O azar de Furihata Kouki escrita por Lyubi


Capítulo 7
Namorada ousada




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806217/chapter/7

Eu nunca fui uma pessoa muito paciente, mas talvez a convivência com Akashi-kun estivesse me influenciando. Essa era a única resposta que eu encontrava diante da minha própria maturidade em ignorar o olhar ferrenho de Akita-san que me seguia de um lado a outro do laboratório há semanas.

Ele suspirou audivelmente indo se ocupar de seus afazeres. Meus ombros relaxaram no mesmo instante.

Após o primeiro encontro, muitos outros vieram. Fomos em museus e exposições de arte. Convidei Akashi-kun para o meu apartamento e ele me convidou para o dele também. A diferença nos estilos de vida era gritante. Vê-lo no meu apartamento minúsculo e decorado de forma genérica era tão contrastante quanto colocar k-pop para tocar num bar de metaleiros; simplesmente não combinava. Mas em gestos sutis, eu percebi que ele estava animado em entrar na minha vida, então... Tentei enfrentar a tarefa de conhecer o apartamento dele (que tomava quase um andar inteiro) com mais tranquilidade. Mas é claro que as obrigações do trabalho ainda estavam lá; ele teve que viajar para outro país... E o Nine nos salvava de novo.

Minhas pausas ainda eram ocupadas pelas mensagens aleatórias de Akashi.

 

Akashi-san: Quando você encerra o expediente?

Furi-kun: Quatro e meia. Por quê?

Furi-kun: Akashi-kun?

Akashi-san: Posso ir te buscar? Mas vou atrasar um pouco...

Furi-kun: Você já voltou?

Akashi-san: Consegui adiantar 

Furi-kun: O que quer fazer hoje?

Akashi-san: Vou cozinhar para você

Furi-kun: Mas você disse que não sabia cozinhar .-.

Akashi-san: Você cozinhou para mim, quero retribuir

Furi-kun: Medo...

Akashi-san: Ha-ha

Furi-kun: Tudo bem, espero na portaria então

 

Quando ergui os olhos do celular, Akita-san me encarava do outro lado do refeitório. Ele estreitou os olhos acusador. Eu revirei os meus.

 

ʕ•ᴥ•ʔ

 

Akashi disse que chegaria cerca de vinte minutos atrasado, então eu fiz uns cinco minutos de hora extra para organizar alguns dados no computador e depois fui para a portaria do prédio esperar por ele.

Akita-san passou com seu conversível para ir embora, mas ao me ver na portaria voltou atrás e ofereceu uma carona.

— Embora você seja cruel comigo, Furihata-kun, eu não posso deixar de oferecer ajuda. Não vê como eu sou bonzinho?

— Muito bonzinho, chefe, verdade. Mas eu hoje dispenso vossa benevolência.

— Ok, bye, bye!

— Bye, bye.

E em menos de dois minutos o carro dele surgiu novamente na esquina e estacionou em frente ao prédio. Ah, não... o olhar convencido não podia significar coisa boa.

— Akita-san...?

Ele parou de braços cruzados ao meu lado olhando para a rua com ar de satisfação.

— Não precisa dizer nada, Furihata-kun. Hoje eu descubro sozinho!

— Oe! 

— Eu ajudei esse relacionamento nascer. Não aceito ser excluído dessa forma.

— O senhor não acha que está indo longe demais? Isso é invasão de privacidade.

Ele me olhou de canto, descrente.

— Eu só estou parado na portaria do prédio onde trabalho ao lado de um funcionário meu. Se quiser, eu posso ficar ali do outro lado.

— Cínico!

— Não pode ser tão ruim assim. Ou é? — Ele deixou a pose de marrento para se virar para mim. — Ela é famosa? Ou é uma velhaca rica? Furihata-kun, você está tentando dar o golpe do baú?

Minha mão voou para estapear meu rosto num gesto automático. A imaginação do meu velho patrão ia longe demais.

— Eu não sou só seu chefe, Furihata-kun! Vinte anos de convivio já nos fizeram amigos por prescrição! Ela é feia?

Olhei o celular para ver se havia alguma nova mensagem. Nada.

— Akita-san, você é meu amigo, mas esse relacionamento é recente e eu quero que dê certo. E eu não sei como ele vai reagir...

Bem na hora, o carro vermelho esportivo que Akashi usava sempre que dispensava o motorista virou na esquina.

— Ele?

— Contente, Akita-san? — perguntei irônico.

O velho assobiou se aproximando do carro todo animado. Eu quase podia ver um rabo imaginário abanando.

Akashi-kun saiu do carro para me esperar. Ele já tinha se livrado da gravata e do paletó, mas seu rosto parecia cansado.

— Kouki-kun — cumprimentou sério sem olhar para Akita-san.

— Aka- Sei-kun — retruquei corando. — Esse é meu chefe. Já falei dele para você.

Ainda desconcertado, Akita-san olhou em dúvida para Akashi, avaliando, tentando decifrar...

— Prazer, Akita Mamoru, o chefe descolado.

— Prazer, Akita-san. Sou Akashi Seijuro, a namorada ousada.

— Ah-

 

ʕ•ᴥ•ʔ

 

— SEIJURO-KUN! Não acredito que falou aquilo!

— Ele riu.

— É claro que ele riu! Estava chocado. Deus do céu... O que vai ser de mim daqui pra frente?! Ele não vai parar de falar sobre você...

— Isso é ruim? — perguntou manobrando o carro na vaga do estacionamento.

Balancei a cabeça ainda com as mãos no rosto. A minha mortificação foi tão extrema que eu não consegui falar mais nada e Akashi teve que me puxar gentilmente para dentro do carro e se despedir sozinho de um Akita-san que ainda ria alto e acenava para nós dois.

Seijuro-kun saiu do carro carregando as sacolas de compra e eu fiquei encarregado de recolher o paletó e sua mala de negócios. 

— Você ainda não passou em casa?

— Não. Pedi que levassem o carro para o aeroporto, de lá, eu fui para o mercado e depois te busquei.

Entramos no elevador.

— Akashi-kun, eu podia ter vindo mais tarde. Você nem descansou!

— Não estou cansado. 

O elevador parou no térreo e uma senhora e um casal com uma criança entraram.

— Mas me apresentar para Akita-san como seu namorado foi algo ruim?

É claro que todos, menos a criança, olharam para nós por um instante.

— Ele vai ficar perguntando de você toda hora e pode esperar que ele vai nos convidar para almoçar com a esposa dele no próximo domingo... Ele é tão exagerado!

— Ele parece se preocupar com você. Se ele te amolar demais é só me dizer que eu converso com ele também. Sabe como eu sou bom conversando, ne?!

Revirei os olhos, mas o sorriso me denunciou.

Quando entramos no apartamento, ele pediu um momento para tomar banho e eu fui lavar as verduras.

Percebi que ele já tinha saído do banho quando um jazz suave começou a tocar.

— Quem deixou você picar a minha rúcula?

— Eu só ia fazer a salada! Você não vai deixar eu fazer nada?

Ele me olhou brincalhão um instante enquanto me encurralava na bancada e tirava a faca minha mão.

— Não — respondeu me empurrando para longe com o quadril. — Hoje é minha vez.

— Ta bom, chef! Eu só observo então...

E o miserável parecia mesmo um chef com o avental preto e as mangas da camisa social enroladas para cima. O rosto concentrado não se desviava nem um instante do trabalho cuidadoso de cortar os cogumelos. Os cabelos molhados lhe davam um ar de refrescancia.

Fui preparar um drink para nós enquanto ele se esforçava na cozinha. Acabei distraído olhando um quadro na sala e depois as fotografias acima da lareira me chamaram a atenção.

Levei um susto quando ele segurou meus ombros por trás.

— Cansou de me assistir?

— Não é isso. Acho que me distraí. E bebi o drink que fiz pra você — sorri amarelo.

Ele tomou o copo da minha mão e provou o pouco que restou.

— E por isso está aqui sozinho no escuro?

— Não está escuro. A luz da cozinha e da lua chegam aqui.

— Então está na penumbra.

Ele repousou o queixo no meu ombro. O cheiro do seu shampoo invadiu meu espaço; lembrava lima. Busquei os braços dele para que ele me enlaçasse.

— Você está me seduzindo? — perguntou aos sussurros.

— Está dando certo? — respondi no mesmo tom.

Ele deixou os lábios sobre meu pescoço. Estavam um pouco gelados e me arrepiou violentamente.

— Ponto fraco? — zombou rindo baixinho na minha orelha.

Virei para ficar de frente para ele.

— Obrigado.

Ele inclinou a cabeça sem entender.

— Por?

Mas respondi com um breve selar de lábios.

— Sim... Você está mesmo me seduzindo...

Eu sorri e me aproximei para sussurrar no ouvido dele:

— Vai queimar.

A mudança drástica nas feições de Akashi-kun me fizeram rir. Ele saiu quase correndo para ir ver as panelas.

Olhei uma última vez para as figuras nos porta-retratos. Que o futuro ficasse no futuro. E que por agora pudesse ser feliz com Akashi Seijuro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei que os dois ficaram meio fora das personalidades originais, mas… eu gostei mesmo assim :] espero que também tenham gostado :]

Obrigada por ter lido até aqui ♥

Curiosidade: cada capítulo foi escrito para cumprir um “desafio do dia” de uma lista que eu achei milênios atrás. Os desafios: Escreva sobre um idioma - Escreva sobre alcançar uma meta - Escreva a primeira linha da história. Escreva a última linha da história. Tente conectá-las - Escreva sobre um aplicativo útil - Escreva sobre estar assustado - Descreva algo poderoso - O tempo é curto. Escreva o que acontece dentro de 20 minutos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O azar de Furihata Kouki" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.