Quase um mês havia se passado desde que Sasuke havia visto Sakura em sua forma de sereia, a primeira quando o resgatou e isso poderia ter sido contornado com o tempo, já a segunda vez nem tanto: Sasuke tinha visto Sakura sair do barco de Tsunade agora no fundo do mar e isso era tudo o que ele precisava para afirmar que sereias existiam. Então elas tomaram muito cuidado, só voltaram a nadar semanas depois do ocorrido e quando iam nadar ficavam o mais atentas possível para não serem pegas.

Sasuke parecia ter relaxado quanto ao assunto de sereia quando Naruto perguntava e mostrava o dedo do meio quando o loiro zuava.

— Tão falando do Sasuke? Ele é lindo – disse Hanabi, um tanto maliciosa para alguém da idade dela. A menina mal tinha doze anos.

— Ele não é velho para você? – Sakura a questionou surpresa.

— E daí? – Hanabi retrucou saindo do quarto de Hinata.

— Uau, sua irmã é terrível – Sakura disse surpresa.

— E eu não sei? – Hinata suspirou.

Era segunda-feira, Sakura e Naruto iam passar a noite na casa de Hinata para estudarem para as provas daquela semana. Tinham chamado Ino, mas a garota recusou.

— Ela ficou estranha o dia inteiro – disse Hinata.

— O novo gerente chegava hoje – Sakura lembrou. – Jiraya já foi viajar?

— Já sim – afirmou Naruto.

— O novo gerente é gato? – Sakura perguntou com um riso para Hinata.

— É sim e é tão jovem, ele não tem mais de vinte anos – concordou Hinata rindo junto. – Parece que ele é afilhado do Jiraya e tá fazendo faculdade. Tem um sorriso com uma covinha que nossa… – suspirou sonhadora.

— Será que a gente pode se concentrar em estudar? – Naruto as interrompeu, um tanto enciumado.

Sakura tinha pedido o dia de folga a Jiraya para resolver umas questões pessoais, então não estava lá para conhecer o novo gerente quando este chegou.

Mas Ino estava e empalideceu ao reconhecer o cara, era o mesmo da sua lua cheia.

Como é que iria trabalhar assim?

. . . 

No dia seguinte, terça-feira, depois da escola…

— Você tá atrasada! — um cara ruivo apontou para Ino.

Sakura estranhou o comportamento do cara ruivo e da amiga ao lado, Ino se comportava como se quisesse desaparecer. O cara era alto, bronzeado e tinha um belo físico de quem praticava esportes.

— E quem é você? — Sakura estranhou.

— Gaara no Sabaku, o novo gerente — o ruivo se apresentou.

— Ah! — Sakura apertou a mão dele em cumprimento. Hinata tinha razão quando disse que ele era jovem e bonito. – O Jiraya falou de você, eu sou a Sakura, muito prazer, espero que a gente se dê bem.  — Quando nenhum ele nem Ino se manifestaram, ela continuou: – Não culpe a Ino pelo atraso, a professora pediu para que a gente ficasse depois da aula — as defendeu.

— Tudo bem — Gaara acenou, parecendo um pouco constrangido. – Vão se trocar! – ele mandou entregando para Sakura um uniforme diferente do antigo estilo havaiano e um chapeuzinho combinando que ela achou ridículo, mas não comentou nada.

Ino acenou indo em direção aos vestiários e Sakura a acompanhou.

Sakura notou a tensão no ar entre os dois. Será que tinham brigado?

— Você brigaram? – foi o que perguntou assim que entraram no vestiário.

— Não! — Ino exclamou, um pouco consternada. – É só que ele… Ele é... insuportável, não pode aceitar isso! — Ino disse exasperada.

Sakura se virou para Ino preocupada e pegou na mão dela perguntando baixinho:

— Ele te assediou?

— O que? Não! — Ino exclamou indignada.

— Ele te xingou ou te bateu?

— É claro que não!

— Então por que você tá tão brava? — a garota de cabelos rosa estranhou.

— Ele é... muito mandão!

— Ino — Sakura revirou os olhos e terminou de abotoar o uniforme novo. — Ele é o gerente agora, é a função dele mandar na gente.

Ino respirou fundo e bateu o pé em um tique nervoso.

Sakura inclinou a cabeça, reparando no comportamento da amiga.

— Você conhece ele — a garota de cabelos rosa percebeu — de antes daqui, é por isso que está tão nervosa?

Ino suspirou e fez uma cara sofrida que deu pena em Sakura.

— Não precisa me falar se não quiser — a garota de cabelos rosa tentou acalmar a amiga.

— Tá bom, eu conheço ele — a loira confessou. — Lembra quando a lua cheia me pegou? E que eu disse que acordei pelada ao lado de um cara e que...

— É ele? — Sakura sussurrou chocada ligando um ponto no outro.

— É — Ino suspirou amuada. — Ele é o cara.

— Uau, a lua cheia não tá pra brincadeira — Sakura ainda surpresa com a revelação. — Pelo menos ele é gato — a provocou.

— Para com isso! — Ino bateu o pé.

— Se você tá tão desconfortável, por que não vai falar com ele? — sugeriu. – Tira essa história a limpo — Sakura a aconselhou.

— Não posso fazer isso! — Ino se negou, horrorizada. – Eu só quero esquecer tudo o que aconteceu!

Sakura percebeu que aquilo era uma coisa muito grande para ela.

— Você quer que eu fale com ele por você depois do expediente? — Sakura perguntou sutilmente.

— Faria isso? — Ino a questionou surpresa.

— É claro — Sakura afirmou tranquila e logo acrescentou em tom de deboche: – Como eu posso tirar onda da sua cara se isso já não for águas passadas? 

— Palhaça — Ino reclamou. — Espera só até a lua te pegar, aí eu quero ver — disse saindo do vestiário.

— Até a lua pegar quem? — Gaara perguntou do outro lado do balcão, ouvindo a última parte da conversa.

— Ninguém — Ino respondeu nervosa, indo atender uma das mesas.

O ruivo ergueu uma das sobrancelhas e Sakura esclareceu:

— É uma piada interna entre a gente. 

E antes que Sakura pudesse dizer qualquer coisa a mais, Gaara anunciou alto:

— Reunião de pessoal!

Ino se virou para Sakura e fez uma cara de “Não falei que ele era mandão?”

. . . 

— Alguma objeção? — ele perguntou ao terminar.

Gaara, como novo gerente, tinha acabado de explicar todas as suas novas ideias para aumentar os lucros da lanchonete. Mudar o uniforme tinha sido apenas uma das mudanças. Ele pretendia colocar cestas de basquete nas paredes no dia seguinte para incentivar a interação dos clientes, assim eles permaneceriam mais tempo na lanchonete e consumiriam mais, segundo o ponto de vista dele.

Ino nem se atreveu a retrucar.

— Eu tenho — disse Sakura surpreendendo a todos.

Os outros funcionários observavam a tensão no ar entre Gaara e Ino desde o dia anterior. Sabiam que a loira não era de ficar calada e estavam estranhando.

— Diga — incentivou Gaara, um tanto animado.

— Não sei se eu gosto da ideia de clientes desgovernados com bolas de basquete nas mãos de um lado pro outro tendo o risco de me fazer derrubar os pedidos de outros clientes — explicou Sakura.

— Ah sim, já pensei nisso — apontou Gaara.

— É claro que pensou — Ino murmurou, mas todos escutaram, o ruivo preferiu ignorar.

Sakura lançou um olhar consternado para a amiga, ela não estava ajudando.

— Os pedidos vão ser retirados direto do balcão, a menos que os clientes fiquem na área do deque — explicou Gaara. — Mais alguma objeção?

— Os chapéus – disse Tenten timidamente. – São…

— Ridículos – o que mais surpreendeu a todos é que não foi Sakura a dizer a palavra e sim Ino. 

— Bom, todos temos que fazer sacrifícios – disse Gaara, com um sorriso forçado no rosto que Ino devolveu antes de voltar a atender as mesas.

— Agora a gente vai ter que tomar cuidado em dobro — Ino revirou os olhos quando Sakura se aproximou dela.

— As coisas vão ser mais fáceis se trabalharem comigo e não contra mim — disse Gaara atrás dela com o mesmo sorriso no rosto.

“Ok’, Sakura pensou, não daria para esperar até o final do expediente, quanto antes resolvessem o assunto melhor.

— Eu posso falar com você em particular? — Sakura pediu para Gaara.

Ino arregalou os olhos para Sakura, que apertou a mão dela tentando tranquilizá-la.

— Sim – Gaara apontou para o escritório de Jiraya.

Sakura o seguiu.

— Então... — Sakura começou a falar assim que fechou a porta. — Aconteceu alguma coisa entre você e a Ino naquela noite?

— O que? — ele levantou o olhar consternado.

— Sabe, a noite em que a Ino não era… ela mesma – Sakura o pressionou.

— Não sei do que tá falando – Gaara tentou desviar o assunto.

Sakura suspirou.

— Olha, a Ino é minha amiga e eu só quero o bem dela. Aquela noite… Aconteceu alguma coisa entre vocês dois? Porque se sim, saiba que a Ino não se lembra de nada.

Sakura viu Gaara arregalar os olhos para ela.

— Nada? – ele perguntou com a voz vazia.

— Talvez ela lembre de uma coisa ou outra – Sakura deu de ombros, jogando verde, vendo se o ruivo iria falar alguma coisa.

— Eu tô sendo sincero, não aconteceu nada entre a gente – ele suspirou.

Sakura se aproximou mais dele e sussurrou:

— Eu sei do streap tease.

— Não teve streap tease! – ele resmungou bravo.

— Você levou ela pra longe antes que ela fizesse isso – Sakura soltou o comentário como que não quer nada. – Mas ela acordou pelada do seu lado, como só a sua camisa a cobria?

— Você tava lá por um acaso? – Sakura percebeu que ele estava começando a ficar zangado e a julgando por não ter ajudado a amiga.

— Eu soube por terceiros – Sakura explicou enquanto cruzava os braços, não se deixando intimidar. – Então me explica: o que aconteceu depois que você a levou para longe?

Gaara suspirou e bagunçou os cabelos ruivos com uma das mãos, Sakura teve que admitir que o gesto era charmoso quando ele fazia.

— Eu tentei fazer ela comer alguma coisa, mas ela não quis, tentei dar água, mas ela correu para o mar, dizendo que não precisava porque ela era uma sereia – Sakura ficou imóvel com a informação – e quando enfim consegui levar ela pra areia, ela tirou o vestido dizendo que estava molhado e que era melhor esperar secar, então eu tirei minha camisa e a cobri e… – ele gaguejou, não querendo continuar, mas Sakura não deixou.

— E? – o incentivou.

— Ela me beijou – ele respondeu frustrado – e depois apagou, foi tudo.

— Não aconteceu nada mais? Mesmo? – questionou surpresa. – Uma mão boa… – Sakura ia continuar, mas Gaara a interrompeu bravo.

— Eu não sou esse tipo de cara! Eu nem devia tá conversando sobre isso com você e sim com ela!

Então ele saiu porta afora antes que Sakura pudesse o impedir e ele chamou a garota alvo da conversa. Sakura ficou dentro da sala, para intermediar caso fosse necessário.

— O que? – Ino perguntou amuada quando entrou.

— Olha para mim – Gaara pediu e Ino olhou. – Aquela noite, não aconteceu nada, pode confirmar com a Sakura – ele buscou apoio e Sakura acenou concordando, acreditava nele. – Eu só ajudei uma garota muito bêbada, só isso – esclareceu.

— Tá, mas dá pra não mencionar mais aquela noite, por favor? Só quero esquecer o que aconteceu — Ino suplicou.

— Que noite? – Gaara perguntou com um sorriso brincalhão no rosto.

— Pode falar o que quiser – Sakura disse para Ino depois que as duas retornaram ao trabalho. – Mas aquilo foi legal da parte dele.