Segunda-feira, casa do Jiraya…

— Eu voltei lá e recuperei isso, como você me pediu — disse Sakura, estendendo um porta jóias assim que chegou ao local de trabalho. Jiraya morava nos fundos, um lugar bem menor que a lanchonete.

Sakura tinha ido nadar mais cedo, antes da escola, para recuperar a caixa de jóias que Tsunade a havia pedido.

— Muito obrigada – Tsunade a agradeceu, pegando com zelo a caixa nas mãos.

O velho amigo que estava ajudando Tsunade era Jiraya, parecia que eles se conheciam há muitos anos. Ino e Sakura ficaram surpresas ao saber, não tinham sequer imaginado.

Tsunade ficou desconfortável em morar de favor com ele, então estava trabalhando na cozinha da lanchonete enquanto resolviam a situação do barco.

Como Sasuke e Suigetsu foram pegos em flagrante e eram menores de idade, os pais deles teriam que pagar pelos danos.

Tsunade iria ganhar um barco novo, desde que não denunciasse os garotos, foi o acordo feito entre ela e os pais deles.

Mas isso ainda iria demorar um pouquinho e até que tudo se resolvesse, Tsunade ficaria com Jiraya.

— Meu marido e eu compramos aquele barco há muito tempo – disse Tsunade saudosa, abrindo o porta jóias e de lá tirando algumas fotos.

Uma delas tinha três sereias.

— Ai minha nossa, agora entendi porque era tão importante – disse Ino, vendo a foto.

— Se alguém encontrasse isso… – murmurou Hinata. – Não quero nem pensar – se arrepiou.

— O medalhão – apontou Sakura.

Cada uma das sereias na foto tinha um medalhão no pescoço.

— Sim – disse Tsunade, tocando o próprio que usava no pescoço. – Um medalhão para cada uma, as pedras representavam a cor das nossas caudas. A minha é uma ametista, a da Mei era um rubi e a da Miko – apontou para o medalhão no pescoço de Hinata. – Era uma safira. Daniel, meu marido, fez os medalhões para nós três. Ele era nosso Naruto – ela sorriu carinhosamente.

Ino tinha decidido deixar o medalhão com Hinata, o fecho estava quebrado e Naruto o consertou rapidamente. Ino não queria nada que a lembrasse da noite em que a lua cheia a pegou. Ela ainda não queria falar sobre isso.

— O que aconteceu com vocês? – Sakura perguntou para a mulher.

— Bom, vocês sabem como começou – Tsunade sorriu. – Mei e eu éramos melhores amigas, estávamos acampando com a família dela na Ilha Mako quando caímos na gruta, a irmã mais nova de Mei, Miko, tinha seguido a gente e não a vimos até ser tarde demais. Andamos pelas cavernas até chegar ao lago e a água era tão deliciosa que só aproveitamos, quando percebemos já estava tarde e a lua nos pegou.

Tsunade bebeu um gole do chá que havia preparado.

— No outro dia, vocês já sabem… caudas. E então poderes. No começo foi incrível, depois passou a ser só segredos e mais segredos, tudo se tornou tão difícil – Tsunade suspirou. – Miko era a mais difícil de controlar, ela era a mais nova e passava dias debaixo d’água se possível. Quase foi pega algumas vezes e então… – o semblante ficou entristecido. – Um dia ela simplesmente sumiu. Nunca mais a vimos. Mei ficou arrasada e apavorada, ela tinha certeza que a irmã tinha sido pega. Mas nunca ficamos sabendo de nada – uma lágrima rolou pelo rosto de Tsunade.

— Sinto muito – disse Sakura. Tanto Ino quanto Hinata repetiram os pêsames.

— Nós, sereias, temos um segredo que nos une – disse Tsunade, de forma misteriosa. – Mas lembrem-se: a amizade é a coisa mais importante, vocês precisam ficar juntas. Mei e eu nos falávamos de vez em quando, a última vez que falei com ela foi quando se casou, depois disso, não tive mais notícias dela – suspirou dando de ombros.

— E a lua? – Sakura perguntou sutilmente. – Por que acontece o que acontece com a gente?

— Bom, a lua se comunica com a gente nas noites em que ela mais brilha – respondeu Tsunade, a mente longe dali. – Às vezes ela quer nos falar algo sério, em outras ela só quer brincar e nunca sabemos até tudo já ter acontecido.

— Por que a Hinata se lembra e eu não? – Ino perguntou.

— A lua age de maneiras misteriosas às vezes – a resposta frustrou Ino. – Lamento não ter todas as respostas, querida – Tsunade se desculpou.

— Tudo bem – Ino resolveu deixar para lá.

— Mas a lua não é má, ela é nossa amiga – disse Tsunade. – A lua dá e a lua tira – recitou misteriosa, presa em alguma memória antiga. – Eu me arrependo de ter desistido – mais uma lágrima rolou.

— Tem como desistir? – Ino perguntou surpresa.

— Tem sim – Tsunade respondeu. – Em uma lua de sangue, mas tenha a certeza do que quer ou pode se arrepender como eu.

— Eu jamais desistiria da minha cauda – afirmou Sakura.

— A lua já te pegou? – Tsunade perguntou para Sakura com uma intensidade que a arrepiou.

— Não – Sakura respondeu.

— Tome cuidado – avisou Tsunade. – Das três, o seu poder é o mais perigoso. É por isso que é importante vocês sempre estarem juntas – as avisou.

— Na dúvida, é melhor a gente evitar – disse Hinata cruzando os braços.

— É, mas não é bom evitar a lua para sempre, ela gosta de trapacear – brincou Tsunade deixando as meninas sem entender.

. . .

Biblioteca da escola…

— O que você tá fazendo aqui? – Naruto perguntou ao ver Sasuke na biblioteca da escola, fora do horário de aula. Aquilo era no mínimo estranho.

— O que você sabe sobre aquela velha, a Tsunade? – Sasuke devolveu a pergunta, sem desviar o rosto de um artigo que lia no computador.

— Nada – Naruto respondeu. – Ninguém sabe. Por que você tá perguntando sobre ela? – estranhou.

— Naruto, o dia que eu te der satisfação, vai ser porque eu me importo com a sua opinião – Sasuke falou soltando um riso de escárnio.

— Sasuke, as pessoas pensam que você é só um riquinho metido e mimado, não deixem que acrescentem fuxiqueiro na lista também – Naruto colocou uma das mãos no ombro do outro garoto o irritando. 

— Eu tô numa caçada e se eu encontrar o que eu tô procurando, vou ter meu nome nos livros de história – disse Sasuke dando um safanão em Naruto.

— Eu acho que você tá ficando louco – disse Naruto enquanto balançava a cabeça em negação, mas colocou uma cadeira ao lado da de Sasuke e olhou para a tela que prendia a atenção do garotos de cabelos escuros. – Achei que você tava procurando a dona Tsunade? – comentou enquanto analisava as reportagens que se referiam a um monstro do mar.

— Não tem mais o que fazer? – Sasuke perguntou. 

— Você me deixou curioso agora – Naruto deu de ombros.

— Veja só isso, é um cinejornal da década de 50 – Sasuke colocou um vídeo para passar, era de um homem falando que foi salvo de ser afogado por alguma criatura com cauda estranha. Logo depois vinha um depoimento de Tsunade que tinha encontrado o tal homem e o levado para o hospital. Ela foi chamada de heroína na época. O homem mostrou o desenho de uma cauda estranha do tal monstro marinho e Sasuke estendeu um desenho próprio os comparando.

— O que é isso? – Naruto perguntou, empalidecendo ao reconhecer a forma. – É do tal monstro do mar?

— Se você contar isso para alguém… – Sasuke o ameaçou. – Mas não, não é um monstro, é uma sereia – Naruto soltou um riso estridente.

— E quem é que vai acreditar? Fala sério, sereias não existem – afirmou Naruto, com toda a convicção que tinha.

— Existem – contrapôs Sasuke. – Eu vi uma hoje de manhã, saindo do barco daquela velha, a Tsunade – sorriu. – Ela tinha cabelo roxo e uma cauda rosa arroxeada. Espera só, eu vou provar.

— Você bateu com a cabeça de novo? – Naruto tentou desviar o assunto.

Mas Sasuke o ignorou e saiu do lugar.

— Merda – Naruto soltou baixinho antes de mandar uma mensagem para as meninas.

. . . 

Mais tarde…

— Não acredito que ele me viu – disse Sakura desacreditada, depois que Naruto relatou o ocorrido. – Que droga!

Elas estavam na casa de Hinata, depois de Ino e Sakura saírem do trabalho.

— Ninguém vai acreditar nele – disse Ino com convicção, perto da cômoda que tinha um espelho de tamanho médio.

— É, mas precisamos tomar mais cuidado a partir de agora – falou Hinata, sentada em sua cama.

— Inclusive vai ser melhor se ficarmos uns dias sem nadar – avisou Ino.

Aquilo preocupou Sakura. Das três, ela era a que mais amava sua vida de sereia.

— Sakura? – Ino questionou.

— Sim – Sakura concordou com um suspiro, se deitando ao lado de Hinata na cama. – Ficar uns dias fora da água. Entendido.