Encontros e despedidas escrita por kcaldas
Notas iniciais do capítulo
Dias depois da decisão de Violeta de se afastar de Eugênio após a facada que ele levou de Matias. "Os dois eram agora como o sol e a lua, para um nascer o outro tinha que morrer".
Boa Leitura!
Eugênio ficou ali, naquele fim de tarde, com o coração em pedaços vendo o amor da sua vida sair por aquela porta com a promessa de não mais voltar. Seu único pensamento inútil era, como esquecê-la? Sabia que não seria possível. O cheiro dela estava na sua pele. O gosto dela não sairia nunca mais da sua boca. E o sorriso? Aquele que iluminou a sua alma triste e trouxe colorido aos seus dias cinzentos. Como viver sem ele? Como viver sem ela? Teria algum sentido a vida novamente? Certamente teria que encontrar um, mas não hoje, não agora.
Quando cruzou a porta da frente da casa dele Violeta correu. Os olhos marejados ja não aguentaram mais o peso das lágrimas. Seus pensamentos se misturavam em flashes de lembranças dos momentos que estiveram juntos aos gritos de dor ao vê-lo ferido. Não suportaria perdê-lo. Outros gritos também a assombravam: os de Matias acusando-a de traidora. Estava totalmente certa de sua decisão, mas dilacerada por dentro. E, por essa noite não fingiria ser forte para ela mesma, ao chegar em casa, apagou a luz do quarto e chorou.
Na casa grande, o dia cinza chegou e sem pedir licença expulsando Violeta da cama. Sabia que não adiantaria ficar mais tempo ali, porque, assim como Eugênio ela também não pregou os olhos a noite toda, então que saísse logo da cama. Ele não tinha a mesma força dela. Apesar de não ter dormido, ficou ali no mesmo lugar. Os olhos abertos e o corpo estatelado na cama, mas com os pensamentos bem longe. Os dela também. A todo instante pensavam tanto que era como se a força desses pensamentos pudesse leva-los a se encontrarem novamente. Estavam tão longe que não conseguiam coordenar uma atividade matinal trivial. Ela se cortou com uma faca. Ele se queimou com o café quente trazido por Úrsula. Prenúncio do resto que enfrentariam, dali em diante, o primeiro dia depois daquela decisão.
Os dias que se passaram não foram diferentes. Viviam como se estivessem presos em todos os dias iguais, igualmente cinzentos parecendo que até a natureza sabia o que acontecia. Então, forçadamente eles mudaram. Violeta chegava antes do raiar do dia, e, ao cair da tarde já estava de volta em casa. De outro lado, Eugênio passou a entrar mais tarde, no 2º turno e a sair bem depois do pôr do sol. Aquela maldita frase que mais parecia uma profecia que agora terrivelmente se cumprira, "de agora em diante serão apenas reuniões e contratos". A cada documento que tinha que assinar ela via que ele já havia passado por ali e deixado o seu nome num traço firme que era a sua marca registrada. O nome dela vinha depois, Violeta Camargo Tapajós e então se lembrava do motivo de não estar mais ao lado dele. Nunca estaria. Não poderia estar. Uma lágrima escapou e foi interrompida para que não manchasse o papel.
O turno da noite já havia começado há horas e ele continuava lendo relatórios e planilhas. Não eram tantas assim, mas as mesmas que iam e voltavam em suas mãos, até que conseguisse alguma concentração pra finaliza-las. Vencido pelo cansaço deixou o escritório rumando àquele lugar que se tornara a sua quase casa.
— Novamente aqui Eugênio?
— Me deixa Constantino! Devia me agradecer porque tenho colaborado para engordar a sua conta bancária.
— A minha sim, mas está amedrontando os homens que sentam naquela mesa com você. Desde que decidiu frequentar assiduamente o meu cassino não perdeu uma no carteado.
— Conhece aquela frase: sorte no jogo, azar no amor! Eu confesso que daria tudo para perder todas as noites aqui, desde que eu tivesse... - nem terminou a frase, já ia dizer o nome dela de novo. Desistiu e pediu mais uma dose de whisk.
Constantino inconformado com a tristeza e a bebedeira de Eugênio:
— Pois saiba que em nada me agrada ver o meu querido amigo nessa situação. Você precisa reagir, sair dessa ilusão.
— Que ilusão Constantino?
Ele tentou falar mais baixo e disse quase sussurando:
— Ora, como que ilusão? você sempre soube que a Violeta é casada. O marido é maluco? É, mas isso não muda o estado civil dela. Insistir nessa história é brigar contra o mundo e até contra lei.
— E você quer que eu faça o que com o meu coração? Diga pra ele "ei, amigão tem uma lei aqui que te proíbe de amar a mulher que você escolheu, muda de mira aí"! Não dá! Se eu pudesse eu arrancava esse amor do peito, mas eu não consigo! Além do mais, todo mundo sabe que a Violeta é viúva de marido vivo. Está mais sozinha que muita mulher solteira que anda por aí. Não é justa essa nossa condenação sumária a infelicidade.
Triste com a constatação que tinha acabado de fazer, tratou de pegar o copo e voltar para o baralho, seguindo sendo vigiado por Constantino. O dono do cassino havia dado ordens expressas aos garçons para que as bebidas servidas a Eugênio fossem sempre acompanhadas de água, e que a partir da 3a dose inventassem desculpas para não o servir de álcool mais. Não sabia quanto tempo duraria aquela fossa, mas estaria ali para cuidar do amigo.
Já era quase de manhã quando Eugênio pegou o rumo de casa e desmaiou na cama como vinha fazendo todos os dias. Como de costume nos últimos tempos, só entraria no trabalho mais tarde, depois que Violeta já tivesse encerrado o seu dia de trabalho. Só assim para seguir tentando suportar a ausência dos beijos e abraços dela.
Diferente de Eugênio, Violeta seguia os seus dias com a aparência inabalável que lhe era peculiar. Mas, qualquer um podia entender que nada ia bem para a dona da tecelagem. Ela agora invertera o papel com o sócio, chegava bem cedo na tecelagem, começava o dia tratando com os fornecedores e clientes, ocupava a sua agenda desde o primeiro minuto do dia, sem pausa para descanso. Não se permitia parar, pois sabia onde os seus pensamentos a levariam. Estar com ele era tudo que ela queria, mas tomou a decisão certa e não podia voltar atrás. A facada foi um preço alto demais pelo aviso. Jamais se perdoaria se algo mais grave tivesse acontecido. Então só lhe restava aceitar a sua sina e se afundar no trabalho para tentar respirar.
Às 15h00 em ponto ela ia embora. Às 16h00 ele chegava. Os dois eram agora como o sol e a lua, para um nascer o outro tinha que morrer. Eugênio chegava e recebia a pilha de documentos do dia para assinar, todos já assinados por ela e deixava outros tantos igualmente assinados para que a sócia assinasse no dia seguinte. O seu nome vinha primeiro, mas ficava ao lado do dela. Violeta Camargo Tapajós. – “Ah, como queria que fosse Barbosa” – Pensou se distraindo brevemente e até esboçou um sorriso discreto. Com sua pequena distração não percebeu que Úrsula havia entrado na sala:
— Eugênio! Eugênio! Acorda homem, tá no mundo da lua?!
— Que susto Úrsula! Não! Estou concentrado nessa papelada sem fim que Violeta deixou para eu assinar.
— Ah, quer dizer que a senhora Tapajós não trabalha mais. Vem pra fábrica assinar papéis e vai embora? Nunca mais vi ela aqui.
— Não é nada disso Úrsula, pára de falar bobagem! Violeta tem vindo mais cedo todos os dias, porque...
— Por quê...?
— Ora, porquê... porque obviamente tem que cuidar das coisas do Matias! Imagino que com a internação ela tenha muita coisa para se preocupar com médicos, remédios...
Não sabendo mais como explicar a ausência da sócia, mas percebendo que estava dando explicações demais, esbravejou, antes que se comprometesse.
— Mas Úrsula, eu não acredito que você veio aqui pra me encher a paciência sobre a vida particular da Violeta, que aliás, não me interessa! Desembucha logo, o que quer?
— Credo Eugênio, ultimamente você anda tão mal-humorado, eu hein! Eu vim aqui te lembrar que hoje é o baile de inauguração da rádio lá no cassino.
— O baile! Carambolas! Eu tinha esquecido completamente... – “Será que a Violeta vai”? – Pensou, com cuidado para não soltar a pergunta.
— Estou falando que tá no mundo da lua! Então vim aqui pra te lembrar e saber se...
— Se o quê?
— Se hoje você pode me conceder a honra de ser meu par?
Eugênio ficou desconcertado com a pergunta, no mesmo instante que as palavras de Violeta voltaram como flecha em seus ouvidos - "A Úrsula te ama, não é possível que você não tenha percebido isso ainda!".
—Úrsula, eu quero que saiba que...
— Eugênio, não precisa me explicar nada, eu só estou pedindo para um velho amigo me acompanhar ao baile porque eu não gostaria de ir sozinha. Joaquim está viajando e não chegará a tempo. É só isso, mas eu entendo que um homem importante como você não queira ser acompanhante de uma reles governanta como eu.
— Até parece Úrsula, não é nada disso. É que eu estou um pouco cansado e não pretendia ir a esse baile...
— Ahhhh, mas eu não acredito que você Eugênio, logo você, faria essa desfeita ao seu melhor amigo? Além disso, toda a nata da sociedade da região estará lá. Imagina quantos clientes e fornecedores em potencial. Afinal, não é todo dia que temos a inauguração de uma rádio!
— É... não faria essa desfeita mesmo. Não posso fazer. Tá bom Úrsula, você me convenceu, pode arrumar o vestido, nós vamos ao Baile!
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É isso! Euleta separados é o motivo da minha tristeza. Espero que continue por aqui porque separação não combina com esse casalzão!