Finja Até Ser Verdade escrita por Samyy


Capítulo 9
Doutor Weasley




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Retiro o que disse: se você quer fazer algo, se planeje, sim. 

É por causa desse tipo de situação que eu gosto de planejar absolutamente tudo que posso. 

Na manhã de quarta, Draco acordou com a brilhantíssima ideia de fazermos trilha pela paisagem local. Não nego que no início pareceu uma boa ideia, – já que estávamos ali nada mais justo que passear e conhecer a cidade – até percebermos, na metade do caminho, que não estávamos preparados para a aventura. Ninguém trouxe calça comprida, tênis para caminhada ou repelente: receita para o desastre.

Resultado: seis jovens cheios de picadas de mosquitos, arranhões e dores nos pés. 

Mas antes fosse só isso, se fosse só isso estaria tudo ok. O problema é que o universo resolveu usar esse momento para dizer que me odeia e não, não está a meu favor. 

Ron e eu andávamos de mãos dadas, apesar de ainda mal nos falarmos desde ontem, – eu já estava disposta a ceder, porque há mais de 24 horas eu não via um riso sequer em seu rosto – quando a tonta que vos fala tropeçou num puta dum buraco. Como eu não vi essa cratera, é que eu não sei. Não tive cortes ou arranhões mais sérios, mas não consegui pisar direito, obrigando todo mundo a voltar para a casa. 

E olha, ainda não sei se foi bom ou ruim, já que acabei nos livrando dessa trilha horrível e de bônus Ron me levou no colo, pois não tinha a mínima possibilidade de eu andar naquelas condições. 

Boas notícias: não quebrei o pé, nem torci o tornozelo, mas vou precisar de compressas de gelo e repouso pelo resto do dia para diminuir o inchaço e a dor agonizante. 

Não quero estragar o passeio de ninguém, então sugiro irmos para a praia e prometo ficar debaixo do guarda sol lendo e cuidando de nossos pertences. 

Com a ajuda das meninas, visto um biquíni e coloco uma saída de praia por cima.

Embaixo do guarda-sol, observo a movimentação na areia. Outubro é baixa temporada, o lugar não está lotado, mas está consideravelmente cheio. Meus amigos montam a rede de vôlei e passam a tarde jogando. 

Poxa, isso lá era hora de machucar o pé? Eu poderia estar ali, errando saques e recebendo bolada na cara, mas me divertindo com todo mundo. 

Ao invés disso, estou ilhada aqui, lendo O Impulso, de Ashley Audrain

Tá, não vou reclamar, a leitura é boa e fluida. Adormeço com meu Kindle a tiracolo sobre meu peito. 

Um tempo depois acordo com alguém mexendo em meu pé. É Ron. Ele trouxe outra bolsa de gelo para mim. 

— Toma. – ele fala ao ver que despertei e me entrega um comprimido e um copo d’água. — Vai ajudar com a dor. 

— Meu automedicando, Weasley? – o olho desconfiada. 

Detesto tomar qualquer coisa sem prescrição médica, mas se vai fazer a dor ir embora, por que não?

— É doutor Weasley para você! – ele me olha seriamente e eu sei bem que está brincando. 

Aí está meu Ron de volta. Ele arrasta uma cadeira até onde estou e coloca meu pé sobre sua coxa. A dor é tanta que mal consigo aproveitar a sensação de seus dedos em minha pele. Uma massagem dolorida para evitar que amanhã doa mais. 

— Guarde a cartela para mais tarde e tome outro antes de dormir. – eu assinto. — E, Mione… eu queria me desculpar pelo outro dia, eu não deveria te dizer o que fazer. 

— Tudo bem, Ron. Como meu namorado você tem direito à opinião. – os motivos de nosso desentendimento são irrisórios agora. 

— Obrigado pelo voto de confiança, – seus olhos estão fixos nos meus pés, concentrado na tarefa de massageá-los. — mas ainda assim, antes de mais nada somos amigos. Por mais incrível que pareça, eu me preocupo com você, mesmo que eu não transpareça com frequência. E eu sei que você não é indefesa e sabe se cuidar, mas as outras pessoas não… 

E é exatamente por isso que eu aceitei embarcar nessa loucura, me ocorre agora. Ninguém sabe sobre o stalker, não consegui contar para ninguém, nem mesmo para Astoria que é minha amiga mais próxima justamente porque me tratariam como fraca. Sim, é uma situação bosta, mas todos estão sempre tentando me proteger e eu não quero que me enxerguem como vulnerável. 

Eu aceitei a proposta de Ron porque ele me apresentou algo sólido, por mais estranho que pareça. Ele não quis que eu fosse mais cautelosa, nem quis me proibir de fazer as poucas coisas que eu gosto por medo de um doido me sequestrar. Na minha cabeça faz sentido, eu juro, e por isso eu fiquei chateada com a reação dele ontem. 

Encaramos o mar por muitos minutos. A praia é linda e fico triste em pensar que iremos embora daqui poucos dias. 

É estranho o quanto eu fico à vontade em sua presença, a Hermione de 2 meses atrás ficaria horrorizada em saber o tanto de coisas que temos feito juntos. Apesar de nossa farsa não estar dando tão certo para mim, me fez perceber que homens não são bichos de 7 cabeças. 

Daddy Issues, chame como quiser, sim, tenho problemas em confiar na espécie do sexo masculino. Harry é um caso à parte, nós crescemos juntos, conhecemos nossos lados escuros como ninguém. Draco sempre foi namorado de Astoria – sinceramente, não me lembro desses dois separados – se tornou confiável por associação. Mas quanto mais eu crescia, mais eu percebia que não posso confiar cegamente neles. E vamos combinar que eu praticamente ser uma produção independente de minha mãe não ajudou muito. Ela foi muito machucada durante a vida, por isso tomou as rédeas da situação.

— Você está bem? – ele se levanta. 

— Sim, bem melhor. – sei que ele está perguntando sobre o meu pé, mas não Ron, eu não tenho me sentindo bem em relação a você já tem algum tempo. — O remédio já começou a fazer efeito. 

— Ótimo. Vou dar um mergulho. – e, simples assim, Ron começa a se despir na minha frente. Primeiro a regata, depois o short, revelando seu calção de banho preto. É impossível não olhar. 

Uso todo o meu poder de autocontrole para fingir que estou acostumada, que isso não me abala nem um pouquinho. Ele beija minha testa – incrivelmente ele não cheira a suor – e se afasta em direção ao mar. 

— Bom banho! – digo admirando suas costas definidas e bunda durinha. É a primeira vez que o vejo seminu e não seria má ideia admirar Ron pelo resto do dia. — Bom banho…

Quando começa a escurecer, voltamos para a casa. Combinamos de a cada dia um casal ser responsável pelas refeições e assim vamos revezando. 

Hoje é a vez de Harry e Ginny. 

Enquanto eles cozinham, nós tomamos banho e trocamos de roupa. Por conta do meu pé, ninguém quer fazer planos para a noite, mas graças ao remédio, já consigo ficar de pé sozinha e me arrumo por conta própria. Odiaria se alguém tivesse que me dar banho. 

Jantamos e ficamos na sala jogando jogos de tabuleiro. O cansaço do dia me abate e não demoro a me recolher, não sem antes tomar mais um comprimido milagroso. 

Horas depois, que mais parecem minutos, sou acordada com um leve empurrão nos ombros. 

— Ei, Hermione? – Ginny sussurra em meu ouvido. 

— Só mais cinco minutinhos. – resmungo. Não é possível que já seja de manhã. 

— Ei, escuta: Ginny e eu estávamos pensando se você não poderia, por favorzinho, trocar de quarto conosco. – ouço Astoria ao longe e meus olhos automaticamente se abrem. 

— Só por essa noite. 

— Nós queríamos um tempinho com os garotos.

— É, e você fica com o Ron. Ele cuidou tão bem de você hoje. 

Ambas falam, completando a fala uma da outra, como se tivessem combinado.

Sendo realista, não é como se eu não tivesse previsto que isso acabaria acontecendo. Eu poderia ficar zangada por me acordarem no meio da noite para isso, mas meio que me coloquei nessa situação. As duas acreditam que Ron e eu somos namorados de verdade: que problema haveria em compartilhar o quarto com ele, afinal? 

Coloco o pé no chão testando se está tudo bem. 

— Beleza, eu vou para lá. – digo em meio a um bocejo. 

— Obrigada, Hermione. – Ginny me abraça. 

— É só por esta noite. – aham, me engana que eu gosto. 

Eu deveria procurar amigas novas, isso sim. 

No segundo quarto, Ron está desmaiado de sono. Ginny sempre reclamou sobre o irmão ser um baita dum dorminhoco e ter o sono mais pesado que a lua. 

Olho ao redor do quarto, procurando um canto para me deitar.

Talvez eu deva dormir no sofá…

Não dá, todo mundo vai achar esquisito se me encontrarem na sala – sem falar que ficando na sala, corro o risco de ouvir barulhos extremamente indesejáveis. 

Suspiro. Pelo menos vesti um pijama decente, shorts que batem no meio das coxas e camiseta.

Apesar da cama ter um tamanha Queen, me deito bem na beirada, o mais longe possível de Ron. 

Assim fica difícil de acreditar que o universo esteja ao meu lado.

 


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