Brigas de um Casamento escrita por Capuccino


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá! Finalmente terminei de corrigir esse capítulo (algo que foi muito trabalhoso) e estou muito contente de conseguir postá-lo. O nyah insiste em dizer que há 6 pessoas acompanhando a história e apesar de aparecer para mim apenas dois perfis, espero ser verdade.



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O garoto ruivo, ou melhor, o homem ruivo – visto que agora ele se sentiu, pela primeira vez em sua vida, um homem de verdade – tardou para pegar no sono depois do acontecimento. Seus olhos ficaram o resto da noite inteira fixados na pintura azul que descascava na parede, por conta da umidade da cidade, mas sua cabeça estava em outro lugar.

Parecia que sua mente decidira, naquele momento mesmo, repassar tudo que havia acontecido ao longo do dia inteiro, desde a preparação do casamento até as conversas que os levaram a fazer algo tão íntimo.

Ele estava realizado? Ele estava aflito? Nem mesmo ele podia dizer, sua cabeça estava uma bagunça completa. Tudo que ele conseguia perceber era a respiração leve de Hermione ao seu lado.

Tão próxima, mas também tão distante.

Apenas uma coisa era certa: Seu coração batucava fervorosamente  como um tambor, e sua alma se sentia estranhamente revigorada.

[...]

De repente, em um sobressalto, Ron abriu os olhos com o canto de galo da fazenda vizinha. Havia pego no sono em determinado momento da noite, em meio ao turbilhão de pensamentos, e nem havia percebido.

Em poucos segundos, as memórias da noite passada invadiram sua mente, o calor de Hermione ainda fresco em sua pele...  Ron ainda tentava digerir tudo que aconteceu no dia anterior, e ficou assustado ao perceber que ainda estava vestindo sua camisa desabotoada do casamento, e suas calças estavam abaixadas até o joelho, deixando-o exponto.

Uma vermelhidão tomou conta do seu rosto, ainda mais ao se dar conta que a garota, agora mulher - sua mulher - estava sentada graciosamente na cama, lendo sob a iluminação de um raio de sol, totalmente absorta nas páginas em suas mãos. A presença de Ron lhe parecia tão desinteressante que ela não fez nem questão de mencionar seu olhar a ele por míseros segundos.

Porém, a figura dela fez seus olhos arregalarem e sua respiração ficar presa em sua garganta. A camisola lilás de cetim deslizava graciosamente pelas suas curvas tão acentuadas, a forma como uma das alças caia sobre seu ombro era digna de uma gravura. Seu cabelo cacheado estava selvagem e a maneira que ela centralizava toda a sua atenção em torno do seu livro fez Ron querer observá-la o dia todo, e talvez por isso ele manteve-se o mais estático possível – não queria estragar o momento, ou atrapalhá-la. Só queria registrar em sua memória aquela cena diante de si mesmo.

''Você está… lendo?'' Ron timidamente perguntou, um pouco rouco. A curiosidade o venceu, e ele pensou que uma pergunta dessas não a incomodaria - apesar de ter se arrependido por ter quebrado o silêncio com uma pergunta tão óbvia e estúpida.

Ele queria conhecer a mulher com quem dividia a cama, a mulher com quem compartilhou o seu corpo naquele momento tão íntimo da noite anterior.

Ela não tirou os olhos do livro, mas respondeu:

''Sim, eu costumo ler após acordar… Acho que é uma boa maneira de começar o dia.''

Sem pensar muito, ele respondeu, de forma natural:

''Sério? Mas… você não precisa fazer isso agora está casada.''

Ele percebeu que cometera um grande deslize ao receber um olhar furioso da esposa, semelhante ao olhar que ela lhe dera no casamento. - um olhar intenso, onde certamente haviam chamas dançando de raiva.

“Ora, e por quê não? Não posso ler por prazer? Ler é uma atividade apenas masculina?'' Ela perguntou, com a têmpora pulsando de raiva.

''Não foi isso que eu quis dizer!" Ele se apressou a explicar. ''É só que eu nunca conheci uma mulher antes que, de fato, lesse por prazer. A minha irmã pelo menos vivia reclamando sobre os livros maçantes de boas maneiras que ela era obrigada a ler.'' Ron gaguejava, esfregando sua nuca nervosamente.

''Sabe, não existem livros voltados apenas a boas maneiras e maridos.'' Ela revirou os olhos, tentando retomar seu estado de serenidade. ''Mas acho que é compreensivo, quer dizer, a maioria dos livros que oferecem para nós mulheres é baseado em como ser uma boa esposa ou receitas para agradar seu marido, então não me surpreende que ela odeie ler.''

O ruivo ficou surpreso como a mulher a sua frente se expressava bem e como a sua opinião era bem formada e articulada, diferente de tudo que ele já havia visto.

''Mas então, o que você está lendo?'' Ron perguntou, tentando agradá-la e, instintivamente, inclinando seu corpo para perto dela.

''Bem, agora eu estou lendo esse.'' Ela sorriu, fechando o livro e mostrando a capa com o título estampado.

''Parece interessante… Não sabia que você havia trazido livros para cá.'' Ele murmurou, ainda fitando-a.

''Eu trouxe apenas esse, que consegui colocar na minha mala quando minha mãe estava distraída.'' Ron riu, admirado com a audácia e astúcia da mulher ao seu lado.

Hermione podia não demonstrar muito bem, mas havia gostado da interação sutil entre eles naquela amanhã. Ela não sabia muito bem como agir após o que acontecera na noite passada, e estava aliviada por eles terem mutuamente concordado, ainda que em silêncio, em agir como se nada tivesse de fato acontecido.

A morena podia não conhecer a fundo o rapaz que estava ao seu lado, mas havia ficado muito satisfeita pela maneira que ele parecia escutar cada palavra que ela pronunciava - coisa que jamais alguém, além de Fleur, fizera antes.

Porém, todo sentimento bom que tinha potencial para crescer dentro dela foi esmagado quando ele, sem intenção alguma de ofendê-la, disse:

''Ok, veja… Eu vou agora preparar um banho para mim.'' Sua voz era incerta e um pouco tímida. ''Acho que há ingredientes o suficiente na dispensa para preparar o café.''

Hermione o encarou, interrogativa. Ela achou que após ela ter feito aquela crítica direta aos livros e à sociedade patriarcal, ficasse claro que ela não era aquele tipo de mulher. Ah, como fora tola em acreditar que ele a compreenderia!

''Você não está esperando que eu cozinhe, está?''

Ron a observou, mais confuso ainda.

''Bem, quero dizer… É uma das suas funções como mulher, certo?''

Resumir a figura feminina à tarefas domésticas e ao casamento era uma das coisas que mais podia irritar Hermione.

''E quem é você para definir 'minhas funções como mulher'?'' Ela disse, agressiva.

''Seu marido, oras!'' Ele respondeu, vermelho como um tomate maduro.

''Oras, se você é homem o suficiente, então prepare a sua própria comida.'' A jovem falou, voltando a sua leitura como quem ignorasse a fúria do jovem ao seu lado.

Ele saiu com passos pesados do quarto para ir para o seu banho matinal. A manhã havia começado tão bem, como foi que eles já estavam brigando? Ron queria entender qual era o problema daquilo, afinal, sua mãe sempre preparou o café de seu pai sem nenhuma reclamação ou cara amarrada, então qual era o problema?

Quando ele acreditou que as coisas podiam dar certo, que eles podiam, apesar das diferenças, fazer aquilo funcionar... Mais uma vez estavam desafiando um ao outro.

Não sabia quanto tempo sobreviveriam naquele matrimônio.

 

[...]

O rapaz desceu as escadas com pressa, esperando encontrar o café pronto na mesa da sala. Seu estômago se contraia de fome, e ele mal conseguia lembrar a última refeição que realizou.

Mesmo após a discussão que tiveram anteriormente, ele ainda ansiava que Hermione recuperasse seu juízo e fizesse seu dever como mulher. Afinal, como ela queria que aquilo funcionasse agindo daquela forma?

Porém, para o seu desagrado, tudo que ele encontrou foi a mesa vazia e sua mulher deitada de maneira desleixada no sofá marrom da sala. Ela parecia sempre conseguir surpreendê-lo, de uma maneira ou de outra.

Ele franziu o nariz, irritado.

''Então, você não fez café?''

''Não, mas há ingredientes na dispensa.'' Ela disse, com acidez em sua voz. A verdade é que ela também estava impaciente de fome, e ela podia muito bem ter feito a gentileza de ter cozinhado para ele naquela manhã tão ensolarada se não fossem duas questões:

a. O fato dele ter agido como se fosse uma obrigação dela a ser cumprida a incomodou e, caso ela cedesse, pareceria que ele estava certo e que ela, de fato, se limitava a ser apenas a mulher que a sociedade espera que ela seja.

E b. Ela não sabia cozinhar absolutamente nada.

''Talvez você devesse largar esse livro estúpido e começar a ler livros relacionados à casamento e cozinha.'' Ele resmungou.

Hermione ergueu os olhos, espantada com sua fala pois, mais cedo na cama, ela acreditou genuinamente que ele havia entendido o seu ponto sobre as temáticas de leitura que são acessíveis às mulheres.

''Com licença? Talvez não te contaram, Ronald Weasley.’’ Ela disse, fazendo questão de chamá-lo pelo nome que, como ela muito bem sabia, ele odiava. ''Mas se você queria uma mulher que te servisse, sugiro que procure contratar uma serviçal.''

Ron a encarou, boquiaberto e com as sobrancelhas arqueadas. Ela estava mesmo discutindo com ele? Ela estava… Desobedecendo ele?

Tudo bem que ele achava adorável a maneira que seu nariz franzia de um jeito único quando ela gritava com ele, mas aquilo já era demais!

Antes que Ron encontrasse palavras para rebater, seus olhos pousaram nas pernas de sua mulher, cobertas por um tecido bege e bufante.

''Você está vestindo calças!?" Havia um pequeno tom de desprezo em sua voz, que constrangeu Hermione. "Ok, primeiro livros e agora calças!?''

Hermione encolheu seus ombros instintivamente, ainda que não entendesse o por quê ficou envergonhada e chateada com a reação dele. Era como se um sentimento de humilhação invadisse-a por completo naquele momento, como ser quem ela é fosse patético. Afinal, parecia que, até então, tudo bem ser julgada pela sua vizinhança e por seus pais, mas a maneira que Ron se dirigiu a ela a fez se sentir pequena e tola.

Talvez ela se sentisse vulnerável mostrando algo tão importante para ela, e a reação de repúdio em sua voz a pegou de surpresa...Será que ela queria...a aprovação dele!?

O pensamento a fez estremecer.

Tentando recuperar sua postura e fingir que não se abalou pelo comentário rude e ofensivo, ela respondeu:

''Caso você não saiba, pois é burro e ignorante, é moda na França.'' Ela corrigiu sua pose, tentando não se intimidar, com um certo ar de arrogância.

O rosto de Ron imediatamente ficou todo vermelho, seu coração pulsando alto - tão alto que ele achou que ela pudesse ouvir.

''Você,  você se acha superior a mim, não acha? Só por causa do seu dinheiro e seu vocabulário difícil... Pois bem, se você é tão boa assim, porque não usa vestimentas decentes de mulher!? Isso é roupa de homem!"

A garota ficou um pouco corada com o que ele disse. Ela sempre fora rotulada de metida e arrogante, mas parecia diferente escutar isso dele. Além disso, a citação de dinheiro fez seu estômago revirar ao lembrar que ele vinha de uma família evidentemente mais simples e que não tinha recursos como os dela.

Mas ainda assim, isso não o dava direito de desprezar sua maneira de se vestir ou pensar.

''Bem, se isso é roupa de homem, então eu uso roupa de homem.'' Ela retrucou.

Após alguns segundos de silêncio, tentando buscar argumentação boa o bastante, Ron disse:

''Mas isso não é coisa de mulher casada, mulher minha não vai ficar usando roupas masculinas!''

''Como se em algum momento você tivesse tido o direito de decidir o que eu visto! Olha, francamente, eu não sei como eu pude acreditar que você fosse diferente... Eu deveria saber.'' A morena revirou os olhos, erguendo o livro.

''Deveria saber o quê?'' Ele cerrou os dentes, perdendo a pouca paciência que lhe restava.

''Sobre vocês, homens. Enfim, como eu sempre soube, são todos iguais e só servem para tirar a nossa liberdade.'' Ela disse, ainda com os olhos fixos o livro.

Ron respirou fundo, se dirigindo para a cozinha antes que seu estômago fosse consumido pela fome aguda enquanto contava até dez - uma maneira que ele aprendeu de recuperar a calma depois de sofrer tantas brincadeiras e pegadinhas de seus irmãos mais velhos.

Ela podia não conhecer plenamente sua esposa mas naquele dia ele havia aprendido algo imprescindível; não adiantava discutir com Hermione, ela sempre tinha a última palavra.

 

 


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Notas finais do capítulo

Bem, por enquanto é isto... Ficarei muito feliz se comentarem algo, nem que seja um alô.
Beijos, espero que estejam curtindo a história até aqui :)



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