Os olhos de Hermione abriram com dificuldade e, de repente, ela percebeu que seu corpo parecia mole e frágil, como uma gelatina que passou do ponto. Seu nariz escorria coriza e, muito bem ela sabia, aquela gripe tinha vindo da casa de Ginny que, apesar de já estar recuperada, ficou entorno de uma semana de cama espirrando e tossindo descontroladamente.

A castanha raramente ficava resfriada, sempre se orgulhou de ter uma boa imunidade porém, aquele vírus parecia ter sido criado especificamente para derrubá-la. Com certa dificuldade e teimosia, Hermione insistiu em impulsionar seu corpo para fora da cama, se dirigindo ao banheiro para ao menos lavar o rosto.

Para o seu horror, a figura que seu espelho refletia era de uma moça com olhar cansaço rodeado de fundas olheiras, fungava sem parar e sua garganta tinha um aspecto áspero e seco; ela estava horrível, e sentia diversos calafrios percorrendo seu corpo.

"Hermione, você está bem?" Sem avisar, Ron adentrou no recinto, fazendo Hermione ter um sobressalto.

"Meu Deus, quer me matar do coração!?" Ela disse,  colocando a mão no próprio coração. "Bater na porta é sempre uma opção, sabia?"

"É que é quase meio-dia e nem sinal de você, fiquei preocupado e achei que algo podia ter acontecido!" Ron se justificou, tropeçando nas palavras.

Foi quando ela percebeu que estava apenas vestindo uma lingerie branca de renda que, para seu infortúnio no momento, era quase que transparente. Os mamilos dela estavam eriçados por conta dos calafrios e sua silhueta era docemente abraçada pelo tecido fino que a envolvia. Seu rosto instantaneamente ficou ruborizado, e seu instinto foi cobrir seus peitos - como se, de alguma forma, ele já não tivesse a visto completamente pelada.

É claro que ela lembrava-se dos beijos quentes sendo aprofundados e do calor que os corpos trocavam naquela noite quente de núpcias, mas ainda assim parecia haver uma vergonha sobre ficar completamente nua na frente de alguém - especialmente um homem. A única vez que tiveram relações foi breve, porém suficiente para despertar curiosidade na morena que não compreendia com exatidão como aquele ato tivera sido tão bom e ao mesmo tempo tão ruim pra ela.

Hermione também não entendia de onde subiu aquele calor ao observar os músculos delineados de Ronald, ou porque seus olhos estavam fixos em sua pele e na maneira como ele segurava seu cabelo com intensidade - o desejo que ele demonstrara naquela noite nela foi surreal e, por mais que ela custasse a admitir, levaria um bom tempo para ela esquecer esses detalhes marcantes.

Ao fazer movimento tão brusco - de tapar seus peitos com as mãos delicadas - Ron finalmente percebeu a sensualidade que Hermione exalava naquela manhã em específico. Seus olhos se arregalaram e ele prendeu a respiração, tentando controlar e disfarçar a imensa vontade que o possuiu naquele momento de empurrá-la naquela cama e fazer amor com ela mais uma vez.

Mas ele jamais faria isso, por mais que seu corpo implorasse por aquele corpo escultural da mulher a sua frente. Ron tinha plena noção do asco que Hermione tinha por homens e que, a vez em que tiveram um momento íntimo como o da noite de núpcias não se repetiria novamente. Afinal, ela evidentemente não demonstrou desde então nenhum interesse carnal no rapaz.

É claro que o ruivo descontava sua frustração sexual sozinho no banheiro, quando ia tomar banho; era algo que ele entendia que viraria sua rotina, porque se encontrar com meretrizes ou até mesmo ter um caso conjugal estava completamente fora de cogitação. Ron sempre fora um homem de princípios, e o amor tão puro e intenso de seus pais o inspirava à um dia encontrar um amor verdadeiro o qual jamais seria corrompido por terceiros.

E até antes do casamento ser arranjado, ele tinha a convicção de que era Lilá que teria esse papel em sua vida; estava enganado, porque agora estava casado com uma moça morena de um metro e meio que mal olhava em seus olhos, implicava com seus palavrões e modos e o corrigia quase que o tempo inteiro.

Mas ele com certeza guardaria aquela imagem em sua cabeça porque, apesar das brigas constantes e dos momentos curtos nos quais eles conseguiam dialogar como dois adultos faziam, Hermione era protagonista de todas as fantasias sexuais de Ron. Ele não sabia se era porque sua esposa era, de fato, a primeira mulher que ele viu nua e pode tocar de verdade, ou se havia algo a mais naqueles olhos castanhos selvagens e na pele macia que ele pôde beijar naquela noite com prazer. A questão é que, de alguma maneira, a determinação que seus olhos cor de chocolate refletiam o atiçavam, o jeito único no qual ela passava a língua nos lábios enquanto lia deixava-o louco.

"Eu estou com trajes indecentes, é por isso que você não pode simplesmente entrar." Ela disse, envergonhada por estar tão exposta. Hermione odiava se sentir frágil ou vulnerável, parecia que aquilo a consumia por inteiro.

"Bem, não é nada que eu não tenha visto..." Ele respondeu sem pensar. "E nós somos casados, Hermione."

Por mais que aquilo fosse verdade na teoria, na prática era completamente diferente.

"Eu sei, mas....Atchim!" E um espirro fez com que ela interrompesse sua fala.

"Você está doente?" Ron mudou de foco, ignorando o assunto que estava prestes a ser discutido. De repente, ele percebeu o aspecto cansado que sua esposa emitia.

"Claro que não!" A jovem colocou os braços na cintura. "Eu nunca fico do-"

E espirrou mais alto do que a última vez.

Hermione odiava demonstrar qualquer tipo de fragilidade. Ela sentia que se em algum momento ela baixasse a guarda, tirariam proveito dela - ainda mais tratando-se de um homem.

"Vem, deixa que eu a ajudo...." O ruivo se aproximou, fazendo-a corar com seja lá o que ele fosse fazer.

"Não, você não pode! Eu não preciso de ajuda, estou completamente... Atchim!" Ela tentou se esquivar dele, sem sucesso.

Ignorando seus pedidos, em apenas um movimento fácil ele a ergueu, se dirigindo até a cama.

Hermione, por mais inapropriado que fosse, ficou pensando nas mãos fortes que seguravam seu quadril nesse momento. Quando ele apenas a deitou na cama, de forma delicada, o calor parecia estar marcado igual uma tatuagem em sua pele.

"Pronto, você precisa descansar." Ele constatou.

"Eu estou bem, não preciso disso." Hermione afirmou, teimosa. Ela não conseguia engolir a ideia de estar vulnerável como naquele momento. Ela tentou se levantar, mas falhou ao sentir muita dor nos músculos.

"Você parece extremamente mal, não é bom fazer muito esforço. Vou colocar a água para ferver." Ele suspirou, pronto para se dirigir até a porta.

"Espera! O que uma coisa tem a ver com a outra?" Ela franziu o cenho. Temia o que se passava na cabeça do homem na sua frente que parecia genuinamente se importar com ela. "Eu já falei, não preciso de cuidado."

"Ora, não é óbvio? Você precisa de uma sopa. Acredito que ainda temos alguns legumes que comprei de Neville semana passada..." O ruivo parecia pensativo e, para o espanto de Hermione, muito determinado a fazer algo a respeito de seu resfriado.

"Você vai cozinhar para mim?" O rosto da morena ficou vermelho e ela parecia ter uma expressão confusa no rosto. Apesar de ter crescido em uma casa cheia de mordomia, ela nunca havia sido  realmente cuidada por carinho; as serviçais, apesar de muito gentis, cuidavam de suas enfermidades pelo salário, não por vontade.

"Claro que vou, você é minha esposa, Hermione." Ron respondeu como se seu comportamento fosse óbvio. "Vou cuidar de ti."

Os olhos castanhos de Hermione se arregalaram com espanto.

"Eu não sabia que você era o tipo de homem que cozinhava e cuidava... Eu achei que esse tipo de coisa você considerava... Uma função feminina." Ela respondeu, encarando-o. Ela não conseguia compreender como o homem rude que se recusava a ajudá-la com as tarefas domésticas, de repente, parecia disposto a fazer qualquer coisa para ela melhorar.

Ron manteve o olhar fixo nela, como se tentasse organizar seus pensamentos e sentimentos. Ela podia ver que, naquele momento, sua mente estava navegando em mares distantes.

"Apenas... Bem, eu volto já. Preciso esquentar a água." Ele murmurou, e Hermione pôde perceber que seu semblante tomou uma expressão triste e que ele estava esquivando do assunto.

Ela não queria se sentir um fardo, ou talvez ela apenas não conseguisse aceitar esse carinho de um homem, ou qualquer ajuda que fosse porque, além de tudo, Hermione era uma mulher muito orgulhosa.

Mas será que não queria mesmo esse carinho?

"Olha, eu... Eu não preciso de todo esse cuidado, estou bem.'' Quando a morena fez menção em se levantar da cama, Ron pareceu se desesperar.

"Hermione! Pelo amor de Deus, o que foi que eu falei!? Você tem que repousar!" Ele exclamou, correndo em sua direção para impedir. Sua voz ecoou pelo cômodo e até assustou a moça.

Ela nunca havia visto seu marido alterado daquela forma, ainda que tivessem tido durante todas aquelas semanas diversas discussões e implicâncias, brigas altas de trocar ofensas, aquilo... Aquilo parecia diferente. Os olhos azuis oceano de Ron pareciam estampados de pavor, medo. Algo como um instinto de proteção parecia tomar conta dele.

"Apenas... Eu, eu apenas preciso que você fique aqui descansando. Prometo voltar já." Ele falou envergonhado, parecendo se dar conta que havia demonstrado uma parte de si que ele não queria que ela tivesse acesso.

Hermione acenou positivamente com a cabeça, perplexa, enquanto observava seu marido sumir nas escadas. A morena não sabia reagir pois tinha certeza de que aqueles olhos azuis estavam marejados antes de partir. Ela nem quis revidar ou discutir o por quê ele estava tentando lhe dar ordens; parecia que havia algum tópico sensível implícito no ar, e pareceu certo ela apenas concordar e deixá-lo cumprir esse papel.

Simplesmente, sem mais explicações, ele se retirou depressa. Apesar de não entender muito bem o que havia acontecido, ela podia dizer que isso havia despertado algo ruim em seu marido.