Finja Até Ser Verdade escrita por Samyy


Capítulo 5
Beijinho pra Sarar


Notas iniciais do capítulo

Continuação do capítulo anterior



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Perdemos o terceiro set por 27 a 29, o que significa que o jogo se estenderá por mais algum tempo, até uma equipe conquistar 3 vitórias. 

É o intervalo, os meninos bebem água, escutam as orientações da treinadora e descansam. 

Aceno para Ron, sem esperanças de que ele me veja daqui de cima, mas ele acena de volta com um largo sorriso. Sorrio de volta. 

O jogo recomeça e a tensão toma conta da quadra toda. A cada saque eu me seguro na cadeira mais e mais, pronta para invadir o jogo e marcar alguns pontos para nossa equipe eu mesma. 

Acabo de perceber a razão de não assistir a jogos e competições em geral: sou competitiva. Sou competitiva e gosto de ter controle sobre tudo o que está acontecendo. Se não for pra eu ganhar, nem quero. 

Engraçado eu namorar justamente o astro do time da universidade, logo um vencedor. Sinto meu peito estufar de orgulho. 

Vai que é tua, Ron! 

A equipe adversária vem com tudo nesse set, cheios de sangue nos olhos. Esta partida não é decisiva, mas ainda sim muito importante para decidir o rumo do campeonato. 

Perdemos mais uma vez. O que me consola é a garra que não nos permite ser massacrados. Perdemos de 31 a 33. 

Agora é o set decisivo, este costuma ter duração menor pois o time vencedor precisa conseguir apenas 15 pontos. 

Se já estávamos tensos, agora estamos todos apreensivos. 

Cruzo os dedos tentando transmitir sorte a Ron. 

Os rapazes estão mais agressivos ainda, a bola não tem descanso enquanto sobrevoa a quadra. Desta vez, a frequência com a qual os pontos são marcados é mais esparsa e quase inexistente. Eles não estão para brincadeira. 

E então o inimaginável acontece: ao tentar defender seu lado Ron se choca com o jogador de trás e vai ao chão. 

Eu paro de respirar, a torcida se assusta, pois ele não se mexe. 

— Vai até lá, Hermione! – Ginny praticamente grita e antes que eu entenda o que está acontecendo estou descendo as escadas de dois em dois. 

Lá embaixo algumas mãos me ajudam a pular a cancela que separa a quadra das arquibancadas. 

Entre o período em que Ron caiu e eu desci, um médico de prontidão o examinou e ele já está bem. Foi só um susto. 

De repente, me sinto estúpida por ter ido até lá. Claro que temos médicos e qualquer equipe médica de prontidão, o que eu poderia fazer? Dar um beijinho pra sarar? 

Bom, já estou aqui embaixo, vou fazer o papel de namorada preocupada, eles que lutem.

— Ron, você está bem? – me enfio entre os homens ao seu redor e me abaixo ao seu lado. 

— Estou vivo. – ele diz surpreso por me ver ali. — Foi só um esbarrão. 

— Ginny me mandou ver se está tudo bem. – dou de ombros. 

Ron tenta se levantar e eu o ajudo. O médico faz as últimas verificações e o libera para continuar jogando – e eu acho que se ele não pudesse jogar mais, cabeças rolariam bem ali. 

— Eu vou voltar para o meu lugar. – faço menção de me virar, ele segura minha mão e diz: 

— Obrigado por vir verificar se estou bem. 

— Não foi nada. – dou de ombros mais uma vez.

Ron me solta, sua mão está pegando fogo e marca minha pele. Me viro mais uma vez e sou interrompida novamente, desta vez por um grito bem específico: 

— DÁ UM BEIJINHO DE BOA SORTE NELE! – Ginevra grita e algumas muitas pessoas gritam em apoio. 

— BEIJA! BEIJA! BEIJA! 

O QUÊ? 

Que tipo de fetiche doido é esse em ver duas pessoas se beijando? 

Cheguei a acreditar que esse dia jamais chegaria. Não tivemos muitas situações constrangedoras e ninguém nunca pediu para nos beijarmos. 

Até hoje. 

Me viro em direção a Ron que já está me esperando, seu olhar é uma incógnita para mim neste momento.

É… não há saída para o que está por vir. 

Ando devagar, cada passo parece pesar uma tonelada e eu custo a chegar perto o suficiente dele. 

Minha intenção era dar um selinho rápido, mas assim que nossos lábios se tocam uma força me impele a abrir a boca. Só um pouquinho. 

Qual é, já estou na chuva, deixa eu me molhar um pouco, né? 

E parece até que ele teve o mesmo pensamento, pois nosso selinho acaba se tornando um beijo de verdade. 

Não vou negar, eu sonhei com isto várias vezes e nada se compara com a real sensação de ter a boca de Ron contra a minha. 

Por alguns segundos minhas mãos criam vida própria, elas sobem pelo tórax de Ron e se encontram em sua nuca, buscando um apoio que não consigo ter. Suas mãos, quentes e macias, descem até minha cintura, provocando um choque que eu jamais senti e embaralha minha mente. 

Eu beijei alguns rapazes durante minha vida e nada nunca foi tão… sensual é a palavra certa quanto a Ron. Nada nunca provocara essa sensação agonizante entre minhas pernas, nada nunca me deixara assim: mole igual gelatina.

Os gritos, palmas e assobios da multidão me lembram de que não estamos sozinhos. 

Ok, vocês já tiveram seu show do intervalo por hoje. 

Que mico, que vergonha! 

E por outro lado: Deus me defenderay. Nunca nesse país, na vida, na Terra eu quis tanto um homem como eu quis Ron naqueles segundos que duraram nosso beijo. 

Corro como quem corre da cruz até meu lugarzinho na arquibancada. 

Vou matar Ginny! 

Não acredito que nosso primeiro beijo foi na frente de toda a universidade. Eu simplesmente odeio ser o centro das atenções! 

— Amiga, pelo amor de Deus, era pra dar só um beijinho. – Ginny ri. Pelo menos alguém está se divertindo às minhas custas. 

— Calada, Ginevra. – arrisco dizer, minha voz quase um fio. 

— Ron vai ter sorte pelo campeonato inteiro. – Draco diz da outra ponta. 

Ron me observa lá de cima, como quem pergunta se está tudo bem. 

Tá tudo bem, eu respondo. 

O jogo recomeça. Ron parece um pouco desconcertado, balança a cabeça algumas vezes como se espantasse algum pensamento, mas logo recupera o foco. 

Felizmente, para o bem do povo e felicidade geral da nação, digo ao povo que vencemos! 

15 a 8. 

Todos vão à loucura e até eu dou alguns pulos de alegria. Nós cinco nos abraçamos em comemoração. 

Após o jogo, combinamos de nos encontrarmos na lanchonete de sempre, meus amigos vão na frente, para assegurar uma mesa, e eu espero por Ron. 

Ele não demora muito, logo aparece de banho tomado, cheiroso e a mochila com o uniforme a tiracolo. 

— Parabéns pelo jogo. Você joga muito bem. Me desculpe pelo beijo. – digo assim que ele fica perto o suficiente. 

— Então nós dois devemos desculpas, eu não devia ter te beijado daquele jeito. – ele coça a nuca. 

— Tudo bem. Podemos concordar que foi um plano maligno de Ginny para me envergonhar na frente de todos. - pisco um olho. 

Rimos porque sabemos que poderia ser mesmo. É bom saber que não ficamos sem jeito perto um do outro após o beijo. 

— Meu casaco ficou bem em você. – ele se refere ao casaco que me emprestou para que eu fosse ao jogo. É o casaco do time, com as cores da universidade. 

— É bem quentinho também. – o casaco é comprido e grande, provavelmente caberiam duas de mim aqui. 

Vamos andando até o local e encontramos nossos amigos na Borgin Burger’s, meio que nosso ponto de encontro. O lugar é ótimo, ótima comida, ótima música, ótimos funcionários, principalmente se estiver com uma ótima companhia. 

Geralmente esses 5 patetas dão para o gasto, mas faço questão de me sentar o mais longe possível de Ginny. 

Todos parabenizam Ron pela partida e ele faz parecer que não é nada, como pode? Nenhum de nós aguentaria um set sequer, prova é estarmos pedindo 6 combos do hambúrguer mais completo e uma garrafa do champanhe mais barato. 

— Por minha conta. - anuncia Harry. 

Conversamos por um bom tempo, as mesas ao nosso redor só vão se enchendo. 

— Vocês têm planos para o próximo mês? – Ginny indaga horas depois. 

— Você quer dizer, além de estudar? – como se eu fizesse algo além de estudar. 

— É consenso geral que Ginny não está falando sobre estudos. – declara Astoria. 

— Claro que não. Até parece que não me conhecem. – ela revira os olhos ironicamente. 

Sinto o cheiro de algo no ar. Hoje Ginny está ligada no 220. 

— Mês que vem é a semana universitária, seria legal se aproveitássemos a semana para dar uma escapadinha. 

Deixe-me explicar: semana universitária é uma semana em que não temos as aulas normais de nossa grade, mas devemos – seria interessante e altamente recomendável – participar das atividades promovidas pelos departamentos de todos os cursos. Há oficinas, palestras, apresentações de projetos e mais centenas de outras atividades. 

A maioria das pessoas não participa, aproveitam os dias para pôr a matéria em dia ou viajar, como Ginny sugere. 

Não há dúvidas de que eu faço parte do primeiro grupo. 

— Escapada pra onde? – Draco indaga.

— Tem a casa de praia dos meus pais. – Harry se lembra rapidamente. — Lá é grande e espaçoso, cabe todo mundo. 

— Adorei a ideia. Vai ser legal porque agora somos todos casais, não vai ficar estranho pra ninguém! – Tori exclama. 

Ron e eu nos entreolhamos sob os olhares de nossos amigos. Somos os únicos que ainda não disseram nada. 

Nesse meio tempo que passamos juntos, adquirimos a habilidade da comunicação não-verbal, ou seja, Ron não fala, mas eu escuto. Temos muitos segredos entre nós, precisávamos conseguir nos comunicar sem que mais ninguém entendesse: 

O que fazemos?— Ron arregala os olhos. 

Eu não sei, ainda vamos terminar na semana que vem, né?— esse era o acordo, após o término diríamos que está tudo bem, que o relacionamento foi um delírio e que funcionamos melhor como amigos. 

Acho que devemos ir, vai ser chato estragar o passeio deles. Podemos continuar por mais algumas semanas.— e com algumas semanas ele quer dizer quase mais um mês, pois a semana universitária acontecerá nas últimas semanas de outubro. 

É, não quero estragar o rolê de ninguém.— concordo, Ron meio que tem razão. — Eles estão tão entusiasmados. Sem falar que não seria ruim tirar umas mini férias.— não seria de todo ruim ter alguns dias longe da loucura da universidade. 

Sim, sim. Então, vamos?— ele pergunta. 

Vamos, né. Podemos mentir por mais algumas semanas.— podemos, né? 

Concordamos com nossos amigos, fingindo entusiasmos exageradamente. 

Escondo um sorriso por trás da taça de champanhe: não sei quanto a Ron, mas eu estou feliz por ser sua não namorada por mais algum tempo. 

 


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