Terraria: out of plans escrita por Allen Isolet


Capítulo 6
Capítulo 6: descoberta de uma ferida




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806007/chapter/6

Longe da guilda, e fora da cidade, Zoey está explorando o lado oposto ao que entrou assim que chegou em Greenroud. Visitando um deserto pela primeira vez na vida.

O bioma é totalmente contrário das florestas cheias de cores e de vida em que está habitada, sendo esse seco, aparentemente inóspito e de uma temperatura tão elevada que se sente num forno. Ela já está suando só de estar na fronteira para cruzar o lugar, enquanto Otto está completamente tranquilo, por gostar de altas temperaturas.

— Quanta areia… essa região é sempre vazia assim? — Pergunta Zoey, já montada sobre o Darko.

— Apenas na superfície, existe uma vila comercial no subterrâneo.

— Uau, que interessante, mas nada de visitas, certo?

— Isso.

— Podemos passar na volta?

— Talvez, se ainda estivermos inteiros.

— Credo… espero que nada disso aconteça. — Ela encolhe os ombros, apreensiva.

— Bom, Darko está acostumado com essas viagens, então acho que já está ansioso em correr. Vamos lá.

Ao lado do animal, Otto toma uma pequena distância para revelar suas asas das costas, passando elas de sua tatuagem escondida através das fendas de sua camisa. Grandes asas de morcegos, cinzentos com um leve tom arroxeado quase imperceptível, sendo mais escuras na parte de trás.

— Ei, Zoey, melhor fechar a boca para não acabar babando.

Ela se apressa em limpar o rosto, envergonhada em ter sido pega desse jeito.

— Primeira vez vendo alguém alado? — Ele pergunta, enquanto alonga as asas.

— Sim, vivi bem isolada todo esse tempo. — Ainda vermelha de vergonha.

— Bom, lhe apresentarei um pouco do mundo então. — Ainda distante, move suas asas preparando-se para o vôo. — Não esqueça de vestir a capa, o calor do deserto pode ser demais sem proteção alguma.

Ela obedece, feliz com a proposta dele. E após vestir a capa que pegou emprestado com Jem, os dois avançam pelo bioma de clima quente. Existe uma estrada de areia mais firme com pedras e tijolos por onde Darko pode correr com estabilidade e segurança, atravessando rápido o lugar, passando por uma solitária ponte sobre uma cratera e um oásis, até a sua extremidade terminada numa floresta, mas que ainda contêm sinais de civilização, continuando com uma nova estrada, só que de terra batida apenas.

As árvores iniciais são bastante baixas e com uma grande distância entre elas, o que facilita o voo de alguém do tamanho de Otto pela região, obrigando-o a se teleportar para tomar desvio algumas raras vezes, fazendo isso também para manter-se ao lado da garota quando muito afastados um do outro.

Em um dos momentos em que o rapaz passa muito perto de Zoey, o bater de suas asas provoca um vento que faz com que o cabelo dela voe para o seu rosto, entrando alguns fios em sua boca.

— Ei, cuidado! — Ela grita para ele que já está longe novamente.

Porém, ele ouve, voltando para mais perto apenas para responder sem precisar gritar de volta.

— Desculpa.

— Hunf… só perdôo por achar legal as asas. Como é ter essas coisas saindo das costas?

— Acho que é como ter braços extras, a sensação é a mesma.

— E a cauda? Até reparei que você a move de formas diferentes dependendo do seu humor.

— Não sei o que usar de comparação, vai ficar sem saber como é.

— E quanto a mover de acordo com seu humor? Não parece ser de propósito.

— E não é.

— Então ganha vida própria quando emocionado?

Ele fica um momento em silêncio antes de resolver responder, cansado do assunto.

— Você quando com raiva bate o pé com força no chão. Faz por impulso, não?

— Ah, você viu isso? Erik tinha me tirado do sério com uma coisa… e acho que entendi o que quis dizer.

O resto da viagem segue em silêncio até decidirem parar para um descanso. Estão no final da manhã, e o empecilho máximo que tiveram pelo caminho foram algumas geleias desativadas que foram atropeladas e eliminadas na hora, e as que sobreviveram ficando para trás até sumirem de vista.

— Vamos continuar a pé, iremos passar por alguns lugares estreitos. — Alerta Otto, 

— Ok. — Ela o observa manter as asas de fora, enquanto retira a capa e a deixa na bolsa de Darko. — Hm… não vai guardá-las? Já que vamos continuar a pé.

— Não, quero me sentir "completo" um pouco mais.

Ela finaliza sorrindo com a nova informação, pensando que talvez não vá ser tão difícil conseguir entendê-lo.

Andam por alguns minutos até avistarem uma grande casa parcialmente coberta de terra e grama, como se fizesse parte de suas paredes externas e telhado. Possuindo alguns andares igualmente verdejantes, por onde descem alguns cipós. Assim que nota a estrutura o pequeno demônio revira os olhos e apressa os passos, irritado.

— Você tem algum problema com essa casa? — Pergunta Zoey, cochichando perto dele.

— Com quem mora nela, vamos logo antes que ela nos note!

No momento seguinte a maçaneta da porta gira, destrancando.

— Tarde demais. — Rosna.

Pela porta sai uma mulher jovem e baixinha, de cabelos curtos e esbranquiçados presos em maria chiquinhas. Olha do Otto para Zoey, indo correndo falar com a elfa logo depois.

— Oh, estamos com o mesmo penteado!

— É, né? — Zoey olha de canto para Otto, não sabendo o que fazer.

Ele percebe, desistindo da cara fechada que fazia para voltar a falar normalmente.

— Não vai me apresentar sua amiga, rapaz? — A estranha ameaça.

— Essa é Zoey. E Zoey, essa é Lara, cientista que gosta de estudar bichos feios.

— Então isso te inclui como feio, né? — Lara provoca.

— Tanto faz.

— Bom, vamos entrar, estão indo para o Vale Meia-luz? Estão, né? Esse é o único jeito de fazer essa criatura passar por aqui! — Olha feio para Otto, que a ignora, enquanto puxa Zoey para dentro de sua casa.

Após acomodar Darko do lado da casa, entram pela porta dos fundos, passando pela cozinha dela antes de chegarem em sua sala, uma ampla o suficiente para amarrotar livros e caixas com pesquisas.

— Estão com fome? Já é perto do meio-dia, devem estar… digo, você apenas. — Olha para Zoey. — Sentem-se que eu já volto. — continua antes de voltar à cozinha, deixando os dois na sala.

— Que animada… — começa Zoey, olhando para ele em busca de respostas.

A garota senta-se no sofá indicado, convidando Otto a fazer o mesmo dando uns tapinhas no assento à sua direita. Ele obedece, sentando-se com os braços cruzados e levando suas asas para frente do corpo como se fossem uma capa.

— Ela me estuda como uma de suas criaturas. — Responde nervoso. — Não mostro novidade alguma, mas ela insiste.

— Ah, mas… Imps já não são bem conhecidos por aqui?

Enquanto isso ela simplesmente não consegue evitar encarar a asa mais próxima, prestando melhor atenção aos detalhes agora que está bem perto.

— Sim, mas eu sou mestiço… Imps comuns não possuem chifres, e são um pouco menores. — A pega olhando fixa para sua asa, encarando-a de volta, todo sério.  — Você quer muito tocar, não é?

— Quê? Não, claro que não! Isso seria esquisito! — Tenta mudar seu interesse olhando pela sala, batendo os dedos das mãos uns nos outros, não demorando muito em voltar sua atenção para ele, derrotada. — Desculpa, t-talvez eu queira na verdade…

— Que seja, não vai tirar pedaço mesmo… — permite que ela se aproxime, alongando a asa próxima dela para frente.

— Sério? Que incrível! — Com cuidado ela estende sua mão na direção do membro alado, mas para assim que se assusta com o som da porta da cozinha abrindo.

— Voltei! O que estão cochichando aí, hein? — Lara retorna oferecendo uma tigela de salada de frutas para a elfa, que aceita, faminta. — Vocês por acaso são um casal?

— Casal de um menino e uma menina, sim! Só isso! — Declama Otto, voltando a ficar de pé para encarar a mulher que é um pouco mais baixa do que ele.

— Ok, calma, quase fiquei feliz por você. — Cruza os braços, olhando séria para ele. — Ah, e o seu rosto está todo vermelho, você não pode ser assim, tão tímido com mulheres… você foi adolescente por muito tempo, já está na hora de procurar por uma parceira, ou parceiro. Senão acabará como um adulto solitário.

Depois de suas últimas palavras, Otto a fuzila com o olhar, num misto de espanto e inquietação, apertando os punhos com bastante força enquanto inicia um rosnado baixo, tentando se acalmar sozinho.

O fato de estar sendo observado o deixa mais ansioso, fazendo um esforço maior para normalizar e dizer algo.

Zoey o observa bastante preocupada, analisando também a tal cientista, que parece ter ficado confusa com a reação dele.

— Cuida da sua vida e deixa a minha.

— Ei, como é… — Lara é cortada pelo teleporte dele, ficando sozinha com Zoey — Eu não… eu…

— Otto! Que coisa… — a elfa sai de seu lugar no sofá, devolvendo a tigela pela metade para sua dona. — bom, obrigada pelas frutas, melhor eu ir agora!

— De nada, e diga para ele que peço desculpas, não o faço pessoalmente porque ele com certeza não vai querer falar comigo agora…

— Com o pouco que já conheço dele, sei que não vai querer mesmo.

Do lado de fora, pegando o cavalo de volta, Zoey anda pelo caminho que estavam fazendo antes de serem interrompidos pela pesquisadora. Não encontra Otto pelas redondezas, mas continua pela estrada na esperança de encontrá-lo mais a frente ou dele surgir de repente como já fez algumas vezes.

Ouvindo o som de galho rangendo, ela imediatamente olha na direção de sua origem, logo acima dela no alto de uma árvore. É Otto que a avista e prepara-se para descer, teleportando para o seu lado, do jeito que esperava acontecer.

— Bom… hm… quanto falta para chegarmos? — Pergunta Zoey, tentando ler através do semblante vazio do rapaz.

— Não muito.

A jovem suspira, aliviada que pelo menos com ela esteja falando ainda, mesmo que mais desanimado que o seu normal.

— Quer conversar? — Ela insiste, recebendo uma resposta negativa em troca.— Tudo bem, mas quando quiser estarei disponível, não importa a hora.

— Agradeço a oferta. — Fala baixo, corando de leve.

— Hm… Lara pediu desculpas pelo que disse, tá?

— Tudo bem.

 

* * *

 

Passado pouco mais de dez minutos de uma caminhada que pareceu uma eternidade, finalmente chegam ao vale Meia-luz, conhecida por guardar uma amostra do maligno bioma roxo, A Corrupção, ambiente nocivo nascido do puro ódio que a humanidade e outras raças despejaram umas contras as outras por diversos séculos sem cessar.

Ou pelo menos, é isso que dizem nas lentas e no que muitos acreditam.

— Essa cidade é tão cheia. — Comenta Zoey, fascinada com o movimento. — E então, onde está o bioma e como iremos atrás das placas para o void?

— Só olhar para baixo.

Sem perder tempo, ela trata de ir olhar.

Estão cruzando uma ponta enorme de pedra e metal, sobreposta a um vale profundo ainda maior, totalmente escuro por conta de suas várias crateras sem fim e pedras negras, podendo ainda ser visualizado algumas árvores e gramado com uma aparência sem vida, um roxo desbotado.

O ambiente lúgubre a deixa confusa, não entendendo como fará para encontrar seu alvo e obter algumas de suas escamas.

— Bom, isso aqui dá arrepios! Mas não darei para trás, não deve ser pior do que a aparência, certo? Não responda!

— Vamos atrás de um alojamento e lá conversamos sobre isso.

— Sim, aí poderei vestir algo mais apropriado para um combate.

— Hoje não, existe um evento envolvendo o Devorador todo final de semana, caso tenha um deles disponível, então temos tempo para descansar e planejar a melhor estratégia para a luta.

— Ah, ótimo… espera aí, você disse "caso tenha um deles disponível"?

Ele começa a andar distraído, à procura de palavras que possam resumir uma resposta para ela nesse momento, mas sem muito sucesso, pelo silêncio que prolonga.

— Vamos conversar sobre tudo que quiser saber mais tarde, ok? — Otto enfim responde. — Será uma história longa para explicar qualquer detalhe.

— Tudo bem, estou faminta mesmo, vamos cuidar disso primeiro. Darko e eu estamos famintos, né, Darko? — Acaria a testa do animal. — Você não sente fome mesmo?

— Um descanso é o suficiente para mim, as vezes vários dias dormindo.

— Deve ser vantajoso não ter essa necessidade.

— Pode ser.

Terminado de cruzar a longa ponte amedrontadora, estão enfim com os pés na cidade, uma grande e bem movimentada, parecendo até uma feira. Otto que já conhece o lugar, guia a garota para uma estalagem com espaço onde Darko pode ficar, deixando-o por ali momentaneamente enquanto saem em busca de uma boa refeição.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!