O som seco de uma latinha de metal sendo aberta foi o que tirou Takao da inconsciência, mas sua cabeça parecia pesada demais até mesmo para pensar em abrir os olhos. Queria voltar para o vazio, mas seu corpo já começava a registrar os incômodos da realidade: uma dor enjoada e crescente bem no centro da testa, a bexiga a ponto de explodir, um desconforto no músculo do ombro, a boca tão seca que até respirar era irritante, a bexiga sendo comprimida dolorosamente... Certo, banheiro.

A primeira coisa que seus olhos registraram foi um estofado de camurça marrom. A cerca de um palmo do seu rosto pousava outro. Tinha uma marquinha de catapora logo acima da sobrancelha esquerda e sardas quase invisíveis na pele muito, muito branca. Shin-chan parecia angelical dormindo. Era a falta dos óculos, certeza. 

Takao percebeu-se de bruços, na borda, quase caindo. Suas pernas estavam emaranhadas nas de Midorima. Era a coxa dele que causava aquele terrível aperto em sua bexiga, precisava levantar.

Num esforço sobre-humano (e numa lentidão sobre-humana também) ergueu o tronco e arrastou as pernas para fora do sofá. Tentou ajeitar a yukata de Midorima que estava bem frouxa e mostrava muito das pernas e peito. Reservou uma risadinha secreta e fez uma nota mental para tirar uma foto quando estivesse mais acordado. E quando achasse seu celular naquela zona. 

Observou o entorno por um momento, meio dormindo meio acordado. Havia copos e garrafas por todo lado. Alguém derrubou um monte de batatinhas no chão e elas estavam quase pulverizadas agora. Pareciam ter derrubado refrigerante no tapete também. Percebeu ter dado sorte em conseguir um dos sofás com Shin-chan já que o outro, menor, tinha um grandalhão da Seirin todo torto e com braços e pernas para fora do móvel - as dores musculares seriam horríveis. A maioria tinha ficado no chão mesmo; dois jogados debaixo da mesinha de centro, outros pelos cantos, até Kise se cobria com a ponta da cortina. Eles tinham acabado com o apartamento de Kagami Taiga.

Takao não conseguiu mais ignorar a pontada de dor no baixo ventre. Ao se levantar, o barulho inconfundível de algo quebrando sob seus pés. A dor foi esquecida ao notar a armação de óculos em pedaços. Deu uma olhadela para Shin-chan às suas costas; ainda desmaiado assim como todos os outros.

A única testemunha do crime era Aomine Daiki que bebia água com gás na cozinha - inclusive, ele era o dono da latinha que tinha acordado Takao - mas o mestiço estava com os olhos fechados, quase dormindo em pé.

As aulas voltariam na segunda-feira. O plano era apenas aproveitar a última sexta-feira das férias para ir ao festival de verão, mas se encontraram com alguns conhecidos do basquete e por causa de uma chuva repentina, Kagami ofereceu o apartamento. Takao desejava não ter bebido como se não houvesse amanhã, por que agora o “amanhã” tinha chegado e o mal estar era terrível. Refletiu caminhando como um zumbi pelo corredor. Mas, no geral, a confraternização foi bem legal e só ficaram extremamente bêbados depois da queima de fogos (Kagami tinha uma vista incrível do oitavo andar).

Takao se lembrou das brincadeiras, risadas, danças. Danças? Ah, sim, eles jogaram "verdade ou desafio" como típicos adolescentes estúpidos, mas tudo bem, era o último ano do colegial, precisavam aproveitar. Lembrou-se da dança envergonhada que teve que fazer e do beijo no banheiro quando foi a fez do Shin-ch... Beijo no banheiro?!