Finja Até Ser Verdade escrita por Samyy


Capítulo 8
O Seguro Morreu de Velho




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Ron acena discretamente para mim assim que se senta no auditório do Instituto de Relações Internacionais. Tento manter a pose, me mantendo concentrada, mas sua presença me deixa imensamente feliz. Fico um pouco menos nervosa, se é que isso é possível, já que acordei sentindo um baita incômodo na barriga, um pouco mais forte que aquele do sábado. Não ironicamente, achei até que fosse vomitar. Enfim, o nervosismo. 

A professora McGonagall, minha orientadora, acompanha tudo da primeira fileira. Eu nunca sei como interpretar suas expressões, então evito ao máximo encará-la. Meu olhar passeia pelo auditório sem realmente se prender a algum lugar específico. Ao fim de minha fala, McGonagall vem me cumprimentar, aproveitando a oportunidade para me apresentar a alguns de seus mestrandos. 

— Você foi fantástica! – Ron me abraça quando sou liberada de toda bajulação. 

— Obrigada! Eu estava uma pilha de nervos lá em cima. – passo as mãos na saia do meu vestido preto florido, secando o suor e colocando a roupa no lugar. 

— O segredo é fingir que tá tudo bem, mesmo que você esteja surtando. – ele pisca com um olho só. 

Hmm, então você é bom em fingir? – tento lançar um olhar sedutor, de brincadeira. — Conte-me mais sobre isso. – Ron solta uma gargalhada. Qualquer um que visse de fora pensaria que estamos flertando. 

— Hermione! – um aluno intercambista me chama. — Parabéns pela apresentação. – ele me abraça e me aperta de uma forma desnecessária em seus braços. 

— Obrigada, Viktor. 

Viktor Krum está no segundo semestre de uma graduação sanduíche. No ano em que ele chegou, eu fazia parte do comitê de apadrinhamento dos alunos estrangeiros, por sermos do mesmo curso, querendo ou não, eu fui uma referência para ele e o salvei de alguns apuros com os professores. 

Mas, fora isso, ele é praticamente um estranho para mim. Se não fosse pela cultura de seu país, a Bulgária, – estranhamente acolhedora – eu jamais permitiria que me tocasse dessa forma… íntima. Odeio que estranhos me toquem. Apesar disso, tento sempre ser cordial e educada. 

— Amanhã tem mais. – digo me referindo ao segundo dia de apresentação – argh.

— Claro, estarei aqui para apreciar a bela Hermione. – sua voz é carregada de sotaque, o que não é exatamente um problema.

Ron tosse ao meu lado. Não se preocupe, não esqueci da sua presença. 

— Sou Ronald. – ele estende a mão para cumprimentá-lo. — Sou o namorado da bela Hermione, prazer. 

— Viktor Krum, prazer! 

Se essa coisa toda não fosse falsa, eu diria, genuinamente, que senti uma tensão entre os rapazes? Loucura da minha cabeça ou não, quando Krum vai embora não consigo evitar de dizer, retomando a brincadeira de antes de sermos interrompidos:

— Ciúmes, Weasley? – levanto uma sobrancelha. 

— Estou errado em suspeitar de todo homem que se aproxima da minha bela não namorada? 

Ele tem um ponto. Quer dizer, não é como se eu mesma não me perguntasse, toda vez que alguém se aproxima de mim, se não é meu stalker em potencial. 

— Então você está com não ciúmes? 

Pela segunda vez no dia, Ron não tem a oportunidade de me responder: alguém me cutuca no ombro e assim que me viro sou abraçada antes que possa impedir – ou antes de ver quem é meu algoz. Mantenho os braços juntos ao corpo, tensa. 

Hoje é o dia de abraçar a Hermione Granger?

— Excelente apresentação! McGonagall me garantiu que essa pesquisa pode te garantir uma vaga de mestrado e tanto no futuro. 

— Professor McLaggen, não sabia que o senhor estaria aqui. – faço questão de abraçar Ron pela cintura assim que ele me solta. 

— Por favor, me chame de você. Vim prestigiar alguns dos meus próprios orientandos e vi que McGonagall estaria aqui. Ah, olá, Richard? – ele se assusta, como se estivesse vendo Ron pela primeira vez. 

Fico surpresa, como ele poderia errar o nome de Ron? Na minha cabeça ele é uma espécie de celebridade, tanto é que nas últimas semanas fomos os assunto da universidade. Vez ou outra Astoria me envia prints dos instagram de fofoca de Hogwarts, de pessoas mandando cantadas para Ronald. É engraçado e ao mesmo tempo esquisito, sei lá. 

— É Ronald, na verdade. Olá, professor. – Ron se vira com certa urgência para mim. — Mione, acho que devemos ir. O pessoal está nos esperando. 

Nos despedimos e vamos embora. 

Ninguém está nos esperando, mas entendo as intenções de Ron. Sinceramente, eu diria qualquer coisa para sair de perto do professor. 

— Não sei porque, não vou com a cara desse tal de McLanche. – ele diz enquanto percorremos o corredor. 

— McLaggen, Ron. – me esforço para não rir. 

McLanche e infeliz, ainda por cima. Reparou na forma que ele te olha? É como se… como se te quisesse somente para ele. – ele avança a passos largos e quase não consigo acompanhá-lo. 

Isso me causa arrepios. 

— Acho que você está exagerando. – eu também não gosto da forma que ele me olha, mas não acho que seja isso. Ele é estranho com todo mundo. — Ele é bem mais velho que nós e é um professor. 

— E desde quando isso impede alguém de desejar o próximo? Ele poderia muito bem ser seu stalker

— Ron…

— Não. Sério, Mione. – paramos no meio do corredor e ele segura minha mão. — Se por acaso, algum dia, você precisar ficar sozinha  com esse cara, me avisa. O seguro morreu de velho, melhor se prevenir. 

— Por favor. Você está passando dos limites. – puxo meu braço de seu toque. — Ele não vai tentar nada. 

— Hermione…

— Eu não quero mais falar sobre isso. – algumas pessoas passamos e nos observam, obviamente atraídas pela pequena discussão. Não quero criar uma cena. — Vamos embora que ainda preciso terminar minha mala para a viagem. 

O que ele não sabe é que eu já precisei ficar várias vezes a sós com o professor McLaggen e, claramente, nada de mais aconteceu. Eu sou a primeira a desconfiar das pessoas, – especialmente de homens – mas nossa relação é estritamente aluno-professor, bastante profissional. Além do mais, ele não poderia ser o stalker, jamais dei meu número de telefone a ele. Nos comunicamos exclusivamente através de e-mail. 

Quando chegamos no meu prédio, me despeço de Ron com um aceno. Não espero sua resposta e entro. Já fiz minha mala desde ontem, quando voltamos do shopping, eu só queria vir para casa. 

No dia seguinte, terça, eu não tinha certeza se ele viria após nosso desentendimento, mas Ron nunca – até o momento – me deixou na mão. Novamente fico feliz por vê-lo sentado com nossos amigos, a não ser por Harry. Sei que eles não se interessam pelo assunto, – embora todos devessem estudar um pouco sobre tráfico humano – vieram para facilitar nossa locomoção para a viagem. Partiremos assim que eu terminar. 

Harry ficou encarregado de arrumar o carro e está resolvendo alguma pendência antes de irmos. 

Assim que termino, peço licença e me retiro. Nada de papo furado ou abraços dessa vez. Ron está segurando nossa bagagem. Não nos falamos direito desde ontem, mais por teimosia, eu acho, do que por estarmos chateados um com o outro. Quem não gosta de estar certo? 

É a primeira vez que brigamos, eu percebo e é tão estranho. 

Meus amigos me parabenizam – eles estavam prestando atenção, afinal – e vamos em direção à saída. 

— Harry está lá fora. – diz Ginny sem tirar os olhos do celular. 

No estacionamento esperamos encontrar Harry em alguma espécie de minivan, mas ele está com seu velho e inseparável jeep que ganhou dos pais ao completar 18 anos. 

Veja bem, não haveria problema nenhum se o jeep não tivesse apenas cinco lugares. Onde ele pretende levar a sexta pessoa? Calma, com certeza ele tem uma boa explicação para isso. 

— Desculpa a demora, galera. – Harry vai abrindo todas as portas do carro e porta-malas. — Como vocês estão vendo, não consegui alugar um carro maior, mas o importante é que temos um carro! 

— Isso significa que Astoria e Hermione vão ter que decidir quem vai no colo do namorado? – Ginny cai na gargalhada. 

É o que? Não, não… Sem falar nas 300 regras de trânsito que estaríamos infringindo. Obviamente ela vai na frente, de carona. 

— Tudo bem, Astoria, não me importo em ceder. – abro mão dessa pequena aventura. De jeito nenhum vou sentada no colo do Ron. — Aposto que você está doida para ir no colo de Draco. 

— Não, não. Vamos fazer isso do jeito certo e decidir na sorte. 

Tomando o pressuposto de que o universo não anda muito do meu lado nos últimos dias, não vejo como isso vai acabar bem para mim. 

— Ok, tanto faz. – dou de ombros. 

— Tá. Pedra, papel, tesoura! 

Eu não disse?

Eu lanço tesoura, Tory lança pedra. Claramente, a pedra quebra, destrói, aniquila e inutiliza a pobre da tesoura. 

A viagem dura longas 3 horas, mas, estranhamente, o colo de Ron não é o pior lugar do mundo em que eu já me sentei… de uma forma totalmente não sexual, pelo amor de Deus! 

Tento não pensar no que aconteceria caso sejamos parados por policiais – e quando penso, Harry que lide com as consequências. 

A viagem é animada. Cantamos todas as músicas de viagens existentes e todas as mais populares do momento. Eu poderia dizer que todos estão se divertindo, mas Ron está completamente monossilábico quando falamos com ele, como se sua mente estivesse em outro lugar, longe daqui. 

Se isso fosse uma conversa por mensagens, ele seria a pessoa que responde com S ou N

E quer saber de uma coisa? Se ele quer ficar emburrado durante a viagem, que fique longe de mim. Eu vim para aproveitar, tomar um sol e desligar a mente, temporariamente, das obrigações de casa.

Quando chegamos, – um pouco após o pôr do sol – eu fico paralisada com a beleza da casa de praia: ela é linda. 

É uma casa térrea com cerca branca. Há uma varanda espaçosa, assim como todos os cômodos. Devo ter vindo aqui 1 ou 2 vezes quando mais nova e não me lembro de nada. 

Mamãe e eu costumamos passar as férias em casa ou viajamos para visitar meus avós. 

Após dar uma espiada nos quartos, tenho medo de que as meninas mudem de ideia e queiram ficar com os namorados, – as camas são bem convidativas, não nego – mas elas mantêm a palavra. 

Harry encomenda pizzas para o jantar e dormimos cedo para planejar o que faremos nos próximos dias durante a manhã. 

Algum tempo atrás, eu só viajaria com os mínimos detalhes decididos, gosto de ter as coisas sob controle, mas decido ver o que o universo tem planejado para mim. E às vezes, só de vez em quando, é bom agir espontaneamente.

 


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Notas finais do capítulo

Eita, quanto tempo...



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