Então estavam em frente ao portão moderno da casa dos Midorima. 

Takao abriu a boca num enorme bocejo antes de se despedir.

— Está entregue, Shin-chan. Mando mensagem assim que o celular carregar um pouco. É hoje que a mãe me mata...

Antes que se afastasse, Midorima segurou seu braço. 

O silêncio era enervante e Shin-chan parecia longe de falar. Takao engoliu em seco ao notar que os olhos logo acima de si tinham uma expressão diferente, pálpebras meio fechadas...

— Preciso mesmo ir, Shin-chan! Nos vemos na escola! – o grito meio agudo incomodou até seus próprios ouvidos.

Takao saiu correndo e acenando como um doido. Um sorriso caricato demais pendurado no rosto.

Não devia ter se apressando tanto... Sua mãe quase comeu sua orelha de tanto gritar. Mas não era culpado pelo celular ter acabado a bateria! Embora nem tivesse passado pela sua cabeça avisar a mãe de que dormiria fora; afinal o plano era apenas curtir o festival, não esperava encontrar tantos conhecidos e não tinha culpa da repentina chuva de verão que os obrigou a se abrigar na casa de Kagami... Em fim, desculpas dadas (e mal recebidas, já que fedia a bebida), sua mãe lhe liberou para tomar banho e comer alguma coisa. Queria dormir também.

Terminava de secar os cabelos enquanto esperava o celular ligar, ele já estava há alguns minutos carregando. Engoliu em seco ao ver as ligações perdidas de sua mãe e pensou no quanto era sortudo de só ter levado alguns puxões de orelha dolorosos. E notou uma mensagem de Shintaro.

Shin-chan: Chegou em casa?

Jogou-se na cama antes de responder.

Takao: Sim

Takao: Demorei pq a velha demorou a liberar

Takao: E dps tomei um banho, almocei... 

Takao: Vc já almoçou?

Shin-chan: Sim

Shin-chan: Precisamos conversar

Takao sentiu como se um dedo gelado tivesse percorrido seu corpo, e o engraçado era que nem tinha tremido diante de sua mãe, a própria personificação da morte.

Takao: Estamos conversando, haha

Não havia nada de "haha" em seu semblante, porém. 

Takao deitou de lado esperando a resposta que demorava. Midorima estava online, mas não digitando. Não era de ficar nervoso, mas seu coração estava inquieto. Era de conhecimento geral que "precisamos conversar" seguido de “preciso te contar uma coisa” eram as piores frases já inventadas em toda a existência humana. Por que ele não respondia?

O celular sambou em suas mãos e caiu no tatame com a tela virada para baixo. O som da ligação, causa do susto de Takao, continuava tocando. Kazunari recuperou o celular com cuidado olhando descrente o nome de Shin-chan no contato que estava ligando. A ligação caiu. Takao suspirou aliviado.

Mas em menos de dois segundos o celular sambou novamente em suas mãos quando voltou a tocar.

Deixou a ligação cair. Respirou. E Shin-chan ligou mais uma vez! 

Olhou a tela do celular até o toque acabar. Quando tocou pela quarta vez, a porta de seu quarto foi escancarada e o olhar de ódio de sua mãe foi incentivo suficiente. Atendeu.