Finja Até Ser Verdade escrita por Samyy


Capítulo 3
Não Namorado




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Nunca pensei que seria tão fácil sustentar esse não namoro— não namoro é como decido apelidar nosso não relacionamento

Apesar da última mensagem do stalker, tudo tem corrido perfeitamente bem. Ron não tem mencionado Lavender, eu não falei sobre a mensagem, mas imagino que nosso arranjo esteja funcionando para, pelo menos, um de nós. 

Ron tem sido um ótimo não namorado. Eu sei disso porque temos passado bastante tempo juntos, bem mais que o normal. Trocamos mensagens, – percebemos que temos até muito em comum – almoçamos juntos vários dias por semana, andamos de mãos dadas – minha parte preferida, para ser honesta – e ele continua me acompanhando a todas as aulas possíveis. De vez em quando até em casa. Às vezes ele precisa atravessar o campus correndo para não se atrasar. Eu já disse, insisti, que não era preciso, mas o cara é teimoso. 

Ok, a quem eu quero enganar? É muito agradável ter alguém ao meu lado. Em todos esses três anos nunca me senti tão segura. Antes, a universidade era meio solitária, o curso de REL é um tanto isolado dos outros, o que nunca me possibilitou pegar matérias optativas com meus amigos.

As amizades que fiz no curso são de semestres mais avançados, as do meu próprio semestre só estão interessadas nas minhas anotações. 

Agora, com Ron como meu não namorado/guarda-costas, o caminho ficou até mais alegre. 

A única coisa que incomoda são os olhares cobiçosos das mulheres – e até de alguns homens. Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades, algumas pessoas sábias disseram durante a história da humanidade. Não namorar Ron me trouxe certa visibilidade. Eu era como uma líder de torcida namorando o astro bonitão do time de futebol americano, sem a parte da líder de torcida, claro. Eu até ganhei alguns seguidores a mais no Instagram, – finalmente atingi 500 seguidores – todos ávidos para acompanhar nosso não romance.

Por um lado, era aterrorizante e eu vivia me perguntando onde diacho me enfiara? Mas logo em seguida penso foda-se. Nosso não namoro acabaria em alguns dias, combinamos fingir durante apenas 1 mês, e tudo voltaria a ser como antes.

Pego meu celular na mesa de cabeceira para checar as horas e sou bombardeada de mensagens:

 

Astoria: FELIZ ANIVERSÁRIO, MI!!!!

 

Harry: PARABÉEEEEENS

 

Ginny: Eles crescem tão rápido

 

Caramba, é meu aniversário!

Vinte anos nesta Terra, não é para poucos. Tiro alguns minutos para agradecer a o que quer que rege a vida humana por mais 365 dias de existência e me arrumo para mais um desses dias.

19 de setembro. Gosto de comemorar esta data, não é um dia ruim, não fico melancólica. É mais uma oportunidade para viver. Então, eu vivo à minha maneira 

Aproveito a viagem de ida no metrô para responder aos meus amigos. Ginny e Astoria querem saber se planejo algo para mais tarde. Elas já sabem a resposta: não curto festas, detesto ser o centro das atenções.

O dia é agradável na medida do possível. No horário do almoço recebo uma chamada de vídeo da senhora Granger, também conhecida como mamãe. Sinto sua falta, mas seguro as lágrimas.

Não nos falamos com a frequência que eu gostaria, mas como poderíamos? Amélia Granger está há 7 meses em Moçambique ajudando algumas comunidades pobres, auxiliando na construção de casas e tentando levar um pouco de qualidade de vida a essas zonas. Eu estaria lá também se não fosse pela universidade. Sua educação em primeiro lugar, ela disse.

Almoço com Astoria em minha lanchonete preferida do campus.

Sigo, sozinha, para a próxima aula.

Volto, sozinha, para casa.

            A esta altura do campeonato você deve estar se perguntando – e se não está, deveria, pois eu estou: onde diabos está Ron?

Bom, ora ora, eu não sei. Ok, não estamos juntos de verdade, mas somos amigos, achei que receberia no mínimo um parabéns, cachorra! Sem a parte do cachorra, claro. Principalmente porque tenho certeza de ter mencionado meu aniversário duas ou três vezes nas últimas semanas. 

Não de uma maneira boa e feliz, mas até meu stalker se lembrou de mim. Recebi um feliz aniversário, princesa— urgh – durante a manhã. 

Me odeio pelo o que estou prestes a fazer e faço mesmo assim. Não estou sendo uma não namorada ciumenta e exigente, apenas verificando se meu amigo, que não deu sinal de vida o dia todo, ainda respira:

 

H: vc está vivo?

 

A mensagem fica azul, lida, assim que é enviada. Ron está online. 

 

R: vc já está em casa?

H: sim

 

Ele fica offline. Já fiz minha boa ação do dia como amiga preocupada. 

Ninguém é de ferro, por isso decido tirar o resto do dia para mim. Tomo um banho quente e relaxante, esfolio a pele e passo meus cremes preferidos. Faço pipoca e escolho meu filme favorito da vida para assistir: Homem-Aranha no Aranhaverso. Só tenho tempo de cantar os primeiros êh, êh, oh, oh, oh, oh de abertura da segunda cena quando a campainha toca e sou obrigada a pausar o filme.

Quem será às 19:14 da noite?

— Alô?

— Oi, é o Ron!

— Ron? O que você tá fazendo aqui?

— Pode abrir pra eu subir?

Nem questiono muito, libero sua entrada no prédio. O que ele está fazendo aqui? Corro até o espelho da sala para verificar minha aparência: cabelo no lugar, cachos alinhados, nenhuma baba ou pedaço de comida nos dentes.

Toc, toc.

Abro a porta e me deparo com um Ron muito bem vestido. Não que ele se vista mal, apenas não está usando roupas de faculdade.

— Feliz aniversário! – ele se inclina e beija a minha bochecha, tempo o suficiente para que eu sinta o aroma delicioso do perfume que está usando.

— O que está fazendo aqui? – torno a perguntar e só então reparo nele de verdade. 

O cabelo está penteado com gel, ele usa uma camisa branca dobrada até o cotovelo e abotoada até o início do peito, – sem pelos, eu noto. Será que ele se depila? – e calça jeans escura.

Em uma das mãos ele traz um buquê de girassóis e na outra uma sacola de presentes.

— Surpresa. É seu aniversário, temos que sair, comemorar e postar no Instagram – ele vai entrando em meu apartamento sem ser convidado. — Apesar da sua alma de velha, é isso o que os jovens fazem hoje em dia.

— Mas por quê? – eu estava confortável em meu pijama azul, esparramada no sofá, prestes a assistir a uma das maiores obras cinematográficas existentes, mas Ron queria me tirar de casa para fazer não sei o quê?

— Você quer que o plano dê ou não dê certo? É isso o que eu faria com minha namorada: a mimaria um pouco em seu aniversário.

Para mim, não fazia tanto sentido, mas aceito o não convite, relutante.

— Ah, são para você. Feliz aniversário, Hermione!

Sorrio um pouco. Além da antiguidade que mamãe me enviara pelo Fedex e do vale-compras de James, Lily e Harry, eu não recebi nenhum outro presente. Sorri porque Ron prestara atenção em nossas conversas: eu comentei uma vez que girassóis são as minhas flores preferidas e ele se lembrara.

— Tá bom. Obrigada. – dou o braço a torcer e o abraço rapidamente. — E não me chame de velha outra vez!

Levo uns 25 minutos para me arrumar. Visto um vestido vermelho de mangas curtas que vai até o joelho e um coturno preto. Tento deixar meus cachos o mais cheio possível e aplico maquiagem leve, apenas para não transparecer que acordei às 6 da manhã.

Coloquei os girassóis na cozinha e deixo o presente no quarto. 

Ron se levanta do sofá assim que eu volto para a sala, me olha de cima a baixo e diz:

— Não sei porque às vezes você se inferioriza a outras garotas, você é uma das mulheres mais bonitas que eu conheço.

— Você não deve conhecer muitas mulheres, né? – ele ri e balança a cabeça, como se não acreditasse no que eu acabei de dizer. — Chega de graça, Ronald. Vamos logo para esse não encontro!

Ele pergunta para onde quero ir e respondo sem pestanejar: qualquer lugar onde sirvam comida japonesa. 

A noite é super agradável. Ron quer saber sobre meu stalker, me obrigando a lhe mostrar as recentes mensagens. 

— Você não faz ideia de quem possa ser? – ele devolve meu celular.

— Bom, basicamente pode ser qualquer um na universidade. – digo em meio a mordidas no meu koni de salmão. — Os alunos de Inteco têm meu número, por conta do grupo que criamos para passar as informações da matéria 

— Meu veredicto, como futuro jornalista investigativo, é que esse cara tem, no mínimo, 50 anos. – Ron diz tudo seriamente. — Essas mensagens não foram enviadas por alguém da nossa idade. Quem fala minha princesa hoje em dia? Pais.

— Isso me faz me sentir em melhor. — ironizo em meio a risada. 

Já era ruim o suficiente ter um stalker da nossa idade, agora ter um stalker que poderia ser meu pai é mil vezes pior.

Não vejo quando Ron faz o pedido, mas em algum momento o garçom que nos atende traz um pedaço de torta com uma vela em cima. Os funcionários, Ron e alguns clientes cantam parabéns para mim enquanto quero que o chão se abra e me engula.

Tiramos algumas fotos para postar nas redes sociais, momentos em que sou agraciada com o cheiro de Ron – como pode um homem cheiroso desses? – e, sob meus protestos, Ron paga a conta do restaurante. Eu propus dividir, ele mal quis me ouvir.

Ele me deixa em casa, da mesma forma que me encontrou:

— Boa noite, Hermione.

— Boa noite, Ron. – o abraço. — Nos vemos amanhã?

— Claro!

— Obrigada pela noite.

Só mais tarde, após trocar de roupa e enfim assistir ao filme, tenho coragem de abrir seu presente. Ron, definitivamente, presta atenção às coisas que eu digo, como um bom amigo faria: é uma sacola de uma loja de joias que mal me atrevo dizer o nome de tão cara.

Um dia, na fila da cafeteria do campus, comentei com Ron que ao nascer, minha mãe me presenteou com uma pulseira escrito meu nome de um lado e minha data de nascimento do outro. Eu cresci, ficou pequena, não pude mais usar, mas a delicadeza do objeto ficou para sempre. Fim da história.

Dentro da sacola há uma caixa quadrada, na caixa uma pulseira dourada com alguns pingentes fofos e uma placa escrita meu nome de um lado e a data de nascimento do outro. Uma pulseira que com certeza não ficará pequena com o tempo, poderei usá-la para sempre. 

 

H: obrigada, obrigada, obrigada pelo presente e por tudo!

 

Ron era um ótimo não namorado.


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Notas finais do capítulo

Oie, gente!
Passando mais uma vez pra agradecer o apoio de vocês, é muuuuuuuito importante para mim, e me desculpar por não termos imagem neste capítulo, fica para a próxima.
E aí, o que estão achando?



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