perdemos a hora... mas olha, está tudo bem, como pode ver, estou inteirinha aqui. Mas, e a senhora? Também está chegando agora, por quê?

Heloísa precisava pensar rápido.

— Engataram na conversa com os amigos... Eu sei muito bem que tipo de conversa vocês dois engataram! E você Rafael? Isso são horas de trazer a Dorinha pra casa? Ela ainda é uma menina!

— Desculpa dona Heloísa, realmente perdemos a hora. Me perdoe! – se virou para Isadora para desviar do olhar punitivo de Heloísa – Meu amor, eu já vou indo, mais tarde nos vemos no cinema! – Deu um beijo na testa dela e num passe de mágica desapareceu dali!

— Olha aí, espantou ele! O coitado mal falou tchau e já deve estar lá na Vila Operária tamanho o medo da sua bronca!

— É bom que ele tenha medo mesmo, pra saber com quem está lidando. Você é a nossa joia e eu quero que ele respeite você e as suas vontades.

— Rafael nunca me faltou com o respeito tia Heloísa, não se preocupe. – Encerrando o assunto com a tia, mas logo já chamando a atenção dela novamente.

— Tia! Aquela ali não é a mamãe? E está vestida com roupa de baile! Mas, onde é que estava? Ao baile ela não foi!

— Eu não sei Dorinha. – “eu vou matar a Violeta” falou pensando alto.

— O quê?

— Nada Dorinha! Vamos lá falar logo com ela pra saber o que aconteceu.

Do outro lado da entrada da casa grande chegava Violeta com os sapatos nas mãos, vestida para o baile, porém sem o marcante batom vermelho, nitidamente alguém que dormiu fora de casa, mas que não passou pela noite dormindo. Tinha pensado em sair correndo para entrar logo em casa, mas sabia que já tinha sido visto pela filha e pela irmã. Diminuiu então os passos para encontrá-las, já que também pareciam estar chegando com o sol a pino.

— Dorinha, Heloísa!

— Mamãe? O que você está fazendo chegando a essa hora em casa? E vestida assim? Onde você foi? No baile é que não estava, não te vi por lá.

— Dorinha! Até parece que você é que é a minha mãe, menina! – Sabia que o princípio da carraspana não seria suficiente para parar a curiosidade da filha que exigia explicações, então foi logo dizendo:

— Ah, minha filha, depois que vocês foram embora eu tentei dormi, mas não consegui de jeito nenhum. Estão tão preocupada com tantas coisas, aí fiquei triste aqui sozinha e decidir me arrumar em tempo de tentar assistir ao show da Emília.

Heloísa que estava atrás de Dorinha, olhou reprovando a resposta da irmã prevendo que ela se colocava em mal lençóis, pois acabara de se entregar.

— Ué?! Mas então foi ao baile? Como é que você sabe que o show foi da Emília? Ela era a grande surpresa da noite, Arminda não revelou nem pra mim para não estragar.

Por sorte, Violeta pensou rápido:

— Ah, Isadora! Não era segredo pra mim. Julinha! A Julinha me contou antes porque precisava que eu liberasse Emília para os ensaios, mas me fez jurar que manteria o segredo. E, não, obviamente eu não fui ao baile. Gostaria de ter ido, mas vocês estavam com o carro, peguei a charrete, mas ela quebrou no meio do caminho... também não dava pra ir a cavalo vestida desse jeito, não é?! – Falou rápido, nervosa e emendando tudo para não esquecer de dar todos os detalhes da desculpa.

— Não, mas é claro que não...

— Pois então, acabei aceitando que a noite não era de baile para mim e dormi ali mesmo nas margens da estrada, apreciando as estrelas. Mas acho que dormi demais, deve ser o efeito de tanto chá que tomei. Só agora mais tarde consegui um santo homem que me deu carona pra casa. Você sabe, hoje é domingo e naquela estrada, que já é deserta, não passou nenhuma alma viva mais cedo! – Encerrou o assunto.

— Mas e vocês duas? Vejo que também estão chegando agora em casa! Isso são horas dona Isadora?

— Ai mamãe, eu estava com o Rafael e com alguns amigos que estavam no baile, a tia Heloísa estava avisada.

— Não se preocupe Violeta, eu já passei um leve sabão nele pra ele saber que estamos de olho!

— Fez bem! Rafael é respeitador, mas quero que cuide de Dorinha e não a leve para o mau caminho. E você minha irmã? Também está voltando essa hora por quê? Pra quem não queria a companhia do Leônidas, parece que aproveitou bem a noite!

Heloísa fritou Violeta com o olhar! Mas tratou logo de responder para não deixar a história crescer, devolvendo a alfinetada da irmã.

— Sim, eu estava com o Leônidas. Fui com ele levar a Úrsula na casa do Eugênio depois que ele tomou um chá de sumiço do baile e esqueceu a pobre lá. No caminho da fazenda já estava ficando dia e aproveitamos para ver o sol nascer na beira do rio. Foi só isso!

— Está certo! Fico muito feliz que esteja se acertando com o Leônidas, ele parece que gosta muito de você!

Heloísa continuou de cara amarrada ouvindo a provocação dela, mas foi surpreendida pelo grito do alto da escada. Era Manuela, tiririca, e com uma vara de marmelo na mão!

— Que bonito!!!! As três mulheres, donas dessa casa chegando da farra a uma hora dessa! Perderam o juízo? Quer conhecer a minha vara de marmelo Dorinha? Sua mãe e sua tia se lembram bem dela! Isso são horas de vocês chegarem em casa? Já pra dentro ou vou ser obrigada a colocar as 3 de castigo, como eu fazia quando vocês duas eram crianças! E, eu falo mesmo, comigo não tem lorota! Não estou nem aí se vocês são as patroas, eu estou aqui para cuidar de vocês e nada de mal pode acontecer!

Elas se olharam e riram da bronca! E, para se protegerem de uma possível varada, se abraçaram subindo as escadas.

— Anda! Sem enrolação! Já pra dentro! – repetiu brava, ameaçando-as com a vara o que fez as três apertarem o passo e se apressarem. Passaram rindo por ela, e Isadora ainda tentou beijar Manuela para ver se amansava a fera, mas recebeu um olhar de canto de olho de bronca misturado com carinho e tratou logo de correr.

— Essas três estavam aprontando, só pode! Melhor eu ficar de olho! - Falou sozinha, segurando a figa que carregava no pescoço, enquanto Dorinha, Heloísa e Violeta desapareciam para os seus quartos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como é bom voltar pra casa depois de uma noite apaixonada, até o sol voltou trazendo a alegria de volta! Mas, até quando?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encontros e despedidas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.