Eles se afastaram com relutância. Expostos demais. Embora a praça estivesse tranquila e o banco ficasse entre árvores, aquele lugar estava longe de ser a melhor escolha para qualquer intimidade.

O rosto de Midorima ainda pairou junto ao de Takao por um momento antes de colocar os óculos novamente.

Ajeitaram a postura sentando novamente longe um do outro.

— Shin-chan.

— Hum?

— Qual é o item da sorte de hoje?

Midorima puxou a mochila, um chaveiro com uma galinha de pelúcia enorme estava preso num dos zípers.

Takao ficou animado, a galinha tinha pelagem marrom e a pelúcia era super fofa.

— Como é que eu não vi isso?

— Você não estava falando comigo.

— Isso não é verdade, Shin-chan...

— Não estava falando direito.

Takao coçou a cabeça ainda segurando a galinha simpática.

— Não é grande demais? — Referiu-se ao chaveiro.

— Eu queria maior, mas não tinha.

Kazunari riu.

— Estou envergonhado, Shin-chan — confessou ficando sério. Midorima esperou. — Eu devia ter tomado o primeiro passo, mas... Não confiei nos meus próprios sentimentos. E me recusei a alimentar esperanças...

Os óculos foram ajeitados antes que Shintaro se pronunciasse.

— Você me conhece melhor que ninguém, Takao. Sabe que eu não sou a pessoa mais expressiva. Mas não vejo o seu receio como fraqueza. Porque você estava tomando cuidado para não me assustar, não é?

Takao assentiu com a cabeça sem conseguir olhá-lo.

— O que é meio contraditório, parando para pensar... — complementou. — Por que, se eu bem me lembro, você dá em cima de mim praticamente desde que nos conhecemos.

— Shin-chan! Era brincadeira... No começo.

— Eu sei — respondeu sereno, olhos fechados.

Takao lhe olhou indignado antes de se ajeitar novamente no banco. Dessa vez encurtou a distância e o empurrou com o ombro.

— Bobo.

O sol se punha por detrás dos prédios ao longe. Não queria ir embora tão cedo, mas ainda tinha um longo caminho a pedalar até em casa. E tinha que deixar Shin-chan na esquina da casa dele ainda. Será que...

— Shin-chan.

— Hum?

— Eu tenho uma teoria sobre os óculos.

Midorima lhe olhou de canto.

— Acho que você fica mais corajoso sem os óculos. Por não enxergar direito e tal... Aí não fica com tanta vergonha de fazer aquelas expressões sedutoras.

Shintaro levantou como uma mola.

— Vamos. Está tarde.

Takao o observou andar até o riquixá. Mantinha-se de costas, mas podia ver as orelhas dele pegando fogo. Era tão fácil cutucar o Shin-chan. Espreguiçou faceiro antes de alcançar a bicicleta.

— Shin-chan, você não gostaria de pedalar para mim hoje? Já que foi um dia especial para...

O olhar mortal do “senhor feudal” já acomodado no carrinho foi resposta suficiente.

— Eu tentei...

A noite surgia no céu em tons de azul escuro. O começo do outono parecia doce e Takao riu sozinho enquanto pedalava.

Fez questão de deixar o folgado no portão de casa.

— Ei, Shin-chan — Takao gritou já há alguma distância e esperou Midorima se aproximar ao seu chamado.  — Sabe por que a galinha atravessou a rua?

Os ombros caíram visivelmente ao perceber-se do outro lado da rua… Midorima fechou os olhos pensando em só dar as costas enquanto Kazunari segurava o riso.

— Por quê? — rendeu-se.

E Takao puxou sua jaqueta para lhe um selinho antes de sair pedalando e rindo como o idiota que era.