O azar de Furihata Kouki escrita por Lyubi


Capítulo 5
Buque de rosas




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Fazia quase cinco meses desde que nos reencontramos e eu ainda ficava surpreso com o quanto era fácil conversar com Akashi-kun. Ele tinha vários compromissos fora do estado e às vezes até fora do país, mas não deixamos de nos falar em momento algum; desde que tivesse uma conexão wifi, ele lotava meu Nine de mensagens ou apenas imagens aleatórias.

Tomei a atitude de ligar para ele primeiro, mas Akashi-san se empolgou e ligava quase todo dia. Às vezes o fuso horário atrapalhava, então decidimos manter as mensagens como prioridade. Mesmo assim ele ainda insistia numa ligação por vídeo nos finais de semana (dava vergonha, mas ele não se importava de ler seus relatórios, abandonado do outro lado da tela, enquanto eu faxinava o apartamento).

E então veio uma sexta-feira á tarde.

— Boa tarde, onde encontro Furihata-chan?

Todos os seis membros da equipe olharam para o entregador simpático com um buquê de rosas nas mãos e eu cavei minha dignidade até o fundo antes de levantar da cadeira e ir até ele.

— Creio que sejam para mim.

— Oh, desculpe.

Felizmente, os risinhos dos meus colegas vieram só quando o entregador já estava longe.

O bonito arranjo de rosas vermelhas com alguns ramos e folhagens estava embalado em uma espécie de papel chique e era amarrado com um laço de cetim vinho.

Akita-san quase saltou de sua cadeira para pescar o cartão que estava entre as flores.

— Que ousada! — ele ofegou após ler o bilhete.

— Akita-san! Não saia por aí lendo a correspondência dos outros!

No cartão tinha apenas um endereço, o horário e uma breve nota embaixo: "As flores são para mim"

Akita-san dispensou os abutres menores sem lhes contar o conteúdo do cartão. E eu pedi um momento para me esconder no banheiro e perguntar ao Akashi-san o que era aquilo tudo.

 

Akashi-san: Parte do nosso acordo, caso tenha esquecido

Furi-kun: Ah, certo

Furi-kun: Mas agora meu chefe está achando que eu tenho uma "namorada muito ousada"

Furi-kun: '____'

Akashi-san: =)

Akashi-san: Nos vemos hoje às 19

 

Pesquisei o endereço no Poodle e descobri que o encontro seria num hotel podre de chique. Clássico de Akashi-san.

Akita-san assobiou ao ver o nome do hotel.

— Sabia que um dia uma ricaça reconheceria o brilho desse coração de ouro, Furihata-kun — zombou afagando minha cabeça.

— Nem roupa eu tenho para isso — murmurei já exausto psicologicamente.

A felicidade estampada na cara larga do meu patrão não era bom sinal. Mas a empolgação dele em me arrastar para fora do laboratório e conduzir o carro até um shopping acabou me contagiando em algum momento.

No final das contas, o resultado no espelho me agradou muito e eu precisei reconhecer que Akita-san tinha bom gosto. O conjunto era elegante. Calça, paletó e colete na cor bege nunca seria uma escolha minha pela facilidade em sujar, mas eu fiquei muito bem nela. Camisa lisa num azul quase branco. Gravata e sapatos em tons de marrom escuro. Quase devolvi tudo ao ver o preço, mas não era como se eu não pudesse pagar...

Akita-san me deixou em casa e saiu voando em seu carro gritando boa sorte.

O nervosismo demorou a chegar. O aborrecimento com o pessoal do serviço e depois a agitação em escolher roupas novas me distraíram, mas enquanto tomava banho o ar já começou a ficar difícil na garganta. Comecei a suspirar vezes sem conta enquanto me arrumava.

Eu não era cego. Nunca fui. Talvez um pouco ingênuo e bastante inseguro, mas sempre tive noção das coisas. E as coisas entre mim e Akashi-kun nunca foram só amizade. Eu era muito novo para decifrar a atração e muito assustado para assumi-la também. Mas hoje, nos últimos meses, a necessidade de falar com ele, a vontade de estar com ele... Era óbvio onde aquilo nos levaria. 

Parte de mim sussurrava lá no fundo que poderia ser só uma brincadeira já que era certeiro que eu ficaria constrangido levando flores para ele. Mas o que mais me preocupava era no quanto isso podia dar certo se fosse sério. E no quanto seria ruim se desse tudo errado depois... Ser solteiro não era tão terrível assim. Não quando todas as outras pessoas mentem e fingem depois de um tempo. Não quando te usam descaradamente como se você não fosse nada. Como se você fosse tão pouca coisa que machucar você não tivesse a menor importância...

Terminei de ajeitar a gravata no espelho e chequei minha imagem. O cabelo de lado, lambuzado de gel, pareceu exagerado. Me arrependi de ter passado perfume, era óbvio que eu estava me esforçando demais. Quando comecei a ver defeitos até na cor dos meus olhos, pesquei o buquê, as chaves e a carteira com pressa e saí para esperar o táxi. Iria arrancar tudo, tomar um novo banho, colocar jeans e moletom e para coroar chegaria atrasado se deixasse a espiral da paranoia me pegar.

Era constrangedor toda vez que o motorista olhava para as rosas no meu colo e sorria sugestivo. Fechei a cara e olhei pela janela para evitar qualquer conversa.

Akashi-san também era alvo da minha preocupação. Ele tinha uma personalidade impositiva, não parecia tóxico agora, verdade que tinha melhorado horrores e nos últimos meses descobri facetas tão distintas quanto surpreendentes nele, mas todos os defeitos são ampliados com a intimidade... E ele era indiscutivelmente de outra classe social. Tinha um sobrenome pesado. Como seria isso? Um relacionamento com ele? Eu seria "a outra"? Eu seria um segredo? Ri amargo. Que ironia.

— Chegamos, senhor.

De alguma forma, eu consegui pagar o taxista, andar até a recepção do hotel luxuoso e perguntar por Akashi Seijuro. Eu era aguardado, claro. Um funcionário me acompanhou até o vigésimo andar.

Meu coração batia desenfreado e o mal estar estava a ponto de me dar dor de cabeça, todos os meus instintos pediam que eu fugisse, mas com trinta e oito anos nas costas a gente apenas entende que, independente do que acontecesse, tudo passa. Até a uva passa.

Sem pensar muito, obriguei o braço pesado para frente, a mão tremia enquanto aproximava o cartão magnético na porta do quarto. E daí ela abriu. A última gota de saliva na minha boca pareceu evaporar.


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