Encontros e despedidas escrita por kcaldas


Capítulo 2
Um baile. Uma vida em rosa.


Notas iniciais do capítulo

Baile de inauguração da rádio Alô Alô Campos. Euleta separados, Leônidas acompanhando Heloísa ao baile e ajudando a atrapalhar os planos de Úrsula que pretende fisgar Eugênio.



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Úrsula colocou o seu melhor vestido para desfilar com Eugênio na frente de toda a sociedade Campista. A primeira parte de seu plano já tinha dado certo, agora só faltava chegar com Eugênio no baile e esfregar na cara da Violeta que o dono da tecelagem já era carta fora do baralho. Demorou um pouco mais pra se arrumar, para fazer suspensa, mas quando ela finalmente apareceu, conseguiu até chamar a atenção de Eugênio que bebia uma pequena dose de whisk no sofá enquanto a aguardava. Nunca tinha a olhado como mulher. Naquele vestido de baile azul escuro com um provocante decote, era difícil não admirá-la, mas ele não se atreveu a dizer nada. Não queria alimentar falsas esperanças na fiel amiga. Mas, é claro que Úrsula percebendo que ele finalmente a olhou, não se conteve.

— E então Eugênio? Não vai dizer nada? Como eu estou?

— Ah é! Bonita Úrsula... você está muito bonita... Vamos? - apressou-se em dizer, pois sentia que seu rosto ruborizava.

A frase nem terminou e ela já estava com o sorriso da vitória estampado no seu rosto. Até ali, a execução do plano estava perfeita, só faltava agora encontrar Violeta para a vitória ser completa!

Na casa grande Dorinha e Heloísa já estavam quase prontas a espera de Rafael. Violeta saía da cozinha com uma xícara de chá na mão, pronta para se recolher.

— Violeta, eu não acredito que decidiu mesmo não ir ao baile, você deve ser a única mulher da sociedade de Campos e região que não vai!

— Não vou Heloísa, já me desculpei antecipadamente com a Julinha. Vão vocês se divertir. Aproveitem que não é todo dia que tem uma festa numa noite tão linda de sábado. Além disso com o Matias internado, não fica nem bem eu aparecer festejando por aí... Vão vocês! Eu vou ler um pouco e daqui a pouco já vou dormir.

— Desde quando você se importa com a opinião dos outros, minha irmã? Eu também não tenho um par para o baile, só estou indo porque Dorinha e Julinha insistiram muito, se você fosse ao menos me fazia companhia.

Mal terminou de falar e ouviu um bater na porta...

—Dá licença Minha Rosa?

Heloísa nem acreditou no que estava vendo. Leônidas plantado atrás dela com o cabelo penteado e de smoking! Bem longe daquele matuto com quem era obrigada a conviver todos os dias.

—O que é isso Leônidas? O que você está fazendo aqui? E que roupa é essa?

—É que eu tive que voltar do Rio de Janeiro para buscar umas roupas e um material para usar na terapia do Dr. Matias, mas não se preocupe Dona Violeta que amanhã a noite eu já estou voltando pra lá.... Bom, mas eu vi a cidade toda em polvorosa falando do baile, e pensei, por que não me divertir um pouco? Eu também não tenho um par, e, daí queria saber se a senhora me permite acompanhá-la? Ah, e eu ouvi dizer que o traje é black-tie, por isso que to aqui com essa roupa de Pinguim... por quê? Não gostou?

Mesmo que ela quisesse falar outra coisa, não conseguiria... os olhos dela brilhavam, mas, ainda assim, falou bem baixinho:

— Está... Lindo!

— O quê? Eu não entendi, é que eu não escuto direito desse lado. – Mentiu propositalmente para força-la a repetir.

—Ah, Leônidas não me enche! Tá diferente, só isso.

Violeta observava a cena rindo do embaraço da irmã e resolveu intervir para ajudar o moço bem-intencionado:

—Está muito elegante Leônidas. Eu acho ótimo que você possa acompanhar a Heloísa no Baile. Dorinha vai com o namorado, assim eu não me sinto culpada por não fazer companhia a ela! Agora vão logo, vão se divertir!

— Violeta eu te esgano!

—Vai logo Heloísa, e podem demorar viu! Aproveitem a festa!

Visivelmente contrariada, Heloísa aceitou o braço de Leônidas e partiram com Dorinha e Rafael deixando a dona da tecelagem Tropical recolhida à sua própria solidão.

No Baile, todos chegavam animadíssimos para a festa. Todas as autoridades da região estavam presentes, as damas da sociedade desfilavam vestidos longos, caros e brilhosos, claramente roupas que seriam usadas apenas naquela noite. Arminda, Julinha e Constantino eram os anfitriões da festa e não faziam feio, recebiam todos os convidados com muitos abraços e sorrisos.

— Minha boca já está dormente de tanto sorrir para os outros.

— Cala boca Constantino! Olha lá, aí vem a Heloísa e a Dorinha...

— Boa noite Heloísa, como vai? Violeta não veio mesmo com vocês?

— Boa noite. Ah, você sabe Julinha, desde que Matias foi internado novamente, a minha irmã não está para festas. Só vai de casa para o trabalho e do trabalho pra casa. Eu insisti, mas ela não quis, foi dormir!

—Daí me mandou no Lugar dela pra acompanhar a Minha Ro.... quer dizer, a dona Heloísa e não deixar ela sozinha.

— Que bom que você veio Leônidas, seja bem-vindo e aproveite a festa!

— Nossa Arminda, vocês preparam uma festa do Balaco!

— Ah, espera só pra ouvir quando a banda apresentar a cantora principal! Ahhhh, vocês vão se apaixonar.

— Impossível nos apaixonarmos mais do que já estamos apaixonados! – Disse Dorinha beijando o namorado.

Acomodados em uma das melhores mesas do salão, Úrsula acompanhava a chegada das Camargo. – “Droga! Parece que Violeta não veio com elas!” - pensou ela com os seus botões. Eugênio que estava ali só de corpo presente, nem percebeu o pensamento alto da acompanhante. Ao ver o copo vazio tratou de deixa-la na mesa sozinha para buscar outro whisk no bar.

Úrsula sabia que precisava agir rápido. Se Violeta não estava no baile certamente a irmã mais nova contaria que a viu com Eugênio no baile, o plano não estava de todo perdido. Levantou-se rapidamente e foi na direção dele, que de costas, não a viu. Esbarrou nela quando se virou derrubando um pouco da bebida no colo dela. E a segurou com a outra mão para que ela não se esborrachasse no chão. Com o impulso da quase queda os corpos se aproximaram.

Eugênio, sem graça com a situação foi se explicando e entregando o seu lenço pra ela.

—Úrsula, mil desculpas, eu não tinha visto que você estava aí.

— Imagina Eugênio, eu que sou uma desastrada. Estava indo retocar o batom e me distraí caçando ele na bolsa. Pelo menos você não me deixou cair. Obrigada.

— Não tem que me agradecer, eu quase estraguei o seu vestido, mais uma vez me desculpa.

—Tá, mas eu só te desculpo se você dançar pelo menos uma música comigo. Olha, está começando uma ótima! Vamos?

Estava decidido a não dançar, pois queria logo ir embora, mas sem graça e constrangido com toda a situação acatou a intimação da amiga.

De longe, observando toda aquela cena estava Heloísa, que sabia das intenções da governanta de conquistar o patrão. Ela previa que Úrsula faria de tudo para fisgar o amor da sua irmã, e tratou logo de agir.

—Leônidas, vamos dançar!

—Dançar?

— É, dançar! É pra isso que a gente vem aos bailes, pra dançar!

—Mas eu não sei dançar!

—Pois então vai aprender agora! Não quis bancar o cavalheiro galanteador? Agora veste o personagem! Vem!

— Então, se vamos dançar, deixa eu fazer direito, rã, rã.... a senhora me concede essa dança?

—Ah, pára de bobagem, fui eu que te convidei, vamos logo!

Puxou o acompanhante para o salão posicionando-se bem perto de onde Eugênio e Úrsula dançavam.

A banda que tocava uma música bem animada, cheia de jovens na pista, logo trocou o repertório para o romântico obrigando os casais a se aproximarem para dançar de rosto colado. Leônidas aproveitou a mudança e tratou de ajeitar Heloísa para mais próximo dele. Ela sentiu um arrepio diferente, perturbada com o gesto, mas, decidida a encarar Úrsula de frente, correspondeu, aproximando-se dele um pouco mais para dançar a música lenta. Na mudança de ritmo, Eugênio tentou se soltar dos braços de Úrsula, mas ela parecia mais é ter tentáculos do que mãos, fracassando na tentativa, ela o prendeu de volta reclamando:

—Eugênioooo você prometeu!

E tratou de colar o rosto no dele. Quando finalmente ela cruzou com o olhar fulminante de Heloísa, tratou de sussurrar qualquer coisa no ouvido dele e se virar para o outro lado, disposta a carregar Eugênio dali direto pro quarto dela na mansão dele!

O cenário montado por Úrsula estava escancarado pra quem quisesse ver.

—Olha lá Constantino, faz alguma coisa pra livrar seu amigo das garras daquela lambisgoia!

—Não fale assim da moça Julinha! Dona Úrsula é uma mulher muito bonita. Quer saber? Eu acho até bom que Eugênio esteja se distraindo que não seja com a bebida nem com o jogo!

—Bom Constantino? Como bom? Enquanto ele tá aqui sendo atacado por essa daí, a minha amiga Violeta está lá, sozinha em casa, chorando. Eu já posso até ver as garras afiadas da Úrsula, prontinhas para dar o bote!

—Julinha, fala baixo. Ninguém pode saber dessa história, eu te contei, mas é um grande segredo!

—Pensa que eu não sei? Principalmente porque se essa história se tornar pública é a minha amiga que vai ficar mal falada. Da minha boca ninguém vai saber de nada! Mas eu não vou ficar aqui assistindo essa “polaca” dando em cima do Eugênio, sem fazer nada!

—Está louca Julinha? O que você vai fazer? Olha os nossos convidados!

— Ah, todo mundo que tinha que chegar, já chegou. Agora você e a Arminda cuidam aí para que todos estejam bem servidos, principalmente de bebidas! Eu já volto!

—Endoidou de vez? Aonde você vai?

—Como assim, onde é que eu vou? Eu vou buscar a Violeta!

—Você só pode estar maluca!

—Vou num pé e volto noutro. Segura a surpresa para quando eu chegar.

Julinha partiu como um foguete dali, arrancando com o carro, decidida a trazer a amiga. Não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas ao menos tentaria. Chegou na casa grande a tempo de ver a última luz se apagar e esbofeteou a porta chamando a atenção de Violeta que já se aprontava pra dormir.

Violeta se assustou e, receosa, não acendeu de imediato as luzes, mas correu pra abrir a porta assim que ouviu a voz da amiga gritando por ela.

—Julinha, o que é que você está fazendo aqui?

Esbaforida com a correria, o ar lhe faltou um pouco, mas conseguiu dizer:

—Ora, pipocas! Eu vim buscar você para o baile!

— Por quê? Aconteceu alguma coisa com a Dorinha ou com a Heloísa?

Julinha não hesitou, não tinha muito tempo:

— Não, mas está acontecendo com o Eugênio!

—Com o Eugênio? E o que é que eu tenho a ver com o Eugênio? Não estou te entendendo.

— O Constantino me falou sobre o caso de amor proibido de vocês. - Antes que Violeta tentasse negar, ela emendou - Não se preocupa, da minha boca nunca ninguém saberá, minha amiga. O seu segredo está guardado a 7 chaves comigo!

Violeta suspirou triste.

—Ah, já não existe mais caso de amor Julinha. Desde que Matias esfaqueou o Eugênio nós rompemos. Quer dizer, eu terminei com ele antes algo de mais grave acontecesse... Ah, minha amiga, eu estou tão triste... esse amor é impossível na minha situação.

—Sei, de casada com um grande peso morto! Pois saiba que, enquanto você está aqui decidida a ser infeliz para o resto da vida, a Úrsula está lá se atirando nos braços do Eugênio!

O sangue de Violeta ferveu, sentiu na boca o amargo gosto do ciúme, mas logo respirou e ponderou:

— Fico feliz que Eugênio esteja se acertando com a Úrsula. Ela é tão devotada a ele. Espero que sejam muito felizes!

— Você está feliz Violeta? Há quanto tempo não se olha no espelho? Olha pra você, claramente não está feliz!

Transtornada com as verdades que Julinha lhe atirava sem anestesia, gritou com a amiga:

— Está achando o quê Julinha? Está achando que a vida é um mar de rosas?! O que você sugere que eu faça? Que eu assuma na frente da cidade inteira que eu amo o Eugênio e todo mundo vai sair aplaudindo a minha declaração de amor? Nãoooooo! Eu vou ser julgada e apedrejada em praça pública!! E, ainda assim, nós não poderemos ficar juntos, porque nada disso muda o fato de eu ser uma mulher CASADA!

A exaustão tomou conta dela que caiu chorando nos braços da amiga.

— Não minha cara, eu sei que a vida não é um mar de rosas, mas Violeta, você não precisa assumir nada pra ninguém, só pra você mesma. O amor não tem que seguir regras. Não dizem que o coração tem razões que a própria razão desconhece?

— Foi o poeta que disse isso.

—Pois, então, siga o seu coração!

—Eu nem preciso dizer que o meu coração manda eu sair correndo e me jogar nos braços dele. Mas eu não posso me expor assim na frente de todo mundo. Não quero que o povo fale que eu já me sinto livre como uma viúva alegre sendo que meu marido está doente e preso num sanatório. E, se for pra ver o Eugênio dançando com a Úrsula, muito obrigada, mas eu prefiro não ver!

—Você não tem que se expor. Todo mundo sabe que você não foi ao baile, mas de alguma forma, você estará lá... Anda! Vá se arrumar. Você vai comigo agora pro Cassino!

—Sem ninguém saber que eu estarei lá, como?

— Você não vai entrar comigo. Você vai entrar pelos fundos do cassino e vai ficar esperando o Eugênio lá na sala secreta!

— Sala secreta? Nunca soube que o cassino tem uma sala secreta!

— Porque é secreta, ora, pipocas! Todo cassino tem. É uma sala para os grandes figurões da sociedade jogarem em paz... com um dinheiro que não explicam direito a procedência, se é q você me entende.

— Entendo... Mas, tá vendo Julinha, o que amor está fazendo comigo? Eu estou me sentindo uma criminosa, entrando pelos fundos, sem ninguém me ver, aonde fica a minha dignidade?

—Ah Violeta, tenha santa paciência! Quer ficar aí infeliz com a sua dignidade, ou quer ir atrás da sua felicidade? Anda, não temos mais tempo! A vida é feita de escolhas, o que me diz?

— Eu vou com você!

No salão do cassino, o baile estava fervendo. Eugênio finalmente conseguiu se livrar de Úrsula, que agora arrastava uma tromba porque o patrão a deixou de lado aproveitando os clientes importantes que estavam por ali para alavancar novos negócios. Sentindo o adiantado da hora e o cansaço por acumular tantas noites mal dormidas avisou a Úrsula que pretendia logo ir embora e só ia se despedir de Constantino.

—O que é isso meu amigo? Já pretende ir embora, mas está tão cedo? Não pode! Você sabe que nós preparamos uma surpresa no baile, você não pode ir embora antes, Julinha jamais te perdoaria! Além disso, eu bem vi que estava se divertindo, até dançou com a dona Úrsula!

— Ah, a Úrsula que me arrastou pra pista, isso sim. Dancei com ela para pagar uma dívida que fiz depois que quase estraguei o vestido dela, mas Úrsula não tem limites, tenho certeza que por ela estaríamos dançando até agora! Fui salvo por Heloísa que sem querer me deu um pisão no pé, ao ousar na dança com o cuidador do Matias. Bendito pisão no pé! os 2 riram da situação. O dono do cassino percebendo a decisão do amigo de ir embora antes da esposa chegar com Violeta, tentou mais uma vez:

— Bom, mas ainda teremos a cereja do bolo na festa.... Fica, pelo me acompanhe num último whisk antes de partir.

— O que deu em você Constantino? Sempre me perturba controlando a minha bebida, e agora ta querendo que eu beba?

— Ah, sim, mas hoje é dia de festa! Estamos celebrando a nova rádio da cidade, que, se Deus quiser, será um estouro!

— Está bem! Brindarei com você o seu sucesso nos novos negócios, porque eu, meu amigo, pessoalmente não tenho muito a comemorar não.

Contantino brindou com ele, mas só pensava onde estaria Julinha, pois se ela não chegasse em poucos minutos o esforço não adiantaria de nada e tudo iria por água abaixo! Pensar nela deu certo! Como mágica Julinha se materializou ali no salão. Esperta, correu no balcão e contou rapidamente o seu plano a Constantino que tratou de tirar logo Eugênio dali. Ela também precisava de outra aliada no plano pra manter Úrsula ocupada e que não desse falta de Eugênio. Chamou Heloísa e pediu ajuda dela para a empreitada. Por fim, vendo que Constantino voltava ao salão sozinho, subiu ao palco para anunciar logo a surpresa.

—Boa noite a todos! Peço um minuto da atenção de vocês. Minha família está hoje aqui reunida para celebrar a inauguração da nossa nova rádio na cidade. Estamos orgulhosos da direção da nossa filha amada, Arminda, que tenho certeza fará um grande sucesso! – todos aplaudiram ao sucesso da nova empreendedora.

— E é ela que apresentará a vocês a nossa grande surpresa desta noite.

—Senhoras e senhores, eu só quero dizer que estou muito emocionada em apresentar para todos vocês a nossa nova estrela, a nossa voz revelação: Emília!!! A nossa nova cantora da rádio, que hoje vai abrilhantar ainda mais a nossa noite.

Emília entrou ovacionada pela plateia. Não cabia em si de tanta felicidade. Muito sorridente, mas ainda um pouco tímida, sem acreditar em ver que o seu sonho estava se realizando, agradeceu aos aplausos e antes de começar a cantar falou um pouquinho com o público que a esperava:

—Boa noite a todos, eu gostaria de agradecer a Arminda que me deu a oportunidade de realizar um sonho que é cantar numa festa de verdade e, avisa-los que em breve estarei cantando todos os dia pra vocês na nossa nova rádio. Também quero pedir licença a todos porque eu preparei um repertório bem brasileiro, com o melhor da nossa música, mas eu gostaria de abrir o show, em homenagem aos tantos casais apaixonados que vi aqui hoje, com uma música que aprendi ouvindo rádio. Essa música que me faz sonhar acordada e a acreditar no amor! Viva o amor, minha gente!

Os casais se entreolhavam ávidos para uma próxima dança romântica. Leônidas tomou coragem de segurar a mão de Heloísa, que rapidamente tentou tirar, mas ele insistiu e ela não resistiu recebendo um beijo demorado com o olhar dele fixado no dela.

Úrsula que com a confusão perdeu Eugênio de vista se levantou logo incomodada com aquela atmosfera melada que tomou conta da festa. Rapidamente Heloísa se aproximou dela.

— Já vai Úrsula? Não vai ficar para ouvir a Emília cantar? Ela canta tão bonito...

— Ah, eu lá quero saber de ver a Emília? Eu estou procurando o Eugênio que foi se despedir do Constantino e sumiu!

— Ah, vai ver que foi no banheiro, logo ele volta! Olha o show vai começar, enquanto você espera o Eugênio, você bem que poderia me fazer um favor?

Úrsula olhou com estranhamento...

— É! Dançar com o Leônidas! Ele adora dançar e eu confesso que estou muito enferrujada!

Úrsula não teve tempo nem de dizer não, quando viu, estava na pista com o cuidador bonitão, que foi jogado por Heloísa nos braços dela. O cuidador mal entendia o que estava acontecendo, mas obedeceu a ordem dançando com a governanta mesmo não tirando os olhos da patroa (que também não tirava os olhos dele)!

Então finalmente as primeiras notas começaram, a música escolhida, senhoras e senhores, La vie en rose!

Ele entrou na sala escura, iluminada apenas por velas e, apesar da pouca iluminação, podia ver que ela estava ali, sentia o perfume dela. Quase nem acreditava no que os seus olhos viam, ela estava em pé, de costas, com o vestido vermelho mais bonito da festa, os cabelos presos num coque de lado desnudando a nunca. Sim, ela estava deslumbrante! Com o barulho das apresentações lá no palco, ela não percebeu que ele já chegava e só se virou quando ouviu a voz dele bem perto do seu ouvido:

— Será que você me concede a honra dessa dança?

Ela sorriu sentindo o coração voltar a bater forte novamente. O sorriso que trazia a luz de volta para a vida dele.

— Parece que eu estou aqui parada a minha vida inteira esperando você me convidar, meu amor! Que bom que você veio!

Abraçaram- se e se entregaram ao beijo urgente que há tempos não podiam dar. Depois, de rosto colado, e com as bocas ainda se procurando, enquanto Emília cantava, dançaram, como se o mundo todo tivesse parado só para apreciar aquele momento.

— Violeta, eu nem acredito que posso sentir você nos meus braços novamente.

— Nem eu acredito que estou aqui. O meu coração deixa a minha cabeça desnorteada. Não coordeno mais as minhas ações, quando eu vi já estava pronta, te esperando.

— E se arrependeu?

Ela sorriu.

— Claro que não. Eu só tenho... medo. – Disse isso, subitamente interrompendo a dança. – O que eu estou sentindo por você... é tão grande que me assusta... Eu tenho medo do que pode acontecer com a gente. O mundo é cruel Eugênio e não aceita isso que estamos fazendo. Fora que, o que estamos fazendo é até crime!

Ele tentava acalma-la trazendo-a de volta para os seus braços.

— Ah Violeta, esse nosso encaixe que é um crime! Um verdadeiro crime perfeito!

Ela não pôde deixar de rir, mesmo tentando manter a seriedade do que falava.

— É sério Eugênio. A nossa sociedade não entende que o amor deveria ser mais forte do que regras e convenções. Nós podemos ser até presos.

— Não precisa ter medo meu amor. Eu estou aqui com você. E estarei sempre que você permitir. A minha vida não tem sentido se não for para estar ao seu lado. Ao seu lado eu enfrento o mundo se for preciso.

— Eu me sinto uma egoísta... você poderia ter qualquer mulher livre, que ficaria com você por inteira, não assim como eu, que vem pela metade...

— Pois eu troco todas as mulheres inteiras do mundo pela metade que você pode me dar. Quando você vai entender isso Violeta? Eu só quero você!

Eles se entregaram novamente aos beijos e carinhos. Envolvidos pela música que vinha do salão principal voltaram a dançar.

— Essa música...

— Talvez seja o Universo te mandando um recado... me deixa de uma vez por todas pôr fim aos seus dias cinzas e pintar a sua vida com um pouco mais de rosa. Chega de tanto sofrimento, meu amor...

Encerrou a declaração beijando-a, ela se entregou num beijo ardente e demorado. Dançaram. Beijaram-se. Enquanto ele aproveitava cada respiração para desabotoar calmamente os botões nas costas do vestido dela respeitando a delicadeza da veneração que sentia por aquela mulher, ao contrário, ela o despia com a urgência da saudade e da incerteza de não saber quando o teria nos braços novamente. O amor que sentiam não esperaria mais e por ali ficaram tentando aproveitar a cada minuto do sonho de estarem juntos, pois tudo o que tinham era o agora.

Emília, estava certa na escolha do repertório, arrasou na sua interpretação de La vie em rose hipnotizando a todos, até àqueles que não dão bolota para o amor foram conquistados pela voz e sutileza da voz dela. O repertório que veio em seguida só com músicas brasileiras e até uma composição inédita da própria Emília corou o grand finale daquela noite mágica e cheia de surpresas.

Heloísa preocupada porque Eugênio não voltava precisou pensar rápido para manter Úrsula ocupada que na segunda música já estava em alerta e pronta para procurar o patrão novamente. Sem muitas alternativas usou do charme de Leônidas para dar a ela um remedinho para dor de cabeça. Na verdade, nada mais era do que um sossega leão e só assim ter um pouco de paz e aproveitar o resto da noite, sabendo que enfim a maluca não ia flagrar Eugênio e Violeta juntos qualquer que fosse o lugar que estivessem.

Ao fim do baile Dorinha avisou a tia que ficaria com o namorado e mais o grupo de amigos para aproveitarem um pouco mais jogando conversa fora, Arminda fez um sinal de longe para Heloísa confirmando a mentirinha da sobrinha. Claro que Heloísa sabia da mentira, mas preferiu “acreditar” e deixar a menina curtir a paixão pelo namorado em paz.

— Bom, sobrou essa mala aí pra gente levar!

— Você quer levar a dona Úrsula pra casa? Como assim? Onde foi parar o dr. Eugênio que grosseria deixar a moça aqui sozinha!

— Moça? Essa aí não tem nada de moça não! Coitado! Nem o santo do Eugênio aguentou essa mala! Ele deve ter ido embora já há muito tempo! Não tem outro que jeito, não podemos deixar a coitada aí. Vamos Leônidas! Me ajuda a colocar ela no carro. Vamos leva-la para a casa dele.

Mesmo não entendendo nada daquela ordem, Leônidas apenas obedeceu. Carregou Úrsula e a colocou no banco de trás do carro, ela, praticamente desmaiada de sono, nem ofereceu resistência. Não podia dizer que estava achando ruim aquela inusitada missão, do lado de “Sua Rosa” não tinha qualquer tempo ruim, até achou bom ter mais tempo ali com ela.

— Pronto! Chegamos na casa do doutor.

— Isso, agora vamos leva-la para o quarto dela.

— Não! Eu consigo ir sozinha. – Falou Úrsula se virando e desmaiando para o outro lado.

— Tá vendo, ela precisa de ajuda. Vai Leônidas termina a sua missão por hoje e seja o herói da noite! Vamos colocar a Úrsula para dormir no quarto.

Sem perguntar mais nada, ele apenas pegou a governanta no colo enquanto Heloísa foi abrindo a passagem. Sacou a chave da bolsa dela e entrou na frente procurando se certificar que os donos da tecelagem Tropical não estavam mesmo em casa. Leônidas veio logo atrás e colocou Úrsula na cama que a essa altura não tinha mais nenhum sinal de vitalidade típica do sono mais profundo.

— Essa aí já está nos braços de Morfeu! Agora, só amanhã!

— Ótimo! Espero que quando acordar não se lembre de muita coisa! Vamos logo embora, Eugênio deve estar dormindo e não quero que pense que outro ladrão invadiu a casa dele.


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Notas finais do capítulo

Ah, como é bom quando o time do bem joga junto! A festa que eu queria!



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