Finja Até Ser Verdade escrita por Samyy


Capítulo 6
Onde o Perigo Mora




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806202/chapter/6

Não posso negar, com Ron tudo fica mais fácil. É fácil estar ao seu lado porque não há maiores cobranças, porque não há expectativas entre nós, nenhum dos dois está esperando algo do outro. 

Mas aí que mora o perigo. Eu sou eu mesma com ele, não sinto a necessidade de mascarar que sou uma nerd sabe-tudo — embora eu odeie esse rótulo – que ama estudar e sente prazer nisso. E ele entende, me apoia e incentiva. Diz que não devo mudar para agradar ninguém, nem mesmo por nossos amigos, nem mesmo por nossos familiares. 

Ron é ótimo e o perigo é que talvez eu esteja gostando dele. Lá no meu íntimo eu sabia que jamais daria certo me aproximar do irmão engraçado e charmoso da minha amiga, de um dos melhores amigos de meu meio-irmão. Era meu subconsciente, muito bem preparado, desconfiado e alerta de que isso não funcionaria. 

Às vezes, eu bloqueio a informação de que é tudo uma farsa, nosso não namoro, e me permito pensar que estamos junto de verdade. 

É tão bom quanto a mentira, não mudaria nada. Aliás, acrescentaria mais alguns beijos como aquele do jogo à lista. 

Mas é tudo mentira, Hermione Granger. 

Por favor, não crie sentimentos baseados em uma mentira. Vocês não se merecem, têm estilos de vida completamente opostos. Jamais daria certo.

Assim que isso acabar, Ron vai voltar para a vida de pegação de antes. E você vai voltar para a vida de privações de sempre.

O mundo é mais seguro assim. Tudo nos eixos. 

 

R: tá fazendo o q?

H: é sexta à noite, claro q estou de pijama, em casa, estudando.

R: quer ir a uma festa cmg?

 

Hmm… Fazemos muitas coisas juntos ultimamente, ele é uma ótima companhia, mas algo me diz que eu deva diminuir a frequência com a qual nos vemos, para que meu coração não sofra tanto quando tudo acabar – principalmente se eu precisar vê-lo desfilando uma garota nova a cada semana pelos corredores da universidade.

Mas amanhã. A partir de amanhã. 

 

H: q festa?

R: surpresa

H: tá bom.

R: passo aí em meia hora.

H: estarei pronta. Espero não me arrepender.

R: kkkk vamos de metrô.

 

Nunca foi tão fácil me convencer a sair.

Pulo da cama para me arrumar. Além da dica vamos de metrô — que significa, evite saias e vestidos – não sei para onde vamos. Como está frio, visto calça jeans, uma camiseta preta e tênis branco. Enfio celular, documentos e dinheiro nos bolsos ocultos que costurei. Temos que dar nossos pulos. 

Pego um moletom para não congelar lá fora. 

Ron é sempre pontual, contudo, se ele diz que passará em meia hora, isso significa que ele chegará uns 10 minutos antes e não dirá nada, esperando dar o horário combinado.

Ele beija minha bochecha, sinto meu rosto se aquecer. 

Corpo, para com isso! Tá vendo, não sou eu, é ela com essas reações idiotas toda vez que ele me toca. ARGH!

Andamos até o metrô e só após pegar a linha que passa pela universidade ele revela: vamos a uma festa de fraternidade. 

Minha resposta positiva me surpreende. Eu nunca fui a uma festa de fraternidade, aliás, eu nunca fui a festa nenhuma da universidade! Não que eu nunca tenha tido vontade, só nunca quis me colocar nesse tipo de situação. A gente ouve cada história. Mas estou com Ron, ele deve conhecer as pessoas e todos vão me respeitar, eu espero. 

Quase uma hora depois, adentramos o covil das cobras, literalmente. 

A festa é dos Slytherin, uma de nossas 4 principais fraternidades, cujo símbolo é uma cobra. Slytherin, Gryffindor, Ravenclaw e Hufflepuff. As duas primeiras são as mais cobiçadas.

A música é alta, há pegação para todo lado e muita gente envolvida. 

— Você que beber algo? – Ron praticamente grita em meu ouvido. 

— Uma cerveja. – digo após pensar um pouco. Não ia beber nada, mas em Roma faça como os romanos. 

Enquanto espero, observo o ambiente. Todas as tribos estão juntas e misturadas, todos unidos em um único propósito: ficar doidões. 

Ron volta com uma lata de cerveja lacrada. Pontos positivos. 

Dançamos, decido que detesto cerveja, Ron diz que precisa ficar sóbrio para me levar em segurança e acaba me apresenta a uma mistura de álcool, suco e energético. Certeza que isso mata.

Conversamos com um grupo de seus amigos, encontramos outros atletas e eu me enfio em um jogo de cartas. 

Quando ganho pela segunda vez seguida alguém grita: 

— Ela realmente traz sorte! – se referindo ao jogo da semana passada. 

Ron fica o tempo todo ao meu lado, mas se levanta rapidamente para falar com alguns conhecidos. Nesse meio tempo, uma moça se aproxima dele e tenta chamar sua atenção. 

Ela o cerca e o toca sobre o peito. Ele tenta se desvencilhar. Nossos olhares se cruzam e eu não sei descrever o que sinto. 

Me levanto do sofá quando minha cabeça começa a dar um nó, deixando meu jogo todo para trás e vou lá para fora tomar um ar fresco. 

Meu coração dispara e angústia me invade. Que droga é essa? Seria possível que alguém tenha drogado minha bebida? Meia latinha de cerveja e alguns goles de Deus sabe lá o que, os segurei firmemente pelo bocal a noite toda e ainda assim me sinto quente, zonza e um tanto perdida.

A imagem da moça loira se esfregando em Ron vem a minha mente. O que você pensou, Hermione? Só porque vocês estão não namorando, não significa que ele seja invisível para o resto do mundo. 

As garotas ainda o veem, ainda o desejam. 

— Tá tudo bem? – me assusto ao ouvir sua voz. Achei que ainda estaria lá dentro aproveitando a atenção. 

— Uhum. – é tudo o que consigo dizer, enquanto faço o possível para me acalmar. 

Deito no chão e encaro o céu, Ron me imita. Não há estrelas neste céu, assim como nunca houve esperanças para nós dois. Talvez devêssemos terminar tudo de uma vez, o plano não tem funcionado muito bem mesmo, pelo menos não para mim… 

— Você tem saído com outras pessoas? – preciso saber. 

— O quê?  - ele se vira para mim. — Claro que não, estamos namorando. Por que você acha isso? 

— Nada não, é só… – desato a falar. — Você tem essa fama de pegador, então eu imagino que às vezes você deva sentir falta de… um contato mais íntimo. 

Ron ri. Ele RI de mim. Eu nunca deveria ter aberto a boca. 

— Você deveria beber mais vezes, adorei essa sua versão desbocada. – prometo a mim mesma que não direi mais nada pelo resto da noite e nunca mais beberei. — E não, não sinto falta de um contato mais íntimo. Eu não sou um animal, não preciso de sexo vinte e quatro horas por dia. 

— Certo, claro. Eu só pensei que – ela quebra a promessa dela. — você pode ter literalmente qualquer garota que quiser, Ron. Só um cego diria que você não é lindo, mas ainda assim está amarrado nesse acordo comigo. 

Ficamos um bom tempo em silêncio. Pela minha visão periférica vejo Ron abrir e fechar a boca várias vezes. Ele morde o lábio inferior como se freasse o que realmente quer dizer. Por fim, fala: 

— Vamos, Mione. Acho que você já bebeu demais. – ele me ajuda a levantar.

— Mione? – eu bebi, mas é ele quem está trocando os nomes? 

— Sim, Mione. É o apelido carinhoso pelo qual decidi te chamar. 

Mione? Taí, até que eu gostei. 

Um apelido original, só nosso, que trazia história: da primeira festa de faculdade que eu fora, e onde, por acaso, me diverti bastante. 

Durmo no carro de aplicativo, no caminho de volta. 

No dia seguinte, acordo em minha cama sem lembrar como fui parar ali.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Finja Até Ser Verdade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.